Até um cego vê! #5 – Padre Antônio Vieira pensava à frente do seu tempo ou fomos nós que voltamos ao passado?
Da Redação do Duplo Expresso,
Encontramos nesta publicação do Blog Aprendizes Literários a análise ideal para unir a literatura barroca ao momento atual da nossa política. Ainda que a análise do poema do Padre Antônio Vieira nesta publicação tenha seguido rigorosamente os aspectos literários, a crítica do poema é extremamente atual.
No quadro “Até um cego vê!” desta semana, Leonardo Lobo recita este poema com a propriedade de quem tem “lugar de fala”. É um alerta aos governantes, sobretudo no atual Regime Temer que, assim como na escola barroca, é caracterizado pelo contraste. No caso do Brasil, as visíveis diferenças entre os privilégios dos muito ricos e o abandono dos pobres.
Para que você possa entender melhor o poema, reproduzimos aqui o conteúdo da página especializada, mencionada anteriormente:
Cegueira de Olhos Abertos
A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas: e tal era a dos escribas e fariseus. Homens com os olhos abertos e cegos. Com olhos abertos, porque, como letrados, liam as Escrituras e entendiam os profetas; e cegos, porque vendo cumpridas as profecias, não viam nem conheciam o profetizado.
(…) Esta mesma cegueira de olhos abertos divide-se em três espécies de cegueira ou, falando medicamente, em cegueira da primeira, da segunda, e da terceira espécie. A primeira é de cegos, que veem e não veem juntamente; a segunda de cegos que veem uma coisa por outra; a terceira de cegos que vendo o demais, só a sua cegueira não veem.
Padre Antônio Vieira, in “Sermões
Análise – Maria Eduarda Porteles
Neste poema padre Antônio Vieira nos leva a fazer uma reflexão sobre nossa visão de mundo, sobre o que vemos e não vemos, e o que as vezes deixamos de enxergar por não querer.
No texto ele faz utilização da ironia e da antítese, que são características muito marcantes da literatura barroca, ele satiriza quando diz sobre os escribas e os fariseus, que mesmo sendo letrados não enxergam o cumprimento das profecias (ironia), e diz também que são cegos “que veem e não veem juntamente” (antítese).
Eu particularmente achei muito interessante esse texto, nos faz pensar sobre como temos visto as coisas ao nosso redor, será que temos sido como os escriba e fariseus, que mesmo tendo conhecimento não enxergamos? É um pensamento bem interessante, e assim como todos os textos escritos por ele, apesar de ter sido escrito no séc. XVII são muito atuais, e encaixam-se perfeitamente com o nosso cotidiano.
Assista ao vídeo de Leonardo Lobo:
Leonardo Lobo é músico, professor, ativista político e colaborador do Duplo Expresso.
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