Marília Pêra testemunha a verdade de Lula: “convicção” mais “prova”, por Romulus
Marília Pêra testemunha a verdade de Lula: “convicção” mais “prova”
– Eis ‘o’ vídeo – nada – aleatório do dia: a coletiva de Lula à imprensa nacional e estrangeira.
– E com o comentário de ninguém menos que…
– …Marília Pêra!
– Mas como assim?! Calma aí que eu explico tudo aí embaixo. E mais: diferentemente da Lava a Jato, eu provo!
– O glossário para se achar no meio desse redemoinho: a “grande” vs. a “pequena” política. As “ondas de opinião” vs. as “correntes de ideias”. Os “surfistinhas” vs. os “herdeiros de Netuno”.
– A diferença entre o “mito”, lá da Grécia, e o “santo”, daqui de Roma. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”… quem faz – ou quer fazer – confusão entre os dois é o MPF… e a direita! Ou seriam os dois – MPF e direita – a mesma coisa?
– No final, mais um bônus com o Lula. Lula mais quem?
– O Nassif, ora!
– Juntos?!
–
Pois sim!
–
Vambora…
* * *
Glossário: a “grande” vs. a “pequena” política. As “ondas de opinião” vs. as “correntes de ideias”. Os “surfistinhas” vs. os “herdeiros de Netuno”.
Da Wikipedia (em francês):
“Politique Politicienne” – (Péjoratif) attitude des hommes politiques consistant à se préoccuper des questions de pouvoir entre politiciens et partis politiques davantage que de la politique au sens étymologique du terme, c’est-à-dire des affaires de la cité.
Traduzo livremente como:
“Pequena política” – (expressão pejorativa) comportamento dos políticos que consiste em dar mais atenção às disputas e aos acertos de poder entre os próprios políticos, e os seus partidos, que à “política” no sentido etimológico do termo, ou seja, os problemas da polis [ou: a “grande política”].
Notem: o relatado uso “pejorativo” da expressão parte de quem tem uma visão moralista e idealizada (i) do exercício da política e (ii) do que “deve ser” um político.
“Grande” e “pequena” política andam juntas. Mas não se confundem. E têm – ambas – os seus lugares. Que tampouco se confundem.
Outra dicotomia, próxima espacialmente da anterior mas distinta, é aquela entre:
(i) as ondas de opinião; e
(ii) as correntes de ideias.
Seguindo na mesma metáfora, ao fim e ao cabo as duas são “água”, não?
E ambas “estão no mar”, certo?
Sim, mas, para ficar ainda no reino de Netuno, a diferença de escala entre ambas é… abissal.
Na política (na grande e na pequena), a maioria sabe surfar ondas da opinião pública. Mas em geral não sabem sequer:
(i) Intuir ou antecipar o seu surgimento.
(ii) Nem as conduzir.
(iii) Ou, muito menos, influenciá-las!
Seguindo na metáfora, não sendo mais que surfistas estacionados na praia, sobre suas pranchas à espera das ondas, em hipótese nenhuma a maioria – ordinária – goza do instrumental para ir além das ondas.
Está, portanto, completamente fora da sua capacidade de articulação tratar de algo como as correntes oceânicas. Ou, saindo parcialmente da metáfora, as correntes de ideias.
De novo: a diferença de escala é… abissal.
Intuir, antecipar, conduzir ou influenciar…
– … as correntes?!
Ah, isso só os grandes…
Escala…
1 em 1 milhão?
1 em 1 bilhão?
Não tenho ideia!
Mas pouco importa.
Porque esse “1” deu as caras hoje:
* * *
A entrevista coletiva de Lula:
E o que podia sair dali?
Ora, mais uma aula magna. Primeiramente, de comunicação.
Mas também de política. Aliás, como não poderia deixar de ser: trata-se de um incontestável gênio político. Nem autodidata é: ele é nato.
E sobre “que” política lecionou?
Ora, da “grande”, evidentemente. Dos “problemas da polis”, como não poderia deixar de ser.
