Perplexidade com a ascensão – global! – dos “Trumps”: a reflexão de Maria – leitora xodó e guru do blog


Perplexidade com a ascensão – global! – dos “Trumps”:

– A reflexão de <<Maria>> – leitora xodó e guru do blog 

– Como não vimos que a frustração e a irritação dos que se sentiram excluídos dos benefícios da globalização podiam descambar em xenofobia, racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa?

– Enquanto isso, o foco se estreita em troca de acusações mútuas, inter- e intrapartidárias. Isso quando não se torna exercício sadomasoquista da velha prática de esquerda de crítica e exigência de autocrítica.

– A reflexão de Judith Butler sobre a presença do corpo no espaço público – das ruas ou de edifícios simbólicos que abrigam instituições de poder – como linguagem política.

– As implicações da primazia do visual, tornando indispensável a comunicação imediata, reduzida às proporções mínimas compatíveis com mensagens de twitter e whatsapp, de preferência traduzida em memes ou imagens autoexplicativas.

– No centro de todas essas questões, problemas de linguagem, de comunicação e de novas formas de organização e participação na cena política da sociedade do espetáculo.

– Um convite para deslocar o olhar: estranhar o familiar e buscar tornar familiar o estranho, na busca de uma outra perspectiva.

– Alguns gigantes sobre cujos ombros apoiar para ver mais longe nessa busca: Maquiavel, Hobbes, Rousseau e…

– … o Papa Francisco?! Em “Encontro Mundial de Movimentos Populares”?!! No Vaticano?!!!

– Atenção: jogo não está ainda inteiramente jogado!
*

Em introdução no Facebook ao seu compartilhamento do Post “ATUALIZAÇÃO de ‘Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump‘”…

… Maria, nossa (des) conhecida leitora xodó e guru, propõe (não tão…) novos parâmetros para a nossa reflexão pós-perplexidade pós – de novo – ascensão dos “Trumps” em escala global.

Diz Maria:

Além de cansada do horror do noticiário político
nacional e internacional, ando também descontente com o teor das análises que
se fazem dele, mesmo as melhores. Não é que discorde delas, pelo contrário. Por
isso as compartilho aqui. Mas tenho sempre a sensação de que falta olhar para
alguma outra coisa, e que, assim desviando o foco da atenção, seria possível
ver algo distinto, que pelo menos nos obrigasse ao esforço intelectual de
tentar saber do que se trata. Assim, propus-me a esse exercício dialogando com
o amigo Romulus, a propósito do seu último artigo aqui compartilhado. Quero
deixar registrado aqui o resultado.

Comentário a <<ATUALIZAÇÃO de “Apertem os cintos e respirem fundo: eleições agora serão como a de Trump”>>

