Provas em perigo: Globo, Lava Jato e Odebrecht soltam “vacina” depois de áudio-bomba revelado pelo Duplo Expresso

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

Há exatamente uma semana o Duplo Expresso publicava, com exclusividade, uma edição de 30min de parte das entrevistas gravadas com fonte de dentro da Odebrecht revelando a farsa que é a “investigação” – combinada – que a empresa “sofre” por parte da Lava Jato.

De lá para cá, silêncio na rede. Não se enganem, contudo: todos o viram – e ouviram. Talvez em demasia, até: o número de acessos daquele artigo supera, com folga, a soma de todos os demais do mês de janeiro. O vídeo foi replicado por diversos outros canais no YouTube e no Facebook, de forma que o alcance total nos é desconhecido. Na sequência, publicamos ainda a transcrição do áudio, possibilitando uma difusão ainda maior do conteúdo.

De lá para cá, todos testemunhamos um ponto de não retorno na dramática cena política brasileira: a confirmação, arbitrária, da condenação do Presidente Lula pelos três desembargadores do TRF-4. Pior: fizeram-no com votos combinados, a indicar colusão persecutória com finalidade política clara – a cassação dos seus direitos políticos com vistas às eleições de outubro próximo. Os desdobramentos dessa jogada, ousada, dos articuladores do golpe “juristocrático” – por enquanto ainda um blefe – restam uma incógnita. Para todos.

O que é certo, contudo, é a vontade das bases sociais do lulismo de lutar com afinco pelo seu país. E isso se confunde, neste momento, com lutar pelo Presidente Lula. E, por consequência, lutar contra a Lava Jato. Por isso, urge dar sequência à pauta do áudio, conteúdo que mais desmoralizou o “método” Lava Jato desde as revelações de Tacla Durán. Aliás, os dois complementam-se e corroboram-se entre si.

Surpreende que, uma semana depois, quem venha a “repercutir”as revelações do áudio-bomba – por meios tortos e indiretos – seja a trinca Globo/ Lava Jato/ Odebrecht. Todas elas agindo na vã tentativa de plantar uma “vacina” para as “lacunas” – mais que deliberadas – na “investigação” (tudo entre aspas mesmo).

O tal procurador Carlos Fernando dos Santos Lima sai-se com uma candidata – desde já franca-favorita – a maior piada de 2018:

Segundo Carlos Fernando, como não foi possível verificar os dados com os pendrives entregues pela empreiteira, as circunstâncias em que outros pendrives de acesso ao mesmo sistema foram destruídos ou apagados estão “sob investigação”. Ele admite que esta é uma situação delicada, em função do direito constitucional de qualquer investigado de “não se autoincriminar”.

Há suspeita de que dados dos dispositivos tenham sido subscritos — isto é, apagados e reescritos. Nem Odebrecht, nem MPF testaram os tokens no momento de entrega dos dados à Lava-Jato.

É isso mesmo: não pode acessar o conteúdo de mídias recebidas dos “colaboradores” porque não forneceram a senha! Que sequer lhes foi pedida quando da entrega! Mais: para “justificar” (!), ainda assim, a manutenção dos benefícios comprados pela Odebrecht, o procurador invoca o direito constitucional de que ninguém será obrigado a produzir prova contra si!

Ora, senhor procurador! Isso não existe para quem faz acordo de delação/ leniência! A obrigação é justamente a oposta: revelar tudo o que se sabe. A consequência para o incumprimento é clara: a perda dos benefícios!

Bem compreendemos o melindre do procurador, contudo: “difícil” aplicar tal sanção quando a Odebrecht e seus delatores pagaram tão bem a advogados “parceiros” dos procuradores – os membros da infame “panelinha de Curitiba”, não é mesmo?

Pagaram milhões pelos benefícios e agora – expostos – não os levarão?

Fosse o caso, correr-se-ia o risco de algum deles – afinal são 77! – dar com a língua nos dentes a respeito da sucessão de simulações e ocultações na “investigação”, certo?

