Guerra híbrida: como Bolsonaro enganou Haddad ontem (de novo!)

Por Romulus Maya & Piero Leirner

Piero Leirner, antropólogo e professor da UFSCar, vem advertindo, há tempos, que a tática de comunicação empregada pelo staff militar que circunda Jair Bolsonaro é, ela também, militar. Mais que isso, advinda dos manuais de guerra de terceira e quarta gerações (assimétrica e híbrida, respectivamente). E que, portanto, não obedece à lógica das campanhas de marketing político tradicionais. Embora a campanha de Fernando Haddad o tenha procurado para se aconselhar, certamente a lição segue não tendo sido aprendida até aqui. Como resultado ontem, mais uma vez, o staff do ex-Prefeito caiu em uma pegadinha preparada pelos – militares – do outro lado.

Eis o resumo das lições a tirar do episódio – se é que ainda há tempo para isso – reunidas por Leirner, seguido de vídeo com o resumo do episódio de ontem apresentado por Romulus Maya (extrato do Programa Duplo Expresso de hoje):

Mais uma “false flag” da campanha de Bolsonaro. Impressionante como os caras sempre estão dois passos à frente: o Episódio do Câncer.

Posteriormente edito esta postagem, para adicionar o vídeo em que o Romulus Maya explica em detalhe o que aconteceu (prestem atenção, pois ele foi o primeiro a detectar a jogada). Mas vou adiantar aqui algumas coisinhas.

1) Muita gente ontem (eu inclusive) reverberou um “áudio de fundo” da “reportagem” da Record em que num momento se ouve, no intervalo de uma fala em off do âncora, a frase “câncer de intestino”.
2) Isso passou batido de domingo até ontem, quando o “Haddad Tranquilão” postou o “achado”.
3) Algumas horas depois a Record solta o “vídeo bruto”, em que o médico aparece dando risada: “… Imagina, [câncer de intestino]…”.

Tudo preparado, e desde antes. Eles sabiam que a campanha de Haddad ia morder a isca, e depois aplicaram o movimento “clássico”, para o qual venho chamando a atenção: sequestram a bandeira do inimigo e plantam ela com sinal invertido. Isso foi mais um passo para jogar no colo da campanha de Haddad a culpa pelas fake news. Esse era o objetivo. Obviamente eles mostraram só 5 segundos de vídeo “bruto”: mostrem 10 minutos e a gente vai ver a jogada ensaiada.

Vamos sair desse tipo de enrascada? Seguinte: não caiamos em mais nada que soe “sem querer”. Se vocês acham que isso é maquinação, sugiro que se lembrem que já usamos algo parecido: alguém aqui se lembra do “trote da agenda do Prefeito” que Haddad pregou no Villa? Pois é, já houve tempo que o jogo aqui estava mais inteligente…

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Ainda de Piero Leirner, antes o Duplo Expresso publicara, em 8/out/2018:

EM “CAMPANHA MILITAR”, BOLSONARO USA OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS DE GUERRA HÍBRIDA

Aí vão algumas dicas de quem está vendo o outro lado agir como uma “campanha militar”, e não exatamente política. Talvez seja tarde para dizer essas coisas, mas no 2o turno essa guerra aumentará sua intensidade. Deixo aqui então uma contribuição para o anti-Bolsonarismo.

– Tática do Bolso é mentira e dissimulação. Isso vocês já sabem bem. O problema IMEDIATO é o COMO eles mentem, e não SE eles mentem. Já sabemos que não vai ter como desmentir tudo.

– TUDO QUE SE FALAR CONTRA BOLSONARO SERÁ RESPONDIDO POR ELES COM SINAL TROCADO. Não adianta acusá-lo de “roxo” achando que vai forçá-lo a dizer “amarelo”, pois é mais provável que ele responda “uva”.

– Por isso, insisto de novo: eles estão usando táticas de Operações Psicológicas que estão em manuais de guerra de 3a e 4a gerações (assimétrica e híbrida). Cansei de ver isso. É a filigrana dos “Human Terrain Systems” norte-americanos, usam muita psicologia, linguística e antropologia. E não tem marqueteiro, é uma tática de dissipação, e os agentes, ao assimilá-la, dão prosseguimento ao formato. Então vamos lá, alguns pontos interessantes sobre isso:

