Perplexidade com a ascensão – global! – dos “Trumps”: a reflexão de Maria – leitora xodó e guru do blog
Perplexidade com a ascensão – global! – dos “Trumps”:
– A reflexão de <<Maria>> – leitora xodó e guru do blog
Em introdução no Facebook ao seu compartilhamento do Post “ATUALIZAÇÃO de ‘Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump‘”…
… Maria, nossa (des) conhecida leitora xodó e guru, propõe (não tão…) novos parâmetros para a nossa reflexão pós-perplexidade pós – de novo – ascensão dos “Trumps” em escala global.
Além de cansada do horror do noticiário político
nacional e internacional, ando também descontente com o teor das análises que
se fazem dele, mesmo as melhores. Não é que discorde delas, pelo contrário. Por
isso as compartilho aqui. Mas tenho sempre a sensação de que falta olhar para
alguma outra coisa, e que, assim desviando o foco da atenção, seria possível
ver algo distinto, que pelo menos nos obrigasse ao esforço intelectual de
tentar saber do que se trata. Assim, propus-me a esse exercício dialogando com
o amigo Romulus, a propósito do seu último artigo aqui compartilhado. Quero
deixar registrado aqui o resultado.
Comentário a <<ATUALIZAÇÃO de “Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump”>>
outras dedicadas ao mesmo cataclismo Trump e demais assemelhados mundo afora, e
se pergunta: onde vamos parar por esse caminho?
de rumo. É claro que todos concordamos com essas grandes análises
sócio-político-institucionais, mas ainda sinto que fica faltando alguma coisa.
Vocês enumeram causas estruturais e conjunturais que levaram aos sucessivos
desastres de eleições indicadoras do avanço do pensamento e da ação de extrema
direita nazifascista, assim como também falam de suas inequívocas consequências
geopolíticas. Mas acho que falam pouco sobre como chegamos a esse ponto.
excluídos dos benefícios da globalização podiam descambar em xenofobia,
racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa, que mutuamente chamam
uns pelos outros, não importa por onde se inicia a sequência?
o foco se estreita em troca de acusações mútuas, inter- e intrapartidárias, da
direção e lideranças até os próprios candidatos. Isso quando não se torna
exercício sadomasoquista da velha prática de esquerda de crítica e exigência de
autocrítica, que acaba por disfarçar lutas por hegemonia e enfraquecer de
modo geral o próprio campo de esquerda, que se pretende restaurar ou mesmo
refundar.
analisadas, ele é tanto desqualificado por sua “imbecilidade”, “cegueira”, “alienação”
ou “má fé” (que podem ser de fato verdadeiras) quanto acaba por ser
“inocentado” em razão da manipulação de que é vítima (que existe, é claro) ou
das mesmas falhas partidárias apontadas (que ninguém pretende negar).
que se verifica em nível internacional, ou recorremos a apelos genéricos à unidade
e adoção de políticas de frente única, que se pretendem auto evidentes. Ou
ainda apostamos na esperança, radical e igualmente genérica, nas atuais
ocupações estudantis – ocupa tudo! – e nas manifestações dispersas, mas que
ocorrem a cada dia, contra as medidas do governo golpista, da PEC 55 à defesa
de direitos sociais que nos vêm sendo sistematicamente subtraídos.
vamos parar por esse caminho? –, já que as cartas estão sobre a mesa, mas não
sabemos mais qual o jogo que se trata de jogar.
rumo, trilhar outro caminho e considerar esse conjunto de questões sob outras
perspectivas, que podem trazer à nossa atenção algumas dimensões desses
processos ainda pouco exploradas.
reflexão que nos oferece Judith Butler sobre performance e a presença do corpo
no espaço público – das ruas ou de edifícios simbólicos que abrigam
instituições de poder – como linguagem política. Ela foca sua análise sobre
o movimento feminista, mas poderia igualmente ter considerado outras
performances de atores – unificados ou não em movimento – de qualquer lado do
espectro político.
“rolezinhos” da moçada da periferia nos Shopping Centers, e de seu “funk
ostentação”, que desencadearam uma inacreditável reação classista e racista,
chegando até à repressão policial?
ruas das capitais nos protestos “contra tudo que está aí” de 2013, para chegar,
depois, aos movimentos contra a Copa, as Olimpíadas e finalmente em favor do
impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
secundaristas que ocupam suas escolas, reforçados depois pela ocupação das
universidades e o apoio dos protestos organizados de sindicatos e movimentos
sociais contra a PEC 55 e a reforma do Ensino Médio? Não circulam já as
palavras de ordem “ocupar e resistir” ou mesmo “ocupa tudo”?
