Alerta: golpe se vale de provocação orquestrada? Incendeia o Reichstag?, por Romulus
Alerta: golpe se vale de provocação orquestrada? Incendeia o Reichstag?
Por Romulus
– Parece seguro afirmar que o consórcio golpista adotou deliberadamente uma tática de provocação visando à exacerbação da polarização e da radicalização na sociedade.
– Antes e durante a reverberação das “bombas” de fragmentação dos grampos – com detonações escalonadas e cronometradas – vemos claríssimas ações de provocação do governo e de seus apoiadores no Congresso.
– Acostumemo-nos com a construção “maio de 16”. Reverberará na História, nas salas de aula e na sociedade tanto quanto “o abril de 64”. Gostem os golpistas disso ou não.
– A Rede Globo não controla a narrativa da História. Livros dessa disciplina não esperaram os mesmos 50 anos (!) que a Globo para dizer que a “Revolução” de 64 foi na verdade um golpe.
– Golpistas: agarrem-se ao presente. Já não é favorável, mas o olhar do futuro será ainda pior.
* * *
O cenário futuro está totalmente em aberto e o presente é de tumulto. O governo do golpe, que chamo de “golperno”, nem completou duas semanas e já foi forçado a recuar em diversas iniciativas “controversas”, muitas delas já discutidas aqui no blog em posts anteriores.
Como se as ações administrativas polarizadoras do “golperno” e as reações da sociedade às mesmas não provocassem tensão já suficiente, a última semana tem sido pautada por novas “bombas” a cada dia, quando não a cada hora.
Desde segunda-feira o vazamento escalonado – e editadíssimo – de grampos envolvendo caciques do PMDB incendeia o noticiário político, as redes sociais e as ruas. Fora suspeitas mais ou menos críveis, ainda não se sabe com certeza de onde partiram esses vazamentos e nem qual o seu intuito.
Contudo, não sejamos parvos. Levemos em consideração os seguintes aspectos:
(i) O cronograma milimétrico
O primeiro vazamento, o de Romero Jucá, foi ao ar no site da Folha de São Paulo à 0:02 de segunda-feira, 23 de maio. De tão marcado o relógio, parece até hora convencionada para o início do horário de verão, não é mesmo?
Na sequência, ficamos sabendo que os cabeças do “golperno” já haviam sido devidamente informados da iminente publicação ainda no fim de semana.
Não parou por aí. O cronograma seguiu:
Na madrugada da terça-feira vai ao ar no mesmo site da Folha de São Paulo grampos em Renan Calheiros e à tarde em José Sarney.
Já discuti o conteúdo do grampo em Jucá fartamente no post “Saldo do grampo de Jucá: o haraquiri da PGR e do STF”. Os desta terça-feira trazem novos elementos que deixam ainda mais escancarada a conspiração do maio de 2016.
Sim, acostumemo-nos com a construção “maio de 16”. Reverberará na História, nas salas de aula e na sociedade tanto quanto “o abril de 64”. Gostem os golpistas disso ou não. A Rede Globo não controla a narrativa da História. Tanto é assim que os livros dessa disciplina não esperaram os mesmos 50 anos (!) que a Globo esperou para dizer que a “Revolução” de 64 foi na verdade um golpe – e não o “ressurgimento da democracia”, como ardilosamente falseava Roberto Marinho em editorial de então.
Golpistas: agarrem-se ao presente. Sei que ele já não é favorável, mas o olhar do futuro será ainda pior.
(ii) As ações de provocação
Após essa pequena advertência aos do golpe, volto aos tumultos da conjuntura.
Antes e durante a reverberação das “bombas” de fragmentação dos grampos – com detonações escalonadas e cronometradas – vemos claríssimas ações de provocação do “golperno” e de seus apoiadores no Congresso.
Vejamos alguns casos:
(a) Anúncio de cortes em programas sociais e em subsídios como os do Minha Casa Minha Vida destinados à menos faixa de renda.
Pelo seu baixíssimo impacto fiscal, trata-se evidentemente de medida que visa a alimentar um certo discurso político-ideológico – para fidelizar a base social conservadora – e antagonizar o polo oposto.
