“Democracia boa é a que nos dá razão”: redes sociais, pós-verdades e a irreverência dos invasores bárbaros.


“Democracia boa é a que nos dá razão”: redes sociais, pós-verdades e a irreverência dos invasores bárbaros.

Ou: o (enorme!) desafio de debater hoje em dia
Por Romulus & Núcleo Duro
Um post de trás para frente: primeiro a conclusão, depois o comentário e só por último a discussão.
*
A “conclusão” (inconclusiva!)
Temos falado bastante sobre dissonância cognitiva e pós-verdade nos últimos meses. Vemos, para o nosso desespero, que acometem até interlocutores nossos dos mais inteligentes e bem educados.
Li em um artigo que “a grande sacada” da pós-verdade não é propriamente convencer o leitor do <<fato falso>> (contradição em termos) veiculado na <<notícia falsa>> (idem). Mas sim, pelo menos, semear a dúvida, por menor que seja. Relativizar. O que fará com que se valorize menos a “verdade científica” e a “opinião dos experts” que o fato falso (false fact) nega.
Num debate de internet iguala-se (ou se pode igualar), em termos de peso (representatividade), o consenso cientifico de 99% da comunidade acadêmica à opinião divergente, minoritária, do 1% restante. Ou seja: aquele “cientista” “folclórico”, que opera nas margens da Ciência – fringe Science.
(Google)

Na verdade, vamos além: as bolhas e algoritmos das redes sociais podem inverter essa proporção, transformando o 1% em 99% (ou por que não 100%?) para quem “gosta” de – e dá “like” para – ele.
*
Ainda nesse tocante, acho “interessantes” os artigos recentes do Nassif desancando a “era da mediocridade das redes sociais”. Não deixam de transparecer um elitismo – e despeito – de quem sente saudades do peso maior que tinha como “~ formador ~ de opinião” nos bons (?) tempos de império da imprensa como propagador de ideias.

Pergunta:
– O desprezo dele pelo “Homer Simpson” que não aceita a “verdade revelada” por ~ ele ~ (Nassif) em seus artigos se distancia muito do desprezo do Dallagnol e do Moro pelo “pobre ignorante que não sabe votar” – e cujo poder de decisão a casta dos concursados “deve cassar pelo bem geral da nação”?
O que eu quero dizer é que a discussão é mais profunda do que simplesmente “pós-verdade” e “algoritmos de redes sociais”:
– Trata-se da própria democracia!
E, no contexto de um processo de democratização brutal, da tendência natural (intuitiva?) de, “sendo um iniciado”, fazer cara feia para a diminuição do peso da sua opinião – e da sua vontade / voto! – diante da ascensão de um exército de “não iniciados”, já agora autonomizados.
Sejam os “Homer Simpson” do Nassif ou “os pobres que votam no PT” pros de Curitiba… passam a prescindir da inter~media(!)~ção dos “doutos iniciados” para formar suas próprias convicções. E, o que é “pior”, também para convencer outros “iguais”!
O “povão” das redes sociais e grupos de whatsapp não “emburreceu”. Apenas ganhou um microfone, antes negado.
Olha eles aqui com microfone ~ antigamente ~:
Hunt season” – o ~ abate ~ de gays na SP de Jânio Quadros

[Nota:
Aliás, por falar em Jânio Quadros… na minha busca pelo vídeo acima, mostrando que o “povão” não emburreceu de repente, acabei me deparando com este aqui:

Sílvio Santos conversando com “seu amigo” Jânio Quadros (1988)


“O velho novo”…

ou seria “o novo velho”, amigo Ciro?]