Imagine-se se algum, como retaliação, resolvesse ir além e fazer alusão, a exemplo de Tacla Durán, a triangulações no pagamento – áurico! – auferidos pelos advogados da “panelinha”/ membros da própria “Força Tarefa”:

– Impossível correr tal risco, não é verdade, Carlos Fernando?

Álibi – resta apenas fazer menção protocolar, genérica, que não será em hipótese alguma levada a cabo:

O procurador admite que o caso pode ter repercussão nos benefícios concedidos à empresa. Mesmo posicionamento da cúpula da PF em Curitiba, que aguarda o desdobramento do episódio. O escritório de advocacia que monitora internamente o programa de compliance da Odebrecht apura, também, o caso.

O cunhado, o “intocável” – no texto plantado no Globo, nem menção ao cunhado de Marcelo Odebrecht, Maurício Ferro, faltou. Como vimos dizendo no Duplo Expresso, foi ele o responsável pela operação de desmanche do setor de propinas. “Estranhamente”, sequer foi indiciado por Sergio Moro e procuradores!

O GLOBO apurou que em reuniões preliminares à assinatura do acordo, representantes da Odebrecht informaram que outros pendrives de acesso ao Mywebday teriam sido destruídos. O responsável por explicar como isso aconteceu foi Maurício Ferro, então diretor jurídico da empresa, nos meses que antecederam a prisão do então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. O mesmo Marcelo disse, em depoimento à Polícia Federal, que Ferro é o único que poderia dar mais informações sobre os tokens. O diretor não figura na lista dos que fizeram acordo com a força-tarefa.

Segurem-se, senhores, que o melhor ainda está por vir: na – agora revelada – ausência das planilhas originais do tal programa Mywebday, os procuradores querem vender ao público ignaro como “prova equivalente” mensagens trocadas numa espécie de “whatsapp” da intranet da Odebrecht – o tal aplicativo “Drousys”:

Nas investigações em curso, o MPF tem usado informações de outro sistema paralelo, também entregue pela Odebrecht: o Drousys. Este sistema era usado para comunicação entre funcionários do departamento e o mundo externo, isto é, operadores financeiros — como doleiros e controladores de contas mantidas no exterior.

O Drousys traz dados semelhantes aos disponibilizados pelo Mywebday, mas com algumas lacunas de informação. Quando fechou o acordo com a Odebrecht, o MPF esperava ter acesso aos dois sistemas — para conseguir cruzar dados de fontes distintas e corroborar informações de depoimentos dos 77 colaboradores.

Ou seja, eis, abaixo, exemplo do tipo de “prova irrefutável” com que trabalha a Lava Jato. No caso, prova de crime – hediondo – cometido pela “quadrilha” do Duplo Expresso:

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A íntegra da “matéria” (sic) do Globo:

Chaves para abrir segredos da Odebrecht estão perdidas
POR THIAGO HERDY
29/01/2018 4:30 / atualizado 29/01/2018 13:55

Investigadores podem jamais ter acesso a um dos sistemas de propinas da empreiteira

SÃO PAULO – Passado mais de um ano desde a assinatura do acordo de leniência da Odebrecht, o Ministério Público Federal (MPF) corre o risco de jamais acessar o Mywebday, um dos dois sistemas usados por funcionários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht — mais conhecido como setor de propina da empreiteira — para organizar pagamentos ilegais a políticos.

Cinco discos rígidos com cópia de dados do software foram entregues há quase seis meses aos investigadores, em atendimento ao acordo assinado com a empresa. Juntos, foram entregues dois pendrives que, em tese, permitiriam o acesos aos dados. Mas, até hoje, nem MPF nem Polícia Federal conseguiram navegar no sistema.

— O sistema está criptografado com duas chaves perdidas, não houve meio de recuperar. Nem sei se haverá. Não houve qualquer avanço nisso — admite um dos coordenadores da Lava-Jato em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos.