Ali houve tudo:
(i) A trajetória do mito que chega a capitanear um ideal;
(ii) A luta pela inclusão;
(iii) O projeto de soberania e desenvolvimento nacional;
(iv) E um inédito orgulho do Brasil e da brasilidade no concerto das nações.
Hoje, salvo o item (i), que tentam, em vão, implodir, tudo mais habita apenas a nossa memória.
Sim, memória…
Mas habita com carinho. E com – extrema – saudade. Sabe aquela saudade que não vê a hora do reencontro? Pois é… é essa mesmo que nutrimos. E pela qual “faremos por onde”.
Mas há algo mais na fala política de Lula que tira, ou deveria tirar, o sono das pessoas consequentes da “polis”: o fosso entre, do alto, ‘o’ “doutor concursado”, agente do Estado, distante de ‘um’ “seu zé da esquina”, com artigo indefinido e minúsculas mesmo.
“seu zé”? Sim, aquele senhor encolhido, sem rosto discernível, ali embaixo…
Há, é certo, um fosso que separa a ambos. Mas a distância não exime “seu zé” de estar à mercê do “doutor”. E de seus canudos!
Pelo contrário: numa retroalimentação perversa, a distância aumenta a sujeição, abrindo portas para os títulos de “doutor”… e para os canudos…
No verso da moeda, a sujeição, o título e os canudos aumentam justamente…
– … aquela distância!
Eita! Onde terá isso fim?
Pois é esta a pergunta que Lula fez a si, aos políticos e ao conjunto da polis hoje.
A partir dessa fala, percebem o que é o tal ‘1’ que consegue “intuir, antecipar, conduzir ou influenciar correntes”?
Pois é…
Esse é Lula.
E não é nenhum outro nestas paragens. Pelo menos não com a mesma capacidade. Inclusive de mobilização!
O tal do “mito”?
Pois é… ele mesmo.
*
Ironia máxima: essa aula magna da “grande política” é concedida – presente, graça? – pelo Professor Doutor Catedrático da disciplina. Aquele que não coleciona sequer um mísero canudo!
Não é de cair o queixo?
Se é…
Seguindo na trilha da ironia, houve até uma “liçãozinha”, no final, de “pequena política”.
Lula se questiona:
– Como é que o Dr. Janot chegou ao cargo de PGR?
– Como o Dr. Janot montou a sua equipe?
Respondo, Presidente:
Da carta aberta de Eugênio Aragão, bem sabemos como as duas coisas se deram. Certamente também já o sabia o Presidente Lula quando fez as “perguntas”. Nada novo no terreno da ironia: eram apenas perguntas retóricas.
Aliás, de um mestre da…
– … retórica!
Seguindo o exemplo de Lula, faço eu a minha pergunta retórica:
– Será que os únicos a desconhecerem a escalada funcional de Janot no MPF, até a cadeira de PGR, são os “doutores” de Curitiba?
Bem, se for o caso, talvez Lula esteja certo ao asseverar, na sua fala, a total ignorância de Ciência Política dos bacharéis. Vai saber…
*
Comunicação…
Política… a “grande” e a “pequena”…
Pasmem, mas essas não eram a lição principal hoje. Ela era, sobretudo, de humanidade. Em todas as acepções do termo.
E afirmo sem medo: foi também uma lição de…
– … verdade!
Aliás, lição de verdade dada a quem dela anda muito carecido no nosso país…
*
Faço aqui a hagiografia de “São Lula”?
Muito pelo contrário!
Lula não é santo, todos sabemos.
Quem o é?
Eu é que não o sou…
Mais do que isso: Lula nunca pretendeu ser santo.
Ou sequer tentou aparentar sê-lo na sua longa caminhada.
Percebem?
Aspecto, aliás, em que difere – sobremaneira! – de seus acusadores. Santarrões…
Lula é, na verdade, um mito. Um mito político.
Será que a doutrinação judaico-cristã do Ocidente foi tão avassaladora a ponto de submeter o conceito de mito ao de santo?
