“Grifo”… não “serpente”: extrema-direita arma o bote na eleição francesa
“Grifo”… não “serpente”: extrema-direita arma o bote na eleição francesa
Por Núcleo Duro
– Vai dar Marine Le Pen? Fatores: não somente a abstenção da esquerda num segundo turno, mas também porque o seu rival, Emmanuel Macron, é personagem de fácil desconstrução. Cheio de contradições, só alçou voo com o apoio massivo da mídia.
– Contudo, hoje em dia, apoio explícito da mídia num segundo turno não cairá bem para um cara que se diz “o novo” e “contra tudo que está aí”…. se Le Pen conseguir colar em Macron a etiqueta de “candidato do sistema”, ganha.
– Mídia mainstream sofre de altíssima rejeição no “basket of deplorables” (apud Hilary Clinton) de todo o mundo. Pergunte se os “Bolsominions” do Brasil gostam da Globo, da Folha, etc. …
– Imperdível: entrevista com o maior ~criador~ – confesso! – de “fake news” nos EUA.
*
Bate-bola sobre o debate presidencial na França:
Ciro: Já vi isso antes, nos EUA, ano passado…
Romulus: exato!
O Tiago acha que vai dar Le Pen :-O
Ciro: não sei dizer pq na França não tem colégio eleitoral (a gente esquece, mas a Hillary ganhou a eleição popular), mas q abre caminho abre sim.
Basta a esquerda resolver ficar em casa…
É como se fosse, Alckmin vs. Bolsonaro e a gente resolve não votar pq acha q é tudo igual. Aí depois a gente descobre que nem sempre 6 é igual a meia dúzia…
Romulus: sim… como ficou no 1o turno de 2002. Porque acreditou nas pesquisas que davam o Partido Socialista já no 2o turno contra Chirac (inclusive com vitória do PS no 2o!)…
– … e deu Le Pen!
Esse negócio de voto facultativo é um frio na barriga tremendo.
Fabio: Mas depois de terem visto o triunfo de Trump nos EUA (E de Dória em São Paulo) graças a abstenção, a esquerda francesa cometerá o erro de deixar sua militância em casa?
Ciro: Não o de hábito lá, mas basta uma pesquisa dar q ele não precisa de ajuda que de repente o cara acha que não precisa ir votar, já tá eleito…
Romulus: Exato… o lance é a pesquisa. Se der uma folga, desmobiliza.
Tiago:
<<Vai dar Le Pen. Não somente pela abstenção da esquerda mas também porque Macron é personagem de fácil desconstrução, cheio de contradições. Só alçou voo com o apoio massivo da mídia>>
<<Mas hoje em dia apoio da Mídia num segundo turno não cairá bem para um cara que se diz “o novo” e “contra tudo que tá aí”….Se ela conseguir colar nele a etiqueta de “candidato do sistema”, Marine ganha>>
Romulus: Esse ponto é relevante.
<<A mídia mainstream hoje sofre de altíssima rejeição no “basket of deplorables” de todo o mundo. Pergunta se os Bolsominions gostam da Globo, da Folha, etc.>>
Sobre isso, inclusive, Mélenchon riu da – ótima! – tirada de Marine Le Pen para cima da âncora do debate…
A âncora se dirigiu a ela perguntando sobre a “inédita má imagem que as pessoas têm dos políticos”…
Marina Le Pen não hesitou:
<<Se perguntar às pessoas, pior que a imagem dos políticos só a da…
– … mídia!>>
Ciro: É aquela coisa, né? “Se a Globo tá apoiando eu voto contra” (mesmo se for para votar no Bolsonaro (!)).
Romulus: Sobre esse tema, quem entende francês tem o ~dever~ de assistir a essa reportagem, de 30 min (!), sobre “fake news”, “alternative facts” e a rejeição do “basket of deplorables” (apud Hilary Clinton) com relação à mídia mainstream.
Tratam, evidentemente, do maior “case”: a eleição Hilary vs. Trump.
IMPERDÍVEL:
– Entrevista com o maior ~criador~ – confesso! – de “fake news” nos EUA!
Tiago:
<<E se o Hollande ajudar declarando apoio ao Macron, Marine terá vitória fácil, fácil. Aliás, nem precisa do Hollande… deixa o PS vir em peso ajudar ele na reta final ou no segundo turno… deixa a etiqueta de hollandista, filho pródigo, príncipe herdeiro pegar…Marine vai gritar “On est chez nous” na festa da vitoria!>>
Romulus: Semana passada mais dois do governo embarcaram no Macron. Um deles, uma assessora intimíssima do Hollande. O Macron deve estar desesperado com esses… ~apoios~.
Tiago: Eu odeio o Macron…
<<… ele é o sistema, não só o sistema financeiro, mídia e empresariado. Ele é o sistema de castas da sociedade francesa: branco, rico, de origem francesa, vindo das Grandes Écoles – ele é o estereótipo da classe dominante! Playboy!!!!!>>
Romulus: Petit prodige… um projeto de Napoleão. rs
Tiago: Podem criticar os EUA, mas pelo menos houve um Barak Obama! A França não tem vergonha na cara! Quero a banlieue no Eliseu!!!