Pelos resultados eleitorais recentes (Brexit / Trump / Paz na Colômbia / etc.), temos visto que isso tem impacto.
Mas e no longo prazo? Qual será o impacto da democratização do mercado de opinião com as novas plataformas? Será bom? Ruim? Cedo demais para dizer?
Sendo ainda mais polêmico: todo elitismo é “per se” ruim? Até aquele fundado na “verdade científica” – qualquer que seja ela? E do ponto de vista ético? O “correto” é defender a posição elitista “correta” – e, (quase) por definição, minoritária – ou a posição “errada”, mas majoritária?
E mais: dá para chegar a uma resposta geral para essas perguntas? Ou varia conforme o caso? (como quando envolve maiorias atropelando minorias)
Estou aqui dividindo indagações com as quais tenho me batido.
Mas, independentemente das respostas, é bom que aceitemos que podem escrever 10 mil artigos desancando o “Homer Simpson” que esvaziou o peso da opinião “qualificada” no todo da sociedade… mas o relógio não vai andar pra trás!
*
O comentário (no Whatsapp com o Renato)

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*
A discussão (e a tal da “meta-discussão”)
Maria – Só para zoar o (vegetariano) Romulus…rsrs

Romulus – menos mau que…
<<a cenourinha não tinha sistema nervoso central e não se deu conta de nada e nem sentiu dor>>
rsrsrs
Maria – <<Como é que você sabe? Perguntou pra cenourinha? Olhe que um dia sua “ciência” pode “desprovar” isso tudo!>>
Se já “provou” que planta “gosta” de música, que cresce mais quando você conversa com ela… rsrs. Não foi à toa que a humanidade, ao longo de sua história e em todas as suas culturas, precisou criar cosmologias em que os mitos procuravam dar conta do irremediável paradoxo que a vida humana se alimenta da morte de outras formas de vida…
Tania – Em defesa do Romulo: outros animais também se alimentam de outras formas de vida, numa cadeia altamente predatória. Só que entre esses outros, a coisa é equilibrada. Já entre os mais espertinhos a coisa é muito nociva, né não?
Maria – São justamente esses animais de diferentes cadeias predatórias que são os personagens dos mitos, servindo de parâmetro pra “explicar” e ao mesmo tempo “atenuar” o paradoxo da vida que se alimenta da morte… Com relação aos vegetais, dá pra amenizar um pouco o paradoxo porque sempre tem o grão do trigo que sobrou e vai brotar depois, mas nem ele consegue negar que os demais grãos morreram para alimentar a vida humana. Mas o problema dos desequilíbrios não é de esperteza, e sim de escala. Eles acontecem na natureza quando se quebra a cadeia predatória e aí um animal sem predador natural começa a aumentar em número pondo em risco espécies inteiras entre suas presas. No mundo humano, é o aumento, a concentração e o modo de vida da população que leva ao uso predatório dos recursos naturais. Aí é que o capitalismo faz a festa. Igual aconteceu com a escravidão, que sempre existiu na África como na Antiguidade clássica. Foi quando os portugueses passaram a tratar escravo como mercadoria a ser trocada por fumo e cachaça que começou o o holocausto dos 12 a 14 milhões de africanos trazidos a bordo dos negreiros para as Américas.
Renato – Fui obrigado a curtir ambos os comentários – do Romulus e da Maria. Vivo essa contradição em casa. 😉
Maria – Só você, Renato? Por que você acha que eu falei da história da humanidade e de todas as suas culturas? Agora, uma coisa é a história, outra é a contradição ao vivo e em cores no seu cotidiano. Aí é mesmo de lascar!
Renato – Maria, é verdade. Minha esposa (e spalla!) é vegetariana… Só não é vegana por ser narco-dependente de queijo. Não vive sem. Eu não… Sofro de remorsos, mas “apreceio o sabore”… Claro que, como bom leitor de ficção científica desde mininin, acho que um dia sintetizaremos proteínas a partir de minerais, pra que mais nenhuma vida seja comida. Se conseguirmos derrotar o capitalismo, claro. 🙂
Romulus – Bom…
<<eu ainda fico com Ciência na determinação de que planta não tem sistema nervoso central>>
Mas mesmo que se alegasse um “empate” nessa divergência, ao menos…
<<estou emitindo 1/3 de gases de efeito estufa dos onívoros>>
A minha parte eu to fazendo pra evitar o fim do mundo e de “da história da humanidade e de todas as suas culturas”, bem como das ~ plantas ~ e dos ~ animais ~ que estão em cima dele.