“escrachos” do Levante Popular da Juventude? E por acaso seria distinto o
sentido da presença dos Black Blocks nas manifestações de 2013 e a cuidadosa
estética de sua performance?
linguagens, já nos primeiros protestos contra o governo golpista, pela extinção
do MinC? Ou da sua presença obrigatória nos cortejos dos grandes protestos de
rua, organizados por centrais sindicais, partidos e movimentos sociais? Ou
mesmo sua participação esporádica, quase ao estilo flash mob, em manifestações
pontuais em espaços determinados da cidade, a Avenida Paulista ou a Cinelândia?
que a própria presença do corpo no espaço público já é, em si mesma, uma afirmação
e uma forma de protesto político que escapa à mediação – ou pelo menos à
dependência – de partidos ou outras organizações tradicionais. Tudo isso é novo
e deveria ser considerado na análise política.
mais ampla, que afeta a interpretação, o debate, a análise e a concepção
estratégica da organização política, e que está ligada a uma característica
própria do mundo contemporâneo: a espetacularização da vida social e, portanto,
também da política.
tradicional e sua capacidade de manipulação, não dissociada, porém, do
comportamento real tipicamente narcisista de personagens públicos notórios.
Como ocorre no Judiciário – das prisões da PF às declarações de procuradores, a
atuação do juiz da República de Curitiba até, enfim, o comportamento dos
ministros do STF. Sem esquecer o espetáculo político inaugural que foi a
transmissão televisiva do julgamento do chamado “Mensalão do PT”, conduzido
pelo maestro Joaquim Barbosa.
da admissibilidade do impeachment na Câmara à tortura inquisitorial de 14 horas
de interrogatório da presidenta da República no Senado, que levou à sua
destituição.
o Executivo tenta vender à população a ideia da inexorabilidade ou dos
benefícios das medidas de um governo golpista que vem destruindo em ritmo
acelerado a Constituição Federal, o Estado de Direito e o sistema democrático
que tanto nos custou reconquistar.
comportamento numa multidão que, num estádio desportivo, espetáculo artístico
ou evento político, espera, indiferente, pelo seu início, mas subitamente se
anima, em gestos, gritos, sorrisos e outras expressões de alegria, desde que
focada por uma câmera da TV Globo?
são filhos de um tempo em que as novas
tecnologias de informação deram primazia ao visual e tornaram indispensável a
comunicação imediata, reduzida às proporções mínimas compatíveis com mensagens
de twitter e whatsapp, de preferência traduzida em memes ou imagens
autoexplicativas.
por meios alternativos como a Mídia Ninja ou os Jornalistas Livres, das
miríades de eventos que dão forma ao Fora Temer! Ou ainda explica o esforço de
produção constante de vídeos como forma de comunicação direta de parlamentares
que se preocupam com a accountability
de seus mandatos perante seus eleitores e o conjunto da população.
o que dizer até mesmo das melhores matérias com que os blogs buscam suprir a
ausência de informação confiável da mídia, mas que precisam de farta ilustração
de imagens para despertar o interesse de leitores de cuja fidelização depende a
própria viabilidade dos blogs, a reputação dos blogueiros e sua sobrevivência
política?>>
Romulus: acho que isso foi uma indireta (também) para mim, rs…]
problema da comunicação. Aquele mesmo de que se acusa o governo Dilma Rousseff,
como responsável por sua própria queda. O mesmo que constitui a preocupação
central dos partidos que pretendem “refundar-se” mediante o restabelecimento da
ligação e comunicação efetiva com suas bases sociais.
sobre os métodos tradicionais de ensino, incapazes de conectar-se à experiência
imediata de vida dos educandos, e assim, na ausência de comunicação real com
seus educadores, levam à constatação, de parte a parte, da inanidade do
processo educativo como um todo.
mais diversos contextos sociais, é apontado como causa do distanciamento entre
gerações, separadas pelo domínio das tecnologias de informação e comunicação
como por barreiras quase tão intransponíveis quanto muralhas da China ou a
distância de séculos de civilização.
