Passeata de 4/12: a ética, a política e as instrumentalizações do discurso moralista

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Passeata de 4/12: a ética, a política e as instrumentalizações do discurso moralista

Do Facebook do Professor…
https://lh6.googleusercontent.com/r-vE5kDaWhI4-1RGYFHw1w50fUwP7w8p12ly1WumuUMXEjVY-jcYe24fRj7stwtxTmsJo2wyssO9NCvzCtKSJuy0hWwLDq9EJMM-qcDA2xcY78NC29V14Nzf-ILGHez2dPOompw Renato Janine Ribeiro
Lembram que o PT cresceu e chegou à presidência graças a duas bandeiras?
1. Combate à miséria.
2. Combate à corrupção.
Tem algum sentido deixar nas mãos apenas da direita o combate à corrupção?
Tem sentido a esquerda defender corruptos?
Sei muito bem que o PT e a esquerda foram criminalizados, perseguidos, alijados. Mas isso não justifica deixar cair essa bandeira (sobre a qual, cansei de dizer, ele silenciou mais do que devia uma vez no governo).
Ou assumimos o combate à corrupção, ou ele continuará com os movimentos de direita, até extrema-direita.
Sandra Helena Souza Mas professor o que o PT fez para combater a corrupção? Por que não se fala nada sobre isso? Haveria Lava Jato em outro governo que não do PT? Falta enfatizar isso em seu post
Renato Janine Ribeiro Ele parou de falar em ética. Sumiu esse tema. Mesmo a inclusão social, a coisa mais ética do último meio século, não foi apresentada como bandeira ética.
Sandra Helena Souza Mas estamos falando não de falas mas de institucionalidades. De condições formais, de garantias institucionais que valem bem mais que discursos.
Sandra Helena Souza Governos podem falar de ética e nada fazer para efetivá-la. É só o que tem por aí. O PT avançou muito no campo institucional e ninguém diz nada sobre isso.
Sandra Helena Souza Você podia fazer a diferença aí
Sandra Helena Souza Sobre a falta de uma linguagem simbólica para dar conta disso, concordo. O partido está pagando o preço disso. Mas esquecer o republicanismo no trato das questões institucionais pra mim não dá.
Maria Concordo 100% com você, Sandra. E, Renato, você parece esquecer que, do ponto de vista da política, o falso moralismo do combate à corrupção levado a cabo ao arrepio da lei se tornou o mote da cultura do ódio, bandeira da direita. E que a judicialização da política que avança a passos céleres vem junto com a criminalização da própria política, resultando na negação da soberania popular como fundamento da legitimidade do poder. Não dá pra falar em ética no abstrato, sem levar em conta o sentido que ela assume num contexto político. Concordo com você e com a Sandra que as maiores ações éticas do PT – todas as políticas de inclusão social – não foram alardeadas como prova de sua ética. Para mim, não faltou tanto esse discurso ético quanto o discurso político sobre o Estado democrático de direito que tem na Constituição de 88 seu princípio ético fundamental, a construção de uma sociedade justa, igualitária e fraterna. Quando a política se transforma na batalha em torno do discurso da ética capitaneada pelo MLB e congêneres – aliás, os que pedem Intervenção militar vão estar na Paulista amanhã junto com os juízes e promotores que participarão da manifestação!! – eu dispenso a “ética”, caríssimo Renato. To fora!!
Renato Janine Ribeiro Não esqueço, Maria, mas tb nao esqueço que o PT de 1982 a 2002 ergueu altaneiro o estandarte do combate à corrupção como um grande tema ético.
Maria Com toda certeza, como parte do discurso das CEBs que está na sua fundação. E você acha que com esse discurso seria possível enfrentar a “falta de ética” que é parte de uma elite que ainda se acha na Casa Grande e de todas as instâncias jurídico-políticas do país – e assim implementar qualquer política de inclusão social? Lula negociaria com o Diabo se fosse preciso, para implementar essas políticas, no famoso compromisso do jogo de ganha-ganha. Dilma tentou manter o mesmo tipo de compromisso, mas sendo “ética” demais para negociar com bandidos, acabou sendo vítima de um golpe jurídico-parlamentar. Claro que ninguém defende que se deixe a corrupção correr solta, como sempre permitiu o patrimonialismo desde a carta de Caminha pro rei pedindo emprego para um parente. Mas não há de ser com a irresponsabilidade de uma Lava-Jato, passando por cima de garantias constitucionais e do direito penal – e ainda quebrando as maiores empresas brasileiras, com os 12% da força de trabalho hoje desempregada – que eu vou defender essa “cruzada ética”. Sorry, professor!
