PSOL em crise de identidade – na pior hora!, por Romulus
– Post originalmente publicado em 5/10/2016.
PSOL em crise de identidade – e na pior hora possível para ambiguidades e tibieza nas esquerdas
Por Romulus
Antes do primeiro turno, cravava em conversa no Facebook:
– A clivagem é clara: o PSOL não tem votação difusa no povão. É uma colagem de grupos coesos, de interesses homogêneos, distintos:
(i) funcionalismo público (demandas corporativistas / salariais); mais…
(ii) estudantes (naturalmente mais à esquerda e idealistas – como tem que ser!); mais…
(iii) galerinha de esquerda “descolada”/minorias.
E quem é que entra para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro como vereadores eleitos pela sigla?
– figuras do funcionalismo; o companheirodo jornalista Glenn Greenwald, David Miranda; o líder da marcha da maconha!
Arrasou no apoio, hein, David?? Naomi Kein? Bota ~cool~ nisso!
E o estudante?
– Bem, esse ainda não completou 18 anos… não pode ser eleito, não é mesmo?
É claro que todos sabemos que essa foi, sem tirar nem pôr, a base social do PT em sua aurora, nos anos 80. A diferença é que a intelectualidade não está em massa no PSOL, nem tampouco a Igreja com as comunidades de base ou os movimentos sociais de maior porte (MST, MTST, centrais sindicais, etc.).
Mas o PSOL já conseguiu um baita feito:
– Um inédito racha nos artistas “antenados”, antes figurinhas fáceis apenas no palanque do PT!
Basta ver imagens do comício com que Freixo encerrou sua campanha na Lapa (!) – Chico, Wagner Moura, Lenine e galã da Globo de ocasião. Pode até escolher:
– Vladimir Brichta; ou…
– Humberto Carrão??
Os dois?? Então você só pode ser uma – ou um! – psolista libertário em temas morais! Safadinh@…
Fala sério! (como se diz no meu Rio)
Caetano e Chico cantando o jingle de campanha do cara??
Não tem como ficar mais “bacana”, “jóia”, “prafrentex”, “descolado”, “maneiro”, ~cool~, ~hype~ … … …
* * *
Eleição do Rio é um ótimo estudo de caso
Pegue-se a votação nos diferentes candidatos quebrada por renda/nível de educação e a baixa penetração “difusa” do PSOL no povão fica claríssima.
Eles deveriam – como cobram do PT – fazer uma autocrítica. Perguntarem-se por que sua votação não sai desses 3 nichos e, em querendo sair dessa zona de conforto, ir gastar sola de sapato na áreas populares do Rio: Zona Oeste, subúrbio, morros e, no contexto do Estado, a Baixada Fluminense.
Já Jandira, a outra candidatura da esquerda – desculpe-me o Molon, ótimo deputado, mas… Marina Silva?? Tchau e benção! – fez comício com Lula em Bangu, na Zona Oeste. Digamos que o equivalente em SP à Zona Leste ou, em Brasília, às cidades satélite… Brizola, por exemplo, sempre ganhava eleições perdendo feio na Zona Sul e na Grande Tijuca, áreas nobres, mas ganhando com folga na Zona Oeste (e na Baixada Fluminense).
Já Freixo, como salientei acima, fez comício na…
– ~Lapa~ !
Onde ficam os célebres Arcos, a Fundição Progresso e o Circo Voador – território da galerinha “descolada” na sexta e no sábado à noite. E também dos gringos – claro! – com casas folclóricas (na acepção “menos nobre” do termo), como “Rio Cenário”, etc.
Como pontuei – até com fotos estelares! – Freixo falou ao seu público cercado de artistas também “descolados”, cool, como dizem os gringos. Nada contra! Amor eterno pelo Chico, a cuja obra recorri – ainda ontem! – para dar trilha sonora ao post pedindo “Diretas Já”:
Peguem as manchas de votação sobre o mapa da cidade e a constatação fica clara:
– Entre os pobres a intenção de voto em Freixo tende a zero. Se bobear nem sabem quem ele é.
Pior:
– Se soubessem que é o inspirador do personagem “Professor de Historia”, antagonista amoroso e também no plano das ideias do “Capitão Nascimento” (Wagner Moura, ora!), do filme ‘Tropa de Elite’, que defende direitos humanos dos presos (!) e é leniente com usuários de drogas, aí é que não votavam em Freixo de jeito nenhum!
Aposto – com pesar, caro Freixo! – que o conhecimento da trajetória do candidato e a rejeição ao seu nome no povão cresceriam in tandem.
Essas ideias já tinham sido expostas por mim a amigos antes das eleições em conversas privadas no Facebook. Não as desenvolvi no artigo da semana passada em que critico um deslize do – excelente! – deputado Jean Wyllys porque pareceria provocação.
– E não é o caso, caro Jean!
Elas casam perfeitamente com aquela minha metáfora, na serie de 3 posts sobre a divisão da esquerda (links no final do post), de ter de escolher entre:
– Sair de casa para ganhar o mundo, arriscando, caso contrário, perder tudo; ou
– Ficar para sempre no pequeno, mas seguro, quartinho no fundo da casa dos pais.
[Esquerda “pura”
Metáfora:
–
De um lado, o conforto do pequeno, mas seguro, quartinho no fundo da casa dos pais, onde a mãe não exige muitas concessões do rebento querido.
–
Do outro, o desafio de “crescer”, sair e ter de “comprar a casa própria”, “fazendo o que tiver de fazer” para consegui-lo. Ou, falhando, ficar pelo caminho. Sem nada.
Os dois têm vantagens e desvantagens, não?
