Debate: Desconstruir Bolsonaro é politizar o cidadão enganado

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Se há um erro nos treze anos em que os chamados “partidos progressistas” estiveram no poder no Brasil, a completa ausência de uma estratégia para a politização do cidadão é o pior ou um dos piores desses erros. No lugar de despertar a consciência do cidadão sobre a existência de uma luta de classes para que ele tivesse acesso ao emprego, à universidade e comida na mesa, políticos vaidosos acreditaram que seriam úteis às elites como “elo entre pobres e ricos” e preferiram reduzir o cidadão e as suas conquistas ao mais baixo capitalismo: o de consumo.

As consequências são dramáticas, pois no lugar do cidadão consciente o “consumidor” foi desviado do debate sério sobre a manutenção das poucas conquistas que foram ensaiadas naqueles treze anos. Assim, vimos surgir a invasão do craque, a apologia à ditadura e a posse das conquistas sociais pelos charlatães da fé. Para piorar, entre os “progressistas” foi incorporada a figura do “identitário”.

Bolhas em forma de bandeiras identitárias passaram a reduzir a possibilidade de unidade nacional em torno das lutas de classe e, mais grave, impediram essa unidade através da “cega defesa das diferenças”. Grupos de negros, grupos feministas, grupos disso e grupos daquilo foram mergulhando nas próprias características e criaram subdivisões ainda mais separatistas, terreno fértil para as sementes podres.

Neste completo abandono da política real – a política do opressor e do oprimido que caracteriza a história brasileira – surgiu a figura bizarra do Olavo de Carvalho como “cérebro” de outra figura, não menos bizarra, chamada Bolsonaro. Dito isso, justifico aqui – a partir da minha percepção sobre o momento atual da política brasileira – a importância desta entrevista com uma respeitada filósofa brasileira, Marcia Sá Cavalcante Shuback, responsável pela criação e manutenção do curso de filosofia na Universidade de Södertörn, em Estocolmo – Suécia.

Dentro da minha proposta de promover o debate, fiz as devidas provocações numa entrevista que considero útil para este propósito, respeitando o contraditório, para que possamos ampliar este debate tão necessário sobre a política do nosso país. Marcia Cavalcante fala neste vídeo sobre o dicionário “Desbolsonário de bolso”. São 50 páginas que tentam desconstruir os verbetes recentes que ocupam o tempo das pessoas com insanidades que ganharam força inicialmente nas redes sociais, mas depois ocuparam todos os espaços de debate.

Antes que eu seja visto como um “radical”, gostaria de deixar claro que vejo a luta contra o racismo, por justiça, pelo respeito às diferenças como um todo, etc. como parte integrante de uma democracia. Por isso, considerando que a luta do atual poder é pela destruição da democracia, coloco todas as bandeiras no mesmo pacote da luta pelo resgate democrático que julgo ser a “base de todas as outras” lutas, bandeiras e crenças.

Baixe aqui o “Desbolsonário” e leia neste feriado da páscoa. A propósito desta celebração, desejo uma Boa Páscoa a você que é “expressonauta”.

Vamos ao debate? Assista ao vídeo e compartilhe com os seus contatos.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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