As consequências da destruição das maiores empresas de construção do Brasil

Às vezes, é preciso falar o óbvio, simplesmente porque o óbvio, às vezes, não é unanimidade…

Por que a Farsa Jato atacou as empresas de construção civil e qual a importância delas para o país?

A construção civil engloba uma ampla variedade de produtos e serviços, tendo participação significativa na economia global. No mundo, esse setor tem é responsável por cerca de 10% do PIB em média. Essa porcentagem varia de acordo com o grau de desenvolvimento econômico e localização geográfica de cada país.

A construção civil tem relação direta com os processos de industrialização e urbanização, que também estão inter-relacionados. Assim, as ligações entre produtos de construção e o crescimento econômico, os efeitos multiplicadores do setor e suas ligações com outras áreas, além da contribuição das atividades de construção para a economia, estão entre as questões mais importantes relativas a esse segmento.

Em 2008, o mundo chegou a um ponto de inflexão: pela primeira vez na história, mais da metade da população humana – cerca de 3,3 bilhões de pessoas – vivia em áreas urbanas. Em 2010, 50,8% da população mundial vivia em áreas urbanas. Nas próximas décadas, a urbanização experimentará um crescimento numa escala sem precedentes. Isso ocorrerá não somente porque as populações dos países em desenvolvimento estão crescendo rapidamente, mas também porque esses países estão se tornando cada vez mais urbanizados. Atualmente, ainda há uma disparidade no nível de urbanização dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento: as regiões mais desenvolvidas da Europa, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Japão contam 75% da sua população vivendo em área urbanas. Já nas regiões menos desenvolvidas da África, Ásia, América Latina e Caribe, e Oceania, apenas 45% da população vive em áreas urbanas. Um relatório da ONU prevê que, entre 2010 e 2030, a taxa de urbanização será duas vezes mais rápida nas regiões menos desenvolvidas do que nas mais desenvolvidas. E, até 2030, as cidades do mundo em desenvolvimento representarão 81% da humanidade urbana.

A urbanização tem sido parte essencial do desenvolvimento econômico da maioria das nações. Assim, o grosso das grandes metrópoles do mundo pertence a países com as maiores economias – mais uma prova da ligação entre riqueza econômica e desenvolvimento de infraestrutura. E essa relação também é claramente visível nos países do sul, que se urbanizaram mais rapidamente nos últimos 50 anos e são, de modo geral, as economias que mais crescem. Porém, ainda que a urbanização contemporânea dos países em desenvolvimento tenha sido mais intensa e venha ocorrendo em período muito mais curto, o processo de industrialização dessas economias ainda está muito aquém de suas taxas de urbanização.

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As cidades também desempenham um importante papel no campo da transformação social. São centros de interesse artístico, inovações científicas e tecnológicas, cultura e educação. E a construção civil é responsável por fornecer a infraestrutura de desenvolvimento de todas essas atividades.

A relação entre o setor da construção civil e a economia é complexa: varia conforme os diferentes estágios de desenvolvimento econômico, de acordo com vários tipos de organização social e diferentes políticas governamentais. Essa conexão também é determinada pelos diversos tamanhos geográficos e recursos naturais disponíveis das diferentes economias.

Nas economias desenvolvidas, a construção civil é um dos maiores responsáveis pela geração de empregos. Em 1997, no Canadá, onde, como nos Estados Unidos, o setor é o maior empregador não governamental, a construção civil movimentou cerca de US$ 90 bilhões, representando 15% do PIB e empregando diretamente mais de 872.386 trabalhadores.

Já nos países em desenvolvimento, a construção civil está voltada para a instalação de infraestrutura ou habitação. No Brasil, por exemplo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), o setor responde por 8% do PIB e emprega(va) cerca de 15% dos trabalhadores. Nos Emirados Árabes Unidos, ele contribui para 13,8% do PIB, empregando 16,5% da força de trabalho. Em Gana, a participação da indústria da construção civil no PIB cresceu, de modo geral, passando de 7,6% em 1996 para 9,9% em 2011, tendo aumentado novamente para 12,6% em 2013 (Gana Statistical Service, 2013). Além disso, a contribuição do setor da construção civil para o desenvolvimento industrial total do país aumentou de 29,8% em 1993 para 34,3% no ano 2000. Na Índia, a construção civil é a segunda maior atividade do país, perdendo apenas para a agricultura, sendo responsável por 6% a 9% do PIB indiano nos últimos cinco anos, apresentando um crescimento de 8% a 10% ao ano. O setor tem sido um motor de crescimento para a economia indiana nas últimas cinco décadas, o que contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico do país.

A construção civil, como vimos, tem uma importância significativa na economia: o produto final é duradouro, relativamente caro, de grande porte, e utiliza volumes significativos de materiais, estando preso a uma localização geográfica definida, além de ser personalizado: edifícios são construídos a partir das especificações do cliente.