Como muitos analistas constatam, a esquerda “pura”, por definição, renega a política “como ela é” (“suja”).
Mas notem bem: negar a “política como ela é ” também é fazer política!
[Hmmm… será aqui também fazer política “como ela é?”]
Por quê?
Ora, porque a esquerda “pura” ocupa, com esse posicionamento, o nicho político-eleitoral dos idealistas da esquerda “não pragmáticos”. Assim, toca-lhe conduzir politicamente o nicho correspondente no todo da sociedade. Ou seja, dá representação político-partidária às franjas mais à esquerda da sociedade.
Dessa forma, constitui – e mantém seguramente, longe da cobiça dos “não puros” – um feudo cativo para cada rodada eleitoral. Com esse expediente mantém – sem um grande esforço – um coeficiente eleitoral que não é grande, mas que é seguro e estável em tamanho. Tal estabilidade – e a decorrente previsibilidade – possibilitam carreiras políticas e seus planejamentos anos adiante.
– Calma, esquerda “pura” político-partidária! Não me xingue (ainda). Nada contra… é da natureza humana buscar, em alguma medida, segurança, não?
Isso, evidentemente, casado – em maior ou menor grau, como em qualquer campo político – com apego a ideais e convicções
]
É como disse no Twitter, vendo a diferença entre os comícios de Jandira e de Freixo:
– Discurso “não faço concessões nem alianças”, “sou puro” e franco e direto em temais “morais” – ficando (ressalto!) do lado certo: aborto como tema de saúde pública, casamento e adoção por gays, ideologia de gênero, direitos humanos para todos, inclusive bandidos sim, descriminalização do consumo de drogas leves, etc. – dá deputado (5%). Não dá prefeito (50%).
Muito menos presidente!
Entre a eleição proporcional e a majoritária está a tal “saída da casa dos pais” da minha metáfora.
O Professor Jessé Souza recentemente se referiu ao PSOL como “a esquerda de Oslo”.
Pois é, Prof. Jessé…
Entre Oslo e Bangu fica um baaaita pedaço de chão, não fica?
Pergunto então (com sotaque carioca):
– E aí, PSOL? Qual é a tua, mané?!
*
Repito o que disse acima:
– O PSOL deveria – como cobra do PT – fazer uma autocrítica. Perguntar-se por que sua votação não sai dos 3 nichos e, em querendo sair da zona de conforto, ir gastar sola de sapato na periferia…
Mas não apenas! Deveria se dirigir também a…
– … gabinetes de políticos de outras siglas (!); e de
– representantes de outros grupos coesos de interesses homogêneos não alinhados ao PSOL (!)
– O quê?! Herege! Queimem ‘Romulus’ na fogueira! Aproveitem e usem os livros do índex… assim queima mais rápido!
A questão é:
– Querem sair da zona de conforto? Ou os poucos votos – mas certos! – que “dão deputado” satisfazem?
* * *
Sinal preocupante No. 1
Ou melhor, reality check, como dizem os gringos, que traduzo neste caso como “banho de água fria” em quem estava ~ansioso~ para aderir à candidatura de Freixo no segundo turno:
* * *
Sinal preocupante No. 2
Faltando com a modéstia, o sinal No. 2 é a confirmação da minha boca de Cassandra, que vaticinou ainda antes do primeiro turno:
Já hoje…
E ainda…
E por fim…
Praga de Cassandra??
– Bate na madeira 3 vezes!
E madeira de lei… especial:
– A porta do Presidente Lula e da Presidenta ~eleita~ do Brasil, Dilma Rousseff
, Sr. Freixo!
E mais de todas as lideranças dispostas a apoiá-lo nessa batalha duríssima contra a vitória do retrocesso. Até com a Marina eu conversaria…
* * *
Atualização 21:20:
“Bandeira branca”, militância (lindamente) aguerrida do PSOL… “eu quero é paz”!
Perdão se feri (demais?) os sentimentos de vocês com este post.
Não era a intenção!
A mordacidade?
É meu estilo! Não consigo controlar (muito… rs).
Posso “mandar” um carioquíssimo: “foi mal!” ??
Entendam: meu artigo não se dirigia nem a vocês – “para agredir” – nem à militância do PT – “para ir à forra”.
Não…
O público alvo eram os políticos das direções dos partidos de esquerda: todos. Mas principalmente o “politiburo” do PSOL:
Amigos de novo, queridos psolistas??
Dêem uma olhadinha aí embaixo – e vocês também, petistas! – no videozinho que a Cynara Menezes, a Socialista Morena, deixou para vocês…
E para mim também, ora!
Beijos em todxs
*
E, para fechar em bons termos, meu amigo Eugênio, colega da UERJ e do sonho de um Direito transformador, me corrige quanto aos 6 (!) vereadores eleitos pelo PSOL no Rio:
* * *
Como prometido, links para a série de 3 posts sobre a divisão das esquerdas (clique nas imagens):
* * *
O imperativo da união das esquerdas – para já!
Alô, políticos de esquerda: “eles [da direita] querem acabar com a gente”
Cynara Menezes: “eles [da direita] querem acabar com a gente”
(dica de um seguidor do twitter)
A Socialista Morena comenta a “difícil vida do eleitor de esquerda”, que tem de escolher entre: Freixo x Jandira; Haddad x Erundina; Raul Pont x Luciana Genro…
Como ela nota, políticos de esquerda, divididos, parecem não notar que “eles [da direita] querem acabar com a gente!”
Alô, pessoal! Se liguem!
– É guerra! E de extermínio!
* * *
(i) Acompanhe-me no Facebook:
*
(ii) No Twitter:
*
(iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus
*
Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
Facebook Comments