Caro Romulus,
Você constata a concordância de suas análises com
outras dedicadas ao mesmo cataclismo Trump e demais assemelhados mundo afora, e
se pergunta: onde vamos parar por esse caminho?
Onde, não sei, mas acho que talvez precisássemos mudar
de rumo. É claro que todos concordamos com essas grandes análises
sócio-político-institucionais, mas ainda sinto que fica faltando alguma coisa.
Vocês enumeram causas estruturais e conjunturais que levaram aos sucessivos
desastres de eleições indicadoras do avanço do pensamento e da ação de extrema
direita nazifascista, assim como também falam de suas inequívocas consequências
geopolíticas. Mas acho que falam pouco sobre como chegamos a esse ponto.
Em geral o tom é de perplexidade. Como não vimos que a frustração e a irritação dos que se sentiram
excluídos dos benefícios da globalização podiam descambar em xenofobia,
racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa
, que mutuamente chamam
uns pelos outros, não importa por onde se inicia a sequência?
Em nível local,
o foco se estreita em troca de acusações mútuas, inter- e intrapartidárias, da
direção e lideranças até os próprios candidatos. Isso quando não se torna
exercício sadomasoquista da velha prática de esquerda de crítica e exigência de
autocrítica
, que acaba por disfarçar lutas por hegemonia e enfraquecer de
modo geral o próprio campo de esquerda, que se pretende restaurar ou mesmo
refundar.
Quanto ao eleitor, principal agente das catástrofes
analisadas, ele é tanto desqualificado por sua “imbecilidade”, “cegueira”, “alienação”
ou “má fé” (que podem ser de fato verdadeiras) quanto acaba por ser
“inocentado” em razão da manipulação de que é vítima (que existe, é claro) ou
das mesmas falhas partidárias apontadas (que ninguém pretende negar).
E, então, onde ficamos?
Ou permanecemos, estarrecidos, na mesma perplexidade
que se verifica em nível internacional, ou recorremos a apelos genéricos à unidade
e adoção de políticas de frente única, que se pretendem auto evidentes. Ou
ainda apostamos na esperança, radical e igualmente genérica, nas atuais
ocupações estudantis – ocupa tudo! – e nas manifestações dispersas, mas que
ocorrem a cada dia, contra as medidas do governo golpista, da PEC 55 à defesa
de direitos sociais que nos vêm sendo sistematicamente subtraídos.
E, então, voltamos de outro modo à sua questão – onde
vamos parar por esse caminho? –, já que as cartas estão sobre a mesa, mas não
sabemos mais qual o jogo que se trata de jogar.
É aí que eu gostaria de sugerir de seria bom mudar de
rumo, trilhar outro caminho e considerar esse conjunto de questões sob outras
perspectivas, que podem trazer à nossa atenção algumas dimensões desses
processos ainda pouco exploradas.
Uma delas é a
reflexão que nos oferece Judith Butler sobre performance e a presença do corpo
no espaço público – das ruas ou de edifícios simbólicos que abrigam
instituições de poder – como linguagem política
. Ela foca sua análise sobre
o movimento feminista, mas poderia igualmente ter considerado outras
performances de atores – unificados ou não em movimento – de qualquer lado do
espectro político.
Quem não se lembra, não muito tempo atrás, dos
“rolezinhos” da moçada da periferia nos Shopping Centers, e de seu “funk
ostentação”, que desencadearam uma inacreditável reação classista e racista,
chegando até à repressão policial?
E não foi um processo de aprendizado a ocupação das
ruas das capitais nos protestos “contra tudo que está aí” de 2013, para chegar,
depois, aos movimentos contra a Copa, as Olimpíadas e finalmente em favor do
impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
Não é o mesmo que está acontecendo com os jovens
secundaristas que ocupam suas escolas, reforçados depois pela ocupação das
universidades e o apoio dos protestos organizados de sindicatos e movimentos
sociais contra a PEC 55 e a reforma do Ensino Médio? Não circulam já as
palavras de ordem “ocupar e resistir” ou mesmo “ocupa tudo”?
Mas não obedeciam à mesma lógica, já bem antes, os
“escrachos” do Levante Popular da Juventude? E por acaso seria distinto o
sentido da presença dos Black Blocks nas manifestações de 2013 e a cuidadosa
estética de sua performance?
O que dizer, aliás, da própria arte e suas múltiplas
linguagens, já nos primeiros protestos contra o governo golpista, pela extinção
do MinC? Ou da sua presença obrigatória nos cortejos dos grandes protestos de
rua, organizados por centrais sindicais, partidos e movimentos sociais? Ou
mesmo sua participação esporádica, quase ao estilo flash mob, em manifestações
pontuais em espaços determinados da cidade, a Avenida Paulista ou a Cinelândia?
Butler fala em associações instáveis e performances em
que a própria presença do corpo no espaço público já é, em si mesma, uma afirmação
e uma forma de protesto político que escapa à mediação – ou pelo menos à
dependência – de partidos ou outras organizações tradicionais. Tudo isso é novo
e deveria ser considerado na análise política.
Mas, principalmente, isso nos remete a uma questão
mais ampla, que afeta a interpretação, o debate, a análise e a concepção
estratégica da organização política, e que está ligada a uma característica
própria do mundo contemporâneo: a espetacularização da vida social e, portanto,
também da política.
Grande parte dela deve ser creditada à mídia
tradicional e sua capacidade de manipulação, não dissociada, porém, do
comportamento real tipicamente narcisista de personagens públicos notórios.
Como ocorre no Judiciário – das prisões da PF às declarações de procuradores, a
atuação do juiz da República de Curitiba até, enfim, o comportamento dos
ministros do STF. Sem esquecer o espetáculo político inaugural que foi a
transmissão televisiva do julgamento do chamado “Mensalão do PT”, conduzido
pelo maestro Joaquim Barbosa.
E isso se repete no Legislativo, da deplorável votação
da admissibilidade do impeachment na Câmara à tortura inquisitorial de 14 horas
de interrogatório da presidenta da República no Senado, que levou à sua
destituição.
Sem falar nas inverossímeis campanhas de mídia com que
o Executivo tenta vender à população a ideia da inexorabilidade ou dos
benefícios das medidas de um governo golpista que vem destruindo em ritmo
acelerado a Constituição Federal, o Estado de Direito e o sistema democrático
que tanto nos custou reconquistar.
Mas quem deixaria de reconhecer esse mesmo tipo de
comportamento numa multidão que, num estádio desportivo, espetáculo artístico
ou evento político, espera, indiferente, pelo seu início, mas subitamente se
anima, em gestos, gritos, sorrisos e outras expressões de alegria, desde que
