Exclusivo: o organograma do “Evangelistão do Pó” — do PCC a Bolsonaro

Desde junho, os — bem informados — gringos já tiraram da Bovespa mais de R$ 24 bilhões, enquanto jogadas mantêm artificialmente as cotações, como a brutal diferenças no tamanho do giro financeiro na desova (grande) e na recompra (bem menor). O que faz o cotação que forma o índice Bovespa é o preço de compra e de venda da ação. E não o volume que muda de mãos. Fácil, assim, mascarar a desova, com a manutenção dos preços (por ora). Fora isso, o desvio da classe média da renda fixa para a variável — com auxílio das “Betina da Empiricus” no Youtube — ajuda a manter esse “recorde de pontos da Bovespa” — enquanto os gringos vão, discretamente, embora. O problema é quando a música parar de tocar… aí as sardinhas, fritas, mais uma vez terão feito a festa dos tubarões.

Da frigideira para as chamas — É interessante considerar que as organizações criminosas mais poderosas na América Latina possuem organização complexa e descentralizada setorialmente, formalmente similar a operações de guerras não convencionais. O PCC, por exemplo, possui diferentes ‘sintonias’ (setores) descentralizados na execução (dos gravatas, de comunicação, de tráfico nas bocas, de logística), mas que respondem a um comando central verticalizado. É também bastante surpreendente verificar que nesse mesmo ano, o JP Morgan se viu implicado em uma situação bastante constrangedora: um flagrante de tráfico de drogas em um navio de sua propriedade. De “apenas” 1 bilhão de dólares em cocaína: 18 toneladas. Curiosamente, com poucos dias de diferença, deu-se a interceptação de droga dentro da comitiva presidencial de Bolsonaro, quando essa passava por território espanhol.

Tais elementos encontram relevância à medida em que se considere que um Estado fragilizado, como o brasileiro neste momento, pode gerar riscos de degeneração e infiltração de atividades fora de seu escopo normativo e constitucional, inclusive incorporando o crime organizado para fazer funcionar sua própria estrutura (legal e ilegal). Abaixo, gráfico detalha as dinâmicas de ações criminógenas incorporadas a atividades do sistema financeiro. Essa atuação dinamiza-se à medida em que o Estado se faça fragilizado em sua ação fiscalizadora. No cenário atual de crise institucional no país, e de vários indícios de fortalecimento e unificação de setores do crime organizado no Brasil, principalmente PCC e Comando Vermelho, parece ser mais que necessário que todos tenham entendimento desse processo.

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O risco é calculado: Política, negócios e crime organizado estão, mais do que nunca, de mãos dadas. Sempre na surdina.

Parte 1 (de 2)

Por Luiz Ferreira Jr.

Ao se tratar da questão de um modelo soberano da gestão da riqueza nacional, não se pode evitar de pensar o comportamento e a influência de instituições financeiras globais e sua incidência no atual cenário de submissão do Estado brasileiro frente aos interesses de nações de primeiro mundo.

O Brasil já testemunhou, no passado, atividades de guerra econômica contra conglomerados nacionais, como foi o caso dos ataques sofridos pelo Barão de Mauá, mas também é bastante conhecida a influência estrangeira na construção do cenário bélico contra a soberania paraguaia, nos tempos de Solano López (Guerra da Tríplice Aliança), como também a guerra deflagrada através de interesses de companhias externas, entre paraguaios e bolivianos: a Guerra do Chaco, no início dos anos de 1930, entre inúmeros outros casos.

O mais recente caso, em que há indícios de guerra institucional, de comunicação e desinformação e em que muitos identificam como resultante da mesma, com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e a prisão de Luís Inácio Lula da Silva através da operação Lava Jato, seria mais outro exemplo em que interesses e atores financeiros internacionais agem de forma direta e indireta em nossa região.

