Globo/ CBF: por que brasileiros bons – na Europa – sofrem blecaute na Copa

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

  • Algo há de errado quando o mundo passa a contar como variável chave para o resultado uma alegada “vulnerabilidade psicológica” de atletas – de elite – brasileiros em partidas decisivas da Copa do Mundo. O que diferenciaria o tipo de pressão sobre os jogadores brasileiros na Copa e nos campeonatos europeus, onde eles não sofrem “blecautes”?
  • Desde a – esquisitíssima – “derrota” de 3×0 para a França na final da Copa do Mundo de 1998 – ou seja, há exatos 20 anos – há grande desconfiança, para dizer o mínimo, sobre os bastidores da escalação do time brasileiro. Bem como sobre o real objetivo estratégico da equipe nessas competições: ganhar ou perder?
    (i.e., “perder” na hora “certa”! – $$$)
  • Certo estava o jornalista do The Guardian que, dia atrás, confidenciou no Twitter que, por razões alheias ao país e mesmo aos atletas (mas por causa dos inconvenientes “colegas” da Globo!), torcia pela eliminação do “Brasil” (i.e., da Globo) da Copa.
  • Aliás, ele fez mais do que apenas “torcer”, no caso… trata-se justamente de quem escreveu (para a Bélgica…) o manual sobre como derrotar – aquele… – “Brasil”. Ou seja, a (seleção da) Globo!
  • E nós, hein? Quando é que vamos, finalmente, eliminar a Globo – mas do Brasil?

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Algo há de errado quando o mundo passa a contar como variável chave para o resultado uma alegada “vulnerabilidade psicológica” de atletas – de elite – brasileiros em partidas decisivas da Copa do Mundo. Ontem, antes do jogo Brasil vs. Bélgica, havia lido um artigo no The Guardian que se propunha a ser uma espécie de manual sobre como os belgas poderiam derrotar o time brasileiro. Lá pelas tantas, chega-se a um parágrafo sobre como a equipe brasileira poderia, novamente, sofrer um blecaute. E amarelar:

(em tradução livre)

(…)
“Tite é uma figura extremamente impressionante que projeta calma e confiança, mas ainda há uma sensação de que o Brasil pode ser emocionalmente frágil. O gol (do suíço) Zuber (na partida contra a Suíça, ainda na fase de grupos) tirou o time do rumo e as recriminações sobre uma decisão levemente polêmica (sobre a validade daquele gol), juntamente com o furor que envolve cada questionamento a Neymar – que continua tentando transformar a Copa do Mundo em um filme biográfico pessoal – sugere que a histeria que os desfez no semi-final há quatro anos (no 7×1 contra a Alemanha) pode não ter sido totalmente eliminada. Pode ser, de fato, que seja um corolário inevitável da expectativa que os rodeia”.
(…)

 

Chamo a atenção para a última colocação: “corolário inevitável da expectativa que os rodeia”.

Estou de acordo com o autor com relação à construção de uma grande expectativa. No entanto, esses atletas (repito: de elite!), que disputam os melhores campeonatos nacionais do mundo (Inglaterra, Espanha, Itália, França, Alemanha…) e a mais importante disputa – internacional – entre clubes, a Champions League, em tese estão acostumados a tal tipo de pressão.

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Nota: creio que seja chocante para quem vem para a Europa (como foi para mim quando fui morar na Espanha), mas, diferentemente do que ocorre no Brasil, os europeus cagam e andam para o tal “mundial interclubes” da FIFA. O importante é – apenas – ganhar a (exclusivamente europeia) Champions.
A disputa, subsequente, com os campeões dos outros continentes não recebe nenhum destaque na imprensa ou atenção da torcida. Sequer é comentada nos jornais televisivos. Os times europeus envolvidos não disfarçam a falta de empenho. Se pudessem, inclusive, equipes como o Barcelona (que vi de perto) mandariam, na verdade, o seu Time B – aquele que joga na segunda divisão espanhola e faz partidas de exibição mundo afora para trazer dinheiro (de chinês e árabe).
Desculpe-me você que valorizava muito o título “mundial” do seu clube brasileiro, mas para os times europeus trata-se quase disso: um amistoso de exibição, com os milionários jogadores há muito já de férias, após o fim da – pesadíssima – temporada europeia.