Maria – Mas você tem mesmo pavio curto, cara! Pronto a brigar por nada! Certezas são boas pra justificar escolhas. Eu só disse que existe uma contradição inexorável e que as certezas que justificam escolhas são apenas justificativas, melhores ou piores, que não eliminam essa contradição. To falando de um problema filosófico e o galinho de briga levanta a crista e vem pra cima com tudo…rsrs
Renato – Por outro lado… Sempre tem o danado do outro lado. E olha que sou cartesiano “nos úrtimo”. 😉
Plantas não têm, aparentemente, sistema nervoso central “ou similar”. Mas várias têm tropismos, e alguns são bem sofisticados, o que significa processamento de vários tipos de inputs, em algum nível…
Só pra jogar uma lenhazinha. 🙂
É por causa da brutalidade da vida (proteína mata, esmaga, mastiga e come proteína) que os biólogos são todos uns ateus. Os físicos, etéreos e cheios de epifanias, são espiritualistas e místicos. 🙂
Não que as plantas sejam melhores. Quem já viu uma planta carnívora almoçar, ou erva de passarinho asfixiar uma árvore, sabe do que estou falando. 🙂
Mas, pra responder mesmo à Maria…
<<talvez só mesmo a ideia do “mal menor”. Procurar soluções onde houver menos dor ou dano para pessoas, seres, ou o planeta, até o Universo (do jeito que somos megalomaníacos)… Essa procura, aliás, seria uma inédita aliança entre ciência e filosofia>>
Prestenção, que cês tão lendo as palavras de um conciliador profissional… 😉
Tania – <<A resposta não está no macro, mas no micro. Ou seja (como diz o Lula rsrs) na consciência de cada criatura>>
Não é uma questão de disputa, mas de sobrevivência mesmo da própria espécie (egoístas que somos), como disse o Romulo.
Maria – Pois eu fico com os físicos, as epifanias e a ideia do “mal menor” – sabendo que é uma justificativa – com a esperança nessa improvável aliança entre ciência e filosofia, no mesmo espírito conciliador do Aroeira. Ah! E ainda esperando que se consiga criar proteínas sintéticas, se a gente conseguir vencer o capitalismo…rsrs Até lá, escolha fica mesmo por conta da consciência de cada um, seja pelo motivo egoísta da salvação da espécie, seja pela generosidade sonhadora de quem pensa megalomaníaca- mente no universo inteiro. Mesmo sabendo que…
<<no tempo das estrelas, a Terra já se regenerou inúmeras vezes por conta de cataclismos variados e pode se regenerar ainda uma vez>>
… depois que a racinha ruim da espécie humana conseguir destruir a si mesma. A natureza não precisa de nós, nós é que precisamos da natureza. Portanto, salvemos o planeta Terra, anyway…
Romulus – Maria, quem disse que tô brigando??
Eu adoro discutir e ter divergência!
Só estou escrevendo para reforçar aqui a minha argumentação.
Maria – Pois então minha brincadeirinha te serviu bem. Divergência pra ninguém botar defeito. Até mas altas esferas da filosofia e da ciência…
Tania – Vocês são o espelho um do outro, como reza a psicologia rsrs.
Maria – Mas não mesmo, Tania! Tenho uma ligação profunda com o moço…
<<mas não nessa dimensão da disputatio, própria dos sofistas, dos teólogos medievais ou da retórica chicaneira de advogado>>
Pra ele, isso faz parte do seu espírito de humor. Eu não tenho nenhum, pra isso. Quando ele por um tempo teve tempo de navegar nas físicas e metafísicas da vida, até que acho que a gente se entendeu. No mais, somos mesmo Sol e Lua, nada a ver um com o outro, e não na modalidade de espelho, mas de diferença mesmo, sem conciliação.
Romulus – ponto adicional para reflexão (sem querer provocar – muito):
<<Estaria aqui um exemplo de discussão de ~ pós-verdades ~ no nosso pequeno micro cosmo?>>
<<Que planta não tem cérebro e que comer carne está (entre outras coisas) matando o planeta são verdades ~ científicas ~>>
No entanto, nós aqui nesta bolhinha com meus amigos ~ eruditos ~ terminamos a discussão com algo como…
<<“deixa disso… vamos conciliar”; “fica mesmo por conta da consciência de cada um”; e “a Terra já se regenerou inúmeras vezes por conta de cataclismos variados e pode se regenerar ainda uma vez depois”>>
Como esperar mais do trabalhador de baixa qualificação precarizado do “Rust Belt” que votou no Trump e lhe deu a vitória?
Veem como o problema é profundo?
