~Emburacado~ na nostalgia do… futuro: “golpe de 2016? Ah, que tempos terríveis aqueles, meu… neto (!)”

~Emburacado~ na nostalgia do… futuro: “golpe de 2016? Ah, que tempos terríveis aqueles, meu… neto (!)”


Por Núcleo Duro

– E se foi mais um herói…morre na França Angel Parra, filho de Violeta Parra.

– Violeta soube como ninguém do milagre que é um amor num tempo em que “a idade já não é própria” para uma mulher se apaixonar. No gesto extremo, realizou o desejo profundo, romântico e tenebroso, de associar num mesmo todo Eros e Thanatos: escreveu “Gracias a la vida”… e ponto final: matou-se em seguida.

– Outra história fantástica: a de Federica Montseny, ministra mais popular do governo ~republicano~ espanhol. Modelo de força, capacidade de resistência e determinação, deixou uma mensagem de esperança muito forte para as gerações seguintes: mesmo perdendo sempre se ganha, desde que não se abandone a luta.

– “Nostalgia do… futuro”: quando, como Federica, velhinha…, contaremos “como foi dura a luta contra… o golpe do Sec. XXI” … “a (então) ‘novidade’ de se descobrir dentro de uma ~guerra híbrida~” … e finalmente concluir com “como os tempos agora são outros, meu… neto! Ufa… ‘Gracias a la vida’…”.

– Onde fica a tecla “FF – fast forward” do controle remoto da… vida??



*

Zeca Lins:

E se foi mais um herói…morre na França Angel Parra, filho de Violeta Parra.
Angel Parra – “compañero presidente”
testimnonio de que la lucha consecuente esta presente y la historia es testigo de ello
YOUTUBE.COM


Romulus: Vi um documentário maravilhoso na TV pública francesa tempos atrás…

Tendo morado também na Catalunha, me identifico um pouco mais com o anti-Franquismo também.

A vida dos exilados da Guerra Civil Espanhola na França não foi nada fácil… a “História Oficial”, que faz vista grossa para Vichy, crimes da colonização do Magreb, etc., tampouco registra os CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO (!) em que a França confinou os 500 mil (!!) refugiados que atravessaram (a pé!!) os Pirineus com a queda da República espanhola.

O documentário mostra que Federica Montseny, mulher anarquista e ministra mais popular do governo republicano, poderia ter pego um avião de Barcelona… mas que foi, junto com marido e filhos pequenos também ~a pé~ … junto com o povo.

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Outro ponto alto do documentário é a parte em que trata da (sub) guerra (literalmente) fratricida dentro da esquerda, entre anarquistas e comunistas, que tingiu Barcelona de sangue e abriu uma avenida pro Franquismo entrar e enterrar o sonho do socialismo democrático republicano.

O avô de um colega de mestrado, nacionalista catalão e veterano da guerra civil, foi internado num dos campos de concentração franceses… meu amigo, o Xavi (nome tipicamente ~Català~), tem dois pés atrás com a França… que adora dizer que é “le pays du droit de l’homme” ?

Vou procurar o documentário… vale a pena!

E aliás…

“Visca Catalunya… país liure… y visca el Barça!”

Conheci outra lá também, catalanista radical, filha de outro nacionalista catalão, que odiava o próprio sobrenome!

Não o do pai, catalão, mas da mãe, “imigrante” galega.

O sobrenome galego mãe??

– “Franco”!

Ela dizia que era o mesmo que se chamar “Fulana ~Hitler~”.

O que a salvou foi que, como previsto pelo pai (!), ela nasceu no 11 de setembro: o dia nacional da Catalunha (que “comemora” a derrota final e anexação à Espanha no Sec. XVIII).

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Foi este documentário aqui…
Encontrei só o comercial na rede :-/
“Federica Montseny, l’indomptable” diffusé lundi 9…
YOUTUBE.COM


Tania: Encontrei:

“Federica Montseny, l’indomptable”
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Tania: Ah, vale a pena! É uma história fantástica, a dessa mulher, que é um modelo de força, capacidade de resistência e determinação. E o final deixa uma mensagem de esperança muito forte nas gerações seguintes…

<<a mensagem de que mesmo perdendo sempre se ganha, desde que não se abandone a luta >>

Gostei muito.

E quem entende espanhol, mesmo sem saber francês, acho que consegue acompanhar.

Aquela história do dinheiro queimado é incrível! Quanta confiança, quanta fé nos seus ideais! Que povo corajoso e digno!

Romulus: Fala da parte da perseguição na França e prisão?

Tania: Fala sim.

Maria: Vi esse e mais uma entrevista da TV espanhola. História realmente incrível a dessa mulher!

E aí viajei no tempo, junto com o post do Zeca.

Conheci em Paris o jovem músico suíço que foi a paixão de Violeta Parra, e por conta de quem ela se suicidou…

Por outro lado, vejo Federica, os anarquistas espanhóis, sua coragem e generosidade idealista quase delirante: a força de um exemplo pros nossos tempos terríveis…

Aí lembrei de meu pai, galego, filho de agricultores minifundiários pobres, de meu avô, mestre de cantaria…

Como filho mais novo que não herdaria as terras, meu pai imigrou muito jovem para o Brasil, primeiro para a BA, depois RJ. Deve ter sido na época da depressão, no início da República, antes da Guerra Civil…

Nunca soube, porque não me ocorreu perguntar a ele (?!). Mas num Natal me trouxe dois presentes. Um luxuoso livro de mapas, que fazia par com outro, “Grandes Vultos da História do Brasil”, e um disco com as canções republicanas da Guerra Civil Espanhola!

