E essa Estrela Solitária, Hein?

Arte e texto por Geuvar Oliveira*, para o Duplo Expresso

Olá, meus queridos expressonautas! Antes de publicar a continuação daquele texto sobrenatural, resolvi publicar este, devido ao meu belicoso sentimento na atual situação da nossa pátria mãe verde-amarela. Bem, eu não sou muito entendido no assunto, não tenho uma vasta leitura, por isso vou nadar no raso. Vou falar um pouco sobre arquétipos, que talvez influenciem os brasileiros e causem essa sensação de impotência, que permeia o nosso país.

Vamos começar pelo nosso maior símbolo, a bandeira verde-amarelo. Pode ser coincidência, mas também pode ser de propósito, um gatilho neural. A nossa bandeira é uma das coisas mais respeitadas e mais vistas por nós, mas percebo uma mensagem sutil para todos. Uma estrela solitária, do lado de cima e com todas as outras embaixo. Mesmo as de baixo, não estão todas como presos em uma cela na papuda, aos montes. As de cima estão postas numa posição de conforto com relação às outras. Você pode dizer que é o cruzeiro, que é isso, aquilo. O fato é que elas me lembram em muito a nossa distribuição de renda no país: 1%, com quase tudo, como no caso da estrela na bandeira, com todo aquele espaço, e a outra metade vivendo no sufoco, dividindo o espaço de baixo.

Um outro exemplo de arquétipo está lá atrás, na década de 40, quando o mundo passava por uma transformação contundente. Os Estados Unidos já se apresentavam como uma grande potência, assediando outros países, e pediu para Walt Disney criar uma forma de massagear o ego dos brasileiros, mas com cuidado. Então a Águia do Norte criou como mascote para seu vizinho do Sul um papagaio. Devemos lembrar que papagaio é comida de águia. A águia é o segundo mais forte arquétipo da lista e o papagaio é fraquíssimo. Imita e fala demais, além de parecer uma comédia. Por que não foi criado um animal que causasse grande quantidade de orgulho e sensação de coragem?

Outro arquétipo fraquíssimo que jogaram no colo dos brasileiros (e aí eu não sei qual a origem) é a questão da banana. Essa alusão remete à fraqueza, à falta de personalidade. Alguém que é feito de bobo por todos. A famosa “República das Bananas”. Já ouvi até de apresentadores de TV estadunidenses dirigindo-se ao Brasil dessa forma pejorativa.

Uma das instituições de segurança mais importantes do país, traz um dos arquétipos muito poderoso, mas para o lado negativo, a caveira. Aí você já sabe de quem estou falando, da polícia (no caso, a PM) com seu Batalhão de Operações Especiais – BOPE. Dessa forma, essa instituição nunca vai angariar a simpatia das pessoas, porque ela já apresenta o medo na hora que chega. A baixa vibração, a baixa energia de imediato e a reação contrária a um diálogo é imediata.

A nossa imprensa também trabalha com um arquétipo forte para o lado negativo, o sensacionalismo, a morte, a vida, o trabalho, o amor. Tudo é tratado com sensacionalismo pela imprensa para causar audiência e assim ganhar “Ibope”. Não interessa quem tenha que morrer. Em 2014, na Copa do Mundo da FIFA, era Dilma Rousseff a presidente. Com estádio lotado, em todos os jogos, as pessoas tiveram tudo que queriam. Falo das pessoas que foram aos estádios, e não das pessoas que não podiam pagar o ingresso. Mas, mesmo assim, resolveram odiar e emanaram uma grande onda de ódio contra a presidente,

“– Ei, Dilma, vai tomar no cu!”

Isso, entre outras melodias que só um cidadão de bem sabe falar, ao reunir com o arquétipo do tatu (muito fraco, diga-se de passagem), teria levado a seleção virar comida de alemão. Quando o negócio fica feio, o tatu faz o quê? Se enfia em um buraco. Tatu é comida, e foi isso que aconteceu ao Fuleco. Foi para a panela vergonhosamente.