Mitos, Hércules, Aquiles e Odisseu podem ter sido tudo. Menos santos!
(i) O “mito” nos foi legado pela Grécia.E a sualira. E o seu vinho.
(ii) O “santo” nos foi legado por Roma. E as suas mortificações. E penitências. E jejuns. E abstinências.
Clara a diferença, não?
(Ou preciso fazer slides de PowerPoint?)
E tem mais:
A emoção, o nó na garganta e as lágrimas de Lula são…
– … verdadeiros!
E como que eu posso afirmar isso?
Eu que não tenho formação em Artes Cênicas para além do teatro do colégio?
Ora, para tanto me fio não em mim, mas nas palavras da maior expert no assunto: a saudosa Marília Pêra (suspiro de saudade…).
Falo, especificamente, de parte do seu depoimento ao documentarista Eduardo Coutinho – também saudoso (mais suspiro de saudade…).
Onde?
No maravilhoso documentário “Jogo de Cena”.
Já tive, inclusive, a oportunidade de compartilhá-lo aqui no blog com os leitores.
Foi em: “Quem tem medo de índia brava e nega maluca?“*
Meses atrás…
[*“Índia brava e nega maluca”… talvez o meu post mais pessoal desde que comecei isto aqui.
E quando foi que começamos?
Justamente no rescaldo da quasi anomia e comoção social que seguiram da…
– … condução coercitiva do Pres. Lula!
Coincidências, definitivamente, não existem.
O post “da índia e da nega” é a conclusão de uma série sobre heranças renegadas, “bastardas”, da brasilidade. O negro e o seu batuque. O índio e os mistérios da floresta.
Um dia, se Deus quiser – e ele há de querer – não vou mais precisar escrever sobre “desenho institucional do Estado”, golpes, violências, opressões. Vou escrever, isso sim, sobre coisas que me abrem o sorriso. Em vez de franzir a testa… Coisas como, justamente, a nossa gente. E a sua riqueza… “esquecida”.
Não tenham dúvida: fui muito mais feliz naquela semana da série sobre a herança negra nas Américas do que sou hoje. Aqui, por exemplo, escrevendo agora sobre a lição arrancada de Lula. Ou mesmo do que fui no dia em que escrevi, com um sorriso de canto de boca, sobre as “Duas votações contraditórias no Senado e como Dilma terminou por derrotar o golpe de 2016” – que ironia!
Deus há de querer me dar de volta “a nega maluca e a índia brava” sim…
Afinal, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, não é mesmo?
– Sim, há de ser sim, Chico]
Eita!
Que digressão!
Culpa – certamente – também do Lula?
Sim, acuso a Lula sim pela digressão…
– … mas com convicção ‘e’ prova!
– Obrigado, Presidente Lula, pelas lições de hoje e por inspirar a reflexão. E mesmo alguns devaneios, admito…
E, voltando a Lula, retorno também a Marília Pêra. E ao seu comentário – adiantado no tempo em uma década! – sobre a entrevista de hoje do Pres. Lula.
Cortesia, mais uma vez, de Eduardo Coutinho.
E o que diz Marília?
– Que é fácil saber se lágrimas e emoções são verdadeiros ou se são apenas atuação, simulação.
Quem se emociona de verdade fica acanhado com o aflorar, descontrolado, do sentimento. Tenta, em vão, disfarçar. Ou ao menos minimizar, diante do interlocutor, os sinais daquele acesso do que veio de dentro num rompante. Afinal, não deixa de ser um sintoma de “fraqueza” – seja isso bom ou ruim – aquela incapacidade momentânea de controlar até a si próprio.
Quem encena, quem atua – ensina Marília – faz questão de exibir a lágrima. Tão trabalhada, batalhada, afinal. Às vezes, até com o auxílio do famoso “cristal japonês” dos atores de telenovela. Aqueles das lágrimas copiosas…
Como registra a película de Coutinho, Marília Pêra chegou mesmo a levar – por iniciativa própria! – o tal do cristal japonês para o seu “cara a cara” com o cineasta. Ao explicar do que se tratava aquilo para Coutinho, confidencia o seu pensamento em casa:
– Trouxe até cristal japonês! Pensei: se o Coutinho quiser que eu chore, eu choro, uai!
