Tartarugas na Baía de Guanabara: símbolos de resistência
Por Lucyanne Mano.
Começou a circular pelo WhatsApp nesta quarta-feira (15) um vídeo feito na Marina da Glória. Nele, seu autor contempla a transparência das águas da Baia de Guanabara. Atento à ausência de lixo flutuante tão rotineiro nessa região, ele celebra a presença de peixes e se encanta com a descoberta de tartarugas, relacionando o episódio ao isolamento social em que estamos vivendo.
O fenômeno, entretanto, aconteceu devido ao ciclo da maré e à ressaca que atingiu a orla carioca no último fim de semana. O devido esclarecimento, contudo, não desmerece em hipótese alguma a alegria que o registro proporcionou.
Frequentadora dessa área de longa data, em 2018 me associei ao Vagalume Va’a, um clube de canoa polinésia sediado da Marina da Glória. Por conta dessa atividade esportiva, minha assiduidade é quase que diária, chova ou faça sol. É da Marina que saímos para percorrer diferentes percursos aquáticos, quer para treinos ou passeios contemplativos. E mesmo que o destino seja a região oceânica de Niterói ou as praias da Zona Sul, a Baia de Guanabara é passagem obrigatória.
O que chama atenção nesse episódio foi a surpreendente descoberta das tartarugas, por grande parte das pessoas impactadas pelo vídeo, quando faz tempo que elas estão ali… e por toda a Baia de Guanabara. Nadam e parecem se divertir nas águas sacrificadas da enseada, entre toneladas de lixo, esgoto e combustível de toda ordem despejados diariamente. São muitas. São gigantes. A maioria traz cicatrizes dessa poluição em seus corpos.
Talvez, a grande descoberta dessa história toda é que nós é não tínhamos tempo. Tempo para admirar. Tempo para ouvir. Tempo para cuidar.
Em dezembro de 2018, por iniciativa de suas fundadoras, Letícia Lana e Giselle Banjar, a VagaLume Va’a lançou um projeto de mutirão de limpeza e revitalização ambiental na Marina da Glória. Todo último domingo do mês, um grupo de atletas e demais voluntários se reúne para recolher o lixo descartado no entorno da Marina.
A ação está suspensa desde março passado, quando também foram interrompidas as atividades do clube. O importante agora é ficar em casa. De qualquer forma, deixo o convite para quem quiser participar conosco, tão logo seja possível retomarmos essa ação. E para quem quiser se aventurar em um novo olhar da Baia da Guanabara, que tal uma aula experimental de canoa polinésia, assim que pudermos voltar ao mar?
Como canta Caetano Veloso em O Estrangeiro: “O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara. Pareceu-lhe uma boca banguela. E eu menos a conhecera mais a amara? Sou cego de tanto vê-la…”
Lévi-Strauss não teve tempo para admirar, para ouvir, para cuidar da Baia de Guanabara e de suas tartarugas, símbolos de resistência.
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Lucyanne Mano, 47 anos, jornalista e publicitária |
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Vídeo das tartarugas perto da pista do aeroporto Santos Dumont:
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