Barroso – Viciado e Guloso

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Em países democráticos, onde a palavra justiça é mencionada com a completa ausência da fulanização para o seu exercício, a magistratura é caracterizada pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro. E no Brasil?

Recentemente, foi notícia em todo o país o conjunto de declarações do Ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Luiz Roberto Barroso, numa entrevista concedida à Revista Exame, em Londres, durante a terceira edição do Brazil Forum UK, quando este magistrado participava de um evento que é realizado anualmente em Londres e Oxford.

Completamente deslocado da realidade do próprio país de origem, certamente envaidecido pela atmosfera de superioridade atribuída à cidade de Londres por pessoas acometidas pelo complexo de vira-lata, Barroso não conteve a língua. E como quem imaginava praticar o ofício da bajulação diretamente ao símbolo londrino do neoliberalismo, Margareth Thatcher, bradou conceitos, preconcebidos na própria vaidade, que explicam muito mais sobre o observador do que sobre o objeto da sua análise.

Viciado

O fog londrino deve ter subido à cabeça deste magistrado que é um funcionário público altamente privilegiado, com cargo vitalício. No conforto de quem está nesta posição por nomeação, e de quem não economizou simuladas virtudes para consegui-la, bradou em solo inglês que os brasileiros são “viciados em Estado”.

Incapaz de sair da realidade paralela que criara para exercer, com primor, a submissão ao estrangeiro, Barroso afirmou ainda que o Brasil sofre de “oficialismo”, “patrimonialismo” e “desigualdade” e que “essas três disfunções ajudam a atrasar o avanço da história do país.”

O Dândi de toga assume, conscientemente, o apreço pelo hábito de praticar a má-fé, modus operandi comum entre os deslocados da realidade brasileira. Ao fazer afirmações tão cínicas, o togado finge desconhecer, por exemplo, o sofrimento dos milhares que imploram pela mínima dignidade nas filas dos hospitais; daqueles que têm os dedos roídos por ratos quando tentam dormir em um ambiente marcado pela total falta de higiene e saneamento básico do seu bairro.

Barroso é mais um pedante que conhece, mas finge não existir, o drama de uma pessoa que fica horas em um transporte público lotado, após acordar na madrugada para chegar cedo ao trabalho e vender mais um dia de suor que, com o fim da CLT, já foi doado ao patrão. Isso quando não consta da crescente estatística do desemprego. Hoje no Brasil são 14 milhões os desempregados, cerca de 50 milhões de brasileiros que, na visão vil e torpe deste inferior juiz supremo, são “viciados em Estado”, mas que vivem na miséria, com uma renda familiar de US$5,50 por dia, de acordo com o Banco Mundial.

Como poderiam ser “viciados em Estado” se este não existe para a maioria dos brasileiros? Esses brasileiros vivem à margem da nossa sociedade. “Viciados em Estado” são os concurseiros e nomeados mediante critérios obscuros que, como o ministro Barroso, vivem sob privilégios inimagináveis em qualquer país minimamente sério.

Guloso

Barroso rima com aquilo que é: guloso. Quer um Estado para “chamar de seu” (dele – e só para ele). Por também ser linguarudo e viciado (em Estado), resgata com muita propriedade o pensamento do Marquês de Maricá: “a intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.” Este resgate faz-se necessário, pois em outra declaração o mesmo magistrado defendeu a privatização do ensino público superior, do qual o próprio ministro é “viciado”, pois é formado e, até aqui, alimenta o “vício em Estado” na condição de professor da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Para um “guloso” – sobretudo quando, como no caso deste ministro, assume a bandeira do neoliberalismo – apenas ele é digno do banquete. Neste episódio, uma alusão ao direito constitucional do acesso ao ensino público. Isso porque agora o “guloso, viciado em Estado” sugere privar milhões de jovens da mesma oportunidade que teve de estudar em uma Universidade Pública. Para Barroso, seriam esses jovens os “viciados em Estado”.

Este ministro “viciado e guloso” é o mesmo que critica, num discurso moralista, nazifascista e Global (da Globo), as prisões especiais e o foro “privilegiado”. Que nada mais é do que a repetição do exercício de exclusão do povo, ao demonizar os políticos e a política. Também neste caso, Barroso assume que é “guloso”, pois o foro privilegiado e prisão especial que critica nos políticos, quer só para ele. Isso porque, graças a uma universidade paga pelo Estado, em caso de condenação, o “guloso” teria direito à prisão especial e, ainda mais, por ter sido indicado ao cargo de Ministro do Supremo, continuará a satisfazer a sua gula com uma aposentadoria integral.