(transcrição não literal)
*
Marília Pêra…
Alguém com uma passagem “controvertida” pela militância política em 1989…
E cuja fala que interpreta no documentário a faz perguntar, em tom inquisitorial, a Coutinho:
– O senhor é comunista? Não gosta de desenho da Disney? De americano?
É…
De novo: coincidências não existem.
Aliás, o documentário “Jogo de Cena” não deixa de exibir a marca do engajamento político-social do autor. Uma constante no seu trabalho. Desde o retrato das agruras das Ligas Camponesas do Nordeste, em “Cabra Marcado para Morrer”, passando pelo documentário “Peões”, em que registra – vejam só! – as visões – para trás e para frente – de uns certos “peões”. Trata-se de não outros que os companheiros de caminhada de Lula no ABC. Que o veem – finalmente! – presidente, naqueles meados de seu primeiro mandato.
*
Pois então:
Fui de Lula a Marília Pêra – via Eduardo Coutinho.
E agora, também via Eduardo Coutinho – incontornável? – volto a Lula. O tal do “baiano”, companheiro dos “Peões”…
Saio, então, dos “Peões” para voltar ao início: à entrevista coletiva de Lula, hoje.
Entrevista onde, como disse, Marília Pêra e Lula se encontram, mesmo que separados pelo tempo. E pela morte.
Sim, eles se encontram…
E, assim, fecham o círculo das… “coincidências”:
– “Verdade”?
Ou
– “Jogo de Cena”?
Bem…
– Por que não “verdade” ‘e’ “jogo de cena”?
Vejam o filme, ora!
*
– A benção, Eduardo Coutinho!
– A benção, Marília Pêra!
Deixo contigo agora a palavra e o… cenário, Dona Marília:
Marília Pêra fala a partir do min 35:54. A fala a que me refiro neste post, sobre a veracidade da emoção, começa a partir do min. 47:47.
Como disse da outra vez, quando a destacada da vez fora Fernanda Torres, o filme – inteiro! – é imperdível.
Aliás, o depoimento de Fernanda se dá justamente antes do de Marília começar.
“Coincidência”?
Evoé para as duas!
Evoé, Eduardo Coutinho!
*
P.S.: Impagável – e o Pres. Lula falando do “Helicoca” – com 450kg de “purinha”?!
Onde “há prova mas não há convicção”, dos mesmos que o acusam, levianamente?
E onde foi que o Presidente diz, na entrevista, ter visto esse meme?
No artigo do Nassif de ontem!
Coincidências não existem…
P.P.S.: Eduardo Coutinho e as atrizes…
As famosas e as anônimas...
Sabem… nestas horas não tenho nenhuma inveja da direita.
E por quê?
Ora, porque a arte, a sensibilidade e a inteligência têm lado.
E é o esquerdo!
Não por outra razão o Golpe deu um golpe (outro) no Oscar. Escolheu um filme ruim para representar o Brasil. Escolhido no lugar de “Aquarius”, filme com ótimas críticas, com muito mais visibilidade internacional – Hello, Cannes! – e com muito mais chances de ser escolhido pela Academia para concorrer à estatueta de melhor filme estrangeiro.
Fazer o quê?
“Golpista não ganha… golpista dá golpe”, não é?
– A arte é – e sempre será – gauche.
Evoé!
Aceita que dói menos, Temer / Calero.
*
Aliás…
Vergonha, Carla Camurati!
Vergonha, Adriana Rattes!
Quem conhece a passagem das duas pela Cultura do Rio entende bem a afinidade de ambas com o projeto Temer / Cunha / Padilha / Geddel.
Evoé para as duas?!
Que nada:
– É vade retro!
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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