“Es-fake-ado”: quantos gumes tem a faca de Bolsonaro?

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Publicado 6/set/2018 – 21:40
Atualizado 8/set/2018 – 11:20

  • Anotemos algumas sincronicidades, já que o velho Tancredo nos ensinou há muito que, em política, não há coincidências. Numa mesma semana:
    (i) Bolsonaro e seu guru, Paulo Guedes, reúnem-se com os donos da maior fábrica de dramaturgia – e fake news – da América Latina, a Rede Globo;
    (ii) a disparada de Lula nas intenções de voto é tamanha, que Ibope e Datafolha decidem esconder os resultados de suas respectivas pesquisas. Em reflexo, o “mercado” desaba;
    (iii) Temer – e a Lava Jato – dão o beijo da morte no rival de Bolsonaro na direita, Geraldo Alckmin;
    (iv) Bolsonaro, na véspera do 7 de setembro!, quando são esperadas paradas (de) militares em todo o Brasil, é “esfaqueado”. Veste camisa – verde e amarela – com os dizeres “meu partido é o Brasil”;
    (v) já precificando a performance de Bolsonaro, o “mercado” vai à euforia no encerramento antes do feriadão. Seria interessante anotar quem comprou na baixa com a subida de Lula e vendeu na alta com o “tombo” (pra cima!) de Bolsonaro. Será que o Paulo Guedes sabe a resposta?
  • O pior de tudo é constatar que, definitivamente, no Brasil atual não há mais espaço para a sutileza. Na distorção provocada pela vida que se “vive” em pixels e likes, paradoxalmente hoje apenas a canastrice, o overacting, a caricatura, é crível!
  • Não surpreende, portanto, que o Vice de Bolsonaro, o General Mourão, afirme – desde já – que o PT está por trás do suposto “ataque” a Bolsonaro, es-fake-ado. Mais que isso, Mourão já promete retaliação deles, os “profissionais da violência” (!). Pouco importa que o suspeito do “ataque” fizesse postagens no seu perfil no Facebook contra políticos em geral e contra Lula em particular.
  • Pouco importa, tampouco, que em nenhuma imagem de Bolsonaro após o suposto atentado haja marcas de sangue. Nem mesmo na própria faca – ariada.
  • Pouco importa, ademais, que os médicos que o “operavam” – num lapso perdoável apenas aos olhos de leigos – não usassem luvas!
  • Atualização (1): Drops Duplo Expresso 7/set/2018 (integralidade do programa no final do artigo)
  • Atualização (2): há esperança! Apesar dos esforços, “pinça” Globo/ “Blogosfera (dita!) progressista” falhou fragorosamente na sua tentativa de interditar o questionamento ao teatro de Bolsonaro.

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Primeiramente, voltemos 24h na chanchada-Brasil 2018:

Os vídeos de Temer contra Alckmin (aqui e aqui) me fez lembrar o quanto eu amo o Brasil. Por algum motivo, Deus, o Destino ou nosso belo senso de humor sempre nos brindam com a possibilidade de rirmos de nossos inimigos, mesmo quando nos derrotam.

A possibilidade do sarcasmo contra o inimigo vitorioso é que o nos permite estar vivos e dispostos para a próxima batalha. Nós brasileiros temos os nossos antigos opressores, os portugueses, como alvo de chacota desde os tempos imemoriais. Há polêmica sobre as razões dessa tradição. Eu prefiro achar que o sacarmos é a arma do povo que, se não se pode vencer, também não quer desistir e se render. O brasileiro resiste com seu bom humor. Essa polêmica me faz pensar que as piadas de português vêm desde época da noite das garrafadas, que marca o fim do domínio português sobre a política brasileira.

Ah, como foi hilário ver Temer chamar com muita intimidade o candidato do PSDB de “Geraldo”, só para mostrar que sempre foram amigos e aliados. Hilário porque Temer é a única pessoa que tem mais votos do que Lula no Brasil. Só que os votos de Temer são negativos. Lula tem 55% dos votos válidos. Já o “Vampirão” tem quase 100% de rejeição. Ou seja, de anti-votos.