focada por uma câmera da TV Globo?
Tais fenômenos não acontecem de forma isolada. Eles
são filhos de um tempo em que as novas
tecnologias de informação deram primazia ao visual e tornaram indispensável a
comunicação imediata, reduzida às proporções mínimas compatíveis com mensagens
de twitter e whatsapp, de preferência traduzida em memes ou imagens
autoexplicativas.
É essa cultura que exige a transmissão em tempo real,
por meios alternativos como a Mídia Ninja ou os Jornalistas Livres, das
miríades de eventos que dão forma ao Fora Temer! Ou ainda explica o esforço de
produção constante de vídeos como forma de comunicação direta de parlamentares
que se preocupam com a accountability
de seus mandatos perante seus eleitores e o conjunto da população.
<<E
o que dizer até mesmo das melhores matérias com que os blogs buscam suprir a
ausência de informação confiável da mídia, mas que precisam de farta ilustração
de imagens para despertar o interesse de leitores de cuja fidelização depende a
própria viabilidade dos blogs, a reputação dos blogueiros e sua sobrevivência
política?>>
[Nota de
Romulus:
acho que isso foi uma indireta (também) para mim, rs…]
A espetacularização da vida social é inseparável do
problema da comunicação. Aquele mesmo de que se acusa o governo Dilma Rousseff,
como responsável por sua própria queda. O mesmo que constitui a preocupação
central dos partidos que pretendem “refundar-se” mediante o restabelecimento da
ligação e comunicação efetiva com suas bases sociais.
E que está no cerne da queixa de alunos e professores
sobre os métodos tradicionais de ensino, incapazes de conectar-se à experiência
imediata de vida dos educandos, e assim, na ausência de comunicação real com
seus educadores, levam à constatação, de parte a parte, da inanidade do
processo educativo como um todo.
Aliás, o mesmo problema que, em todos os níveis e nos
mais diversos contextos sociais, é apontado como causa do distanciamento entre
gerações, separadas pelo domínio das tecnologias de informação e comunicação
como por barreiras quase tão intransponíveis quanto muralhas da China ou a
distância de séculos de civilização.
O que está
no centro de todas essas questões são problemas de linguagem, de comunicação e
de novas formas de organização e participação na cena política da sociedade do
espetáculo.
São problemas cujo aprofundamento e
compreensão escapam ao escopo das análises sócio-político-institucionais com
que tradicionalmente tratamos de política.
Chego mesmo até a desconfiar que nossas categorias da
ciência política baseada nas teorias clássicas precisariam ser revisitadas,
para que se pudesse recuperar as nuances em filigrana que elas comportam, de
modo a nos permitir utilizá-las como ferramenta prática de análise neste mundo
contemporâneo.
De nada adiantou <<Maquiavel>> ter
cuidadosamente distinguido o “dever ser”
da política
– com que tradicionalmente se revestiu de fundamentos éticos o exercício do poder – do seu “ser” realcorrelações de força, em que “boas leis e boas armas”, isto é, o
consenso e a violência, são as formas de sua existência efetiva – e finalmente
o “parecer ser” – que leva em conta
o aspecto intersubjetivo do exercício da
dominação e da obediência política
. Reduzida a um “maquiavelismo” antiético
pela Igreja, esta lição de Maquiavel foi esquecida. Como pensar nela, num país cuja vida política acabou se tornando
refém de uma cruzada moralista contra a corrupção, conduzida por gente corrupta
e sem moral?
Tampouco bastou <<Hobbes>> prescrever que “um pacto sem espada afiada não passa
de conversa fiada” para impedir que interpretações “libertárias” do poder de
Estado – numa leitura precária e enviesada do próprio pensamento anarquista –
reivindiquem a “desconstrução subjetiva” da coerção centralizada no Estado,
como forma necessária de se viabilizar a participação livre e efetiva dos
verdadeiros “sujeitos” políticos.
E também de nada serviu <<Rousseau>> ter colocado a “Vontade Geral” como expressão da
verdadeira soberania popular, quando “vontade” é apenas tomada em seu sentido
voluntarista ou subjetivo, como condição suficiente da ação, sem que isso leve
a se preocupar com o processo necessário de construção e expressão dessa vontade
política.
Enfim, trata-se de questões reais, e não apenas
teóricas, que estão na base de problemas concretos com que nos defrontamos no
cotidiano da vida política, e para as quais o caminho das análises tradicionais
não parece capaz de apontar muitas saídas.
A sensação é de que o jogo está jogado, com todas as
cartas sobre a mesa, e que nossa única atitude possível é a da perplexidade ou,
francamente, do medo, diante de uma imprevisibilidade das próximas jogadas que
não fomos preparados para enfrentar. Quando tentei sugerir que se mudasse o
rumo de nossas análises, foi na tentativa de abrir novas possibilidades de
reflexão e ação política que nos tirem da paralisia a que parecemos condenados
no momento atual, diante do cenário devastador que consideramos como futuro.
Mencionei a instigante e inovadora reflexão de Judith Butler – uma referência algo
confusa às suas ideias pode ser encontrada em edição recente da Carta Capital, embora traga também a
indicação da última obra da autora a que me refiro – mas poderia ter igualmente
chamado atenção para uma ação inovadora dentro de uma instituição tradicional
que, pelo menos em tese, não se enquadra em uma categoria de análise
institucional como partido político. Trata-se da Igreja Católica, e aqui me refiro ao relato de João Pedro Stedile, dirigente do MST, sobre seu recente encontro no Vaticano com outras lideranças de movimentos sociais, no 3º Encontro Mundial de Movimentos Populares
promovido pelo Papa, o “comunista”
franciscano.
Não seria conveniente, em nossas análises políticas,
considerar o explosivo potencial – em termos de debate, formação e organização
– dessa reunião em escala mundial de lideranças populares, em torno de valores
e um programa de ação que nenhum governo ou partido, por mais radical que seja,
teria hoje como propor com alguma perspectiva de viabilidade?
O que quero salientar é que o jogo não está ainda inteiramente jogado. Não desconheço o tamanho
nem o poder das forças com que nos confrontamos. Nem desconsidero o esforço dos
analistas que se propõem a nos ajudar a compreender a disposição das cartas no
jogo.
Mas apenas considero
que seria útil deslocar o olhar, estranhar o familiar e buscar tornar familiar
o estranho, para termos uma outra perspectiva
com que nos confrontarmos com
o nosso presente e com o futuro que ainda temos a construir.

