O estado narco-policial-militar a mando do imperialismo
Por Alejandro Acosta
O Peru e a Bolívia foram por muito tempo os principais produtores de folhas de coca, até pelo menos mais de 15 anos atrás. No Peru, os cartéis produziram cocaína e a entregaram no Equador, aos cartéis colombianos. Estes, que atuam como verdadeiras empresas, começaram com suas próprias plantações para reduzir os custos.
O Chile funciona como um trânsito principalmente para a Europa, usando controles relaxados na fronteira. Muitos chilenos, pequenos cartéis internos associados aos peruanos, participam do processo de transporte. Também existem grandes empreendedores, principalmente no setor marítimo, como a bem conhecida Companhia de Vapores, que pertence a uma das famílias mais poderosas do país.
Quando os cartéis colombianos pararam de comprar folhas de coca do Peru, uma divisão de mercado foi estabelecida. A Colômbia passou a controlar o mercado de alto valor agregado e o Peru o mercado de baixo valor agregado, focado principalmente na pasta base, que começou a chegar em grandes quantidades, do Peru ao Chile.
Na cidade de Lima, Peru, é a banda conhecida como Comando Urbano que envia o produto para as cidades fronteiriças de Arica e Iquique, com a cumplicidade da polícia dos dois países. Cidades inteiras estão dedicadas ao cultivo de folhas de coca e produção de pasta base ou pasta inicial (resíduos de cocaína). Companhias aéreas e agências de viagens, com casas de entrega de remessas, operam as transações.
O micro-tráfego começou a dominar os bairros de Santiago, Concepción, Antofagasta, Iquique, Arica e um pouco menos Temuco. Todo mundo vende; em bairros populares, até filhos e avós. É um fenômeno compreensível, dados os baixos salários e o alto custo de vida.
A institucionalização do narcotráfico no Chile
Em 2005, um acordo secreto entre o então presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e o presidente chileno, o “socialista” Ricardo Lagos, introduziu o Chile com mais força no esquema latino-americano de drogas. Muitos desmobilizados das organizações armadas da extrema direita colombiana foram recebidos como imigrantes na cidade de Antofagasta. Dos 1.500 que chegaram inicialmente, hoje já são 40 mil. Antofagasta começou a ser conhecida como AntoColômbia.
Paralelamente, com o tráfico de cocaína, desenvolve-se o tráfico de maconha, originária do Paraguai. Os traficantes a passam para o Chile de caminhão, via Argentina, com a cumplicidade das três policias. O Chile é um dos principais consumidores. Além disso, os traficantes trocam com os cartéis do Peru maconha por cocaína.
A polícia chilena começou a se relacionar com os traficantes, principalmente o PDI (Polícia de Investigações). Quase todos os chefes de polícia trabalham com os cartéis.
Cerca de cinco anos atrás, as organizações populares, com a ascensão do movimento popular, começaram a enfrentar o micro tráfego nas populações.
O “segredo” do narcotráfico na América Latina
Por trás do aumento do tráfico de drogas está o seu desenvolvimento em toda a região. As coincidências entre os processos na América Latina estão por trás de uma política do imperialismo nore-americano. O objetivo é desenvolver esse negócio lucrativo, que, juntamente com o mercado de armas, são os únicos dois setores da economia capitalista mundial que não enfrentam crises. E eles estão interligados.
O complexo industrial militar precisa, urgentemente de uma guerra, de dar um novo impulso ao mercado de armas. Para torná-lo viável, precisa controlar e militarizar as sociedades em seu quintal traseiro. O modelo de estado narco-policial-militar foi desenvolvido a partir da Colômbia. Na última década, foi exportado para o México. Nos últimos anos, foi exportado para o Brasil para ser ajustado e servir de modelo para toda a América Latina.
O recente acordo entre as bandas PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), as duas principais do Brasil, controlado pelos generais que hoje controlam o país como agentes preferenciais do imperialismo norte-americano. Esta é a expansão do acordo firmado entre o PCC e o governo do Estado de São Paulo em 2004: permissão para o PCC realizar seus negócios, uma vez que controlasse o pequeno crime, que não fizesse uso extensivo de armas longas e que pagará uma percentagem ao estado. Dessa maneira, também foi resolvido o problema de controlar o movimento popular explosivo em um dos países com as maiores contradições sociais do mundo.
Por detrás dos negócios “ilegais” está o DEA, a CIA, o Mossad sionista e o MI-6 britânico. As operações secretas das forças armadas são financiadas com o dinheiro “secreto”, com uma percentagem indo diretamente para as agências imperialistas. Também são financiadas as operações de desestabilização de governos, quadrilhas fascistas, ONGs ligadas ao imperialismo.
Alejandro Acosta, sociólogo – editor da Gazeta Revolucionária
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