#Ocupaaaaaaa !!
Patricia: Excelente, Tiago! Foi o que falei… é muito sociedade de castas aqui na França! Os únicos dois operários que não vieram da alta classe foram dois ministros que a “Historia” faz questão de esquecer
Tiago: Quem foram?
Patricia: Foram somente DOIS ministros de origem humilde nos mais de 100 anos de republica francesa! E todos na última, a quinta república: Ambroise Croizat foi ministro do trabalho de Charles de Gaulle em 1945 e foi ele que implementou a securite sociale. A História apagou seu nome deixando somente o General de Gaulle como o pai da Securité.
O filme “La Sociale”, de 2016, recuperou essa história.
O segundo ministro de origem humilde foi Pierre Bérégovoy, que entre 1992 e 1993 foi o Primeiro Ministro de Mitterrand.
<<A mídia o acusou constantemente de corrupção e de ter desviado dinheiro público para a compra de um apartamento (soa familiar?)>>
Ele foi encontrado morto em 1993 e dizem que foi suicídio.
Romulus: Sem esquecer das “exceções” (que confirmam a regra da exclusão)…
Aquelas que saíram de meios desfavorecidos e venceram dentro “do sistema” (vindo ambas de universidades de prestígio):
– Christiane Taubira – eleita a musa do blog, lembram?; e
Patricia: Christiane Taubira foi comparada a um macaco por Anne-Sophie Leclere, da Frente Nacional. É mole?
Romulus: Vale registrar – ambas engajadíssimas na campanha de… Benoît Hamon!!
<<Essas, Taubira e Belkacem, “chegaram lá” – parabéns!
Mas, coisa rara, não esqueceram de onde vieram…
e, principalmente, dos demais que ficaram por lá mesmo… – parabéns ao quadrado a ambas!!>>
O duelo Marine Le Pen vs. Emmanuel Macron é meio reedição de Hilary/Trump mesmo…
Porque ao mesmo tempo que Marine Le Pen é “a melhor adversaria possível” num 2o turno para qualquer candidato, de certa forma Macron – a síntese do “sistema”, como pontuou o Tiago – também é o adversário ideal para… ~ela~
Por estes dias…
Le Pen: “O maior representante dessa casta do sistema nesta eleição é Macron, o Van Damme da política”
João Antônio: Vem aí o novo império romano-germânico ou 4º reich, que é o objetivo oculto da UE.
Ciro: oculto? Se for eles ocultam mal heim…
Romulus:
Le Pen: “Obrigada Madame Merkel por trazer aqui hoje o seu ~vice-chanceler~ e administrador da ~província~ França, François Hollande”
No debate ela disse a ~mesma~ coisa na sua fala de abertura: “quero ser a Presidente da ~República~ … não a administradora de uma regiãozinha na EU”.
João Antônio: Qual o lance do Trump rejeitar um aperto de mão com a Merkel? É um despiste?
Romulus: Nem sei… achei tão bizarro… não soube interpretar. Como uma pessoa recebe outra pessoa e faz desfeita pública??
A gente tem que ter sempre em mente que o cara é sem noção mesmo…
Um charuto é um charuto?
Ciro: Fácil, não teve escolha em não receber a pessoa.
João Antônio: Mas é por isso mesmo que seria preciso entender aquilo lá e qual a ligação com a eleição na França.
Romulus: Pois é… mas ao mesmo tempo o Trump recusou receber a Marine Le Pen lá em NY. Ela foi até a Trump Tower, encontrou assessores, mas saiu sem a foto que queria.
João Antônio: Isso é interessante. Talvez não querer se meter nisso, faça parte da política externa dele.
Dorotea: A meu ver, não se meter com as questões europeias faz parte da política externa dele, sim, mas sempre visando, obviamente, o seu eleitorado. Ele joga para a plateia (é um bufão, um ator canastrão), mesmo que isso custe atritos com aliados.
Romulus: Exato, Dorotea.
<<Sempre em cima do palanque, incendiando a sua militância.
Único jeito de mantê-la mobilizada e resistir aos assédios do outro lado>>
Ele não quis sair na foto com “a racista loura lá da França”… isso talvez já fosse “demais”.
Aliás, Nigel Farage, líder do UKIP, tampouco quis receber a Le Pen durante a sua campanha pelo “Brexit”.
Ele: “nós temos em comum sermos pelo Estado nacional e contra a EU, lá no Parlamento Europeu… mas nós aqui não somos ~racistas~”
“Coincidências”…
Por falar no sujeito… TV ligada e acabo de ver no “Journal de 20h” o próprio, Nigel Farage, falando:
– Macron quer criar os ~Estados Unidos da Europa~ … ~felizmente~ Marine Le Pen vai impedir”.
Aliás, olha quem não tem medo nenhum de entrar em bola dividida (internacional):
Priscila: O Macron não disse nada com nada no debate…. concorda com um ou outro e não sai do muro… O Mélenchon e o Hamon são muito melhores.