Muita água do rio da História ainda há de correr sob a
ponte estreita que hoje atravessamos, antes que possamos decretar a destruição
do mundo pelo triunfo da extrema direita fascista ou o fim de nossas esperanças
e nossa fé na civilidade de um convívio possível com a diversidade humana e um
inquebrantável ideal de justiça como regra desse convívio.

*


Introduções de <<Maria>> à série de Posts sobre o tema:

<<Um
ponto de vista interessante e algumas previsões econômicas e políticas
aterrorizantes sobre mais uma catástrofe que se abateu sobre o mundo hoje, com
o resultado das eleições americanas.




Com seu olhar amplo de sempre e a capacidade de aproximar coisas aparentemente díspares, Romulus se interroga sobre os eleitores que fazem uma escolha mais próxima do apocalipse que de um caminho de solução para os problemas dos mais pobres. E constata que foi essa mesma escolha que levou ao “Brexit” e que, com a ascensão vertiginosa do conservadorismo de corte fascista, periga entregar a França a Marine Le Pen ou a Inglaterra ao National Front. Soluções econômicas praticamente inexistem, diante do poder do capital financeiro, mas no entanto são vendidas na propaganda eleitoral.

De algum modo, porém, um voto de protesto, ainda que enrolado em impasses insolúveis. Nos USA como na Europa, contra a incapacidade representativa do sistema político-eleitoral e os desastres da economia. E, surpreendentemente, ainda que por outros caminhos, também no Brasil, como mostraram as últimas eleições. Sobra o convite para pensar com mais profundidade os motivos da ação politica desses atores sociais, em cujo improvável levante esperaríamos encontrar um freio ao golpe em curso>>





