A esquerda capenga precisa correr para não perder o povo de vista. Lula já tem a muleta MDB
A esquerda capenga precisa correr para não perder o povo de vista. Lula já tem a muleta MDB
Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso
As pesquisas de opinião pública não podem ser vistas como única referência para a real compreensão do momento, mas é o que temos para hoje. Por isso, ao analisar todos os inquéritos populares, realizados nos últimos meses, podemos observar que parte da esquerda está burocratizada e completamente deslocada do povo. O MDB agradece.
Com a prisão de Lula ficou mais fácil identificar este fenômeno da “esquerda gabinete”. Uma consequência (ou seria a origem?) da esquerda judicial que apostou no “purismo” da justiça para tirar da política (soberania popular) o poder de decidir os destinos do Brasil e dos nossos cidadãos.
Após gritarem “é golpe”, esta parte frouxa da esquerda tirou da cartola a “pérola”: “vamos apoiar Ciro (aqui conhecido como ‘5inco’) para ‘ajudar Lula’”. Pausa para risos. Isso no momento em que o povo diz querer Lula, mesmo preso, e diz não confiar na imprensa e na justiça.
Ao tentar abandonar Lula na prisão, como um peso-morto, esta parte capenga da esquerda ficou isolada dos milhões que votaram nas últimas duas décadas contra o engodo do neoliberalismo e que desejam um Estado mais forte e protetor.
Pensando apenas em eleição, esta banda capenga abandonou a luta política para tentar uma DR com os bancos e a normalização do arbítrio da ditadura da toga, numa clara incapacidade de compreender que o povo está cansado de levar no lombo.
As leis que foram aprovadas, e até celebradas como grande trunfo, longe de servirem de modelo, são esconderijos criados para políticos tecnocratas e incapazes de sentir a pulsação do povo. Este distanciamento – que transformou a política, para alguns, numa atividade de escritórios e gabinetes – induz ao erro na hora da “tomada de decisão”, para utilizar uma expressão do “mercado”.
Negligenciar o desejo do povo e o poder de voto de Lula por conta do medo de peitar a ditadura da toga foi o atestado de que não sabem o que é a política. A crise atual que começou com os caminhoneiros e agora sofrerá “efeito cascata” com uma explosão de greves é a prova disso. Até a CUT, que finge defender Lula, sabe que se não entrar agora na onda de greves, vai ser engolida.
Onde entra o MDB nisso? Ora, Lula, mesmo preso, é visto pela maioria esmagadora (nunca é demais lembrar que nos votos válidos teria mais de 65% se as eleições fossem hoje) como o único político capaz de tirar o Brasil do caos em que está. O apoio aos militares é uma comparação com o Brasil com Temer e não o Brasil de Lula, os militares sabem disso. Por isso, não vão entrar em mais uma roubada, alimentada pela insanidade fascista. O MDB não vai dar um tiro no escuro.
O povo viu o PC do B declarar apoio, através de Flávio Din(din)o ao encalhado “5inco Gomes” (que agora caiu para 3%). Lula segue mandando o recado: sou o candidato do PT! Sarney (do Maranhão), que não é bobo, sabe que Requião é a chance de salvar o MDB… Precisa desenhar?
Se Flavio Din(din)o agora é “5inco Gomes” que cantou para o PSDB “eu deixei a minha porta entreaberta, vê se entende o meu grito de alerta”, Sarney e as torcidas do Flamengo, Corinthians e Bahia pensaram: “Opa! O MDB acabou de ser ressuscitado”. Sarney já tem o discurso pronto: “se o povo quer Lula porque ele governou com o apoio do MDB, vamos seguir o conselho do povo”. Bingo!
Alguns gatos pingados vão gritar: “o MDB é golpista! Derrubou Dilma!”. Ora, mas e o PSDB de Serra, Aécio, Alckmin, Dória e FHC? Dilma, para facilitar a vida dos MDBistas, abandonou o grito de “foi golpe!” e tenta legitimar aquilo que diz condenar ao se lançar candidata ao senado. Tudo o que Lula precisava para não ser chamado de “traidor” pelos ingênuos.
Nesse vácuo (porque em política não tem vácuo), surgiu Roberto Requião contra um Meireles inseparável do fracasso de Temer e do golpe. Alguém vai ter coragem de dizer que Requião é “menos esquerda” do que “5inco Gomes”, por exemplo? Duvido muito disso. E Renan, Sarney, Eunício e todos que precisam da política para sobreviver sabem que apoiar Lula é manter o poder (de barganha) e o único caminho para não entrar para a história como “golpistas”.
Para quem ainda pensa que Lula não vai ser candidato, o recuo do TSE ontem é a prova de que a onda orgânica de protestos populares tende a pressionar esta justiça controlada por uma Globo que não pode sair às ruas.
É por isso que a política é fascinante!
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