É duro, mas é a verdade: a “importância” desse “campeonato” é mais uma mentira criada pela Globo no Brasil.

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Aliás, essa última constatação vem a calhar… justamente para voltarmos ao que discutíamos antes:

– O que diferenciaria o tipo de pressão sobre os jogadores brasileiros na Copa e nos campeonatos europeus, onde eles não sofrem “blecautes”?

Ontem, inadvertidamente, consegui uma possível pista. Acompanhei o jogo Brasil vs. Bélgica pela RTS, o canal da rede de TVs públicas suíças que atende a parcela francófona da população. Ao final, fizeram uma “mesa redonda” discutindo o jogo e os principais lances. Os comentaristas gostaram do jogo, que consideraram de alto nível. I.e., apesar da simulação de “penalty” por Neymar, cuja deslealdade merecia – na opinião deles – cartão amarelo. Elogiaram, inclusive, a ofensividade do time brasileiro no segundo tempo, apesar de essa não ter se traduzido em gols.

No entanto, apresentador e comentaristas fizeram uma suposição que gostaria de pedir aos leitores – no Brasil – que confirmassem (ou não!):

– Todos ali no estúdio estavam certos de que o técnico Tite receberia um tiroteio na imprensa especializada brasileira por ter demorado tanto para substituir Gabriel Jesus (atenção: do Manchester City) – que há muito deixava a desejar – por Firmino (atenção2: do Liverpool).

Como fizeram questão de registrar, quando, já próximo do final da partida, foi feita essa substituição, cuja necessidade lhes era evidente, o desempenho do ataque brasileiro melhorou sobremaneira. Contudo, concluíram que não havia mais tempo no cronômetro – ou nervos – para converter as chances criadas em gols.

Logo na sequência, deparei-me com uma segunda pista. Em um ótimo artigo, o jornalista Mauro Lopes trouxe mais um elemento para tentarmos desvendar a misteriosa diferença – quando na Copa vs. nos campeonatos europeus – nos nervos dos jogadores brasileiros. Descontem a hospedagem na Central do Plano B – risos – e passemos a uma observação relevantíssima do excelente Mauro:

O Itaú patrocina a seleção; patrocina a transmissão da Globo; transformou um dos dois símbolos do time, o técnico Tite, em seu garoto propaganda; o segundo, Neymar, foi adquirido pelo McDonald’s, que é patrocinador do evento Copa do Mundo. A Globo tenta tornar a Copa num símbolo da “arrancada” do país do golpe contra o país das conquistas populares dos governos do PT.

O arranjo que sufocou o time tem a cara do golpe. Pós-verdade, truculência contra os que discordam, encenações, enganação. O que vale é o poder da grana

Era preciso seguir adiante na Copa, é preciso seguir adiante no golpe para que os interesses dos verdadeiros donos sejam garantidos. Sim, porque Tite, Neymar ou Temer não são os donos, mesmo que tenham se tornado milionários e vendido suas almas por isso. Os donos de verdade não são milionários; são bilionários. E almejam mais que a frota de carros, os helicópteros ou o avião particular. Não são jogadores, técnicos ou políticos. São os banqueiros, os donos das mídias, os donos do capital. Querem o poder, o controle, o domínio do sistema, a submissão de todos, para sempre.

Tudo se tornou armação, empulhação. Como a cena patética de Ronaldo, ex-Fenômeno, na condição de comentarista da Globo, criticando Firmino depois do jogador ter feito o segundo gol na partida contra o México (“foi sorte”). O motivo: o atacante não faz parte do “plantel” de sua empresa de marketing esportivo – Gabriel Jesus sim, é do “plantel”, e Ronaldo está aí para defender os investimentos da firma.

