Maria Eduarda Freire – Escola Sem Partido: o novo AI-5 da Educação

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Com muita satisfação, coube a mim a honra de escrever mais um texto de chamada para um vídeo de Maria Eduarda Freire, no espaço semanal Direito ao Ponto. Esta semana o tema, apresentado por Eduarda com os necessários pormenores, é o projeto Escola sem Partido. Um crime contra a liberdade de pensar e expressar o pensamento e que, pior ainda, serve apenas para injetar milhões de reais nos cofres das empresas do mercado gráfico.

Quando alguns setores extremistas passaram a tentar impor a aprovação do projeto de lei “Escola sem Partido”, o debate, como praticamente tudo atualmente no Brasil, foi reduzido aos aspectos ideológicos, mas há interesses econômicos que mostram que se existe algum partido interessado em dominar a educação do Brasil, este partido é olobby educacional”.

No vídeo, Maria Eduarda Freire faz um excelente equilíbrio entre os aspectos econômicos e filosóficos deste projeto retrógrado para a educação. Convém, com a liberdade de quem comenta o trabalho de uma colega, remetermos a um cenário onde as consequências deste projeto já estariam consolidadas.

Na música Another brick in the Wall (um outro tijolo no muro), lançada em 1979, foi descrito um ambiente escolar de opressão, onde é imposta uma padronização fortemente assemelhada à produção de enlatados, em que os professores transferem as próprias frustrações para os alunos através do castigo, num modelo alienador e completamente anti-democrático. É isso que queremos?

É preciso trazermos à tona os verdadeiros interesses que dominam o projeto. Se pegarmos, por exemplo, o que defende para a educação o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), veremos que a aprovação do Escola sem Partido devolveria o Brasil à Idade da Pedra.

Como a educação é uma saída para a pobreza e a vulnerabilidade, trabalhamos para garantir que todas as crianças do mundo possam ir à escola e desenvolver suas oportunidades para uma vida de boa saúde, renda e oportunidade de influenciar. E, além disso, lutamos para as meninas – porque muitas delas ainda estão fora da escola. Não vamos descansar até que cada criança tenha um lugar em uma sala de aula.

Observe que para o UNICEF, educar as meninas é comprovadamente a melhor maneira de produzir uma sociedade mais igual, pois supera simultaneamente o problema da falta de acesso à escola, ao mesmo tempo em que também confere poder às mulheres já a partir da infância, promovendo uma mudança de cultura no ambiente onde estão.

Não é coincidência que são as mulheres as principais vítimas da crescente onda fascista no Brasil. Tem sido cada vez mais frequente o desrespeito às mulheres, seguido de uma estranha “tolerância” das autoridades com as práticas inconcebíveis para uma sociedade laica. Até mesmo políticos e juizes passam a ser agentes desta campanha que dá eco à normalização de um modus operandi caracterizado pelo machismo, completamente incompatível com os tempos atuais.

É este modelo fascista que no Brasil tentam batizar de “sem partido”. Não é preciso ser nenhum Paulo Freire, lembrado no vídeo da Maria Eduarda, para perceber que isso vai produzir somente um ambiente de rivalidade e desconfiança em que os professores negligenciam os valores éticos através da humilhação dos alunos e produção em série de indivíduos desprovidos da capacidade de pensar.

Tudo isso em decorrência de uma ação política institucional educacional que lembra o filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (direção Peter Weir), um drama vivido na Academia Welton no ano 1959, nos Estados Unidos, uma escola tradicional do nível médio que aplica um ensino excessivamente opressor e repleto de regras de extremo rigor no trato com os alunos. Os resultados no video clipe da música e no filme são de “revolução” dos alunos, mas como esperar isso no mundo real a partir de cabeças programadas para o “não pensar”?

Assista ao vídeo de Maria Eduarda Freire, para o Duplo Expresso

 

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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