Logo em seguida, tivemos outra experiência traumática com esse tipo de arquétipo: O famigerado Pato da FIESP. Que papelão aquilo tudo! Um símbolo de luta, que não traz força nenhuma. Um marketing com energia negativa, onde o nome já diz tudo. Pato é aquele fácil de ser passado para trás, e foi isso que aconteceu a quem foi apoiar as manifestações pró-golpe.

Existem ações desse tipo que são propositais, outras equivocadas. No caso do arquétipo rato, não é equívoco. Os políticos são tratados como esse bicho assustador e asqueroso, de puro caso pensado. Um rato tem em seu currículo a fama de ladrão, vetor de doenças, inquieto. Isso gera baixa-estima, e quando uma pessoa é relacionada a esse animal, a imprensa – sempre que pode – direciona essa ideia aos políticos, sendo seguida pela população. Por mais que se tenha políticos corruptos, sempre têm aqueles que são honestos e não são poucos.

Respondam-me: Por que o arquétipo dos USA é uma águia e não o Pato Donald, ou o Mickey Mouse? Nem precisa responder né? Poder, força, superação da vida. Os deuses usam esse arquétipo.

Falando em políticos, de um certo tempo para cá, estou usando minhas charges como termômetro para medir a ideia dos meus seguidores nas redes, e descobri uma coisa interessante. De 2017 a meados de 2018, as charges que eu fazia do Temer tinham muitas curtidas e compartilhamentos, e as charges do Bolsonaro não. Mesmo pelos adversários dele. Uma vez fiz uma do Bolsonaro que teve 3 ou 5 compartilhamentos. Já uma que fiz do Temer no Museu, foi para 500. Outra, 3 mil. Aquilo deixou-me intrigado e confuso, até sair o resultado das eleições. Foi aí que amarrei os pontos.

Recentemente, essa situação que está acontecendo (ou melhor, deixando de acontecer) entre o Bolsonaro e o Moro, tem 500, 1200, 3000 compartilhamentos do Bolsonaro, e apenas 15 a 60 do Moro. É para ficar ligado com isso.

Mas, voltando aos arquétipos. Para finalizar, fiz um teste com os meus seguidores, porque sempre fui curioso em saber sobre o motivo de nós, brasileiros, sermos tão passivos diante de acontecimentos fatais, quando isso nos pediria uma atitude enérgica. Vocês certamente sabem quem é o personagem Superman. Lógico! Um ser quase divino, poderoso, vindo dos céus para nos proteger, com frases de efeito, queixo quadrado, olhos azuis, robusto e que voa. Tudo que um garoto de 4 a 20 anos quer ser, e um cara com que qualquer garota desejaria casar-se. Qualquer defeito nele existente passaria batido, com todas essas qualidades.

O arquétipo perfeito! Era o meu personagem na infância. Eu queria ser o homem de aço, lógico. Com o tempo mudei para o Homem-Aranha, mas continuei gostando do “ETsão das mulheres”, rsrsrsrs! Ele também é um ótimo corta-luz para entrar nos países e passar a régua nas riquezas alheia. É exatamente o que está acontecendo aqui no Brasil – sim –, atrás da capa do Superman. A cultura é uma forma de invasão e domínio, e já há muito, muito tempo. A Liga da Justiça, ou Superamigos, vem na frente para fazer a cabeça e, depois, chegam os larápios com o saco fazendo a pilhagem de tudo que existe pela frente. Mas isso acontece depois de um bombardeio nas nossas mentes.

Recentemente com o assalto ao petróleo do nosso Pré-Sal, eu fiz uma charge animada do “Homem de Aço” em uma ação de pilhagem. Usei aquele estilo de desenho da minha geração, dos Superamigos, bem romantizado e fofo, “para o alto e avante”. Até eu, que fiz, fiquei indignado comigo mesmo por um instante. Eram, no meu ponto de vista, todos os anos de afirmação dizendo que o Super-Homem fora meu amigo sendo confrontados. Quando terminei a animação, fiquei olhando a capa dele sacodindo ao vento, suas botas vermelhas, sua roupa azul, tudo feito para iludir e fazer liberar a passagem. Briguei comigo mesmo até apertar do botão de compartilhamento.

Pensei: “– Qual será o grau de libertação que esse povo tem desse arquétipo?”