Sandra Helena Souza Creio que Dilma é, ao fim e ao cabo, a clivagem da ética com a política. A pessoa mais íntegra na política, sem alardear isso de si mesma, radicalizando a moral institucional e postando-se republicanamente, a meu ver de forma exagerada, é deposta e o brasileiro médio a vê como a mãe da corrupção. Dilma é a prova empírica contundente do acerto de Maquiavel. A moralidade da política é de outra ordem.
Maria Ufa! Até que enfim se lembra que a ética da política não se mede pela moralidade do indivíduo que exerce o poder. E nem se reduz à banalidade do senso comum de que “os fins justificam os meios”. Isaiah Berlin já havia explicado isso há tanto tempo! E Quentin Skinner não nos permite esquecer a complexidade que a análise dessa diferença exige levar em conta. Quase morri para traduzir um pequeno livro dele, Maquiavel, no qual, por trás de cada termo aparentemente banal, se encontra todo Seneca e o De Officiius do Cícero. A novidade essencial de Maquiavel é retomar toda essa reflexão clássica para pensar a relação entre ética e política a partir das relações de poder que as sustentam, não no plano do “dever ser” abstrato da filosofia, mas do seu “ser” real – força e consenso – e até do seu “parecer ser”, a dimensão da intersubjetividade em que é percebido o exercício do poder. Se seu fim é a conquista e manutenção do poder do Estado, isso não se dá num vazio social. Entre os “grandes” e o “povo”, o Príncipe deve a cada passo avaliar a quem sua ação irá beneficiar, lembrando que da base da montanha o povo vê seu cume e só lá do alto é possível ao Príncipe ver o povo. Isso é o que permite a Gramsci reler um Moderno Príncipe na obra de Maquiavel. Há aí uma teoria do Estado e da ação política – o fundamento da política como ciência e como arte. A ação até pode ter êxito em termos da conquista do poder, mas não trará ao Estado nem ao Príncipe “a honra e a glória” de que poderia (deveria?) revestir-se. No fundo, trata-se da mesma problemática que Weber irá retomar, sob a ótica da “ética da convicção” e a “ética da responsabilidade”. E se alguém não souber conciliar ambas, ou, em caso extremo, abandonar sua convicção pela consciência de sua responsabilidade, então é melhor que vá cultivar seu jardim… Dá pra entender a “crítica de esquerda” `à “conciliação” de Lula? Ou a crítica abstrata em relação à sua “ética”?
Eliana Beatriz Essa “bandeira altaneira” era dos psolistas dentro do PT que, no fundo, tem a mesma origem de classe e os mesmos co conceitos da velha UDN! A “nossa” corrupção é pior do que a que existe nos outros países capitalistas e democráticos? Me parece que não. No fundo, essa fixação na corrupção como se fosse o nosso maior problema não passa de outra faceta do velho complexo de vira-lata. Nenhum país destrói a própria economia e o estado democrático de direito para combater a corrupção. A situação atual em que nos encontramos demonstra o quão necessário, juntamente com a democratização da informação, é uma lei que responsabilize o judiciário, a polícia e o ministério público pelo abuso de autoridade.
Romulus E Maya Vermelha Com muita humildade, Professor Renato Janine Ribeiro, aponto que todos devemos ter cuidado com postar resumos de grandes reflexões para consumo “fast-food” nas redes sociais. Do tamanho de um post no Facebook ou, mais sumário ainda, um tuíte.
Vivo bem essa dificuldade ao tentar resumir meus artigos no meu blog e no GGN em tuites e posts de Face…
Digo isso porque o que tenho visto deste seu post aqui circulando na boca de quem – à esquerda e à direita – quer fustigar a esquerda em geral e, em particular, a esquerda com viabilidade em eleição majoritária, não é brincadeira.