Engraçado é que isso é mais um paradoxo do poder. O anti-poder no limite pode ser um poder. É o caso da popularidade. Se popularidade é poder, a anti-popularidade no seu extremo também o é. E, em alguns casos, pode ser até mais eficaz do que a própria popularidade. Enquanto Lula tem o toque de Midas, Temer tem o oposto, o de “Mi-r-das”: transforma tudo o que toca em estrume. Com isso, pode destruir quem ele apontar como seu amigo, mas, ao mesmo tempo, tornar conhecido e popular quem ele apontar como seu antagonista.

Quantos candidatos a deputado lutando 24 horas por dia nas ruas para aparecer não sonhariam em ser apontados pelo dedinho do Temer como seu adversário?

Como Temer ama o poder, ele não resiste à chance de usá-lo, por mais ridículo que isso possa vir a ser. Felizmente, para o alento de nossa dor, ele nunca teve medo do ridículo. Acho que agora, depois que ele descobriu sua nova arma secreta, os candidatos da direita vão ter medo dele e passar a respeitá-lo, com medo do tal dedo malcheiroso.

Vai lá, Temer! O povo quer assistir isso de camarote novamente!

Vamos ao que interessa

Feita nossa introdução quase cômica para relaxar em um momento tão grave, vamos ao primeiro foco deste artigo: por que Temer atacou Alckmin com a lembrança da velha amizade de ambos?

O antropólogo e Professor da UFSCar Piero Leirner tem uma hipótese:

 

Concordo com o Piero que boa parte do poder internacional e nacional já está bem assanhada e embarcando em Bolsonaro. Não me surpreendo. Depois que colocaram Temer no poder, percebi que eles realmente não têm senso de ridículo e nem medo de dar tiros (ou facadas) no próprio pé.

Concordo com ele que faz parte da comédia nacional alguns analistas “sérios” explicarem essa reação de Temer como algum tipo de “mágoa” pelo fato do Alckmin critica-lo em seu programa eleitoral. O que só mostra que o tucano ainda nutria alguma esperança de ir para o segundo turno.

Porém, acho que Piero extrapola ao atribuir o ataque de Temer a Alckmin a uma ação de apoio a Bolsonaro. Pode ter sido um efeito colateral. Quem sabe até antevisto. Mas Bolsonaro ainda não corre nenhum risco de não ir para o segundo turno. E ainda perde (segundo as pesquisas) para todos os outros candidatos no mesmo (empata com Haddad, mas só porque esse não é muito conhecido).

Portanto, seguindo a análise do Piero, o vídeo de Temer seria um tiro n’água. Inútil aos objetivos da direita.

Tenho outra perspectiva, ainda mais diante do terceiro vídeo de Temer, destinado a Haddad:

Folha de S. Paulo:
(…)

(…)

 

 

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(mais) à direita de Haddad, Marina ainda é um cavalo na corrida!

Ora, se a direita sabe que Bolsonaro já está no segundo turno e que tem dificuldades de vencer – bem, até a “facada” ao menos –, melhor seria tentar levar também outro candidato de direita para a próxima fase. E tem que ser um que possa parecer a antítese da truculência machista do capitão.

Quem melhor do que Marina?

Marina é neoliberal até o fundo da alma. Mas a “esquerda” identitária ainda vê nela um exemplo do seu modelo de vítima social: mulher, negra, de origem humilde, ex-esquerdista, com um vice moderninho que gosta de mato, erva enrolada no papel de seda e todo tipo de pós-modernidade…

Ora, os votos perdidos por Alckmin seriam dispersados entre: (i) Bolsonaro, para chover no molhado (pois já está no segundo turno); (ii) os 2 banqueiros anões; (iii) o (falso) “idólatra de Moro” (será que só tem personagens charlatães nesta eleição?); e (iv) (Os-)Marina. Ora, com Marina entre 2º e 3º lugar nas pesquisas, vai acabar atraindo o voto útil no final dos banqueiros anões e também da paixão de Moro.

