Aberto o alistamento de nacionalistas – A chave do recomeço
Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso
A vitória de Bolsonaro é a vitória da Guerra Híbrida imposta ao Brasil e aos brasileiros. Desde o final da Guerra Fria os colapsos das democracias ocorrem não mais com as figuras dos soldados e generais, mas através de governos eleitos. O caso do Brasil é ainda mais emblemático: ao prenderem Lula sem crime, os piratas do petróleo e a banca internacional escolheram não apenas o próprio candidato (que acabou como vencedor), mas também o adversário que traiu Lula e inicia o processo de destruição do maior partido do Brasil, o PT.
O Brasil é a oitava maior economia do planeta, mas tem um povo – na sua maioria esmagadora – alienado e totalmente ignorante politicamente. A via eleitoral para legitimar o colapso da democracia é um golpe duro de ser combatido, pois é duro também de ser identificado. No Brasil o desafio é ainda maior, pois não há nenhuma força política com o sentido de nacionalismo consolidado, com capacidade de aglutinar uma reação.
Uma coisa é a radicalização de uma intervenção militar, suspensão de direitos políticos e opressão de toda ordem, como vimos dos anos sessenta aos anos oitenta na América Latina. Outra coisa, mais danosa ainda, é tudo isso acontecer com a alteração das leis e a normalização do arbítrio, como no caso do brasileiro. Para o nosso lamento, foi com Zé Cardozo e Dilma Rousseff que foram criadas as leis que reduzem a soberania popular. Bolsonaro pouco vai precisar fazer para praticar os absurdos que anuncia.
O surgimento de ditadores legitimados nas urnas não é uma novidade. Este fenômeno é chamado de autocracia. Com um forte aparato da imprensa de mercado, estes governos autocratas, eleitos democraticamente, mantêm as eleições, dão ares de que “as instituições estão funcionando normalmente”, mas são verdadeiros inimigos da soberania popular.
Veremos ainda mais do que no Regime Temer o uso da desculpa de que “os esforços são necessários para que possam melhorar” isto ou aquilo. Este é um dos recursos comumente usados para que o povo sequer dê conta do quão danosa é a legitimação do arbítrio através das urnas. Precisamos começar do zero. Resgatar o amor à política. Somente assim é que iremos superar esta fase tão decadente, iniciada em 2013.
De tempos em tempos surgem os demagogos extremistas em todas as sociedades, inclusive nas democracias consolidadas. Impedir a normalização do discurso de ódio seria a primeira luta a ser travada para evitar, por exemplo, o surgimento de um Bolsonaro. Falhamos nisso. No lugar da politização das pessoas, Bolsonaro era combatido por “bandeiras identitárias”. Reconhecer este erro é parte importante deste recomeço.
O nosso caminho agora, com a vitória de Bolsonaro, é lutar por uma democracia nacionalista. Resgatar as instituições democráticas é uma luta que devemos travar desde agora. Limpar a esquerda, entregando à direita as figuras infiltradas para que elas lutem por aquilo que estão vocacionadas a fazer.
Devemos reconhecer que para a reconstrução nacional temos que acabar com a polarização da sociedade. É preciso trabalhar os valores que integrem a maioria dos setores. O resgate de valores humanistas, humanitários, empáticos e solidários são a base da reconquista do povo. Antes de pensarmos em um nome, devemos debater política e a importância da participação popular na construção do Brasil que sonhamos.
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