Simbolicamente, a dupla herança que quis me deixar…

Se eu tivesse nascido nos anos 20, aqui ou na Espanha, certamente seria anarquista…

Até hoje ainda encontro em mim ecos de memórias de Federica, de la Pasionaria…

Nesta encarnação, gostaria mesmo é de ter-me transformado em intelectual orgânico gramsciano! Na impossibilidade, precisei me conformar em juntar ciência política e antropologia pra tentar entender o mundo… Vejam pra que viagens pode te levar um post! rsrs…

Violeta Parra : “volver a los 17”
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Renato: Obrigado por este texto, Maria.

Estou melancólico estes dias, e as músicas do Angel Parra (comecei ouvindo o “Compañero Presidente” e ~emburaquei~ !) só aumentaram isso. Mas seu post me lembrou que eu também seria anarquista naquele quando e onde. Me animei de novo. 🙂

Renato: pior que o Bakunin tá enterrado aqui do lado de casa! rs

Zeca: Dá vontade de sentar no chão, ao redor de uma fogueira, ou debaixo da lua, em frente ao mar, ouvindo as histórias da Maria e relembrando tempos e canções… agora me bate “No, woman, no cry”…

Gilberto Gil – “Não Chore Mais (No Woman No Cry)”…
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Maria: Renato, também ando mais que melancólica nesses últimos tempos e também “emburaquei” (que termo perfeito!) por conta da música, lembrando a esperança que nos traziam Violeta, Mercedes, Yupanqui!

Aí, Federica, me jogando de volta a memórias de família enterradas em profundezas arqueológicas, me trouxe um sentido histórico de renovada força: eles perderam na Guerra Civil, nós estamos perdendo (eu, pela terceira vez, já que nasci na era Vargas) e certamente não verei o fim desse tempo de trevas. Mas sei que depois outros virão para apanhar as bandeiras que deixamos cair pelo caminho. Que bom! E que bom que esse recado tenha chegado até você. Eu é que te agradeço por me contar.

Vocês são generosos, e me alegra que meus pequenos e despretensiosos fragmentos de memória possam de alguma maneira tocar vocês. Agradeço por me fazerem saber disso.

Maria Chiara: confesso que tb fiquei com vontade de sentar numa roda com vcs e ouvir tudo o que vs tem a contar !! Seria ótimo!

Maria: ainda a música. Acho que Violeta soube falar como ninguém do milagre que é um amor num tempo em que se convencionou já não ser idade própria de uma mulher se apaixonar. Um sentimento do qual Drummond dizia que “Deus me deu um amor em tempo de maturidade porque eu merecia”. Ela merecia.

E o viveu até sua última gota de mel e de fel. Depois desse encantamento de hera que se enreda pela alma, desse sentir profundo como un niño frente a Dios, dessa inocência e entrega de menina que redescobre em si, ela escreveu “Gracias a la vida”. E ponto final.

Matou-se em seguida.

Guardou para sempre o mistério e o segredo do milagre daquele amor. Como poderia viver depois sem ele? No gesto extremo, realizou o desejo profundo, romântico e tenebroso, de associar num mesmo todo Eros e Thanatos.

Eu entendo. O gosto amargo do abandono corrói depois inexoravelmente uma vida que perde a luz, a cor e seu brilho. O jovem que encontrei em Paris, lancinado de angústia, precisou trabalhar muito para recompor um sentido para sua vida. Lembro vagamente, segundo me disseram, que conseguiu. Bom para ele. Melhor para ela, que nos deixou o legado de beleza de sua música.

Zeca: Meu Deus, imagino a angustia desse rapaz. Dá sim, pra ver pela música como esse amor foi intenso, sofrido. Fui atrás da história dessa canção depois de ouvi-la sendo cantada aqui, num show da Mercedes Sosa; foi uma noite mágica aquela presença no palco, a voz forte e essa letra q nos enreda de verdade.

Romulus: Pois é… todo mundo melancólico e nostálgico…

– … pois às vezes me pego com “nostalgia do… futuro”!

Futuro quando, como Federica, velhinha…, vou contar “como foi dura a luta contra… o golpe do Sec. XXI” … “a (então) ‘novidade’ de se descobrir dentro de uma guerra híbrida” … e finalmente concluir com “como os tempos agora são outros! Ufa… Gracias a la vida!”.

<<Onde fica a tecla “FF – fast forward” do controle remoto da… vida??>>

Maria: Se você achar, conta pra gente onde é que fica? Mas põe um link pro tempo do teu futuro, tá? O meu acaba logo ali na virada da esquina, antes que se acabem as trevas, mas com o seu vou poder, sentadinha numa nuvem, observar com prazer o rewind da história pra poder dizer:

<<Ufa! Acabou!>>
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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

– Pois você não está só! Clique na imagem e chore as suas mágoas:

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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