Portanto, é evidente que Marina é o beneficiário mais direto da desconstrução de Alckmin. Mesmo porque os direitistas que votam no anão Alckmin devem ter algum receio do gigante Bolsonaro. Talvez tenham medo de perder sua liberdade.

(e tem ótimas razões para isso)

Enfim, Temer esfaqueia seu amigo “Geraldo” pelo bem da fada da floresta e da continuidade do Golpe, tão ameaçado pelo eleitor, que, simplesmente, caiu na real.

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Mas por falar em “facada”…

Post scriptum para dizer que essa polêmica já ficou pra trás

Acabando de escrever vejo a “notícia” do dia.

Facada “superficial”, segundo a Veja, em Bolsonaro?

Isso está me parecendo uma repetição nada original de fatos do passado. Sim, a História se repete:

  1. o “atentado” – de falsa bandeira – a Carlos Lacerda na rua Toneleiros, que culminou no suicídio de Vargas;
  2. os tiros do maluco Lee Oswald na cabeça de Kenedy (4 links interessantes, 2 em português);
  3. o incêndio no Reichstag;
  4. a bolinha de papel do Serra (que foi a História repetida como comédia).

 

 

Será que o “atentado” a Bolsonaro será a repetição da História como tragédia?

Santo Deus do sarcasmo, salve-nos dessa!

O pior de tudo é constatar que, definitivamente, no Brasil atual não há mais espaço para a sutileza. Na distorção provocada pela vida que se “vive” em pixels e likes, paradoxalmente hoje apenas a canastrice, o overacting, a caricatura, é crível!

Não surpreende, portanto, que o Vice de Bolsonaro, o General Mourão, afirme – desde já – que o PT está por trás do suposto ataque a Bolsonaro. Mais que isso, Mourão já promete retaliação deles, os “profissionais da violência” (!)

Pouco importa que o suspeito do “ataque” fizesse postagens no seu perfil no Facebook contra políticos em geral e contra Lula em particular:

 

“Apesar disso”, o cartel midiático já o elevou a secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, seção Juiz de Fora:

 

 

Pouco importa, tampouco, que em nenhuma imagem de Bolsonaro após o suposto atentado haja marcas de sangue.

Nem mesmo na própria faca:

 

Pouco importa, ademais, que os médicos que o “operavam” – num lapso perdoável apenas aos olhos de leigos – não usassem luvas!

 

Jogo dos 7 erros?

 

 

Anotemos algumas sincronicidades, já que o velho Tancredo nos ensinou há muito que, em política, não há coincidências.

Numa mesma semana:

(i) Bolsonaro e seu guru, Paulo Guedes, reúnem-se com os donos da maior fábrica de dramaturgia – e fake news – da América Latina, a Rede Globo;

 

(ii) a disparada de Lula nas intenções de voto é tamanha, que Ibope e Datafolha decidem esconder os resultados de suas respectivas pesquisas. Em reflexo, o “mercado” desaba;

 

 

(iii) Temer – e a Lava Jato – dão o beijo da morte no rival de Bolsonaro na direita, Geraldo Alckmin;

 

 

(iv) Bolsonaro, na véspera do 7 de setembro!, quando são esperadas paradas (de) militares em todo o Brasil, é “esfaqueado”. Veste camisa – verde e amarela – com os dizeres “meu partido é o Brasil”;

 

(v) já precificando a performance de Bolsonaro, o “mercado” vai à euforia no encerramento antes do feriadãoSeria interessante anotar quem comprou na baixa com a subida de Lula e vendeu na alta com o “tombo” (pra cima!) de Bolsonaro. Será que o Paulo Guedes sabe a resposta?

