Monica Waldvogel passa recibo(s): imprensa brasileira vs. estrangeira

– Monica: “E nós precisamos de gringo, por acaso, para explicar o país em que vivemos? Moi, je passe”

– “Passe” sim, Monica… passa recibo!

O Litígio

– Fenômeno interessante ocorre como subproduto da guerra de (des)informação a respeito do golpe-impeachment.

– Trata-se do fim – litigioso – do alinhamento editorial automático dos veículos do oligopólio midiático familiar à imprensa mainstream dos EUA e da Europa Ocidental.

Histórico de amor

– Há anos anoto nas redes sociais um comportamento provinciano-jeca da imprensa brasileira, reflexo jornalístico do mal maior do viralatismo/xenoFILIA que nos aflige.

– E que comportamento seria esse?

– A eterna pauta: “Veja a repercussão na imprensa internacional do Evento X”. Sendo “X” evento de grandes proporções ocorrido no Brasil.

– Escolha você: Mariana, 7×1, eleições, manifestações… exemplos não faltam.

– Existe pauta semelhante nos EUA, por exemplo?

– Existe nos sites americanos uma aba: “veja a repercussão na imprensa estrangeira da eleição americana”?

Traição e ruptura

– E o que ocorre agora?

– A imprensa brasileira sente um incômodo profundo com a cobertura que a imprensa estrangeira faz do processo de impeachment / tentativa de golpe em curso no Brasil.

– Veículos do mainstream – alguns até de linha editorial assumidamente conservadora – questionam a legalidade e a legitimidade do processo, mesmo que não deixem de registrar também os muitos erros de Dilma Rousseff em seus mandatos presidenciais.

– Uma coisa não anula a outra: a imprensa estrangeira sabe perfeitamente separar seu posicionamento ideológico, refletido em sua linha editorial, da atividade de produzir jornalismo. Uma coisa é material para coluna de opinião e editorial. Outra o é para reportagens. Todos esses escritos cabem na mesma publicação, mas em espaços diferentes, devidamente definidos, apartados e, o que é mais relevante, devidamente identificados.

– A imprensa familiar brasileira nunca soube – ou nunca quis – fazer essa separação.

Vamos a uma rápida classificação para ajuda-la nessa tarefa?

– Identificar as falhas de Dilma Rousseff como presidente é jornalismo.

– Omitir seus acertos não é jornalismo. Nem editorial. É falta de honestidade.

– Identificar a ilegalidade e a ilegitimidade do processo de impeachment é jornalismo.

– Negá-lo escudando-se em “votação maciça” na Câmara dos notórios 367 deputados de Eduardo Cunha é desonestidade. Não é nem jornalismo nem editorial.

– Reproduzir acriticamente posicionamentos de Ministros do Supremo acerca de alegada legalidade do impeachment – sempre Ministros cuja opinião já sabemos de antemão por previsível e engajada – não é jornalismo. Tampouco reflexo de linha editorial, se, mesmo com menos destaque, não se menciona posição contrária de outros juristas e mesmo de outros Ministros do STF. É, mais uma vez, desonestidade.

Até agora foi fácil. Vamos aumentar o nível de dificuldade?

– Reconhecer as ilegalidades do processo de impeachment e mesmo assim asseverar que “Dilma tem que sair”, mas pelo “conjunto da obra”, é uma atitude honesta. Não se pretende jornalismo, posto que é opinião, editorial, e mostra cruamente as limitações éticas e morais da mesma. É Maquiavel na veia: os fins justificando os meios. Mas, ao não tentar esconder esse pragmatismo (talvez excessivo) com biombos de pseudo-legalidade, adota-se uma postura honesta. Crua, diria eu.

– E quem é exemplo deste posicionamento?

– A revista inglesa The Economist.

— Num primeiro momento atacou em capa de “Dilma must go”.

– Agora o tempo passou, os vícios do processo de impeachment ficaram cada vez mais patentes (graças a Eduardo Cunha e seus 367 deputados) e não há pragmatismo excessivo que faça a The Economist endossar a chapa Michel Temer/Eduardo Cunha.

– Nesta semana a revista passa a defender eleições antecipadas no Brasil.

– Tal solução ainda é ruptura da normalidade institucional, por mudar casuisticamente o calendário eleitoral, mas pelo menos goza da legitimidade a ser conferida pelas urnas. Dos males o menor, não é mesmo?

Incômodo da imprensa brasileira

Mas voltemos ao tema inicial do post, sobre os pruridos da imprensa brasileira com relação à cobertura dos desdobramentos da crise política no Brasil por seus colegas estrangeiros.

– Num primeiro momento houve um afastamento apenas, já que as reportagens objetivas dos estrangeiros descasavam com as reportagens editorializadas da imprensa familiar, engajada no golpe.

– Num segundo momento houve um estranhamento maior e o início de hostilidades abertas. Isso quando os jornalistas estrangeiros – traição suprema! – passaram a informar seus leitores sobre a parcialidade e o engajamento da imprensa brasileira.