1) a maior parte da informação deles é passada em rede. Isso não se deveu só aos 8 segundos de TV, mas ao fato de que essa ferramenta desestabiliza os canais tradicionais e traz um “empoderamento” ao “cidadão comum”. As teorias da guerra híbrida usam as redes de comunicação descentralizadas para desestabilizar nações; desestabilizar uma campanha eleitoral de adversário é fichinha. Não sei se é eficaz a essas alturas responder apenas no sentido de “negar as fake news”, tem que produzir um contra-discurso (não estou sugerindo fakenews, é claro) que opere na mesma lógica;

2) essa estrutura de rede foi muito bem aprendida pelas FFAA norte-americanas no Iraque e Afeganistão. Não tem cabeça, elas operam de forma mais ou menos autônoma. Não duvido que a essas alturas o bolsonarismo já é um tanto independente do seu emissor central: as redes estão fazendo campanha por si próprias, e agem como estações repetidoras umas das outras. Como a maior parte delas é semi-fechada e independente, e só mantem conexões parciais entre si, isso garante a sua eficácia: se uma “célula” cai, outras ocupam o espaço;

3) a descentralização e horizontalidade dessas redes criam essa sensação de maior amplitude, indestrutibilidade, resiliência, e, o que é mais importante, resistência à comunicação exterior que venha de um emissor que atua em outra esfera de consagração; por exemplo, a Globo, a campanha eleitoral. Tudo vai ser “mentira”, só se aceita aquilo que está na própria “célula” e em outras “confiáveis”. Não adianta dizer que a Veja é de direita e publicou aquela matéria: trata-se de uma “imprensa suja e esquerdista”, toda ela. É preciso entender que para esse mecanismo funcionar ele precisa abandonar toda emissão de signos “de fora”. Lembra do Matrix? Pois é.

4) ao mesmo tempo, é preciso perceber que eles não abandonam totalmente uma referência aos centros. No entanto, estes são etéreos: toda essa tática é fundada na ideia de que eles visam um “bem maior”, moral, Deus , família, etc. Por isso mesmo esse pessoal vai bater muito na tecla do identitarismo, trata-se de jogar o adversário para a ideia de que ele só quer representar “grupos pequenos”. Para cada vez que você falar “mulher”, eles vão responder com uma “perversão para a família”, tipo “mulher lésbica”. Manuela será o principal foco de ataque nesse campo, pela história política dela. Vão bater que ela é comunista e traz o “perigo vermelho”. Vão abusar da Venezuela. Não adianta responder com “Finlândia”. Mas é possível, por exemplo, mostrar alguma foto de Manuela fazendo turismo na frente de uma igreja na Europa. Quando eles vierem com “kit gay”, vocês contra-atacam com Haddad jogando futebol. O ponto é esse: quando eles vierem com a “uva”, vocês respondem com “suco”, não com “banana”. É básico, nessas PsiOps, que sempre se opere com uma “shifting scale”, tirando o pé da referência que o emissor inimigo enviou, e sempre com mensagens subliminares. Por exemplo, mostre a cena de uma caminhada de Haddad e Manuela pela rua, passando por um muro com uma imagem do palhaço Bozo. Depois é só deixar o apelido colar no próprio fora de nossas redes.

O que fazer para minar essa tática é realmente um problemão. Certamente há muita coisa para resolver em uma campanha, estou longe de saber como se faz isso. No entanto, se fosse seguir os manuais de contra-insurgência que pensam esses assuntos, sugeriria que se dedique alguns segundinhos a isto: atuar onde eles menos esperam, usar mensagens subliminares, fugir dos lugares que eles estão associando a vocês. Mostrem várias imagens do Moro com tucanos de black-tie, com militares, em paraísos fiscais. É preciso deixar bem claro que estes são agentes coligados, e que a situação atual de Lula se deve à política, que isso não tem nada a ver com justiça. Não adianta só falar, tem que mostrar imagens que sugiram por A+B essa história. Ela deve ser montada na cabeça das pessoas (e não vir pronta), elas têm que acreditar que chegaram a isso pelas próprias convicções. Outra coisa: é preciso passar, de maneira inconsciente, a ideia de que a “mudança” que Bolsonaro propõe não é “reestabelecer a ordem”, mas propagar o caos. Use e abuse da imagem de um vice-presidente que não aceita comando do seu chefe, e que Bolsonaro representa um perigo à hierarquia militar. Sugira que ele pode causar instabilidade nas Forças Armadas e que isso pode levar a um golpe (lembrando que é preciso conversar com os comandantes, e mostrar que isso representa um perigo real. Eles sabem disso, mas é bom se deixar claro que o lado de cá sabe também e que está preocupado com isso). Associe ele ao Collor, isso é fácil demais. Não precisa fazer essas coisas diretamente, basta jogar imagens, e deixar a nossa rede funcionar também.