*

<<Para além da questão eleitoral, faz tempo que me preocupa a polarização e radicalização que estão na base da cultura do ódio responsável pelo racismo, machismo, pela homofobia, a intolerância religiosa e, de um modo geral, ao convívio com tudo o que remeta à diferença, à aceitação do outro como um igual. É claro que, no fundo disso tudo, está um sentimento difuso de insegurança e medo, e que é esta a base do discurso e das formas de ação (inclusive violentas) da extrema direita. Mas me preocupava com isso tudo no plano da cultura, como construção de uma visão de mundo e de uma ideologia de direita.
Neste artigo brilhante, Romulus junta num mesmo todo a retórica, a base social e o arcabouço político-institucional que torna possível a radicalização e a polarização desse discurso e dessa ação de direita, tomando como base o panorama eleitoral, visto em escala mundial. Uma leitura indispensável>>
E de novo:
<<Compartilho novamente o artigo porque, numa atualização importante, Romulus aprofunda a lógica da polarização e radicalização apenas indicada na versão original. Alertado por um leitor, retomou alguns pontos já levantados em posts anteriores e sistematizou a reflexão. Não sei se, nesses lances de publicações em blogs, as atualizações são ou não automaticamente incluídas na versão original. Se for o caso de elas estarem no post já compartilhado, não custa ler de novo pra ajudar a aprofundar com suas próprias reflexões essa discussão mais que importante…>>
*

<<Continuando
a análise de seu artigo anterior já postado aqui, Romulus se propõe a
“testar” seu enunciado sobre a lógica da polarização e da
radicalização, que exacerba o discurso ideológico e a oposição dos grupos em
disputa. Seus exemplos são as duas eleições presidenciais, no Brasil e nos USA,
em que a vitória apertada confirmou a divisão literal do país ao meio, abrindo
a possibilidade de contestação imediata.
Em ambos
os casos, verifica-se o mesmo “derretimento” do centro, que faria o
meio de campo entre as oposições extremas. A diferença fundamental está no
respeito – ou não! – ao arcabouço juridico-institucional que garante uma
vitória eleitoral numa democracia. E sabemos em que circunstâncias uma derrota
pode gerar um impeachment. Não mais dentro das regras do jogo democrático, mas
no golpe de Estado que o país vive hoje>>

*

<<Uma importante atualização de Romulus e
alguns de seus leitores mais qualificados sobre o avanço do discurso e das
posições políticas de direita conservadora e de extrema direita que os últimos
acontecimentos da cena política revelam. Não deixem de ler. Em algum momento
gostaria de acrescentar meus próprios comentários sobre esse quadro tenebroso
que os tempos atuais nos desenham como imagem de futuro*
>>

* Pois o “momento” de Maria comentar chegou…
Agradeço em nome de todos os leitores do blog!
*

Atualização das 17h: mais reverberações

O Aroreira vem em defesa de um “puteiro” (nosso!):


*

E o Piero Leirner traz várias sacadas:
Muito bom, caros Maria e Romulus!
Em relação ao comentário de Maria, tenho alguns
palpites.
Tem sim algo de muito novo aí, e de repente acho que
nosso desafio é ver onde esse negócio todo além de criar, é uma reelaboração de
águas passadas. Para mim, quando ela fala tão acertadamente na
espetacularização, me vem logo a imagem daquele filme sensacional,
“Arquitetura da Destruição”, sobre todo o investimento estético do
nazismo.
Talvez estejamos longe daquelas manifestações alemãs, especialmente
porque nossa figura de projeção não é agora um líder de massas, mas, desconfio,
tão e somente o nosso próprio ego,
cuidadosamente esvaziado
em um plano para que outro lance sobre ele uma
fábula qualquer.
De um lado não somos nada, para de outro estarmos o
tempo todo sustentando os “MEUS”
direitos, “MEU” corpo
, etc. Me parece que…
<< o êxito
do neoliberalismo (mundial, de longa duração) foi justamente neutralizar a
psicologia de massas
>>
… que supunha as famosas ligações holistas entre as
pessoas e “todos” coletivos.
E o êxito maior veio, no meu entender, do fato que
isso se aplicou em “frente
ampla”
: dos antes mauricinhos e yuppies
do mercado
à (parte da) crítica
feminista
, na qual se encaixa Butler
<<todos
vieram recusar a ideia de sociedade; de todo; de estrutura; de recorrência
histórica
>>
Assassinaram, numa tacada, Marx e Durkheim. Não é
incrível que as várias frentes pós-modernas na academia americana lancem a
ideia de que o único lugar legítimo da fala e da “interpretação” é a
agência individual?
E aí não é à toa que tanta gente insiste que não há
mais direita e esquerda, pois esse foi o legado desastroso da queda da URSS:
borrar esse campo e fazer intelectuais pelos quatro cantos ventilarem a
supremacia do indivíduo.
<<Daí,
qualquer manifestação em favor da sociedade, dos direitos coletivos, do Estado,
ou mesmo de um certo atavismo em relação a líderes carismáticos (Lula, Chavez,
etc.), ser de cara classificada como “anacronismo”
>>
Mas o que não se coloca aí é que apenas se tirou a
potência do coletivo para nutrir o indivíduo, agra visto potencialmente como um
<<empreendedor>>.
<<Somos
todos empresários, afinal, e o blog, ou mesmo essas nossa micro-página aqui no
Facebook, são o atestado disso: cada um levanta seu cartaz
>>
Claro, isso tudo não foi, e não sei se será, suficiente
para abalar a última trincheira que sobrou dessa meleca toda, justo a mais podre,
que é a mega-corporação.
E essa…
<<sobreviveu graças ao fato de que ela sempre foi
propagadora disso tudo, tem agência coletiva mas é apropriação privada
>>
… como
sempre disse Marx. Enfim, como você,
não tenho muitas respostas, mas mais indagações.