O ministro Barroso vende-se como um defensor ferrenho da moral e da Justiça, mas com certeza esta régua não vale para ele. Para este moralista neoliberal, será visto como legal qualquer pessoa montar seu próprio negócio para ganhar dinheiro, mesmo quando essa pessoa é a própria esposa. A senhora Tereza Cristina Van Brussel Barroso, esposa e sócia do “viciado e guloso” Barroso que, segundo a imprensa, possui uma offshore nos Estados Unidos (usando seu nome de solteira), situada na 350 Ocean Dr Unit 302N, Flórida. 
A offshore Telube Florida fica na ilha Biscayne, num imóvel de sua propriedade, avaliado em três milhões de dólares, situada no endereço supracitado, mas está registrada no endereço de um conhecido operador de empresas offshore que opera para brasileiros, a “Barbara Legal”, que está situada na 407 Lincoln Road PN-HE, Miami Beach, FL 33139-US. Nunca é demais lembrar ao “viciado e guloso” ministro que uma empresa é chamada de offshore por deter a titularidade de contas bancárias e ativos em outros países, muitas vezes paraísos fiscais, no intuito de pagar menos tributos.

O pavor que Barroso demonstrou quando sites ligados à Lava Jato levantaram a existência de empresas offshore no nome dele e da esposa, algo imoral mas não – necessariamente – ilegal, deixou muita gente com a pulga atrás da orelha. Afinal, por muitos anos Barroso teve como clientes entidades como Rede Globo e CBF, ambas acostumadas a evadir tributos e divisas usando justamente “empresas extraterritoriais”. Houve quem se perguntasse então se não teria o ministro alimentado tais offshores com dinheiro recebido fora do Brasil, o que seria crime.

Ainda em sua entrevista na terra de Margareth Thatcher, Barroso falou que a “desigualdade social”, é uma das três disfunções que “ajudam a atrasar o avanço da história do país.” O ministro, entretanto, não explicou como tem contribuído para impedir o avanço dessa desigualdade com que finge estar preocupado. Apenas um (mais um) gesto de benevolência “para inglês ver”. Barroso, que se diz tão preocupado com os pobres, costuma negar a eles habeas corpus por crimes insignificantes, mandou sem dó nem piedade às masmorras medievais dois pobres que roubaram de uma igreja um tapete velho e uma tesoura RHC 125079, No HC 112929/MG, Barroso negou o reconhecimento da insignificância para um furto de R$ 30,00, a um condenado a 2 anos e 4 meses em regime fechado. Isso para citar apenas dois casos.

E ainda sobre o tripé disfuncional de Barroso, além da “desigualdade”, estão o “patrimonialismo” e o “oficialismo”.

O “oficialismo”, segundo Barroso, é o ato de depender do Estado, “isto é, da sua bênção, apoio e financiamento(…) para todos os projetos pessoais, sociais ou empresariais”. Quem pratica este oficialismo é justamente o ministro Barroso que fechou um contrato de R$ 2 milhões de reais com a Eletronorte mesmo após ter tomado posse como ministro do STF. O Ministro inclusive já atuou em processos das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A – Eletronorte no STF.

Em relação ao “patrimonialismo”, Barroso se utiliza de uma visão liberal conservadora que demoniza o Estado e transforma o mercado no reino das virtudes, para citar aqui, Jessé Souza, invisibilizando a real corrupção, o roubo real da população por meio de mecanismos de mercado: juros extorsivos embutidos em todos os preços, dívida pública fraudulenta e nunca auditada para propiciar a captura do orçamento público, sonegação de impostos em escala trilionária e isenções fiscais imorais e ilegais para os donos do mercado.

O ministro Luís Roberto Barroso decidiu governar o Brasil sem voto, através da Globo. Chegou ao Supremo Tribunal Federal com o apoio do PT, enganando a esquerda com as pautas identitárias, agindo como um lobo em pele de cordeiro com a sua voz melíflua e seus punhos de renda.

Quem é Barroso? A quem ele serve?

 

 

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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