Romulus:
Mas aí que você vê o poder da mídia em construir a ~narrativa~ em cima dos fatos… dizendo pro público “o que – ~na verdade~ – aconteceu no debate”:
– de acordo com as pesquisas, 29% diz que Macron foi o mais convincente. O maior numero de todos os 5 candidatos!
Priscila: Jura ? Achei ele péssimo! Achei ele o pior porque os outros defenderam seus pontos que já conhecíamos e ele não defendeu nada…
Elaine: Como eu gostaria que o Mélenchon ganhasse… mas não creio que tenha chances nem de chegar ao segundo turno. Se a disputa for entre Macron e Le Pen a vitória vai depender de quem vai incentivar a base para sair pra votar. Entre os dois não creio que o povo Frances vai querer sair pra votar e isso pode ajudar a Le Pen se ela chegar ao 2 turno.
Romulus: O Mélenchon não concorre pra ganhar. E sim pra marcar posição… é como o PSOL.
Mas ele é ótimo mesmo… muito inteligente!
Um prazer ouvir ele falando…
O melhor candidato, no caso, é o Hamon. Ele é o “Bernie Sanders” da França. rs
Maria: Demolidor! Ele é mesmo muito bom!
Romulus: A mídia está engajada em derrubar ele… agora com pesquisas que dão o Mélenchon – o “PSOL” – 1 ponto na frente dele. Jogam com a margem de erro. Aprenderam com Ibope e Datafolha…
Tania: Assisti, em parte, a uma entrevista esta manhã transmitida pelo Monde sobre o desemprego, preocupação maior dos franceses. Deu pra perceber como colocam o Macron em destaque, e em seguida Mélenchon. Dos outros, falam mais vagamente, sauf Marine, a quem sempre dão um jeito de diminuir, é claro.
Romulus: É importante para eles que Hamon tenha uma derrota humilhante, para não ter cacife para disputar a liderança do PS depois. Assim, o caminho fica aberto para o PS aderir ao governo “nem de esquerda nem de direita” do Macron.
Olha essa reportagem da TV ~pública~ dando o tom: “militantes de Hamon desanimados e sem esperança”
Maria:
<<Onde é que a mídia não tem hoje esse papel nefasto?>>
Será que a votação acompanhará essas “pesquisas”?
Não para ganhar, infelizmente, mas ao menos pra evitar a tal humilhação tão desejada?
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Nossa ~correspondente~ na França faz propaganda
Patricia: Eu falei muito de você, Romulus, e do seu blog pra militante do PS que encontrei.
Desmistificou a política francesa.
Pra quem consegue desmascarar e analisar toda a política do Brasil, analisar a da França é fichinha!
Claro que não falei isso pra ela… deixa eles acharem que “Fillon não tem razão nenhuma em acusar a dupla mídia-judiciário!”… afinal somos nós que somos “subdesenvolvidos”!
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E no GGN:
O “vírus” do extremismo de direita no contexto europeu é como o “Grifo “… não é, como alguns dizem, uma “serpente” pois estas são mortais.
Já os “Grifos” são seres mitológicos, não “morrem”, sempre estão à espreita para renascerem. E parece que os europeus esquecem rápido a história recente (um século na História é “nada” de tempo).
Sempre lembro para amigos europeus, até alguns parentes, que…
<<no último combate travado entre as forças nazistas e soviéticas, ao final da Batalha de Berlin – o combate pelo Reichstag und Hitler Bunker, foi travado não por unidades “alemãs”, mas por unidades da Waffen – SS compostas de franceses, dinamarqueses/holandeses/suecos e belgas, a 33a Waffen-SS – “Charle Magne “, herdeira da “Action Française”, a LVF, ou SS “Francoïze Div.” (comandados por Henri Fennet); a 5a Waffen SS – “Viking”, com elementos da 11a, “Norland”; e belgas oriundos da 28a SS, de Leon Degrelle>>
Ambas estas “criaturas”, Fennet e Degrelle, foram criminosos de guerra. Degrelle, até sua morte em 1984 na Espanha, além de nunca ter sido julgado, quer pelos belgas ou aliados, com extradição para a Rússia sempre negada, atuou politicamente em movimentos neo-nazistas europeus. Ainda hoje na Bélgica (Flamenga) é considerado um “herói”.
Já Fennet, condenado por um tribunal francês em 1949 a uma sentença de 20 anos com trabalhos forçados (a pena original era a morte por fuzilamento), em 1959 teve sua pena comutada e liberado para “viver a vida” que ainda lhe restava. E foi bem longa, afinal morreu em 2002, nunca negando os crimes que cometeu.
Aliás Jean-Marie Le Pen o considera como um “patriota francês”.
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“Coincidência” – matéria de hoje (!) sobre a casa de Victor Hugo no exílio
Victor Hugo… aquele que ~não~ é o patrono da língua francesa – ao contrário do que afirma o Estadão em acesso de pedantismo explícito.
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Posts anteriores – entenda a disputa eleitoral na França:
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