 

Ou seja, reunindo as pistas (1) e (2):

(i) os comentaristas suíços – i.e., duplamente “neutros” – supõem que Tite seria fuzilado na imprensa brasileira por não ter colocado Firmino no lugar de Gabriel Jesus já no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo; e

(ii) Mauro Lopes nos conta que o (alegado) “comentarista” da rede de televisão brasileira que monopoliza a transmissão no país sabotava – até publicamente – Firmino. E por interesses comerciais inconfessáveis!

Subsumindo silogisticamente as premissas (i) e (ii), chegamos a uma hipótese que pode responder, ao menos em parte, por que experientes jogadores brasileiros – mais uma vez: de elite, tarimbados internacionalmente – desestruturam-se emocionalmente quando jogam pela…

– … “seleção”.

Quer dizer: quando jogam pela Globo/ CBF!

Certamente esse tipo de pressão espúria, “político-comercial”, digamos, não existe em times europeus que disputam a Champions League!

Desde a – esquisitíssima – “derrota” de 3×0 para a França na final da Copa do Mundo de 1998 – ou seja, há exatos 20 anos; notem: com “protagonismo” (sic) do mesmo Ronaldo “fenômeno” (sic2) – há grande desconfiança, para dizer o mínimo, sobre os bastidores da escalação do time brasileiro.

Bem como sobre o real objetivo estratégico da equipe nessas competições: ganhar ou perder?

(i.e., “perder” na hora “certa”! – $$$)

Até CPI foi criada à época no Congresso Nacional, com revelações chocantes sobre o submundo do multimilionário patrocínio da CBF por parte de fornecedores de material esportivo, como a Nike. Com relação apenas à escalação do time, as exigências impostas em retorno – i.e., “apenas” aquelas feitas por escrito, em contrato, e não à boca pequena, veladamente… – eram escandalosas.

Como muito bem diz o parceiro Wellington Calasans, naquele 1998 sofremos o nosso primeiro “7×1”.

Há 4 anos, no 2014 preparatório para o Golpe, veio o “7×1” definitivo.

Quer dizer…

– … “definitivo”??

Enquanto quem mandar na seleção brasileira for o imundo esquema Globo/ CBF, podemos ter certeza de que “pressões indevidas” se farão sentir sobre os jogadores brasileiros.

E isso apesar do desempenho físico e mental – novamente: de elite! – que os mesmos ostentam nos melhores e mais disputados campeonatos do mundo: os da Europa.

Lembremos que, além de propinas ocultas em paraísos fiscais, o mercado de apostas – potencializado atualmente pela modalidade online – é uma das maneiras mais fáceis e rápidas de esquentar dinheiro sujo.

Certo estava o jornalista do (mesmo!) The Guardian que, dia atrás, confidenciou no Twitter que, por razões alheias ao país e mesmo aos atletas (i.e., por causa dos inconvenientes “colegas” da Globo!), torcia pela eliminação do Brasil da Copa. E o quanto antes:

“Não tenho sentimentos reais sobre o Brasil, mas quanto mais cedo a TV Globo sair desse torneio, melhor. Milhares deles, barulhentos e grosseiros no que deveria ser uma área de trabalho”.

 

Aliás, Jonathan Wilson fez mais do que apenas “torcer”, no caso…

Foi justamente ele quem escreveu (para a Bélgica) o manual sobre como derrotar – aquele… – “Brasil”. Ou seja, a (seleção da) Globo:

 

Pois então…

O Jonathan trabalhou e conseguiu a eliminação – da Globo! – da Copa…

E nós, hein?

Quando é que vamos, finalmente, eliminar a Globo – mas do Brasil??

(mais do que do futebol!)

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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