Nos países desenvolvidos, a participação da construção diminuiu em relação ao pós-guerra: as grandes obras de infraestrutura são mais raras, restritas à renovação ou readaptação das estruturas existentes. Por isso, para continuar sua atividade, a industria da construção civil dos países desenvolvidos se voltou para a manutenção do estoque existente e a conquista de novos mercados, que se localizam nos países em desenvolvimento.

Assim, uma forma de manter o nível de atividade do setor nos países desenvolvidos tem sido o comércio internacional. A exportação de materiais e serviços de construção civil também aumentou significativamente, especialmente a partir da década de 1970. Em termos absolutos, a maior proporção desse comércio esteve centrada em materiais de construção. A partir da década de 1980, empreendedores e consultores transnacionais começaram a participar de projetos internacionais.

De modo geral, a construção civil apresenta algumas características comuns:

  • demanda apresentando forte correlação com a evolução da renda interna e condições de crédito;
  • geração de emprego, principalmente mão-de-obra desqualificada;
  • pequena participação do emprego formal na parcela total de empregados ocupados no setor;
  • dificuldade quanto ao cumprimento de normas técnicas e padronização; e
  • pouca atualização nos aspectos tecnológicos e de gestão, quando comparados aos padrões de outros setores.

No Brasil, o mercado da construção civil é muito exigente, seguindo normas e regulamentos rigorosos. A legislação brasileira, por exemplo, não permite a construção de edifícios sem que a obra não seja de responsabilidade de um engenheiro credenciado pelo CREA. As empresas brasileiras do setor desfrutam de um elevado grau de desenvolvimento. Por isso, construir túneis, pontes, hidrelétricas e plataformas nunca foi problema para elas. E esse grau de desenvolvimento fez com que a industria da construção civil do país fosse pujante e resistisse às investidas das empresas estrangeiras. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC (2011), em 2011, o setor representava cerca de 8,1% do PIB nacional.

De acordo com a classificação nacional das atividades econômicas, o CNAE 2.0 (IBGE, 2012) a construção pode ser dividida em três grandes segmentos:

  1. A construção de edifícios – que compreende: a) a construção de edifícios para os mais diversos usos: residencial, comercial, industrial, agropecuário e público; e b) reformas, manutenções correntes, complementações e alterações de imóveis, além de montagem de estruturas pré-fabricadas in loco, para fins diversos de natureza permanente ou temporária;
  2. A construção de obras de infraestrutura, como autoestradas, vias urbanas, pontes, ferrovias, metrô, linhas de eletricidade e instalações esportivas;
  3. Serviços especializados para construção, que compreendem a execução de partes de edifícios ou obras de infraestrutura, como preparação do terreno para a construção, instalações prediais, e estruturas em aço.
Figura 1: “Composição da Cadeia Produtiva da Construção e da Indústria de Materiais e Equipamentos” – Fonte: ABRAMAT e FGV Projetos, 2017.

 

O Brasil é o 5º maior país em extensão territorial do mundo, ficando atrás apenas de Rússia, China, Canadá e EUA. É um vasto território com muito espaço e muita demanda para a construção de infraestrutura.

A partir do governo Lula (2003-2010), as grandes construtoras que dominavam o mercado interno brasileiro e já atuavam em outros mercados internacionais expandiram seu leque de atividades e suas fronteiras, conquistando novos mercados externos e disputando a hegemonia do setor com grandes grupos transnacionais. Foi nesse período que as principais empresas de construção civil brasileiras começaram a se especializar no fornecimento de infraestrutura para a exploração de petróleo, atendendo à demanda ocasionada pela descoberta do Pré-sal pela Petrobrás.

Assim, as empresas que até então se concentravam no atendimento da demanda por infraestrutura do país, passaram a também investir na construção de portos, refinarias e oleodutos, buscando agregar a seu leque de negócios a exploração desse segmento de mercado. E o que vinha incomodando os competidores estrangeiros, passou a ser inaceitável.

E essa enorme demanda vinha sendo atendido por empresas como a Odebrecht. Há décadas no ranking das maiores construtoras do mundo, a empresa atingiu seu auge mundial entre 2014 e 2016, chegando à 6ª posição segundo a avaliação da ENR – Engineering News Record.

Porém, desde a deflagração da Farsa Jato, todo esse investimento de décadas e gerações de brasileiros foi destruído. Em 2017, a Odebrecht despencou para a 60ª posição e, para 2018, é bem possível que desapareça do ranking das 250 maiores construtoras do mundo.

Assim, por meio da condenação da Odebrecht, todos os governos progressistas da América Latina foram massacrados. O estrago foi e está sendo enorme. O que está em jogo não é a corrupção. Esta é apenas a desculpa, o bode-expiatório. O que está em jogo é a destruição do país, é sua transformação, segundo o Prof. Luiz Moreira em entrevista ao Duplo Expresso, numa colônia limitada à prestação de serviços para as grandes potências.

Por isso, a Farsa Jato foi uma jogada de mestre do imperialismo mundial. Além de liberar o petróleo para os estrangeiros, essa operação destruiu todas as grandes construtoras, com o objetivo de aniquilar a concorrência no mercado mundial e abrir o mercado interno para os grupos externos. Precisa desenhar?

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Redação D.E.

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