Maria – Olha o espírito sofista. Que escolha fica por conta da consciência de cada um é um fato social, porque as verdades da sua ciência fazem parte do seu sistema de crenças, que não é o de um Yanomami nem de um trabalhador que mora na periferia. Quanto à regeneração da Terra, isso vale até mesmo para depois… que a espécie humana tiver destruído a si mesma (!), como valeu depois da extinção dos dinossauros. Portanto, nada de pós-verdade por aí. Se é pra pensar no trabalhador do Rust Belt ou da periferia de SP que não votou no Haddad, o problema é de formação/ manipulação de opinião pública, consciência de classe etc. E aí ideologia é tão sistema de crença quanto é o conjunto das verdades da ciência. Depende de quem acredita no que. Quando coisas concretas baterem na cara das pessoas elas podem começar a ver as coisas de outro modo e mudar de opinião. Igualzinho como agora em relação ao golpe. A seca que o Alkmin tentou esconder por meses fez mais pras pessoas acordarem pros problemas ambientais que a pregação do Gianetti, o economista do programa da Marina, falando do efeito dos gazes das vacas sobre a camada de ozônio. Pode não ser agradável admitir isso, mas é assim que “verdades” (ideia, valor x experiência) se constroem e se desconstroem na vida social.
Renato – Sim, boa provocação. Mas estamos, na verdade, escolhendo (já por conta das nossas consciências) mais ou menos os mesmos males menores que você. Então a “conciliação” aqui já é feita em cima de um “programa mínimo”. Em algum momento da história da civilização, se ela sobreviver, vamos discutir de maneira deliberativa essa questão: parar de comer carne pra salvar o planeta (entre outras coisas), e as consequências disso. Já estamos (nós, sociedade) trazendo o tema à baila, aliás. Mas isso nós, sofisticados brainiacs. Concordo que nas partes mais “rústicas”, lá no cinturão onde o Donald reina, o programa mínimo é bem mais mínimo e simples do que o nosso… 😉
Maria – Pelo menos você não deixa passar batido o viés elitista (de classe?) embutido na discussão do Romulus com “meus amigos eruditos”, que você com razão chama de “sofisticados brainiacs”. Nem por isso eu diria que o povo do Rust Belt que vota no Donald é mais “rústico” (?!). Eles vivem uma experiência concreta de desemprego e decadência que não bate com o discurso politicamente correto dos Dems (e da maioria das nossas esquerdas). É o descolamento desse discurso em relação à experiência dessa parte da classe operária americana que fez Michael Moore predizer com meses de antecedência qual seria o seu voto. Claro que estou deixando de lado, embora de modo algum desconsidere, a influência da mídia na construção dessas “verdades” da opinião pública(da), tal como a imagem do Lula ladrão e o PT que acabou com o país. Mas a perplexidade dos americanos ao perceberem que o discurso progressista politicamente correto não descrevia a realidade de vida de muitos de seus conterrâneos não foi maior que a nossa, diante dos Dórias e Crivellas da vida. E quem se preocupou, ao longo dos anos, em ir discutir com esse povo e explicar que as coisas não eram bem assim como a mídia e, depois, os candidatos falavam? Perdemos feio (os americanos e nós) na disputa da narrativa política e dos valores da sociedade. Mas basicamente porque pouco sabiam(os) das experiência de vida desses “outros” que (des)qualificamos como “rústicos”. Enquanto permanecer esse gap, só mesmo um choque brutal de experiência poderá fazer esses “rústicos” começarem a mudar de opinião. Talvez, aqui, a reforma da previdência ou a terciarização generalizada do trabalho ou a prevalência do “negociado” sobre o “legislado” tenham esse efeito. Mas em quanto tempo? Pois é, o tempo a história não é o das nossa expectativas. Quem não faz política direito paga esse preço, não é?
Zeca – “só mesmo um choque brutal de experiência poderá fazer esses “rústicos” começarem a mudar de opinião”… por ora, não vejo outra saída, pq a discussão política foi , nem tão sucintamente, colocada no centro do problema, demonizada.. vale a comparação: caminhamos para a demolição, para q se construa casa nova, assim como a Terra se desfaz do q a ameaça, “substituindo” toda uma civilização por outra…espero estar errado
[Romulus: e finalmente chega o Ciro, que eu tinha marcado na conversa de caso pensadíssimo… prestem atenção e apreciem também as suas navalhadas mordazes rs]
Ciro – Romulus, a ideia de que comer carne está matando o mundo é falha. A gente poderia tranquilamente salvar o mundo comendo carne, basta eliminar uns 3/5 da população mundial que dá para todo mundo comer carne e não ter aquecimento global….