<<A ação política de curtíssimo prazo equivale mais ou menos a passar de “segundo turno” em “segundo turno”. As nuvens se mexem no céu e, de maneira sumária, temos de fazer escolhas diante da nova composição. Ao fim e ao cabo, entre a menos ruim entre as duas vias com maior possibilidade de se concretizarem>>
É disso que se trata aqui.
Com humildade, mas retribuindo seu gesto de colocar a cara a tapa com uma posição “controversa” nas redes sociais, posto aqui um artigo desta semana exatamente sobre esse tema, com a introdução preciosa da sua amiga Maria:
<<Querem saber, minuto a minuto, como foi ontem o espetacular confronto do Congresso com os iluminados procuradores da Lava Jato? Romulus faz o inventário completo do cenário e dos atores e ainda acrescenta, além da narrativa paralela das “figurinhas” que saem de sua imaginação flamejante, de seu humor e ironia, os comentários de alguns de seus leitores de excepcional competência.
É um trabalho insano e de urgente necessidade. Porque se trata de desmontar o discurso do moralismo rasteiro que a direita e a mídia transformaram em senso comum – envenenando com um ódio irracional a “opinião pública” – e confrontá-lo com a realidade do jogo político bruto que se esconde por trás do “combate à corrupção”. Diante do resultado da votação do Congresso, muitos – até uma tia de Romulus! – perguntam: ‘Você quer que eu acredite que os bonzinhos são esses corruptos?!”. Não. Não é disso que se trata. O que é necessário é mostrar a diferença entre o poder de quem o exerce como direito derivado da soberania popular, segundo a Constituição, e dos que pretendem impô-lo graças a um concurso público que os torna servidores do Estado e não usurpadores de funções que não lhes compete exercer.
O Congresso está cheio de canalhas? Seguramente! Mas se os procuradores e os demais membros do Judiciário quiserem ocupar também o Legislativo e o Executivo – ao invés de manter sob chantagem, com a faca no pescoço, os dois outros poderes da República – que se filiem a um partido, concorram a eleições e então, ungidos pelo poder do voto popular, poderão entregar-se de corpo e alma à tarefa de “moralizar” o país. Até lá é preciso continuar a dizer NÃO à sua mal disfarçada ditadura, a serviço do capital financeiro, de interesses internacionais e de uma vergonhosa elite da Casa Grande que quer reduzir o país à condição de colônia e restaurar a Senzala onde voltar a confinar o povo brasileiro>>
Recomendo especialmente a passagem a que Maria se refere acima, da conversa com a tia.
Creio que resume bem o que falava acima de uma sucessão de “segundos turnos” na ação política de curtíssimo prazo.
Bem como a sequência, do debate com os psolistas sobre a anistia ao caixa 2.
Maria e Sandra Helena Souza, obrigado por me mostrarem esta thread. Isso aqui merece publicação no blog.
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Publicado em 30/11:
(dia seguinte à derrota dos “Curitiba boys” na Câmara)
Chega a tia (a mais querida do mundo!)
Confusa, a minha tia querida vem falar comigo no Whatsapp.
Ela foi, genuinamente, cheia de orgulho e espírito cívico, às marchas “pelo impeachment de Dilma e contra a corrupção” na orla do Rio em 2015 e 2016.
(minha mãe e eu somos as únicas ovelhas ~ vermelhas ~ da família)
A propósito da dura realidade de ausência de “mocinhos” e “bandidos” na política – e também na vida! Bom dia, Cinderelas! – repito aqui mensagem enviada no dia 26/11 a um grupo de Whatsapp de advogados engajados na luta pela democracia.
Dentre os membros há diversos simpatizantes do PSOL. Enviaram várias mensagens de teor moralista sobre o tema da anistia ao caixa 2 ao longo de todo aquele dia.
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(ii) No Facebook:
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(iii) No Twitter:
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(iv) E também no GGN, onde os posts são republicados:
https://lh5.googleusercontent.com/YHvaoddoegv9hVMP9ntNrtER6BwiamTqYUvBA6fRMAkOwiSD0kq-3SrfOIIEVWRzPfs-H8FJ6NWFqesjopT4-XaxupwOQcB-vlaYQqsyP6_0B7zQ8JIC3FsvWTsCj15DXoNj3Uc
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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