Uma pessoa curtiu com uma carinha de sorriso e mais nada. Assistiam, mas não comentavam nada, como se tivessem chateadas. O Superman é um arquétipo muito poderoso e gruda como música do Chiclete com Banana dos anos 80. Um amigo de trabalho viu a charge e fez uma cara de revolta, quase como se levasse um tapa. As pessoas simplesmente não compraram um agente dos Estados Unidos, tão conhecido, como sendo um ladrão de petróleo.

Foram postas muitas cortinas para evitar saber quem realmente é aquele personagem. Impossível fugir dele sem uma ida ao terapeuta. É assim a cultura alheia quando a gente esquece que também temos uma cultura. Devemos respeitar as dos outros, mas valorizar a nossa em primeiro lugar.

Quando os quadrinhos surgiram nos USA, foi uma tremenda euforia. Mas também tiveram conservadores que diziam serem os quadrinhos uma forma de desvirtuar as crianças. Até chamaram o Batman de gay e pedófilo, pervertido. O governo americano, vendo que poderia aproveitar aquela novidade para a guerra, investiu pesado nas HQs. Já nós aqui, desde o Zé Carioca até agora, nunca tivemos um arquétipo para empoderar a imagem do país, como a maioria das potências. Se bem que o arquétipo da França é um galo, comida. Mas, percebam o detalhe: O símbolo francês caiu no esquecimento, mas quem reativou a ideia foram alemães e ingleses, inimigos declarados na ocasião. Assim como no Brasil, que recebeu dos USA um arquétipo ridículo como símbolo.

Zuado, não? A elite, ou a Direita, capturou as duas grandes forças. Aquilo que seria a fonte de saúde do país, dois arquétipos poderosos, que poderiam emanar luz e respeito ao povo brasileiro – a Justiça e a Política. Com a Justiça foi fácil a manipulação, eles tomaram de conta e a usam a seu bel prazer. Já com a Política, como tem um maior dinamismo, eles sabotaram uma parte e assumiram outra. A política está mais perto do povo e tem a falácia do viés democrático, então foi melhor sujar e desmerecer.

Dessa forma, os meios progressistas nunca podem ter o amparo da lei, como vimos recentemente. Os agentes da política que quiserem trabalhar pelo povo serão chamados de corruptos, ratos, e aqueles que trabalham, como corruptos. Mas eles serão protegidos pela justiça arquetípica.

O Superman é um poderoso arquétipo da indústria cultural estadunidense, para criar em nós o consentimento por meio da distração. Daí abandonamos tudo de bom que temos para admirar o arquétipo do outro. O Brasil tem grandes animais predadores na fauna, que poderiam ser símbolos arquetípicos dos brasileiros. Esses símbolos podriam causar grande poder de dopamina em nós, e afastar o medo e a fraqueza. Estou falando da Onça, do Gavião-Real ou Harpia da Amazônia, entre outros. No entanto, trouxeram para nós um papagaio, que gera fraqueza e risos. Não estou dizendo que isso é o motivo dos brasileiros serem tão acabrunhados. Contudo existem fatores históricos, já revelados, que norteiam essa falta de ignição do povo.

Então, quando vocês forem escolher uma representação ilustrativa, cuidado para não estar trazendo baixa energia para dentro de casa. Claro, tudo tem a ver com crenças, com o contato interno de cada um. Contudo, independente de se acreditar ou não, muitas coisas existem e são realidades, como a energia, por exemplo. Nossos pensamentos são energia que nós emanamos o tempo todo.

 


* Geuvar Oliveira é maranhense de Imperatriz, mas mora em Palmas – TO. Funcionário público, cartunista, quadrinista, escritor. Tem várias obras publicadas, entre as mais conhecidas estão: Mugambi (da qual está produzindo o último capítulo), Liga do Cerrado e Viagem ao Centro da Gramática. Formado em Letras e Arte Cênica, trabalhou em alguns jornais impressos do Tocantins como cartunista. Atualmente, publica suas charges nas redes sociais e aqui na Caixa de Pandora do Duplo Expresso, porque os jornais têm medo de fazê-lo.

 

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