No entanto, recentemente JPMorgan Chase & Co. foi condenado nos Estados Unidos por enquadramento em artigos da Lei Rico, legislação feita no passado para desmantelar máfias e crimes relacionados a organizações criminosas. No caso dessa condenação, foi comprovado segundo a opinião judicial que três executivos operaram compra falsa de ouro e prata para gerar fraudes no mercado. Como decorrência disso, segundo alguns críticos, é que se deu, entre outros efeitos, a crise financeira dos anos de 2008. Em maio de 2008, essa instituição comprou Bear Stearns com apoio de recursos governamentais. A partir de então, segundo se confirmou, muitos delitos de efeito contínuo (continuidade delitiva) foram identificados.

O que se relata nos círculos de especialistas estadunidenses críticos é que grupos de banqueiros têm sido beneficiados nos últimos meses por resgates financeiros diários, mais que o padrão identificado nos anos de 1929, 1987 e 2008 (anos de grandes crashes financeiros em Wall St. e no mundo). Os valores de liquidez naqueles anos caíram para valores abaixo do dólar. Hoje, o caso de JPMorgan mas também outros casos e diversos mecanismos negociais têm sido denunciados pela crítica alternativa como de maior gravidade que os que ocorreram nas crises anteriores.

Muitos que criticam a falta de regulamentação e fiscalização do sistema financeiro no período que deflagrou a crise de 2008, nos Estados Unidos, falam da ocorrência de manipulação de preços e de registros financeiros. Essa, aliás, seria uma marca presente no caso da atual condenação da JP Morgan.

Por outro lado, o mercado monetário, sobretudo nos Estados Unidos, como também o mercado financeiro global tem sido criticado por abarcar acordos de recompra com falta de recursos disponíveis de garantia dos contratos. Segundo se aponta, havia e continua ocorrendo uma crise de liquidez em um volume alto de contratos financeiros, e o governo estadunidense segue imprimindo dólares, permitindo que os efeitos desse problema não sejam percebidos de forma catastrófica. Por isso, pânico e muita desconfiança seguem ocorrendo no mercado financeiro e de fundos de mercados monetários. Esses sintomas de insegurança e medo são os mesmos que se verificaram no ano de 1929, e que levou no passado, como atualmente, a que muita gente viesse a retirar ou refrear seus investimentos.

Finanças, crise econômica e a sua vida 
A crise econômica financeira de 2008, tendo passado algum tempo, revelou diversas “irregularidades” contábeis de grandes organizações financeiras globais e assistiu posteriormente amplo subsídio governamental a essas mesmas entidades privadas. Mas se viu também, em consequência da mesma: a redução dos juros — reais ou até mesmo nominais — nos países de primeiro mundo a níveis de 0% ou negativos, como também a expedição de cada vez maior quantidade de dólares em circulação. No meio do caminho também, a economia da Grécia e da Espanha derreteram. No entanto, a reserva federal estadunidense garante seguir colocando ainda mais dólares em circulação até outubro deste ano.

O governo estadunidense injetou (e injetará) uma certa quantidade de dinheiro — sem lastro — e, por isso, os valores de financiamento subiram em diversos países em que essas entidades conseguiram gerar um número enorme de contratos de financiamento, com destaque para o setor imobiliário (não é que isso ocorreu somente em 2008, não. Segue ocorrendo). Mas os governos, sobretudo no caso de Inglaterra, têm seguido resgatando empresas do setor, enquanto Estados Unidos e outros países europeus seguem mantendo essa lógica.

O Brexit, bem como diversas revoltas populares no mundo, tem relação imediata com o aumento do endividamento das pessoas e a dificuldade de manter a vida dentro de um quadro em que o custo das dívidas domésticas, e de autônomos, aumenta, enquanto empregos (muitos que podem têm feito dupla ou tripla jornada, inclusive no Brasil) e salários não aumentam.

No Brasil, meios de comunicação e partidos desinformam, desviam o foco e não denunciam pra valer (ser nacionalista para não ser enganado)
A desculpa de muitos países ocidentais têm se concentrado no ascenso de países como China e na demonização desses em discursos radicalizados que acabam difundidos pelos meios de comunicação em sua maioria. Mas a verdade é que a ameaça de quebras, que pode impactar o frágil equilíbrio da economia mundial, tem relação direta com essa agenda praticada pelo sistema financeiro nos últimos anos.