(economista sem coração e de sangue O-positivo que não vive sem proteína animal falando aqui)
PS: Não é apenas o consumo de carne, é basicamente todo o padrão de consumo de qualquer pessoa de classe média (inclusive vegetarianos) do mundo que seria insustentável do ponto de vista ecológico.
Nem entro no discurso moral do sofrimento animal. Entra-se num plano parecido com o discurso anti-aborto.
– Zeca, e eu te diria que a grande probabilidade é que, mesmo que “destruindo-se” a casa e se construindo outra, aos poucos a civilização voltará a comer proteína animal. A história evolucionária do ser humano “produtor de alimento” é minúscula comparada com a história evolucionária do caçador-coletor. É muito DNA…
Não estou reduzindo DNA a destino, mas a ideia de que DNA não é extremamente significativo nas questões do ser humano é simplista. O ser humano não decide racionalmente como nós sempre explicamos quando falamos do homo economicus…
<<boa parte de nosso pensamento é buscar justificativas racionais para respostas instintivas (ou intuitivas)>>
Então se você coloca: “Comer carne ou salvar o mundo” a minha resposta com certeza será: “comer carne”!
<<depois se vc quiser eu arrumo um sofisma bem elaborado para justifica-la>>
Mas essa é a única resposta que é possível para o DNA caçador-coletor em 2 gerações do rapaz aqui….
Zeca – Ciro, sua “frieza” causa um choque rs mas é fato q estamos, a humanidade, inchados. As providencias q a natureza toma para conter a superpopulação perderam a corrida. Por outro lado, apesar de toda a “evolução” do DNA para acomodar a carne, ainda temos uma arcada e meios físicos insuficientes para sermos tidos como carnívoros. (Isso não levando em conta q a nossa evolução se deu na inteligência para construirmos formas de “devorar as carnes” …..pronto….destruí meus próprios argumentos com essa ultima consideração rsrs)
Ciro – Poderia dizer igualmente q não somos ruminantes para sermos classificados como herbívoros.  😀 O fato é que somos onívoros (como nossos companheiros de evolução, os grandes primatas).
Zeca – verdade rs e veja só: se o homem adquiriu “habilidades” para abater seus próprios semelhantes por motivos os mais tolos possíveis, como não “avançaria” sobre outras espécies com motivos bem justificáveis ?
Maria – A moça que vem cuidar de mim e dos bichos no domingo é da Paraíba e mora vizinha aqui no Gonzaga pra ficar perto das casas onde faz faxina. É um pé de boi pra trabalhar e vive bem com o marido (motorista de taxi que me leva pra SP) e os 2 filhos, mas viveu em grande pobreza na infância e sempre me conta histórias interessantes. Hoje, pra me trazer o almoço, precisou esperar eu acabar um desses comentários. Disse a ela do que se tratava. A resposta veio direta. “Minha vó tinha no quintal um pedaço que era só de árvore e planta de remédio. E fome a gente não passava, porque tinha sempre uma saca de milho ou feijão, mesmo na seca. Mas dinheiro era nenhum. A gente ia roubar caju na fazenda do vizinho pra tirar castanha e vender por uns trocados. E carne era mesmo pouca na seca, quando não dava pra criar galinha nem porco. E cabra a gente precisava pro leite. Então, eu e meus irmãos, a gente ia armar arapuca no mato pra pegar algum bicho pra comer, um preá, um calango. Eu não tinha dó dos bichinhos? Hoje eu penso que malvadeza armar arapuca pros coitadinhos. Mas na época não pensava não. Às vezes até tocaiava pra ver se ia cair na arapuca, e quando caía, a gente tava lá, coração saindo pela boca, olho brilhando, pulando de contente. A gente era como o bicho, ia pelo instinto. Olhava e só via a comida. Era o preá ou eu, o calango ou eu. Depois a vó preparava e a gente se regalava. Hoje não posso nem pensar nisso, mas na época não pensava nada não, remorso nenhum. E nem era porque a gente passava fome. Era mesmo o prazer de ir procurar comida no mato e poder trazer pra casa.”´E aí, Ciro, fica mais fácil entender o teu DNA?
