Eleição na França: a mídia (ainda) no Séc. XX engajada na batalha de narrativas

Publicado 29/4/17 – 17:02
Atualizado 1/5/17 – 13:30
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Eleição na França: a mídia (ainda) no Séc. XX engajada na batalha de narrativas

(Bônus da trilogia)

Por Romulus

Depois da visita surpresa de Marine Le Pen à fábrica da Whirlpool, colocando Macron na defensiva na campanha de segundo turno, a grande mídia tenta mitigar o estrago.

As imagens – valem mais que mil palavras? – são claras:

– Marine Le Pen recebida pelos quasi-desempregados como uma… Joana D’Arc.

E Macron, envolto por seguranças e jornalistas, como… hmmm…

– … Maria Antonieta?

Ou seria Marechal Pétain, aquele que assinou e administrou a ~capitulação~ à Alemanha?


*



[Repeteco:

?]

De qualquer forma, contra as “mil palavras” – em pixeis (e megabytes e… tweets!) a (velha) mídia saiu-se com a seguinte ~narrativa~ (tampão):

– Diante dos trabalhadores que veem seus empregos desaparecerem, Marine Le Pen teria feito ~demagogia~ – ao dizer que com ela a fábrica “não fecha”; enquanto que…


– Macron teria feito ~pedagogia~ – ao explicar que “não se luta contra a globalização” (qual “globalização”, Macron?) e acenar com cursos técnicos de requalificação profissional.


Algo como um “Pronatec”, visando ao setor de ~serviços~ (menos “nobres”): cabeleireira, manicure, telemarketing, garçom, etc.).

Este tipo de “pedagogia” aqui:

*

A mídia – atônita – insiste em ficar no Séc. XX

Repeteco:

(http://www.romulusbr.com/2017/04/alerta-na-franca-e-brasil-quando-midia_19.html)

Pois então…

Marine Le Pen no segundo turno, com mais de 40% de intenções de voto, e a mídia ainda não se deu conta de que o século XX acabou.

Essa operação “contenção de danos” da mídia, com a (nada original) fórmula “pedagogia vs. demagogia” é sintomática do descolamento da mídia da nova realidade no mercado de opinião, pós-redes (“anti?”) sociais.

– “cara a cara tenso mas bastante bem sucedido“?

Oi?!

Bem… “assim é se lhe parece”, né, (velha) mídia?

– “Demagogia vs. pedagogia

*

Vejamos o significado dos radicais:

Pois é isso mesmo:

(1) Macron

O gêniozinho atrevido, visa a conduzir…

– … “crianças”, ignaras…

Numa relação claramente ~vertical~ :

– o “Enarca“, vindo das escolas de (e da!) elite, com todo o seu saber técnico, diante dos…

– … “broncos”;

(2) Le Pen

“Nem sempre por métodos éticos”, diz o texto aí em cima, fala a um…

– … povo.

Numa relação ~horizontal~ , ela não veio para “explicar” o “destino já traçado” daquelas pessoas…

Ela veio para “sentir (também) a sua dor e a sua ira”.

E, é lógico, ~representa-la~ …

– … e conduzi-la!

*

Rumo a…

– … 2022??

*

Mitos e simbologia: Descartes e… a “donzela de Orleans”?

Seguindo ainda a definição dos radicais aí de cima, os dois, “demagogo” e “pedagogo”, visam, ao fim e ao cabo, a “conduzir”.

Contudo, há uma diferença entre:

– A condução conquistada de acordo com as “regras” (da sociedade), sob o signo da razão (?) ~e~ do realismo; e

– A condução conquistada pela “unção” de um primus inter pares, um primeiro entre iguais, sob o império da emoção… ~contra~ a (própria) realidade.

Joana D’Arc, camponesa e analfabeta, surgiu como liderança diante de uma realidade (cerco militar) ~desesperadora~ , não é mesmo?

*


(Muito) mal comparando, tem algo nesse sentido na disputa Macron vs. Le Pen…

Entre, de um lado…

“Descartes”: aquele que diz “é inexorável”, “se não pode vence-los, junte-se a eles”…

Com a sensibilidade de um teorema matemático (!)…

e, do outro…

“Joana D’Arc”: aquela que, diante da tragédia certa, acena com “o milagre”… e nada menos que a “redenção da nacionalidade”, humilhada e ofendida.

Aliás, quem mesmo é o ícone do Front National, hein?

Jean-Marie Le Pen pede socorro a (Santa!) Joana D’Arc:

*

Não por acaso…

No fim daquele mesmo dia, do face a face na fábrica condenada, Macron ataca Marine exatamente nessa dimensão simbólica:

“Do povo?? Ela é uma herdeira… nasceu num château! É o pior do ~Antigo Regime~”

*


Ataque à dimensão simbólica do primus inter pares


Não pude deixar de relacionar essa batalha de narrativas a um outro “mito”, que a (velha) mídia (respectiva) não cansa de apontar como não o “primeiro”, mas o “~último~ entre iguais”…

“Um tal” que “se vendeu por um apartamento numa praia de segunda e um sítio (com pedalinho)”.


*


Leitura relacionada:


http://www.romulusbr.com/2017/01/democracia-boa-e-que-nos-da-razao-redes_25.html



(http://www.romulusbr.com/2017/01/democracia-boa-e-que-nos-da-razao-redes_25.html)


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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

– Pois você não está só! Clique na imagem e chore as suas mágoas:

(http://www.romulusbr.com/2016/12/que-poa-e-essa-vol-2-metalinguagem.html)

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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