no centro de todas essas questões são problemas de linguagem, de comunicação e
de novas formas de organização e participação na cena política da sociedade do
espetáculo. São problemas cujo aprofundamento e
compreensão escapam ao escopo das análises sócio-político-institucionais com
que tradicionalmente tratamos de política.
ciência política baseada nas teorias clássicas precisariam ser revisitadas,
para que se pudesse recuperar as nuances em filigrana que elas comportam, de
modo a nos permitir utilizá-las como ferramenta prática de análise neste mundo
contemporâneo.
cuidadosamente distinguido o “dever ser”
da política – com que tradicionalmente se revestiu de fundamentos éticos o exercício do poder – do seu “ser” real – correlações de força, em que “boas leis e boas armas”, isto é, o
consenso e a violência, são as formas de sua existência efetiva – e finalmente
o “parecer ser” – que leva em conta
o aspecto intersubjetivo do exercício da
dominação e da obediência política. Reduzida a um “maquiavelismo” antiético
pela Igreja, esta lição de Maquiavel foi esquecida. Como pensar nela, num país cuja vida política acabou se tornando
refém de uma cruzada moralista contra a corrupção, conduzida por gente corrupta
e sem moral?
de conversa fiada” para impedir que interpretações “libertárias” do poder de
Estado – numa leitura precária e enviesada do próprio pensamento anarquista –
reivindiquem a “desconstrução subjetiva” da coerção centralizada no Estado,
como forma necessária de se viabilizar a participação livre e efetiva dos
verdadeiros “sujeitos” políticos.
verdadeira soberania popular, quando “vontade” é apenas tomada em seu sentido
voluntarista ou subjetivo, como condição suficiente da ação, sem que isso leve
a se preocupar com o processo necessário de construção e expressão dessa vontade
política.
teóricas, que estão na base de problemas concretos com que nos defrontamos no
cotidiano da vida política, e para as quais o caminho das análises tradicionais
não parece capaz de apontar muitas saídas.
cartas sobre a mesa, e que nossa única atitude possível é a da perplexidade ou,
francamente, do medo, diante de uma imprevisibilidade das próximas jogadas que
não fomos preparados para enfrentar. Quando tentei sugerir que se mudasse o
rumo de nossas análises, foi na tentativa de abrir novas possibilidades de
reflexão e ação política que nos tirem da paralisia a que parecemos condenados
no momento atual, diante do cenário devastador que consideramos como futuro.
confusa às suas ideias pode ser encontrada em edição recente da Carta Capital, embora traga também a
indicação da última obra da autora a que me refiro – mas poderia ter igualmente
chamado atenção para uma ação inovadora dentro de uma instituição tradicional
que, pelo menos em tese, não se enquadra em uma categoria de análise
institucional como partido político. Trata-se da Igreja Católica, e aqui me refiro ao relato de João Pedro Stedile, dirigente do MST, sobre seu recente encontro no Vaticano com outras lideranças de movimentos sociais, no 3º Encontro Mundial de Movimentos Populares
promovido pelo Papa, o “comunista”
franciscano.
considerar o explosivo potencial – em termos de debate, formação e organização
– dessa reunião em escala mundial de lideranças populares, em torno de valores
e um programa de ação que nenhum governo ou partido, por mais radical que seja,
teria hoje como propor com alguma perspectiva de viabilidade?
nem o poder das forças com que nos confrontamos. Nem desconsidero o esforço dos
analistas que se propõem a nos ajudar a compreender a disposição das cartas no
jogo.
que seria útil deslocar o olhar, estranhar o familiar e buscar tornar familiar
o estranho, para termos uma outra perspectiva com que nos confrontarmos com
o nosso presente e com o futuro que ainda temos a construir.
ponte estreita que hoje atravessamos, antes que possamos decretar a destruição
do mundo pelo triunfo da extrema direita fascista ou o fim de nossas esperanças
e nossa fé na civilidade de um convívio possível com a diversidade humana e um
inquebrantável ideal de justiça como regra desse convívio.
*
Introduções de <<Maria>> à série de Posts sobre o tema:
ponto de vista interessante e algumas previsões econômicas e políticas
aterrorizantes sobre mais uma catástrofe que se abateu sobre o mundo hoje, com
o resultado das eleições americanas.