O que a moça pensa sobre política? Trabalhou durante anos para uma desembargadora, fundadora do PT, portanto sabe perfeitamente do que eu falo. Mas prefere tergiversar e diz que numa democracia cada um deve ter sua própria opinião (mas não tem nada a ver com as madames coxinhas para as quais trabalha). Foi com a patroa que aprendeu o que significa auto-estima, defender-se quando discriminada por ser nordestina. Depois que a desembargadora teve depressão e abandonou a militância política, ela passou a trabalhar na faxina; Não quer ser registrada porque não quer ter patrão e ganha mais assim. Os filhos estão em escola particular e ela pensa no futuro deles em termos do mercado de trabalho. Mas isso ainda está longe e ela deixa pra pensar depois. Por acaso estava aqui no dia da votação do impeachment na Câmara e, vendo minha aflição, ficou até o final e se horrorizou tanto quanto eu, mas preferiu não tirar as consequências nem prosseguir com o acompanhamento do processo depois. O marido é antenado e discute comigo como eu discuto com vocês. Mas trabalha com público, é político, e pode dizer o contrário do que diz pra mim se for preciso, para outro passageiro. Ontem comemoraram o Ano Novo: “foi ruim pro Brasil, mas pra gente não, teve trabalho o ano inteiro, os meninos estão bem, a gente não tem do que reclamar”. Quando irão “tomar consciência” da crise? Quando esse tipo de experiência deixar de existir e o que vier não mais se enquadrar na visão de política – na verdade, de mundo e de vida – que tem agora.
Giselle – Da cenourinha para a questão do aborto a viagem foi longa. Hehehehehe! Ainda passamos pelos vários elitismos. Não sou vegetariana, mas tb não sinto falta de carne. Dizem os ginecologistas que a mulher precisa comer carne. Nunca pesquisei o pq da afirmação, mas sempre cumpri a determinação. Qto a questão do aborto, acho que é algo tão pessoal que não deveria ser definido por lei, religião ou qualquer outra questão. A decisão sobre isso deveria ser restrita aos que estão envolvidos e cada caso é um caso. Então definir qual o momento em que é vida ou não, em que pode ser considerado ser humano é algo muito difícil (digo isso pensando nos casos de bebês anencéfalos ou que não terão possibilidade de vida por outras questões, como o pulmão que não se desenvolveu até 6º mês). Essa questão é polêmica e para mim tem um grande componente machista nela, mais do que a suposta preservação da vida e da espécie. Homer Simpson parece ser uma praga, com a qual estaremos sempre convivendo. Mas acho possível que em um futuro próximo eles mudem de rota em razão de novos ventos civilizatórios. Acho que mais na frente poderíamos abrir uma discussão sobre os filmes de ficção como o exterminador do futuro, blade runner, mad max e até o jogos vorazes, pois esse me parece ser o grande sonho neoliberal, o mundo para poucos enqto o resto servirá para o seu deleite e subservientes aos seus desejos e necessidades, um mundo em que o controle se dará pela mídia e sistema judicial (MP/Jud/polícias) .
[Romulus: e volto eu para fechar (?) a discussão com a conclusão (inconclusiva) – agora na íntegra – que abriu o post]
Romulus – Ciro, “debate parecido com anti-aborto”?
Médio…
A justificativa para aborto até o 3o mês é justamente a ausência de sistema nervoso central desenvolvido ainda.
E estou mais na linha do Aroeira de “causar o menor dano”:
~ não ~ há alternativa para quem está grávida não ter filho.
Já para alimentar-se há.
E não apenas “há”:
– É inevitável dada a ineficiência da produção de proteína animal em vaca!
Precisa de 10kg de proteína vegetal na alimentação para gerar 1kg de proteína animal de vaca.
Carne de insetos ou proteínas de fungos são convertidos a taxas de 90%.
<<Você que é economista entende de números. O “problema” é a sua parte “não abro mão…”
Não é só você!>>
E concordo: aplica-se a todo o padrão de consumo ocidental.
Aqui reciclo todo o meu lixo e pago imposto de acordo com o volume de lixo não reciclável que produzo (que é incinerado para gerar energia, com escapamento controlado)
Mas o Ciro chegou onde eu queria quando marquei ele na thread.
Não era exatamente pela opinião dele sobre o consumo de carne ~ per se ~.
Mas sim por outras coisas que ele disse (do seu jeito mordaz):
1)”economista sem coração e de sangue O-positivo que não vive sem proteína animal falando aqui”
+
2) “O ser humano não decide racionalmente como nós sempre explicamos quando falamos do homo economicus, boa parte de nosso pensamento é buscar justificativas racionais para respostas instintivas (ou intuitivas)”
+
3) “minha resposta com certeza será: “comer carne” – depois se vc quiser eu arrumo um sofisma bem elaborado para justifica-la”.
