O nome da rosa: Marielle
Da Redação do Duplo Expresso
Formada em sociologia pela PUC-Rio, Marielle Franco tinha mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Na qualidade de assessora do Deputado estadual Marcelo Freixo, PSOL-RJ, trabalhou na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Também pelo PSOL elegeu-se em 2016 para a Câmara Municipal da cidade que um dia foi maravilhosa, com 46.502 votos – a quinta mais votada.
A vereadora foi assassinada dentro do carro a tiros na noite de 14/03/18, na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, região central da cidade do Rio de Janeiro. O motorista também foi baleado e morto, enquanto a assessora que a acompanhava, Fernanda, sobreviveu.
Ainda ontem o programa “Jogo de Damas”, que foi ao ar no início da noite no Duplo Expresso, analisava táticas de guerra híbrida. A notícia do assassinato a sangue frio da vereadora caiu como uma bomba – também semiótica. Fontes na Polícia do Rio rapidamente se colocaram à disposição. Enfáticas, afirmam que o caso é um enigma. As milícias são uma espécie de “inimiga íntima” da Polícia, velhas conhecidas. Estranharam, portanto, a execução (i) de uma autoridade (ii) em período já extremamente conturbado: não apenas eleições se aproximam como, com a intervenção federal, todos os refletores voltam-se, justamente, para o Rio de Janeiro – e para as falhas na sua política de segurança pública. Tal “ousadia” foge aos padrões de atuação das milícias, que preferem sempre as sombras. Ao contrário, a execução de Marielle coloca um refletor de alta potência voltado para a ferida aberta da segurança pública e para as hordas criminosas que, como tumores, surgem no corpo enfermo da polícia do Estado.
Cui bono? A quem beneficia? E, no verso da moeda, a quem prejudica?
Nessa mesma triste noite, ainda durante o programa “jogo de damas”, foi recomendado o filme “O nome da rosa”, baseado no livro homônimo do filósofo Umberto Eco. O filme traz a narrativa de um homem velho, que conta uma história vivida por ele, quando ainda jovem e aprendiz de um sábio monge franciscano, no filme interpretado por Sean Conery. Tratava-se à primeira vista de uma investigação sobre assassinatos ocorridos em um mosteiro, para os quais as explicações sugeridas eram as mais diversas. Sem revelar de todo o mistério, limitamo-nos a dizer que a razão para os assassinatos é surpreendente. Através da narrativa, os espectadores são levados em uma viagem incrível pelo mundo além do obvio, coisa que só os filósofos, como Umberto Eco, conseguem fazer.
Marielle parece ser um dos casos em que as “instituições” tentarão nos empurrar o “óbvio”. No entanto, depois da sofisticação dos ataques híbridos de que tem sido vítima, espera-se que a sociedade brasileira relute em sucumbir, mais uma vez, a sugestionamento. Assim como em “O nome da rosa”, somente uma investigação – sem concessões – poderá revelar a verdade, por mais terrível que essa possa ser.
A filosofia, afinal, nos ensina que a mais horrenda face da verdade é melhor que a mais bela máscara da mentira.
A esse propósito, nessa mesma triste quarta feira 14/03/2018, uma incômoda verdade trazida pelo Duplo Expresso confirmou-se: somente uma movimentação política perante o STF e a PGR poderá salvar Lula das garras comprometidas da (in-) Justiça brasileira. Parlamentares, em vez de se limitarem a fazer narração, dirigiram-se eles mesmos ao STF, petição debaixo do braço. Lá, ao pressionarem a Ministra Carmen Lucia, descobriram que o Ministro Fachin sequer havia encaminhado o HC de Lula para julgamento pelo Pleno do STF.
Caso os Parlamentares não tivessem ido às portas do STF – como “office boys” da República – o HC de Lula seguiria jazendo na gaveta do não importunado Fachin. Todos seguiriam acreditando na narrativa da grande imprensa, que com sucesso usou Carmen Lúcia como corta-luz do verdadeiro atacante: Fachin.
Seja no STF, seja nas bancadas da Câmara, seja na trágica noite do Rio de Janeiro, que não se esqueça “O nome da rosa” e a busca da verdade – por mais disruptiva que essa seja.
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