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ATENÇÃO – as possíveis queimas de arquivo:

(1) Como com Lee Osvald, Gregório Fortunato e um dos envolvidos no incêndio do Reichstag, podem encomendar o “sancionamento” do suspeito, como queima de arquivo. Sem ele, dificilmente saberemos o que aconteceu. E, principalmente, a cadeia de comando;

(atualização 7/set/2018)
(2)
 Caso a percepção de que se tratou de uma encenação se consolide, os patrões de Bolsonaro podem, também, “sancioná-lo”, desacreditando instantaneamente todos os que levantaram os diversos furos na encenação de ontem. O mais importante de todo esse episódio é a constatação de que “eles” estão dispostos a tudo para garantir o resultado nas “eleições” (entre aspas mesmo) que se avizinham. Por isso insistimos no tiro no pé que seria participar das mesmas (i) sem Lula; ou (ii) sem uma anti-candidatura (aqui e aqui). Haddad, por certo, não é nem um, nem outro.

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Circula na internet cronologia dos eventos, com links para matérias ou em sites da grande imprensa (e.g., UOL, VEJA), ou pró-Mercado (e.g., Infomoney) ou claramente favoráveis a Bolsonaro (e.g., O Antagonista). Portanto, insuspeitos de serem favoráveis a Lula ou ao PT:

1- Três dias atrás, Bolsonaro tem reunião com os donos da Globo (msn.com).

2- Ontem, o Infomoney revela que Bolsonaro planeja estratégia para vencer no PRIMEIRO TURNO.

3- Bolsonaro se cercava de seguranças do BOPE – aquela “Tropa de Elite” do “FACA na caveira”. E usa colete dizendo temer por sua vida (UOL).

4- Os super-seguranças do BOPE não veem o agressor que tenta golpeá-lo com a faca. No vídeo filmado por um dos presentes se vê que a “estocada” foi bem rápida (youtube).

5- Desafiando todas as probabilidades, um mineiro – com desequilíbrio mental – e dois cariocas, os filhos de Bolsonaro, frequentaram o mesmo clube de tiro na Região Sul do Brasil, na grande Florianópolis.

Aliciamento de maluco útil?

 

6- Os assessores de Bolsonaro confirmam à imprensa que ele estava de colete, como sempre (Gazeta do Povo).

7- Um dos filhos de Bolsonaro, Flavio, publica no twitter que o pai estava bem e que a “ferida” tinha sido apenas superficial (VEJA) – o que era de se esperar com alguém vestindo colete.

Notar: referência original não era à VEJA, mas sim ao UOL, que já a alterou. Sumiu a fala do filho de Bolsonaro sobre “ferida superficial”!

OBS: tudo aqui linkado está devidamente printado, por óbvio. Pequeno demonstrativo:

(deem desconto para o título, alterado 3:30h depois… rs)

(…)

 

8- Então de repente Bolsonaro é internado. A imprensa logo diz que a faca pegou ABAIXO DO COLETE (O Antagonista).

9- Flavio Bolsonaro apaga o tuite anterior, minimizando a “lesão”, e publica um novo, dizendo que foi “pior do que pensavam”. Ele também diz que o pai na verdade, por obra do destino, JUSTO HOJE ESTAVA SEM COLETE! (Voz da Bahia).

10- A facada superficial virou uma “lesão que pegou fígado, intestino, pulmão”… pior que tiro de fuzil! (Agência Brasil).

Estranhamente, mesmo sendo a cavidade abdominal, o fígado, o intestino e o pulmão altamente vascularizados, com a alegação posterior inclusive de que uma artéria teria sido rompida – onde o sangue circula a alta pressão -, não há uma única gota de sangue em nenhuma das centenas de imagens registradas do evento:

 

 

(para quem tiver estômago, e não passar mal ao ver jorrar – muito – sangue, eis alguns links com registros do resultado de facadas de verdade: (1), (2), (3), (4), (5), (6 – mesmo em facada superficial também há muito sangue: (6.A), (6.B), (6.C)), (7), (8 – mesmo sem retirar a faca também há sangue, embora menos))

 

 

11- Bolsonaro, que já não queria ir aos debates, e que perdia voto toda vez que abria boca, agora, vejam só, não poderá mais fazer campanha pelos próximos 30 dias! (O Antagonista).