Uma dessas últimas ações, que fragilizam o cenário internacional, é a que se verifica na situação Argentina, que, tal como o Brasil, por ser um país dependente na divisão internacional do trabalho e na divisão da distribuição das divisas internacionais, acabou se financiando de forma inigualável no governo de Maurício Macri. Ele que, desde seu ingresso a Presidência da Nação Argentina até poucos meses, era  saudado pela imprensa nacional, e apontado por Bolsonaro como o gestor de um modelo ideal a ser observado pelo Brasil. Aliás modelo que promete seguir fazendo escola pela direita , mas também pela esquerda. Portanto, fica claro que Bolsonaro usa um discurso de confusão, mas de nacionalista ele não tem nada. 

Independente da confusão e desinformação instaurada no país, pela esquerda e pela direita naturalmente, já se pode ver para onde isso aponta: na Argentina está ocorrendo crise monetária interna (de descontrole cambiário), falência orçamentária (para pagar contas depende de repasses do FMI) e tem metade de sua população em condições de pobreza e risco alimentar. Além disso, uma perda da autoridade do Presidente que não consegue impor suas decisões dentro de certos setores do Estado. Vários países da região já entenderam isso.

Uma crise de liquidez e crise financeira, que atinja grande parte dos países do mundo, é temida neste momento. As medidas tomadas parecem mais enxugar gelo que nada, ou algo pior… Os investidores (pessoas e países) mais bem informados têm colocado seus recursos em compra de ouro e outros metais, e não mais investido em pacotes especulativos. No Brasil, tampouco em fundos de renda fixa, já que os juros também seguem em redução e inviabilizam ganhos nesses investimentos de maior garantia de retorno.

No meio disso, vários meios tradicionais e veículos como youtube tem limitado o alcance de informações como as presentes. Sobretudo porque os setores de classe média em todo o mundo e os países dependentes, se não reagem, são importantes para que especuladores financeiros sigam equilibrando-se nesse cenário de risco.

O Youtube, por exemplo, deve propor novas regras de verificação. Mas as insígnias de verificação, inclusive de pessoas com mais de 1 milhão de inscritos, segundo informaram seus dirigentes, podem ser retiradas. Ademais, foi declarado, recentemente, que seus algoritmos devem mudar novamente. O discurso politicamente correto é para apontar favoravelmente conteúdos independentes e vinculados a seus princípios e valores. Essa postura de “controle de conteúdos”, no Brasil — segundo mercado no mundo do Youtube (do Google) –, tem encontrado um aprofundamento ainda maior, uma vez que o país é fundamental para manter as condições de transferência de riqueza para essas empresas credoras internacionais, ainda que nossa população empobreça mais, ainda que nossas empresas quebrem, ainda que nossas empresas estatais sejam transferidas para salvar empresas estrangeiras (muitas delas públicas). Ou seja, aqui também há um discurso maquiado, como no caso do Brexit, e o que se quer com as privatizações é garantir interesses dos de fora. Nesse cenário, os países de nossa região têm muita relevância, veja por exemplo que o FMI tem 40% de seus recursos vinculados à dívida Argentina. Dessa forma, se esse país quebrar e não puder pagar, pode ser um dos fatores de encadeamento de uma crise global sem precedentes.

