Prestidigitação: A Arte de Iludir

Por Niobe Cunha, para o Duplo Expresso

“Prestidigitação é o conjunto de técnicas utilizadas pelos ilusionistas para manipular objetos como cartas e moedas de forma invisível”

Mágicos sempre me fascinaram: nada nessa mão, tampouco na outra e……voilá! Voa a pomba branca pelo salão saída sabe-se lá de onde. Intrigante ver coisas aparecerem e desaparecerem diante dos nossos olhos sem uma explicação lógica. Nos dá a ligeira sensação, pueril, que ao conjugar o abracadabra, tudo se resolve (desculpem o clichê), em um passe de mágica. Aliás o que é lógica mesmo? Bem, isso é outra conversa.

Adorava nas festas infantis, nos circos, nas praças aquela magia toda, em que o impossível é possível com a ligeireza das mãos treinadas em materializar moedas saídas da orelha, flores saídas de algum jardim do além, coisas que não são e em um zááás acabam sendo. Descobrir que é tudo uma ilusão é decepcionante, como descobrir a farsa do Papai Noel ou do Coelhinho da Páscoa. Sempre fica aquela sensação de estranhamento: “é verdade ou mentira?”. Meu pai foi Papai Noel da família quando eu era pequena e relata que não há beleza e emoção maior no mundo do que nosso olhar de fascínio, dúvida e desconfiança – é de verdade ou de mentira?

Passado o encantamento gostoso da infância agora nos deparamos com os truques baratos e rasteiros: “veja aqui na minha mão uma corte suprema cheia de falas e salamaleques enquanto na outra…surge do nada um processo estapafúrdio, sem fundamento jurídico, todo cercado de termos bonitos, inteligíveis e pomposos. Os mágicos da minha infância serravam a bela assistente ao meio e ficávamos apreensivos até que depois de muito suspense elas ressurgiam de volta ao palco gloriosas, envoltas em paetês e…..voilá! Os mequetrefes de hoje fazem sumir a constituição e a gente fica tentando desvendar o truque enquanto nossa cidadania e indignação flutuam no ar, como um truque de levitação, em suspenso. Nesse espetáculo grotesco e sem o charme de um Houdini, desaparece dinheiro, desaparecem provas, desaparecem direitos, desaparecem líderes, desaparece a esperança e a gente fica meio anestesiado esperando que alguma coisa boa surja da cartola : zigbam, zigbam, ratatium!

Os Mandrakes do século XXI traíram o mito original e nos hipnotizam como uma plateia aparvalhada ao invés de realmente nos encantar. Harry Potter e sua varinha não são mais que uma versão romanceada e bela dos truqueiros e embusteiros, batedores de carteira daqueles bem rampeiros, que também são conhecidos como prestidigitadores, tamanha habilidade pra fazer desaparecer rapidamente nossas crenças e nossas vozes.

Enquanto festejamos a Gleisi Hoffmann inocentada em um processo farsesco e absurdo, passarinhos assoviam nos ouvidos para olharmos para os lados: o que está acontecendo enquanto me encanto com esses lenços coloridos e atraentes saindo das mangas? O que o mestre embusteiro (e não o artista ilusionista) prepara como próxima atração? É preciso treinar o olhar. Quando novos mágicos surgem, propondo uma renovação no elenco e na forma de se trabalhar é preciso estar esperto. Falsos artistas andam propondo o “fim da corrupção” como plataforma de novos partidos. “Senhor, mas como é essa mágica?” “Não posso entregar o meu segredo”. E assim se encerra a discussão sobre plataformas políticas.

Pirlimpimpim. “Trago seu amor de volta e acabo com a corrupção em apenas uma sessão”, “Por apenas alguns votos faço aparecer o emprego perdido”, “Fique rico sem trabalhar, emagreça comendo muito chocolate, aprenda inglês dormindo, mude o país para melhor sem esforço”.

Infelizmente Papai Noel, pelo menos até onde me contaram, não existe (desculpe o spoiler), a princesa Narda e Lothar assumiram um romance e abandonaram o decadente Mandrake em Xanadu, Harry Potter, apesar de esforçado, ainda não aprendeu a desaparecer com todo o mal da terra. Quando assistimos a um show de mágica sempre me pergunto quem engana quem? O mágico treinado na arte da prestidigitação finge que coelhos saem de cartola e o público com o olhar distraído pensa que sim, coelhos brotam de cartolas. A magia é uma arte e não nossa realidade. Nossa realidade, sinto informar, é um bando de espertalhões brincando com nossa paciência e quando a gente se toca, somos nós que estamos sendo serrados ao meio. Brik-brak- ziriguidum. Na mão de quem vamos deixar a varinha mágica?

Niobe Cunha é jornalista, comentarista do Duplo Expresso às quintas-feiras e apresentadora do Programa Jogo de Damas

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