 

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Do Twitter:

 

 

 

 

 

 

 

 

Bis, para o “Brasil 171”, a Central do Plano B:

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Nota: ler, no artigo abaixo, sobre a tática da “pinça” no sequestro de pauta – coordenado – PIG/ ‘GloBosfera’. Tem até site “de esquerda” (?) que, comprovadamente (prints), combina publicação com O Antagonista (!):

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Isso tudo me lembra um artigo – premonitório? – publicado pelo comentarista do Duplo Expresso de economia Gustavo Galvão, no ano passado. Reparem, em especial, no trecho grifado no artigo, também destacado a seguir. Acho que vou convidá-lo para uma sociedade na mesinha que pretendo colocar na feira para jogar búzios.

Ou para ariar facas, quem sabe…

E, enquanto isso, contar causos de “eleições” (entre aspas mesmo):

(…)
O terceiro (golpe contra Lula) seria o que o genial Wilson Ferreira, do blog Cinegnose, chama de bomba semiótica.
No caso, seria uma operação de sabotagem planejada teatralmente com a grande imprensa para ser divulgada de forma espetacular.
Algo que possa chocar a Nação tipo um assassinato ou uma queda de avião. Isso pode ser contra inimigos ou aliados em potencial de Lula.
Se for contra um inimigo, seria algo que pudesse depois ser atribuído a Lula ou a algum apoiador.
(…)
Esse alvo espetacular pode estar no Congresso, no Judiciário, nas Forças Armadas ou ser alguém que tenha importância eleitoral. Pré-candidatos, juízes ou militares tendem a ser os alvos mais óbvios.
(…)

 

(publicado originalmente no Viomundo e diversos outros blogs)

Gustavo Santos: Os seis golpes contra Lula até 2018 e um só antídoto
11 de dezembro de 2017 às 08h42

Gustavo Antônio Galvão dos Santos

Já está mais do que evidente, para quem entende minimamente de comportamento eleitoral, que será impossível acharem algum candidato que possa vencer Lula em 2018.

Aliás, para poder impedir que Lula em 2018 vença no 1º turno, eles vão ter que colocar como candidatos todas as celebridades disponíveis: dois juízes pavões, um apresentador de TV, dois “gestores”, um santo, dois esquerdistas refinados, dois esquerdistas bravos, uma fada da floresta, um messias armamentista, um banqueiro ministro, um verde, um bando de pastores mui santos etc.

Será um zoológico de candidatos como nas eleições de 1989. Na prática, todos contra a vitória do Lula no primeiro 1º turno. Com muito esforço, muito dinheiro, muitos belos discursos e muitas mentiras, talvez consigam juntos impedir que Lula vença no primeiro turno. É o máximo que podem conseguir.

Eles sabem disso.

O golpe não foi dado para devolver o governo para o escolhido do povo e, assim, correr o risco de perder as “conquistas” que Temer ofereceu aos ‘donos do poder’. Por isso darão todos os golpes possíveis para impedir que Lula volte a ser presidente.

Tentarão, pelo menos, seis até 2018.

O primeiro, todo mundo já sabe, será a condenação do Lula no TRF4, onde julga o compadre do Moro.

Enquanto isso, tentarão o segundo golpe, o do parlamentarismo ou “semipresidencialismo”.

O terceiro seria o que o genial Wilson Ferreira, do blog Cinegnose, chama de bomba semiótica.

No caso, seria uma operação de sabotagem planejada teatralmente com a grande imprensa para ser divulgada de forma espetacular.