Que fazer?, como já dizia Lenin….

*
*

E volta a Maria, viajando até um apocalipse:


*

Volto eu, Romulus:

Maria disse aí em cima:
<<E quando
a 4a. Revolução Industrial tornar obsoleta a força de trabalho como fator de
produção (alguns dizem que pode acontecer!!), aí a gente acaba com o
capitalismo e se inaugura o novo Reino da Liberdade (com o fim do reino da
necessidade), onde cada um poderá escolher ser caçador de manhã, pescador de tarde
e crítico crítico de noite?
>>
“Reino da Liberdade”…
Liberdade para quem?
Certamente para quem for dono desse “Reino”.
Ou melhor: se será “reino” mesmo ou…
– … “re-pública” da liberdade.

Lembrando um outro post-discussão nosso, repito que
antes disso haverá um (outro?) juízo final (ou será o mesmo? Com tudo junto e misturado?), para definir essa propriedade…

… para saber se vamos para o Éden ou
para…

Como disse ali,
<<Não acredito na fraude do “fim da história” proposto por Fukuyama tampouco.
Contudo, parece-me certo que nos aproximamos sim do fim de um dos “tomos” da coleção “História da Humanidade”.
E qual o capítulo final desse tomo?
O momento em que a tecnologia tornará – e isso é inexorável – o trabalho físico (e em parte intelectual) humano irrelevante. Ou, ao menos, diminuirá muito a sua importância, a ponto de se tornar marginal para a geração de riqueza.
Dessa forma, não se precisará mais de “alugar o trabalho da mão de obra” humana.
O capital será, finalmente, auto-suficiente.
Prometeu quebrará as últimas correntes.
Mas só “um” Prometeu sozinho…
*
E aí?
Bem, excluindo o cenário “Exterminador do Futuro”, em que as maquinas se rebelam e nos exterminam,* sobram duas opções:
1.   Ou a coletividade “se revolta” e se apropria – por meio do Estado – desse capital autônomo e distribui a riqueza; ou
2.   Viveremos em um mundo “privatizado”, com ricos “declarando independência” dos seus territórios murados e todos os despossuídos rastejando do lado de fora. Para continuar na ficção científica, algo parecido com o cenário do filme “Elysium” (2013), com Jodie Foster, Matt Damon e os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura.
Trailer aqui:
Ou uma coisa ou outra.
Porque crer, ainda, na civilidade e generosidade dos atuais donos do capital é impossível.
No dia em que eles conseguirem, finalmente, “declarar independência” dos Estados, será o “juízo final”.
E desse julgamento supremo saem, necessariamente:
–  ou os “Campos Elísios” (um “Elysium” sim, mas para todos);
– ou um inferno de Dante para o 99% da população mundial fora do “Elysium”.
O que pensa disso?
Eu, de mim, penso que do final deste século o “juízo final” não passa.
E o que virá então?
*O cenário “Exterminador do Futuro” não é apenas tema de filme blockbuster. Gente bem “esperta”, como o físico Stephen Hawking, acredita realmente na sua possibilidade. Ou, até mesmo, probabilidade. E, por isso, tem sérias restrições ao curso dado a pesquisas sobre inteligência artificial>>

*   *   *

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(iv) E também no GGN, onde os posts são republicados:
*

Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também. 

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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