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E eis que, depois da Folha de S. Paulo em 14/out/2018, hoje foi a vez de o El País Brasil também publicar entrevista concedida por Piero Leirner. Mas não sem a atuação de uma curiosa tesoura censora, como anotado pelo próprio entrevistado:

 

Explicação?

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Eis, abaixo, a integralidade da entrevista. Quer dizer, tirando a parte extirpada na edição:

“Contradições e bate-cabeça da campanha de Bolsonaro são intencionais”
Para o especialista em estratégia militar Piero Leirner, capitão usa tática militar em sua comunicação

Piero Leirner, professor da Ufscar.

São Paulo 25 OUT 2018 – 17:26 CEST
Esqueça a propaganda eleitoral tradicional na TV e no rádio. Deixe de lado também qualquer necessidade de discursos coerentes e sem contradições. Ao contrário, estimule seus aliados a levantar uma série de polêmicas apenas para que você possa em seguida desmenti-los e desempenhar o papel de apaziguador, paladino “da ordem”. Na sequência, apresente mais desinformação. Repasse para dezenas de grupos fechados de Whatsapp, que espalharão para mais centenas, até que a verdade seja uma questão de ponto de vista sem nenhum lastro na realidade. Essa é a estratégia que, segundo o antropólogo Piero Leirner, professor da Universidade Federal de São Carlos e especialista em estratégia militar, foi colocada em marcha pela campanha do presidenciável Jair Bolsonaro e pode levá-lo ao Planalto nas eleições de domingo. Em entrevista por email ao EL PAÍS ele detalha os passos que fizeram com que o capitão da reserva deixasse seus adversários se perguntando o que os atingiu.

Pergunta. A campanha de Bolsonaro frequentemente aparenta bater cabeça, com o capitão tendo que rebater colocações de sua equipe, como no caso da afirmação de um de seus filhos sobre o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Isso é uma estratégia eleitoral?

Resposta. Tenho a impressão que no primeiro turno isso foi feito muito mais de cabeça pensada do que agora. A estratégia visava a criação de um ambiente de dissonância cognitiva [no qual uma pessoa apresenta simultaneamente opiniões contraditórias entre si], para em um segundo momento Bolsonaro aparecer com um discurso de restauração da ordem. Este é um passo clássico de operações psicológicas [militares], algo que está colocado em manuais de informação e contrainformação, propaganda de guerra e estratégias de dissuasão do inimigo há muito tempo.

P. Qual o sentido de usar esta estratégia?

R. O que se podia fazer com oito segundos de TV? Nada. Então houve a apropriação bastante eficaz desse tipo de instrumento de guerra semiótica. Falar e desdizer, e, como você disse antes, “bater cabeça” com os cabeças de ponte, os subordinados que ocupam uma posição de contato no terreno inimigo. Com isso ele mostrava o seguinte: “a confusão está fora de mim, mas eu restauro a autoridade aqui“. Todo o tempo esse foi o discurso, de que ele é a autoridade. E assim ele multiplicou o carisma, jogando para o plano que oscilava entre uma autoridade carismática e tradicional.

Tenho a impressão que depois isso se tornou um padrão, basta ligar no piloto automático. O que foi repreender o filho [Eduardo Bolsonaro, que falou na possibilidade de fechar o STF] senão a repetição do discurso de que “tem que levar umas palmadinhas”? Ou seja, mais uma vez ele capitalizou com o erro.

P. Em que medida esta estratégia ajuda o candidato? É possível dizer que, neste cenário, confundir ajuda?

O padrão é sempre aparecer com uma ordem semanticamente paralela à desordem anterior

R. O padrão é sempre aparecer com uma ordem semanticamente paralela à desordem anterior. Se há uma desordem, digamos hipoteticamente, lançada por meio de uma contradição em um assunto econômico, como por exemplo Paulo Guedes dizendo “vou privatizar tudo”, Bolsonaro reage com um “não vamos privatizar as empresas estratégicas” e, posteriormente, a questão é resolvida com um “vou acabar com o problema da violência“. Isso é tão eficaz que até os donos de corretoras, o tal mercado, releva as informações que deveriam realmente interessar e passam a apostar nele.

Outro dia assisti em um programa de TV uma mesa com dois donos de corretoras, e um deles disse: “não é preciso ter plano algum para a economia, isso a gente vê depois. O que interessa mesmo é acabar com o privilégio das minorias que se instalou nesse país”. Acho que nem Wall Street chegaria nesse ponto, de onde se vê que até gente que sabe como a engrenagem funciona caiu em processo de dissonância cognitiva.