O Mywebday era o sistema de comunicação usado por funcionários do setor de propina para controlar e organizar os pagamentos a agentes públicos. O programa detalhava, em códigos, desde o nome do executivo responsável pelo pedido de pagamento ilegal e o propósito do pagamento, até a cidade onde ele ocorreu, o destinatário de valores e o doleiro usado para viabilizar o repasse.

Nas investigações em curso, o MPF tem usado informações de outro sistema paralelo, também entregue pela Odebrecht: o Drousys. Este sistema era usado para comunicação entre funcionários do departamento e o mundo externo, isto é, operadores financeiros — como doleiros e controladores de contas mantidas no exterior.

O Drousys traz dados semelhantes aos disponibilizados pelo Mywebday, mas com algumas lacunas de informação. Quando fechou o acordo com a Odebrecht, o MPF esperava ter acesso aos dois sistemas — para conseguir cruzar dados de fontes distintas e corroborar informações de depoimentos dos 77 colaboradores.

Segundo Carlos Fernando, como não foi possível verificar os dados com os pendrives entregues pela empreiteira, as circunstâncias em que outros pendrives de acesso ao mesmo sistema foram destruídos ou apagados estão “sob investigação”. Ele admite que esta é uma situação delicada, em função do direito constitucional de qualquer investigado de “não se autoincriminar”.

O procurador admite que o caso pode ter repercussão nos benefícios concedidos à empresa. Mesmo posicionamento da cúpula da PF em Curitiba, que aguarda o desdobramento do episódio. O escritório de advocacia que monitora internamente o programa de compliance da Odebrecht apura, também, o caso. A empresa diz que sua colaboração com as autoridades é “ampla, detalhada e contínua”e que “todos os fatos estão sendo esclarecidos à Justiça”.

O GLOBO apurou que em reuniões preliminares à assinatura do acordo, representantes da Odebrecht informaram que outros pendrives de acesso ao Mywebday teriam sido destruídos. O responsável por explicar como isso aconteceu foi Maurício Ferro, então diretor jurídico da empresa, nos meses que antecederam a prisão do então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. O mesmo Marcelo disse, em depoimento à Polícia Federal, que Ferro é o único que poderia dar mais informações sobre os tokens. O diretor não figura na lista dos que fizeram acordo com a força-tarefa.

Os pendrives entregues pela empreiteira, em agosto do ano passado, pertenciam a dois funcionários do setor de propina e colaboradores da Lava-Jato: Luiz Eduardo da Rocha Soares e Ângela Palmeira Ferreira. Para funcionar, eles tinham que ser colocados no computador junto com uma senha.

Os dispositivos foram submetidos a perícia nos últimos meses, bem como outros que foram encontrados durante ações de busca e apreensão em endereços da empresa. Há suspeita de que dados dos dispositivos tenham sido subscritos — isto é, apagados e reescritos. Nem Odebrecht, nem MPF testaram os tokens no momento de entrega dos dados à Lava-Jato.

Por meio de nota, a Odebrecht admitiu não dispor “de credenciais de acesso aos dados cifrados” do Mywebday, mas disse ter colocado à disposição das autoridades todas as informações de que dispunha, “inclusive mais de 30 mil arquivos” do próprio sistema.

Apesar de ter entregue em agosto cópia do Mywebday extraída de servidor na Suíça, a empresa afirma que o sistema encontra-se atualmente “apreendido, custodiado e gerenciado pelas autoridades” daquele país.

“A determinação da Odebrecht é não deixar dúvidas sobre os atos que praticou e sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. É por isso que a colaboração da empresa está resultando em desdobramento de investigações e ações judiciais no Brasil e em diversos países”, escreveu a empresa em nota oficial.

A Odebrecht afirma ainda que seu compromisso “é com a verdade e com o aprimoramento de práticas empresariais que combatam qualquer forma de corrupção e coloquem a empresa em nova trajetória de crescimento, com ética, integridade e transparência”.

 

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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