Jornalismo resiste na sucateada EBC – Notícia ruim é o “prato de todos os dias”

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Impressiona a resistência dos quadros da EBC – Empresa Brasil de Comunicação. A despeito do abandono que o governo impõe a este importante canal de informação, os profissionais (eu disse: “os profissionais”) que fazem jornalismo cumprem uma tarefa árdua, mas necessária de apurar e divulgar os fatos.

Particularmente, penso que o estilo da redação seja tão impessoal que – por vezes – pode ser confundido com uma ata de reunião de condomínio. Isso, obviamente, em decorrência dos “manuais de engessamento” e da censura do regime vigente no Brasil.

No entanto, exatamente porque trabalham sob péssimas condições e ameaçados pela censura (tortura psicológica, apenas como um dos exemplos) é que devemos destacar a forma equilibrada como os jornalistas da EBC falam sobre as consequências do desmonte do Estado e abandono da sociedade.

Em uma rápida visita na página www.ebc.com.br você percebe que o Brasil está desgovernado. Isso é dito pelos jornalistas de maneira elegante e rigorosamente fiel aos acontecimentos. Não há notícia boa a ser divulgada, mas notícia ruim também é notícia.

O caos é parte da estratégia internacional para que o Brasil demore décadas para se recuperar. Ao reportar o retrocesso, os jornalistas da EBC apenas “cumprem o doloroso dever”, como faz um porta-voz que anuncia a morte de alguém.

Nunca é demais destacar que este caos é, lamentavelmente, ao mesmo tempo o que leva ao orgasmo uma elite burra que prefere ficar pobre para zombar dos miseráveis a ter o “desgosto” de ver como seres humanos aqueles que, por sadismo, prefere tratar como animais abandonados.

Selecionei três notícias para que você possa ter uma visão mais concreta do que tento explicar. Estavam todas na primeira página do dia 16 de junho.

A primeira notícia ratifica o que sempre dissemos aqui no Duplo Expresso: a “reforma trabalhista” nada mais é do que a legitimação da escravatura.

Uma missão formada por agentes de fiscalização do trabalho identificou 30 pessoas escaladas para levar gado a pé por um trajeto de 930 quilômetros no estado do Pará, na beira da BR-230, conhecida como Transamazônica. A informação foi divulgada hoje (15) pelo Ministério do Trabalho e Emprego. De acordo com o órgão, o grupo era mantido em condições análogas à escravidão” (Leia na página da EBC)

A segunda notícia selecionada é mais uma que revela o desmonte da educação. Para manter o atual regime é preciso impedir o acesso ao único elemento de libertação do homem: o conhecimento.

O Brasil precisa de 1,9 milhão de vagas em creches para crianças de até três anos de idade, que ainda não conseguiram acesso. Atualmente, o alcance é de 32% de crianças de zero a três anos e a meta estipulada é 50% delas nas creches, até 2024” (Leia na página da EBC)

A terceira notícia é a cara da elite racista brasileira. Sem perceber que perdeu para os seus patrões estrangeiros até mesmo a Casa Grande, esta elite exerce com regozijo o papel de Capitão do Mato que lhe restou.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estuda reduzir em cerca de 80% a área do Quilombo do Mesquita, situado na Cidade Ocidental (GO), entorno do Distrito Federal. Medida instituindo a redução de 4,2 mil hectares para menos de 1 mil foi publicada há pouco mais de três semanas no Diário Oficial” (Leia na página da EBC)

Para não parecer que o Duplo Expresso está cumprindo o papel de assessor de imprensa da EBC, faço aqui uma crítica à editoria internacional. Esta, certamente por imposição dos patrões estrangeiros do regime, tem produzido textos vergonhosos sobre a Venezuela e Rússia.

A culpa não é dos jornalistas, certamente. Quem teve Serra e agora Nunes como “Chancelinho” não pode fazer muita coisa. Prova disso é esta notícia de economia que mostra claramente que o setor produtivo brasileiro (que inexplicavelmente colaborou para a formação do atual regime) está desamparado. As barreiras comerciais aos produtos brasileiros são o reflexo de uma política internacional de sabujos que enxergam o Brasil como um mero fornecedor de commodities.

O setor industrial brasileiro é afetado diretamente por pelo menos 16 tipos de barreiras comerciais, sendo 12 não-tarifárias e quatro tarifárias, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com a entidade, que encomendou uma pesquisa sobre o assunto para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), somente no ano passado exigências sanitárias e fitossanitárias requeridas por outros países reduziram em US$ 30 bilhões as exportações brasileiras de produtos e serviços” (Leia na página da EBC)

De qualquer modo, fica o nosso registro sobre o bom trabalho dos profissionais da EBC. Fica registrado também o nosso desejo de que um dia tenhamos um Governo (Tamanho G) que peite a Globo e invista na comunicação social pública como algo estratégico.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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