P. Estas polêmicas provocadas pelo círculo íntimo do candidato ficam dias repercutindo na mídia. Isso é positivo para ele?

R. Claro. Ainda mais considerando que ele conseguiu colar a versão de que a mídia é, ela própria, uma fake news. Então toda a polêmica que fica exposta ele capitaliza depois mostrando que é o anti sistema lutando contra o establishment. E fez isso de uma maneira muito simples, pois depois de anos da mídia manobrando à vontade para bater no PT, eis que Bolsonaro bate na mídia e o PT assume a defesa dela! O que a campanha do PT fez? Jogou fora sua narrativa anterior, deixando esse vácuo, que é um tesouro semiótico, pronto para o Bolsonaro pegar e inverter a pauta: agora o PT é o “partido da Globo”. Passei dias ouvindo isso, que na Globonews são todos petistas de carteirinha. Agora, minha sensação é que quanto mais a mídia bater, mais ele capitaliza.

Depois de anos da mídia manobrando à vontade para bater no PT, eis que Bolsonaro bate na mídia e o PT assume a defesa dela!

P. Qual o conceito de guerra híbrida que o senhor trabalha, e como se aplica à política?

R. O conceito foi inventado por um norte-americano que reside na Rússia, o Andrew Korybko. Ele fala, sobretudo, em movimentos que se utilizam de pautas identitárias que são articuladas por agentes externos para provocar conflitos e desestabilizar regimes. Foi assim nas chamadas primaveras árabes e, penso, aqui também em 2013. Para ele há um claro envolvimento do assim chamado deep state [nome dado a uma mistura de interesses de agentes estatais com investidores e setores industriais] norte-americano.

P. A manipulação de pautas identitárias são a única maneira de usar a guerra híbrida?

R. Eu penso que não, ainda que os meios sejam os mesmos: basicamente uma guerra no campo da informação e contrainformação, cujo objetivo é dissuadir o inimigo sem precisar levantar a espada. Isso é Sun-Tzu [estrategista militar chinês autor do livro A Arte da Guerra]. Isso é a base das PsyOps, ou operações psicológicas. O ponto todo é sempre desnortear o inimigo, deixando praticamente impossível para ele uma avaliação real sobre o tamanho, o posicionamento, a coesão e o estado de suas forças. Toda informação deve ser criptografada, e sempre é preciso adicionar uma quantidade de camadas de informação diante dos fatos de modo que as pessoas não saibam mais se estão olhando para as distrações ou para a mão que realiza a manobra. Com essa parafernália conceitual, me parece plausível que existe aplicação em qualquer campo. Por que a política ficaria isenta dela?

P. Como reagir a um ataque híbrido?

R. O que você acha que é essa quantidade incrível de vídeos que circulam agora via Facebook e Whatsapp? Contra-ataques híbridos. Estão certos? Falam a verdade? É bem possível, mas sua origem é tão obscura quanto a da matéria ele pretende desmentir. E o problema disso tudo é que nada parece ter lado, todas essas verdades parecem surgir do nada e se fiar em checagem de fatos. Mas então me diga uma coisa: qual é a agência que vai determinar, em última instância, a checagem? A mesma imprensa que até 20 dias atrás manobrou os fatos à sua vontade? O problema é que quando eles iam só em uma direção, estava tudo bem. Agora que o resultado saiu do controle, fica todo mundo desesperado com a quantidade de notícias falsas e mentiras. Quem olhou para o que estava acontecendo desde 2013 viu que tudo estava seguindo um padrão.

O problema é que quando as fake news iam só em uma direção, estava tudo bem. Agora que o resultado saiu do controle, fica todo mundo desesperado com a quantidade de notícias falsas e mentiras.

P. Existe algum outro país onde esta estratégia tenha sido utilizada?

R. Desta maneira, que eu saiba, não. Você deve estar pensando no caso norte-americano, no escândalo da Cambridge Analytica e dos contatos do filho de Bolsonaro com Steve Bannon [ex-estrategista de Donald Trump]. É uma parte do processo, mas não explica tudo. A estratégia tem que ser vista de forma aprofundada, recuando alguns anos. Agora parece que todo mundo acordou, no susto. Não se trata só da campanha que começou este ano, mas de passos mais largos que foram sendo realizados por outros agentes, como o Judiciário e a própria mídia.

A entourage de Bolsonaro certamente mapeou esses movimentos e foi se posicionando, sempre no segundo plano. Quando chegou a sua vez, aí foi o movimento de morde e foge, lançou o ataque semiótico e depois viu como o campo se desorganizou, para aí se reposicionar de novo. E assim foi indo, sempre lá de trás, observando como no front os outros ficavam como baratas tontas. Veja o PSDB [que focou sua artilharia em Bolsonaro, mas sequer foi ao segundo turno da disputa], mais claro impossível.

