O Irã na linha de frente dos ataques do imperialismo

 Por Alejandro Acosta

 

A agressão do imperialismo norte-americano contra o Irã tem como base o aprofundamento da crise capitalista mundial. As dificuldades para extrair lucros da produção têm escalado. O capitalismo precisa de uma guerra como a única saída para a crise que parece possível hoje encaminhar. Até a especulação financeira mundial está em crise, apesar de movimentar várias vezes a mais recursos que o PIB mundial (US$ 75 trilhões), que já é muito parasitário. Somente os nefastos derivativos financeiros movimentam entre US$ 700 trilhões (segundo o Bank of International Settlements) e US$ 2,5 quadrilhões (Swiss Bank). O endividamento é generalizado e gigantesco enquanto o capitalismo avança rapidamente para o maior colapso da sua história.

O enorme aumento do orçamento militar oficial dos Estados Unidos, aprovado pelos principais partidos, teve um importante aumento e passou para US$ 738 bilhões, embora supere o US$ 1 trilhão: US$ 576 bilhões base; US$ 174 bilhões para operações de contingência no exterior (US$ 176 bilhões para o Departamento de Defesa e US$ 26,1 bilhões para as demais agências); Departamentos de Assuntos de Veteranos US$ 93,1 bilhões; Homeland Security US$ 51,7 bilhões; Departamento de Estado US$ 42,8 bilhões; Administração Nacional de Segurança Nuclear e Departamento de Energia US$ 16,5 bilhões; FBI, Departamento de Justiça, Cybersegurança e inteligência artificial US$ 9,6 bilhões; US$ 26,1 bilhões para operações de contingência no exterior de Departamento de Estado e Homeland Security. Isso sem contar o orçamento não oficial, que é provido pela CIA e a DEA principalmente. Um orçamento desse porte só pode estar a serviço de uma política prioritária; e deve ser gasto.

A agressão contra o Irão não provocou uma guerra em larga escala, mas serviu para desgastar ainda mais a candidatura de Donald Trump à reeleição. Esse foi o teor da campanha de toda a imprensa imperialista. A aplicação desse tipo de métodos busca impor a vitória de setores que consigam entregar o que Trump não conseguiu fazer (a guerra), e revela o grau de crise assim como a necessidade do grande capital em crise de “brincar com fogo”.

O efeito colateral do assassinato do iraniano general Qasem Soleimani e do general iraquiano das PMUs (Unidades de Mobilização Popular) foi o fortalecimento da unidade nacional em torno ao regime dos aiatolás e principalmente do sentimento anti-imperialista e em todo os Oriente Médio. Ao mesmo tempo, o Irã, com o ataque às duas bases norte-americanas localizadas no Iraque, mais uma vez pode deixar muito claro, o alto grau de precisão dos seus mísseis, que incorporam tecnologia russa avançada e que são detidos por várias das milícias xiitas que atuam na região. Ainda pior, foi a unanimidade do parlamento iraquiano na resolução pela expulsão das bases e tropas norte-americanas, o que, no caso de permanecerem as deixará expostas a novos ataques.

No Irã, o novo Congresso e as eleições presidenciais, que deverão acontecer em um ano, deverá ter composição majoritária da ala mais dura sob o impacto da agressão imperialista. Souleimani, que além de herói nacional agora se tornou um mártir anti-imperialista, foi o responsável por fechar a fronteira do Irã para o contrabando de drogas, o que representou um duro golpe para a política norte-americana. Ele também uniu a combatentes de vários países contra o ISIS e o imperialismo, e quando Iraque estava à beira de uma guerra civil com os curdos, Soulemani conseguiu a trégua.

As bases norte-americanas ficaram muito mais expostas: K1, na Mesopotâmia do Iraque; al-Assad, no Eufrates; bases no nordeste da Síria para controlar os poços de petróleo; o quartel general da V Frota em Bahrein; o porta-aviões Abrão Lincoln; a base alud-Eid, que é a maior base aérea no Golfo Pérsico, em Catar; a própria Embaixada em Bagdá. Sem as bases no Iraque não poderiam reaprovisionar-se as bases em Síria, principalmente a de al-Tanaf, no centro-leste de Síria, que está sobre a estrada que conecta Damasco a Bagdá. Há ainda a exposição aos ataques por meio de aviões não tripulados ou suicidas, à guerra cibernética e a um eventual acordo com a Coreia do Norte, o programa nuclear pelo petróleo.

Ao Irã, se unem o envio de mais tropas ao Oriente Médio e às provocações cada vez mais agressivas feitas pela OTAN, na Polônia e nos países Bálticos, contra a Rússia, ou no Mar do Sul da China, assim como a “guerra comercial” que tem se generalizado a tal ponto em que a fronteira com a guerra aberta está ficando cada vez menos distante.

A crise com o Irã representa apenas a ponta do iceberg das contradições do imperialismo com a Rússia e a China, na disputa pelo mercado mundial. O Irã, além de ser um membro da Organização de Cooperação de Xangai, representa o flanco sul do Cáucaso para a Rússia e um componente fundamental do Caminho da Seda chinês. Ao mesmo tempo, há a crise com a Turquia, um membro da Otan, que escalou a partir da intervenção na Líbia, apoiando o general Haftar, junto com a Rússia e com a China por trás, no assedio ao governo de Trípoli, que é apoiado pelo imperialismo. Há o problema do gás no Mar Mediterrâneo, a aproximação com a Rússia-China e muito mais combustível em ebulição; bastaria uma faísca ou um cálculo errado para botar fogo no mundo. Não por acaso, o imperialismo tem aumentado tanto a pressão sobre a América Latina, provocando um sequencia de levantes populares.

 

Alejandro Acosta é sociólogo e editor da Gazeta Revolucionária. 

 

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