– Isso já era demais. Não há viralatismo ou xenoFILIA que barre o orgulho ferido por uma carapuça que encaixa com perfeição.

– A partir daí se passa a observar escaramuças – diretas ou com as famosas “indiretas de facebook” – entre jornalistas brasileiros e correspondentes estrangeiros nas redes sociais.

– Das que tomei conhecimento, as mais agressivas foram as capitaneadas por Monica Waldvogel no Twitter.

– Várias vezes nas semanas passadas reagiu destemperadamente nas redes sociais quando as posições de correspondentes estrangeiros contrariaram suas convicções.

– A pior vez por mim testemunhada, por deletéria, foi quando capitaneou e insuflou um comando de trolls a hostilizar o correspondente do Los Angeles Times no Brasil, Vincent Benvis, por suposta insensibilidade desse no relato das agruras que a recessão no Brasil causa à população (7/4/2016). Não agora, com a exacerbação da crise política e econômica, mas “há muito mais tempo”, fato por ele “omitido”.

– A jornalista vinha há anos denunciando os “descalabros” na condução da economia, mas ninguém fora da sua fanbase lhe dava crédito, ora!

– A marcha da capitã e seus de trolls contra o correspondente foi tão desproporcional que me vi obrigado a intervir naquele episódio de assédio no Twitter. Entrei na discussão em defesa do agredido. Recebi como resposta dele que já estaria acostumado a esse tipo de reação após ser enviado para cobrir o Brasil. “Not my first rodeo”, ele twitou.

– Pois bem. Waldvogel dia sim, outro também, continua sua cruzada contra a imprensa estrangeira.

– Hoje atacou Glenn Greenwald e a CNN, entre outros, e – para desmerecer as críticas ao processo de impeachment e à parcialidade da imprensa local – saiu-se com um argumento matador:

– “E nós precisamos de gringo, por acaso, para explicar o país em que vivemos? Moi, je passe”.

– Afirmativa interessante… quantas e quantas vezes não vimos na imprensa brasileira, e na empresa em que trabalha em particular, entrevistas e posicionamentos de “Brasilianistas”. Justamente “gringo” que têm por ofício “explicar o país em que vivemos”.

– A questão é que há gringos e gringos:

– Microfones abertos para as críticas de Albert Fishlow aos governos do “lulo-petismo”.

– Já a bolivariana CNN merece o argumento neo-chauvinista, na linha reductio ad hominem, que mencionei acima. Ou seja: “se manca, gringo! Quem entende de Brasil sou eu!”.

Repito Waldvogel:

“E nós precisamos de gringo, por acaso, para explicar o país em que vivemos? Moi, je passe”.

Oui, oui, Monica. Toi, tu passes…

– Passa sim, mas PASSA RECIBO! (haha)

(trocadilho que aliás mandei num tweet para Mônica)

– Imenso recibo, com firma reconhecida no cartório do Twitter, de despeito pelos ex-amantes, agora “traidores” acusadores.

– Como deve bem saber, Monica – talvez dos tempos de “Saia Justa” – ainda há esperança de reconciliação sua com a imprensa estrangeira.

– Sim, porque como qualquer psicólogo lhe há de explicar o contrário do amor não é o ódio, a hostilidade.

– O contrário do amor é a indiferença.

– Como sua reação às diversas manifestações dos jornalistas estrangeiros é tudo menos indiferente, ainda há esperança para que um dia reatem.

– Sim, porque amor ainda existe. Mesmo que abafado pelo despeito neste momento.

– Ah, as relações humanas… como me fascinam!

P.S.: enquanto escrevia este post respondi tweet de Monica em que ela endossa manifestação de hoje do Ministro Celso de Mello, afirmando que a votação na Câmara “não foi golpe”. Singelamente disse “(foi) Sim” e encaminhei o link do post “O Globo: arte diária de manipular e de prestigiar recibo passado por Celso de Mello” (link para a troca de tweets aqui).

Resultado?

– Bloqueado por mais um jornalista das Organizações Globo.

– Devo dizer que desta vez fiquei ainda mais surpreso do que quando fui bloqueado por Jorge Bastos Moreno (“Retrato (ou print-screen) do Brasil atual: block na fuça!”).

– Mas não pude deixar de twitar:

BLOQUEADO p/@MonicaWaldvogel p/inocente tweet abaixo

mto democrática!

entendo apoio a golpe”.

Contabilidade:

– Ontem bloqueado por Monica de Bolle

– Hoje bloqueado por Monica Waldvogel

– O problema é o nome Mônica?

– Ou a agenda das Mônicas?

Sugestão de leitura:

– Monica, a Waldvogel – aliás a de Bolle também – leiam o post “Monica de Bolle (2): “não sabe brincar, não desce pro playground”.

– Aliás, falando em playground, cresçam as duas!

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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