Em desenvolvimento completamente diverso a essa marcada desconfiança, há no Brasil, como nos países do norte e também em outros países da América Latina, um forte estímulo ao investimento de setores de classe média para incorporar suas poupanças domésticas, estimulando-os a investir em pacotes de negócios especulativos. Ou seja, na bolsa de valores. Um número bastante significativo de sites de conteúdo para investimentos acaba sendo encontrado na internet com conselhos e com valores de vida que preparam a classe média para um cenário global em que o emprego fixo remunerado seria (deve ser!!) coisa do passado. Quem pode esquecer a “Betina da Empiricus”? A moral proposta nesses veículos é de que ser investidor e empreendedor é um valor de vida. Recentemente notou-se, inclusive, um avanço dessa tendência discursiva em bancos públicos, como o Banco do Brasil, através de uma política de comunicação que justifica a redução de juros e menor atratividade de investimentos em fundos de renda fixa, estimulando a troca de perfil para investimentos de pacotes de risco e apresentando uma visão otimista da política econômica do governo. Ora, desde junho, os — bem informados — gringos já tiraram da Bovespa mais de R$ 24 bilhões, enquanto jogadas mantêm artificialmente as cotações, como a brutal diferenças no tamanho do giro financeiro na desova (grande) e na recompra (bem menor). O que faz o cotação que forma o índice Bovespa é o preço de compra e de venda da ação. E não o volume que muda de mãos. Fácil, assim, mascarar a desova, com a manutenção dos preços (por ora). Fora isso, o desvio da classe média da renda fixa para a variável ajuda a manter esse “recorde de pontos da Bovespa” — enquanto os gringos vão, discretamente, embora. O problema é quando a música parar de tocar: as sardinhas, mais uma vez, terão feito a festa dos tubarões.

O que está por trás disso?
Essa tendência ocorre porque o JP Morgan, como outras instituições financeiras estrangeiras que atuam com grande volume de negócios nos Estados Unidos e em outros países do mundo, busca beneficiar-se da atuação combinada de recursos dos países em que se fazem presente. E, ao mesmo tempo, busca também gerar negócios através de vínculos governamentais ou empresariais locais. No entanto, o importante a ressaltar é que essa situação aponta, no caso dos Estados Unidos, para certa contradição entre interesses das elites nacionais que produzem dentro dos Estados Unidos (e também setores de classe média desempregada, ou descapitalizada) e instituições bancárias. O resultado dessas contradições se expressa no conflito entre grupos apoiadores de Trump e na sua política interna e externa por um lado e, por outro lado, confrontando o presidente estadunidense, outros grupos associados a bandeiras políticas globais com uma visão política mais focada em valores (sexualidade e proteção do meio ambiente, por exemplo) que em questões de ordem econômica. O que lhes permite defender bandeiras que são sutilmente combinadas a políticas econômicas neoliberais agressivas. Falam bonito… mas são neoliberais. O tal “neoliberalismo progressista”.

Esta situação de tensão demonstra que os modelos de operação financeira baseados em amplitude indefinida de valores (combinados com modelos matemáticos que cada vez mais se afastam dos bens e produção concreta de riqueza, ou seja, especulação financeira) buscam manter seu patamar de acumulação progressiva de ganho, já que as instituições bancárias dependem disso para manter sua hegemonia econômica e política pelo mundo. É nesse cenário que a terceira mais importante instituição financeira, acima apontada (JPMorgan Chase & Co.), é condenada em fraude organizada de crime continuado, crime previsto na denominada Lei Rico, nos EUA.

Essa técnica, que agora é a base de uma condenação de fraude, confunde-se muito com a atividade bancária dos derivativos, que cada vez mais goza de desconfiança pública. Tanto que levou multidões às ruas de Wall Street, no que se denominou Occupy Wall Street, no ano de 2011. Aliás, os contratos de derivativos foram inventados tecnicamente por essa mesma instituição financeira, agora condenada. Esse mesmo modelo de atuação do capital financeiro, baseado em papéis que combinam diferentes investimentos, é a base do que tanto direita como esquerda institucionalista no Brasil defendem como objeto legítimo para gerar uma “gestão orçamentária responsável”,  que na prática engessa grande parte de tudo que o governo brasileiro arrecada; e garante pagamentos permanentes para instituições financeiras, por meio de uma política de limitação do Teto por 20 anos, gestada por Michel Temer, em sua “Ponte para o Futuro”. Esses mesmos políticos defendem também a independência total do Banco Central brasileiro. Com isso, uma roda de especulação pode ser mantida ad infinitum. Quer dizer, enquanto convir à Finança transnacional. Ela que escolhe — depois de ter saído do jogo — quando dar a baixa contábil nos ativos podres.