Isso que você está chamando de propaganda clássica chega a dar dó, não convence mais ninguém

P. O que mudou no papel da propaganda eleitoral clássica, na TV e no rádio? Os adversários de Bolsonaro conseguiram fazer bom uso dela?

R. Isso que você está chamando de propaganda clássica chega a dar dó. Os minutos que são fatiados em críticas, propostas e aqueles clipes ridículos mostrando gente sorrindo, o brasileiro típico, não devem convencer mais ninguém. Compare com o que produziu Bolsonaro: vídeos de baixa qualidade, feitos com celular. Todo mundo espalhou, não consumia a banda larga de ninguém! Pareciam selfies que se manda para o amigo ali da esquina. Essa estratégia o colocou em linha direta com as pessoas. E elas espalharam este conteúdo como se fossem agentes de campanha. Funcionaram como estações repetidoras. Delas para os grupos, e desses para outros. Hoje também já suspeitamos que houve uma ajuda extra. Mas, como disse, esse jogo está com a regra alterada circunstancialmente. Então essa propaganda tradicional, do jeito que está sendo feita, é inócua.

P. Algum outro candidato além de Bolsonaro fez uso da guerra híbrida com eficiência?

R. Claro que não. Basta ver onde eles estão.

P. Bolsonaro diz não ter controle sobre a disseminação de fake news. Qual sua avaliação?

R. Há dois pontos aí: ele não tem controle de como as fake news se espalham, pois as células atuam de maneira semi-independente. Mas ele, ou alguém da equipe dele, tem controle sobre a própria boca e como as coisas saem dela. Então ele tem segurança na fórmula, a equipe tem as chaves da criptografia das mensagens passadas. Então é claro que ele poderia dar um cavalo-de-pau e tentar mudar a chave, e é evidente que ele não fez isso. O discurso de domingo [21 de outubro, quando Bolsonaro falou em varrer a oposição] intensificou mais ainda essa estratégia. Tudo feito como sempre, e ninguém consegue reagir.

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P.S.: para quem se interessou pelo exemplo de Emmanuel Macron/ Mathieu Gallet (e não “Gaillard”!), eis matéria em inglês do Express, logo após o vídeo – nada espontâneo (como admitido pelo próprio Macron logo depois de eleito) – com que a sua hábil equipe de comunicação tentou enterrar o boato sobre uma affair gay entre ambos quando esse atingia o seu pico de buscas no Google:

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The scandal over the married French leader, 40, has rocked France after claims emerged he got Mathieu Gallet, 41 fired as chairman of Radio France by the Higher Audiovisual Council, the French broadcasting authority.

Mr Gallet was officially dismissed after being found guilty of corruption and fined £17,500 for giving a €400,000 contract to a friend who had his own consultancy.

However, a former French minister claimed that he had really been fired to hush the persistent rumours that he had been embroiled in an affair with the leader of France.

Fredric Mitterrand, the former culture minister in Nicolas Sarkozy’s government, and nephew of the later French President Francois Mitterrand said that talk of the affair “played against” Mr Macron.

He said: “He had become irksome. I think it’s a political revocation. There’s a strong suspicion. I think this totally false rumour … exasperated the president.”

Mr Macron has been married to his much older wife Brigitte, 64, since 2007. The unusual pairing turned heads as there is a 24-year age gap between the couple.

The pair met when he was a teenager and she was his teacher. He defied his own parents’ disapproval to marry the educator after he fell in love with her while taking part in a school play.

But, in France, during the election campaign, there was as much talk about his marriage as there was about rumours that a paparazzi photographer had got salacious pictures of Mr Macron with Mr Gallet in a forest.

 Mathieu Gallet
A paparazzi photographer allegedly got salacious pictures of Mr Macron with Mr Gallet in a forest

The rumours got so much attention that Mr Macron was forced to come out and deny them.

He said: “Brigitte shares my life from morning to night. And I don’t get paid for that!

“If in dinners in town, people tell you that I lead a double life with Mathieu Gallet, it must be my hologram who escaped, it can’t be me.”

The compromising pictures have never been seen by anyone who can confirm their legitimacy, and there is nothing to suggest that they truly exist. But that has not stopped speculation that the images are out there.

Emmanuel and Brigitte Macron
Mr Macron, 40, has been married to his older wife Brigitte, 64, since 2007

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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