Nós dois temos falado bastante sobre dissonância cognitiva e pós-verdade. Inclusive afetando interlocutores nossos extremamente inteligentes e bem educados.
Vi a provocação da Maria com a “pobre cenourinha” e a discussão que se seguiu como oportunidade para abordar o tema – aqui também com pessoas extremamente inteligentes e “eruditas”.
Li em um artigo que “a grande sacada” da pós-verdade não é propriamente convencer o leitor do <<fato falso>> (contradição em termos) veiculado na <<notícia falsa>> (idem). Mas sim, pelo menos, semear a dúvida, por menor que seja. Relativizar. O que fará com que se valorize menos a “verdade científica” e a “opinião dos experts” que o fato falso (false fact) nega.
Num debate de internet iguala-se (ou se pode igualar), em termos de peso (representatividade), o consenso cientifico de 99% da comunidade acadêmica à opinião divergente, minoritária, do 1% restante. Ou seja: aquele “cientista” “folclórico”, que opera nas margens da Ciência – fringe Science.
Na verdade, vamos além: as bolhas e algoritmos das redes sociais podem inverter essa proporção, transformando o 1% em 99% (ou por que não 100%?) para quem “gosta” de – e dá “like” para – ele.
In casu…
<<não estamos relativizando aqui as “verdades científicas” do sistema nervoso central dos – e apenas dos – animais (“pobre cenourinha!”) e o aquecimento global??>>
*
Ainda nesse tocante, acho “interessantes” os artigos recentes do Nassif desancando a “era da mediocridade das redes sociais”.
<<Não deixam de transparecer um elitismo – e despeito – de quem sente saudades do peso maior que tinha como ” ~ formador ~ de opinião”>>
… nos bons (?) tempos de império da imprensa como propagador de ideias.
Pergunta:
<<O desprezo dele pelo “Homer Simpson” que não aceita a “verdade revelada” por ~ ele ~ (Nassif) em seus artigos se distancia muito do desprezo do Dallagnol e do Moro pelo “pobre ignorante que não sabe votar” – e cujo poder de decisão a casta dos concursados “deve cassar pelo bem geral da nação”?>>
É evidente que, no que toca o conteúdo, ~ eu ~ pessoalmente prefiro a “verdade revelada” do Nassif aos compartilhamentos dos Homer Simpsons nas redes sociais. Mas isso não deixa de ser porque faço parte – também – da elite intelectual. Mas poderia, em vez de curtir o Nassif, curtir um Reinaldo Azevedo, não?
O que eu quero dizer é que a discussão é mais profunda do que simplesmente “pós-verdade” e “algoritmos de redes sociais”:
– Trata-se da própria democracia!
<<E, no contexto de um processo de democratização brutal, da tendência natural (intuitiva?) de, “sendo um iniciado”, fazer cara feia para a diminuição do peso da sua opinião – e da sua vontade / voto! – diante da ascensão de um exército de “não iniciados”, já agora autonomizados>>
Sejam os “Homer Simpson” do Nassif ou “os pobres que votam no PT” pros de Curitiba… passam a prescindir da inter~media(!)~ção dos “doutos iniciados” para formar suas próprias convicções. E, o que é “pior”, também para convencer outros “iguais”!
O “povão” das redes sociais e grupos de whatsapp não “emburreceu”. Apenas ganhou um microfone, antes negado.
Pelos resultados eleitorais recentes (Brexit / Trump / Paz na Colômbia / etc.), temos visto que isso tem impacto.
Mas e no longo prazo? Qual será o impacto da democratização do mercado de opinião com as novas plataformas? Será bom? Ruim? Cedo demais para dizer?
Sendo ainda mais polêmico: todo elitismo é “per se” ruim? Até aquele fundado na “verdade científica” – qualquer que seja ela? E do ponto de vista ético? O “correto” é defender a posição elitista “correta” – e, (quase) por definição, minoritária – ou a posição “errada”, mas majoritária?
E mais: dá para chegar a uma resposta geral para essas perguntas? Ou varia conforme o caso? (como quando envolve maiorias atropelando minorias)
Estou aqui dividindo indagações com as quais tenho me batido.
Mas, independentemente das respostas, é bom que aceitemos que podem escrever 10 mil artigos desancando o “Homer Simpson” que esvaziou o peso da opinião “qualificada” no todo da sociedade… mas o relógio não vai andar pra trás!
P.S.: Maria, apreciar o confronto de ideias – inclusive contra as minhas – está longe de sofismo! Só assim, com a contradição, se avança.
*
Só com a contradição se avança”… de onde foi que tirei isso??