Vê-se que a “união nacional” e a “pacificação” ficaram apenas no discurso de posse do grão-mestre golpista. No campo das ações joga claramente pela polarização e e pela radicalização ainda maiores na sociedade.
(b) Provocações diversas de deputados-pastores e deputados-da-bala aos artistas e ao segmento LGBT.
Seguindo o episódio da extinção do MinC, os discursos de ódio contra os artistas foram casados com ações administrativas e legislativas com vistas à anulação de modestos direitos conquistados pelos LGBTs nos últimos anos.
“Concertação”, “união” e pacificação”?
Sei… acredite quem quiser.
(c) Pensam que a provocação se restringe a ações e discursos dentro das nossas fronteiras? Acompanhem a (des)ventura de José Serra no Itamaraty e terão a resposta imediatamente.
Algo mais?
Há sim:
(d) Ainda agora a ridícula provocação do dia: o ocupante ilegítimo do Ministério da Educação, Mendonça Filho, recebe em audiência no MEC o ator (?) Alexandre Frota e o fundador/explorador comercial do grupo Revoltados Online, Marcelo Reis.
Para quê, certamente indagarão os leitores?
Bem, segundo os próprios, para que o Ministro acolhesse a pauta de Frota e de Reis para a Educação. Pelo menos, como se vê nas fotos, Alexandre Frota foi usando óculos de grau…
Melhor assim, não é?
Quem sabe não aproveitaram a oportunidade para inserir todas as realizações acadêmicas dos três pensadores na base de Currículos Lattes, do CNPq? Imaginem vocês que até agora o Sr. Ministro de Estado da Educação não tinha um!
Falta de tempo, certamente…
Mas tempo é o que não faltou para a tirada de selfies galhofeiras no gabinete do ministro e sua imediata postagem nas redes sociais. Tais postagens, com legendas “engrandecedoras”, são sem sombra de dúvida meros acessórios do principal: as riquíssimas contribuições da dupla para a política educacional brasileira (!). Como era de se esperar, a farra foi devidamente repercutida pela imprensa familiar e pela blogosfera, contribuindo para a notoriedade de uma “reunião de trabalho” que nem da agenda do Ministro constava até aquele momento.
* * *
É engano meu ou observamos um padrão?
Não parece engano não. Para quem soma dois e dois, parece seguro afirmar que o consórcio golpista adotou deliberadamente uma tática de provocação visando à exacerbação da polarização e da radicalização na sociedade.
Haveria um propósito?
Apenas fidelizar o seu apoio – cadente – na base social conservadora? Ou há algo mais?
Hmmmm
Certamente nada na esfera de competência do redivivo GSI, entregue às mãos de chumbo do General Etchegoyen.
A propósito, por falar em general, gostaria de perguntar ao Senador Jucá – sem escuta clandestina da minha parte:
– Senador, pode esclarecer melhor a sua fala, sobre estarem comandantes militares monitorando movimentos sociais e sua disposição para garantir a “opção” Temer – ainda em março?
Todos – inclusive a imprensa estrangeira – ficamos muito curiosos.
* * *
Aliás, e esses grampos, hein?
Existem há meses e são vazados justo nestes dias?
Engraçado… não sei por que, mas me veio à mente episódio recente parecido. Coisa pouca que ocorreu alguns meses atrás…
Grampos em autoridades – um recém-empossado Ministro de Estado e nada menos que a Chefe do Estado – foram vazados, provocando na sequência convulsão social em grau elevado.
Hmmmm (2)
* * *
Dois e dois são…?
Observadores mais velhos, que já viram muita coisa, não hesitaram em me dizer que supõem somarem quatro mesmo.
Hmmmm (3)
Nos seus piores pesadelos, foram acordados por lembranças de palavras e nomes não tão distantes:
“Riocentro”, “Dona Lydia da OAB”, “Gasômetro do Rio de Janeiro”…
Tentaram dormir, mas outra palavra, esta menos distante ainda, não lhes permitia:
“Olimpíadas”.
* * *
Em tempo:
Ainda sobre o provocador Mendonça Filho, chega a mim informação grave, mas bem indicativa do “novo normal jurídico”. Essa foi a expressão adotada por Luís Nassif dias atrás para denominar a nova ordem jurídica, vigente no contexto atual de “pós-democracia”, na também feliz expressão do Prof. Wanderley Guilherme dos Santos. Uma tradução simples para esse tal “novo normal jurídico”, termo que surge de analogia com a Economia, é aquela que encontrei no título do post “Paradoxo no(s) golpe(s) brasileiro(s): tempos esquisitíssimos e normalíssimos?”.