Algo que possa chocar a Nação tipo um assassinato ou uma queda de avião. Isso pode ser contra inimigos ou aliados em potencial de Lula.

Se for contra um inimigo, seria algo que pudesse depois ser atribuído a Lula ou a algum apoiador.

Se for contra um aliado, pode ser algo que elimine uma base de sustentação fundamental a Lula e derrube a confiança de seus apoiadores.

Esse alvo espetacular pode estar no Congresso, no Judiciário, nas Forças Armadas ou ser alguém que tenha importância eleitoral. Pré-candidatos, juízes ou militares tendem a ser os alvos mais óbvios.

O quarto golpe a ser tentado será a fraude eleitoral.

O sistema de voto eletrônico brasileiro já convive com fraudes há muito tempo e nada pode ser feito contra elas porque o sistema é inauditável.

Na prática, é possível escolher quem será eleito, sem nenhum vestígio legalmente comprovável de fraude.

Além disso, quem vai investigar e julgar os acusados de fraude é o mesmo órgão que define todas as regras, administra todas as urnas, seus algoritmos e toda logística da eleição.

Ou seja, quem pode fazer a fraude é quem vai julgá-la. E não é preciso pesquisar muito para saber de que lado esse órgão está. A fraude eleitoral em Honduras foi só mais teste antes de ser usado no Brasil.

O quinto golpe a que recorrerão será o militar. Pelo menos desde 2013 ele vem sendo cogitado.

Para isso adestraram uma parte da população para apoiar entusiasticamente tanto um golpe militar quanto qualquer tipo de saída através da violência.

O fanatismo em torno da candidatura de Bolsonaro, adulado como “o mito” por seus seguidores, é só uma evidência mais óbvia.

O sexto golpe possível  é a combinação dos cinco acima citados. Ele ocorrerá após a reeleição de Lula, se ela se confirmar.

Será uma reedição do ‘Grande Cerco contra Dilma’ após a eleição de 2014.

Isso significa que utilizarão simultaneamente todas armas para, ao menos produzir um Congresso e uma mídia mais hostis, um judiciário e um ministério público mais persecutórios e um clima de ódio, divisionismo e conflito civil ainda maior.

Objetivo será tentar colher pequenos recuos cumulativos do futuro presidente Lula, a partir de 2019.

Aí, à medida que Lula for cedendo espaços e recursos de poder, perderá a credibilidade frente aos apoiadores e capacidade de reação. Ao mesmo tempo, os recuos farão os inimigos se recuperarem dos desgastes do governo Temer e das derrotas em múltiplas tentativas de golpe.

É a única forma de impedirem que Lula reorganize seu novo governo a tempo de obter resultados, consolidando novamente uma fortaleza inexpugnável de popularidade.

Se os inimigos de Lula puderem colher recuos, vacilações e quebras de promessas, como colheram de Dilma em 2015, poderão novamente acumular recursos de poder e credibilidade junto ao povo para um golpe definitivo.

Essas seis tentativas de golpes são tão inevitáveis quanto a picada de um escorpião em quem confia nele.

Mas acredito que todas fracassarão. Lula até agora teve muita sorte. Algo nos diz que essa sorte não acabará enquanto ele estiver defendendo as causas básicas do povo.

Todavia, sem um dispositivo amplo de defesa, cada golpe poderá causar grandes feridas e sofrimento. E não convém só contar com a sorte.

O antídoto aos golpes, um dispositivo amplo de defesa e reação contra esses golpes, vai muito além de campanhas eleitorais. É preciso fortalecer vínculos sólidos com um conjunto de aliados mais amplo. Aliados que possam reagir contra cada uma das tentativas de golpe citadas, mas que sejam realmente leais, mesmo após as eleições.

Uma lealdade real só pode ser conquistada com a comunhão de ideais, caminhos, projetos e utopias. Hoje o PT ainda está oferecendo muito pouco nesse sentido. Está se baseando quase que apenas na recuperação das conquistas de seus governos.