*
– Que ~ bicho ~ vai dar dessa nova (?) dialética?
– O embate entre “iniciados” e os “invasores bárbaros”?
E voltando ao “vegetarianismo”…
– <<Esse>> bicho aí vai ter ~ cérebro ~? rs
*
E mais:
– Os “iluminados” devem se encastelar, na proteção das torres de marfim?
– Como ~ monges ~ copistas, preservando a antiga sabedoria, lá detrás dos muros dos mosteiros?
(obrigado pela metáfora, Renato!)
– Ou, ~ missionários ~, devem sair espalhando a ~ Boa Velha (!) ~ entre os bárbaros infiéis?
– Talvez, com isso, arrisquem o martírio…
– … até mesmo devorados por hordas canibais!
Mas e aí?
– Dará o que dessa nova (?) ~ antropofagia ~ pelos botocudos?
*
E Pra fechar:

– Martir “vai pro Céu”?

*

– E monge enclausurado? Vai?
*
Mas isso aí já me lembra outra discussão…
Lembra a dúvida perturbadora com que me presenteou um escritor – já não lembro se Dostoievski (“Crime e Castigo”? “O Idiota”?) ou Saramago (“O Evangelho segundo Jesus Cristo”?):
– “Dar a outra face” é o ato de suprema humildade?

– Ou de suprema arrogância?

*

– Tem resposta para essa dúvida?

– Ou damos de ombro, suspiramos e abraçamos o paradoxo?

*





*


Atualização – re-publicar definitivamente ~ não ~ é endossar!





Comentário:


Como se toda pessoa “educada” e “bem informada” chegasse, necessariamente, às mesmas conclusões, né…

Voltando ao meu exemplo: disse que curto a “verdade revelada” do Nassif, não foi?

Mas podia curtir a da Miriam Leitão em vez disso, não?

Cada “rei filósofo” quer um reino pra chamar de seu, ora!


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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

– Pois você não está só! Clique na imagem e chore as suas mágoas:

(http://www.romulusbr.com/2016/12/que-poa-e-essa-vol-2-metalinguagem.html)

(http://jornalggn.com.br/blog/romulus/que-p-e-essa-ora-essa-p-e-romulus-por-o-proprio)

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(iv) E também no GGN, onde os posts são republicados:

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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