É isso mesmo: a nova “normalidade” jurídica aceita todas as “esquisitices”, fazendo cara de paisagem e mantendo sempre o mais importante: o “rito” e “a liturgia do cargo”.
Não é mesmo, Ministros do STF?
Nota: os Ministros têm minha total solidariedade no dia de hoje. Certamente não estão nem “acovardados” nem tampouco são Ministros de “merda”.
Pois bem. Saibam que nesse “novo normal jurídico”, o Ministro da Educação pode tentar calar por meio de interpelação judicial leviana críticas que em nada ofendem a lei. Mesmo sem mérito, sabe que conta com aquele tal “tempo da Justiça” para calar quem ousa dizer que o imperador está nu.
Não por outra razão, o homem público que ocupa o Ministério de Estado da Educação decidiu interpelar judicialmente o Professor Michel Zaidan Filho, filósofo, historiador, cientista político, e professor da UFPE.
Um Ministro não pode ser criticado, não é mesmo? Ainda mais em casa…
O Ministro Mendonça Filho processa o Prof. Zaidan por postagem no blog “Síntese”, do último dia 22 de maio. A parte mais contundente do post do professor? Simplesmente apontar os lobbies que estão próximos do Ministro e dos seus auxiliares:
Qual não foi, então, a minha surpresa quando soube de sua (Mendonça Filho) nomeação pelo usurpador interino (Temer) para Ministro da Educação! (…) Agora vem o esclarecimento que foi o empresário dos serviços educacionais, Janguiê Diniz, dono da Faculdade Maurício de Nassau, quem bancou a indicação do nome de José Mendonça Filho para o Ministério da Educação! Mais ainda, o empresário educacional conseguiu também emplacar o nome do economista Maurício Romão para a Secretaria de Regulação e supervisão do MEC, órgão responsável pela licença e autorização para funcionamento de novos cursos. Vocês imaginem como é colocar uma raposa no galinheiro e avaliem o resultado dessa astuta operação: o dono da faculdade privada interfere diretamente no órgão responsável pela fiscalização do seu negócio!
Não foi à toa que o ministro interino entrou com uma ação no STF para derrubar as cotas dos estudantes nos cursos superiores públicos e agora se saiu com a ideia extraordinária de autorizar a cobrança de mensalidades nas IES públicas. Dissipou-se o mistério da indicação do deputado de Belo Jardim: representante de interesses privatistas no Ministério da Educação. Tal como o da Saúde – o deputado Ricardo Barros – quer acabar ou diminuir o SUS, atendendo ao pedido das empresas privadas de Saúde. E o das Cidades – o menudo Bruno Araújo –, acabar ou diminuir com o programa de habitação popular. E o do Desenvolvimento Social, acabar ou diminuir as políticas compensatórias de redistribuição de renda. E o das relações exteriores, acabar com a política externa multilateral, sul-sul, do governo Lula, para voltar à subserviência do Brasil aos interesses norte-americanos.
* * *
Indignado, fecho o post perguntando aos Ministros do STF:
– Vão mesmo ser padrinhos e madrinhas desse “novo normal jurídico”?
– Haja “rito” e “liturgia do cargo”!
* * *
Atualização:
Prefiro infinitamente ficar na foto como o paranoico que não descarta teorias da conspiração a ser o vaidoso que, por temer essa caracterização, silenciou e com isso não contribuiu para uma dissuasão.
Dessa forma, notem que o objetivo de escrever estas linhas é justamente estar depois errado.
Mas, ainda no figurino paranoia, acrescentemos o seguinte:
Ou seja, temos o seguinte quadro:
– Sai embaixadora presente em desestabilizações de governos de esquerda seguidas de posses de vices de direita;
– Chega outro com experiência em local de conflito e inssureição;
– Um governo fraco adota claramente ações de provocação;
– Tem a retaguarda de um general linha dura;
– Grampos editados causam alvoroço;
– Olimpíadas vem aí.
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