Como se explicou acima, o capitalismo financeiro está apontando como tendência combinada, pelo lobby financeiro e políticas dos Estados nacionais, para o uso de juros negativos aplicados ao mercado interno dos países. Política essa imposta a diversos bancos centrais do mundo como forma de obrigar que o mercado se coloque em condições de pós mercado. Ou seja, que os mercados nacionais sejam baseados na retirada de riquezas através de empréstimos de médio e longo prazo, sem poder buscar apoio senão no financiamento baseado em papéis dominados por negócios e transações dessas instituições financeiras hegemônicas. Enquanto isso, os papéis (contratos financeiros) nacionais acabam sendo instrumento quase que exclusivo de uso dessas grandes instituições internacionais para garantir seu retorno de pagamento (extração de mais-valia em condições de dependência internacional). Por isso essas instituições financeiras utilizam tal estrutura econômica, induzida internacionalmente por sua política. Tudo isso para obrigar os países a cobri-los. E fazer com que toda dinâmica da economia global seja retroalimentada na especulação financeira, que está nas mãos dessas mesmas grandes instituições financeiras.

Você obrigado a pagar pelos outros (resultado de nossa falta de soberania)
Para manter essa roda, recentemente países de terceiro mundo, como Brasil e Argentina, foram colocados em condições de maior subalternidade por meio da PEC do Teto e reformas de natureza securizante (fim ou terceirização da aposentadoria pública), como também pela renovação de dívidas externas e aumento de mecanismos de especulação financeira combinada com a transferência  de riqueza direta desnacionalizando empresas em favor de um esquema transnacional e de governos centrais (privatizações). Essas bandeiras liberais acabam sendo veiculadas por meio de discursos adaptados a diferentes nichos sociais progressistas (e correspondentes nichos discursivos por ongs internacionais que atuam globalmente) e que nos últimos anos têm intensificado sua ação dentro do Brasil. Da mesma maneira que atuam ongs com valores conservadores combinadas a um modelo econômico ultraliberal. Tais organizações, em conjunto, tiveram um papel importante na construção de um cenário de discurso social que levou à queda de Dilma Rousseff, gerando apoio permanente à operação Lava Jato, como também à vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Ou seja, no âmbito do modelo econômico, no Brasil esquerda e direita não divergem.

Essas ongs, por terem a mesma proposta de política econômica ultraliberal, uma vez que são financiadas por grandes grupos econômicos, têm facilidade em deixar um eixo de direita e aparentar uma reconversão para a esquerda (o contrário também é possível), como se deu nos casos recentes no Brasil do MBL, ou de youtubers como Felipe Neto, antes algoz da comunidade LGBT e, recentemente, convertido à defesa dos mesmos em nome da “democracia”. Esse fator híbrido e fluido dessas organizações é similar ao comportamento de recombinação de investimentos do mercado financeiro e suas organizações. E, por isso também, acabam favorecendo a atividades de agenda midiática que resulta na construção combinada de ação das organizações de esquerda e da direita em um espectro total de controle ou domínio da tendência da opinião de setores sociais. Nesse caso, esse tipo de combinação pode gerar processos de condução performática do comportamento de grupos de influência garantindo em diferentes nichos sociais uma única alternativa para a economia, o que se denomina controle de espectro total, em trabalhos sobre guerra de comunicação ou desinformação. Esses atores institucionais e midiáticos, atuando de forma combinada e simulando conflitos que ocultam o estabelecimento de objetivos comuns, combinam seus discursos, que abrangem horizontalmente uma camada significativa da atuação de veículos midiáticos e políticos estrangeiros ou operados pelos mesmos (muitos consideram que a operação Lava Jato se tratou de um mecanismo deste tipo). Esses podem, de forma vertical, produzir efeitos de ataque a setores políticos e econômicos de um país, constituindo-se no todo ao que corresponde como conceito o que se denomina guerra híbrida, guerra econômica, guerra proxy, guerra por delegação, guerra assimétrica, guerra de quarta geração, guerra em rede, ou conflito não linear. 

