Eleição na França: a mídia (ainda) no Séc. XX engajada na batalha de narrativas
Atualizado 1/5/17 – 13:30
Eleição na França: a mídia (ainda) no Séc. XX engajada na batalha de narrativas
(Bônus da trilogia)
Por Romulus
Depois da visita surpresa de Marine Le Pen à fábrica da Whirlpool, colocando Macron na defensiva na campanha de segundo turno, a grande mídia tenta mitigar o estrago.
As imagens – valem mais que mil palavras? – são claras:
– Marine Le Pen recebida pelos quasi-desempregados como uma… Joana D’Arc.
E Macron, envolto por seguranças e jornalistas, como… hmmm…
– … Maria Antonieta?
Ou seria Marechal Pétain, aquele que assinou e administrou a ~capitulação~ à Alemanha?
Parte 1:
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[Repeteco:
De qualquer forma, contra as “mil palavras” – em pixeis (e megabytes e… tweets!) – a (velha) mídia saiu-se com a seguinte ~narrativa~ (tampão):
– Diante dos trabalhadores que veem seus empregos desaparecerem, Marine Le Pen teria feito ~demagogia~ – ao dizer que com ela a fábrica “não fecha”; enquanto que…
– Macron teria feito ~pedagogia~ – ao explicar que “não se luta contra a globalização” (qual “globalização”, Macron?) e acenar com cursos técnicos de requalificação profissional.
Algo como um “Pronatec”, visando ao setor de ~serviços~ (menos “nobres”): cabeleireira, manicure, telemarketing, garçom, etc.).
Este tipo de “pedagogia” aqui:
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A mídia – atônita – insiste em ficar no Séc. XX
(http://www.romulusbr.com/2017/04/alerta-na-franca-e-brasil-quando-midia_19.html)
Pois então…
Marine Le Pen no segundo turno, com mais de 40% de intenções de voto, e a mídia ainda não se deu conta de que o século XX acabou.
Essa operação “contenção de danos” da mídia, com a (nada original) fórmula “pedagogia vs. demagogia” é sintomática do descolamento da mídia da nova realidade no mercado de opinião, pós-redes (“anti?”) sociais.
– “cara a cara tenso mas bastante bem sucedido“?
Oi?!
Bem… “assim é se lhe parece”, né, (velha) mídia?
– “Demagogia vs. pedagogia“
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Vejamos o significado dos radicais:
Pois é isso mesmo:
(1) Macron
O gêniozinho atrevido, visa a conduzir…
– … “crianças”, ignaras…
Numa relação claramente ~vertical~ :
– o “Enarca“, vindo das escolas de (e da!) elite, com todo o seu saber técnico, diante dos…
– … “broncos”;
(2) Le Pen
“Nem sempre por métodos éticos”, diz o texto aí em cima, fala a um…
– … povo.
Numa relação ~horizontal~ , ela não veio para “explicar” o “destino já traçado” daquelas pessoas…
Ela veio para “sentir (também) a sua dor e a sua ira”.
E, é lógico, ~representa-la~ …
– … e conduzi-la!
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Rumo a…
– … 2022??
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Mitos e simbologia: Descartes e… a “donzela de Orleans”?
Seguindo ainda a definição dos radicais aí de cima, os dois, “demagogo” e “pedagogo”, visam, ao fim e ao cabo, a “conduzir”.
Contudo, há uma diferença entre:
– A condução conquistada de acordo com as “regras” (da sociedade), sob o signo da razão (?) ~e~ do realismo; e
– A condução conquistada pela “unção” de um primus inter pares, um primeiro entre iguais, sob o império da emoção… ~contra~ a (própria) realidade.
Joana D’Arc, camponesa e analfabeta, surgiu como liderança diante de uma realidade (cerco militar) ~desesperadora~ , não é mesmo?
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(Muito) mal comparando, tem algo nesse sentido na disputa Macron vs. Le Pen…
Entre, de um lado…
“Descartes”: aquele que diz “é inexorável”, “se não pode vence-los, junte-se a eles”…
Com a sensibilidade de um teorema matemático (!)…
e, do outro…
“Joana D’Arc”: aquela que, diante da tragédia certa, acena com “o milagre”… e nada menos que a “redenção da nacionalidade”, humilhada e ofendida.
Aliás, quem mesmo é o ícone do Front National, hein?
– Jean-Marie Le Pen pede socorro a (Santa!) Joana D’Arc:
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Não por acaso…
No fim daquele mesmo dia, do face a face na fábrica condenada, Macron ataca Marine exatamente nessa dimensão simbólica:
“Do povo?? Ela é uma herdeira… nasceu num château! É o pior do ~Antigo Regime~”
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Ataque à dimensão simbólica do primus inter pares…
Não pude deixar de relacionar essa batalha de narrativas a um outro “mito”, que a (velha) mídia (respectiva) não cansa de apontar como não o “primeiro”, mas o “~último~ entre iguais”…
“Um tal” que “se vendeu por um apartamento numa praia de segunda e um sítio (com pedalinho)”.
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Leitura relacionada:

(http://www.romulusbr.com/2017/01/democracia-boa-e-que-nos-da-razao-redes_25.html)
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Atualização do 1o de maio:
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Demais artigos:
Parte 1:
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