Isso é insuficiente para conquistar partes importantes dos empresários produtivos, da classe média, do funcionalismo público, das forças armadas, da intelectualidade, dos outros partidos e políticos de esquerda, dos sindicatos, movimentos sociais recalcitrantes e dos jovens.

Todos esses setores se sentem parcialmente descontentes, não contemplados ou pouco entusiasmados com o simples retorno ao que foi o governo Lula. Promessas específicas a cada um desses setores tendem a ter um impacto pequeno porque carecem de credibilidade.

Além disso, podem gerar contradições e objeções mútuas entre esses grupos ou, ainda, com outros grupos de aliados fiéis ou potenciais de Lula.

O antídoto a todos esses golpes é conseguir um discurso unificado que garanta aliados fiéis em todos os grupos citados acima e que, não por acaso, são base de apoio fundamental em todos os tipos de golpe.

Esse discurso precisa se alimentar de um arcabouço e uma narrativa que sintetize e unifique o interesse de todos esses grupos e ao mesmo tempo seja já conhecida, compreensível e crível.

Essa narrativa existe e é compatível com as propostas e história do Lula. É o nacional-desenvolvimentismo de Vargas, de Juscelino, de Jango, de Brizola e de parte dos militares nacionalistas. O nacional-desenvolvimentismo propõe altas taxas de crescimento, investimento pesado em tecnologia e infraestrutura, além de Estado e funcionalismo fortes. Essas políticas favorecem os setores mais receosos em relação a Lula.

Se Lula abraçar com credibilidade esse discurso, terá em mãos o antídoto que eliminará boa parte do isolamento e da indiferença em relação a ele nos grupos que podem desmontar os golpes vindouros antes que causem grandes danos. Essa credibilidade precisa ser conquistada por meio da atração de aliados leais que sejam historicamente ligados ao discurso e aos interesses beneficiados pelo nacional-desenvolvimentismo. Caso contrário, será visto como um discurso meramente eleitoreiro.

Se nenhum desses golpes der certo – como os planos do Cebolinha para roubar o coelhinho da Mônica – Lula tomará posse em 2019 e fará seu melhor governo até 2022, quando o Brasil terá muito que comemorar no bicentenário de nossa independência!

Gustavo Antônio Galvão dos Santos é doutor em Economia.

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ATUALIZAÇÃO 7/set/2018 – 13:00: este artigo serviu de base para o debate do Duplo Expresso desta sexta-feira, Dia da Independência do Brasil:

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ATUALIZAÇÃO 7/set/2018 – 19:00:

(1) há esperança! Apesar dos esforços, “pinça” Globo/ “Blogosfera (dita!) progressista” falhou fragorosamente na sua tentativa de interditar o questionamento ao teatro de Bolsonaro

 

E o Duplo Expresso tem o maior orgulho de estar fazendo a sua parte.

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(2) Passando recibo da trituração da versão fake pela internet brasileira, depois do “traumatismo craniano” com bolinha de papel de 2010, PIG lança “facada sem sangue” em 2018. Quer dizer, devem ter resgatado é a técnica de “incisões espirituais” do Dr. Fritz (!):

(…)

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E a pinça PIG/ “PIGuinho (pseudo!) vermelho” volta a se fechar:

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ATUALIZAÇÃO 8/set/2018 – 11:20:

(1) Qual a filiação do médico que lançou pioneiramente, com a rádio de extrema-direita Joven Pan, a tese da “facada sem sangue”, reverberada – em pool – pela pinça PIG / “PIGuinho ‘vermelho'”?

  • 2018

 

  • 2016

 

 

Afinal, a faca “saiu” (?) ariada!

Será que Bolsonaro, que tem cérebro de passarinho, também come areia para fazer a sua digestão?

 

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(2) PF quer abacar com a diversão…

 

 

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CONTINUAÇÃO:

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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