É interessante considerar que as organizações criminosas mais poderosas na América Latina possuem organização complexa e descentralizada setorialmente, formalmente similar a essas operações de guerras não convencionais. O PCC, por exemplo, possui diferentes ‘sintonias’ (setores) descentralizados na execução (dos gravatas, de comunicação, de tráfico nas bocas, de logística), mas que respondem a um comando central verticalizado. É também bastante surpreendente verificar que nesse mesmo ano, o mesmo JP Morgan se viu implicado em uma situação bastante constrangedora, um flagrante de tráfico de drogas em um navio de sua propriedade. De “apenas” 1 bilhão de dólares em cocaína: 18 toneladas.

Relação de atividades do crime organizado com o  tráfico de drogas
O mais preocupante neste cenário é pensar que organizações do sistema financeiro possam ter vínculo com práticas de narcotráfico e atividades bélicas, o que infelizmente se evidencia em outro flagrante delito, recentemente observado. Segundo se fez conhecer amplamente em diversos jornais pelo mundo, e conforme noticiou o canal digital Exame.Abril: “Um navio de carga apreendido por autoridades norte-americanas em junho, com 18 toneladas de cocaína, era controlado pelo banco JP Morgan Chase. A embarcação estava ancorada perto do porto de Filadélfia, na Pensilvânia, Estados Unidos e foi detida pelas autoridades de alfândega. O banco não tem relação com a operação da embarcação, mas sua compra foi patrocinada por um fundo do JP Morgan Chase, o JP Morgan Asset Managment. Até o momento, o banco não se pronunciou sobre o caso. O navio estava arrendado para a suíça Mediterranean Shipping Company, uma das maiores empresas de transporte de containers, e era operado por ela. Ele navegava sob a bandeira da Libéria, país no oeste africano, entre Costa do Marfim e Serra Leoa….”. Essa embarcação teria saído de um porto do Chile e teve sua apreensão efetivada em território estadunidense. Curiosamente, com poucos dias de diferença, deu-se a interceptação de droga dentro da comitiva presidencial de Bolsonaro, quando esta passava por território espanhol.

Estas estranhas imbricações, ainda que não correspondam a nenhum enlace comprovado definitivamente sobre o envolvimento direto de instituições bancárias e governamentais em processos criminosos de narcotráfico e lavagem de dinheiro, nos faz recordar que empresas de renome internacional do sistema financeiro e políticas de Estado possuem atividades dessa natureza registradas historicamente, a exemplo do HSBC em casos que fora acusado de relação com atividades ilícitas e relação com narco negócios, como também no caso da conhecida política do Império Inglês de submetimento imperial da China, através das Guerras do Ópio (trataremos com detalhes essa questão no próximo artigo). Tais elementos encontram relevância à medida em que se considere que um Estado fragilizado, como o brasileiro neste momento, pode gerar riscos de degeneração e infiltração de atividades fora de seu escopo normativo e constitucional, inclusive incorporando o crime organizado para fazer funcionar sua própria estrutura (legal e ilegal), é o que salienta Gilman neste artigo.

Para finalizar, apresentamos como forma de explicitação, a seguir, um gráfico que, de forma bastante resumida, detalha dinâmicas de ações criminógenas incorporadas a atividades do sistema financeiro e como essas podem eventualmente e estruturalmente possuir complementaridades lógicas. Essa atuação é mais ou menos dinâmica, à medida que agentes governamentais e de instituições legais abram espaço para atuação de dinâmicas não legais, ou ilegais. E também, dinamizam-se à medida em que o Estado se faça fragilizado em sua ação fiscalizadora. No cenário atual de crise institucional no país, e de vários indícios de fortalecimento e unificação de setores do crime organizado no Brasil, principalmente PCC e Comando Vermelho, parece ser mais que necessário que todos tenham entendimento deste processo. Veja o gráfico a seguir:

No próximo artigo, apresentaremos um ensaio sobre o narcotráfico e sua relação complementar (inclusive oficialmente em alguns casos) com as atividades estatais. Apresentaremos também casos históricos em que ele foi parte do manejo de ações de guerra econômica.

Luiz Ferreira Júnior é advogado, Mestre em Direitos Humanos – Universidade de San Martín (Argentina) e Mestre em Comunicação Midiática – UNESP.

 

 

 

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