Com seu olhar amplo de sempre e a capacidade de aproximar coisas aparentemente díspares, Romulus se interroga sobre os eleitores que fazem uma escolha mais próxima do apocalipse que de um caminho de solução para os problemas dos mais pobres. E constata que foi essa mesma escolha que levou ao “Brexit” e que, com a ascensão vertiginosa do conservadorismo de corte fascista, periga entregar a França a Marine Le Pen ou a Inglaterra ao National Front. Soluções econômicas praticamente inexistem, diante do poder do capital financeiro, mas no entanto são vendidas na propaganda eleitoral.
*
a análise de seu artigo anterior já postado aqui, Romulus se propõe a
“testar” seu enunciado sobre a lógica da polarização e da
radicalização, que exacerba o discurso ideológico e a oposição dos grupos em
disputa. Seus exemplos são as duas eleições presidenciais, no Brasil e nos USA,
em que a vitória apertada confirmou a divisão literal do país ao meio, abrindo
a possibilidade de contestação imediata.
os casos, verifica-se o mesmo “derretimento” do centro, que faria o
meio de campo entre as oposições extremas. A diferença fundamental está no
respeito – ou não! – ao arcabouço juridico-institucional que garante uma
vitória eleitoral numa democracia. E sabemos em que circunstâncias uma derrota
pode gerar um impeachment. Não mais dentro das regras do jogo democrático, mas
no golpe de Estado que o país vive hoje>>
<<Uma importante atualização de Romulus e
alguns de seus leitores mais qualificados sobre o avanço do discurso e das
posições políticas de direita conservadora e de extrema direita que os últimos
acontecimentos da cena política revelam. Não deixem de ler. Em algum momento
gostaria de acrescentar meus próprios comentários sobre esse quadro tenebroso
que os tempos atuais nos desenham como imagem de futuro*>>
palpites.
nosso desafio é ver onde esse negócio todo além de criar, é uma reelaboração de
águas passadas. Para mim, quando ela fala tão acertadamente na
espetacularização, me vem logo a imagem daquele filme sensacional,
“Arquitetura da Destruição”, sobre todo o investimento estético do
nazismo.
porque nossa figura de projeção não é agora um líder de massas, mas, desconfio,
tão e somente o nosso próprio ego,
cuidadosamente esvaziado em um plano para que outro lance sobre ele uma
fábula qualquer.
tempo todo sustentando os “MEUS”
direitos, “MEU” corpo, etc. Me parece que…
do neoliberalismo (mundial, de longa duração) foi justamente neutralizar a
psicologia de massas>>
pessoas e “todos” coletivos.
isso se aplicou em “frente
ampla”: dos antes mauricinhos e yuppies
do mercado à (parte da) crítica
feminista, na qual se encaixa Butler…
vieram recusar a ideia de sociedade; de todo; de estrutura; de recorrência
histórica>>
incrível que as várias frentes pós-modernas na academia americana lancem a
ideia de que o único lugar legítimo da fala e da “interpretação” é a
agência individual?
mais direita e esquerda, pois esse foi o legado desastroso da queda da URSS:
borrar esse campo e fazer intelectuais pelos quatro cantos ventilarem a
supremacia do indivíduo.
qualquer manifestação em favor da sociedade, dos direitos coletivos, do Estado,
ou mesmo de um certo atavismo em relação a líderes carismáticos (Lula, Chavez,
etc.), ser de cara classificada como “anacronismo”>>
potência do coletivo para nutrir o indivíduo, agra visto potencialmente como um
<<empreendedor>>.
todos empresários, afinal, e o blog, ou mesmo essas nossa micro-página aqui no
Facebook, são o atestado disso: cada um levanta seu cartaz>>
para abalar a última trincheira que sobrou dessa meleca toda, justo a mais podre,
que é a mega-corporação.
propagadora disso tudo, tem agência coletiva mas é apropriação privada>>
sempre disse Marx. Enfim, como você,
não tenho muitas respostas, mas mais indagações.
Que fazer?, como já dizia Lenin….
a 4a. Revolução Industrial tornar obsoleta a força de trabalho como fator de
produção (alguns dizem que pode acontecer!!), aí a gente acaba com o
capitalismo e se inaugura o novo Reino da Liberdade (com o fim do reino da
necessidade), onde cada um poderá escolher ser caçador de manhã, pescador de tarde
e crítico crítico de noite?>>
Lembrando um outro post-discussão nosso, repito que
antes disso haverá um (outro?) juízo final (ou será o mesmo? Com tudo junto e misturado?), para definir essa propriedade…
para…
* * *
Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?
Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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