Estado pós-golpe: perdidos em algum lugar entre o trauma (abafado) e o luto (necessário!)

Estado pós-golpe: perdidos em algum lugar entre o trauma (abafado) e o luto (necessário!)

Por Romulus (& leitores)
Algumas reações e diálogos a partir do último post:

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Luto e luta



“Confesso que levei um cruzado de direita no queixo e estou completamente grogue. Nesse momento estou desacordado sendo atendido pelo meu segundo no corner. Ele está me perguntando coisas que para mim parecem sem nexo, algo como ‘posso jogar a toalha?’ Eu disse que podia”.



Gilson AS



Muito comum essa descrição no dia de hoje.



É o choque e o início do luto.



Tenho falado muito com militantes no twitter e hoje todos estavam arrasados.



Os mais velhos, que viveram 64, não conseguem acreditar que aconteceu de novo. Um disse que para ele já deu, que não tem mais saúde para isso e que passa a tocha adiante. Vai se concentrar em cuidar das suas plantas. No mais, vai vir falar com os outros de tempos em tempos pela amizade construída, mas não vai mais se envolver na luta.



Uma militante jovem – que se despencou de outra região do Brasil para Congonhas em SP no caso da condução coercitiva do Lula – chorou hoje várias vezes e disse que se sentia como quando houve um luto na família.



Faz sentido.



Na verdade, o que me levou a escrever o post “Golpe: saldo do Senado, STF e próximos passos”, com algum esforço depois das 20h de sessão no Senado, foi justamente estar pensando nessa militância. Principalmente nas pessoas engajadas na luta, mas alheias à burocracia partidária do PT e a cálculos eleitorais imediatistas. As pessoas mais idealistas e fora do establishment político.



Isso porque muitas dessas pessoas podem se frustrar ainda mais com a estratégia de curto prazo que o partido parece que vai adotar. Essa linha de luta estritamente dentro das regras falseadas da institucionalidade de 88 – sem ao menos denunciar abertamente o vício do sistema.



Se eu – daqui da Suíça – fico revoltado com essa opção “tímida”, que dirá as pessoas que vestiram a camisa, foram a atos em outros Estados, fizeram trabalho de base, tomaram um calor da PM…



Acabou que escrevi muito mais do que queria.



Foram uns 2 ou 3 posts em 1.



Talvez até no dia errado, pois penso que muita gente não quer mais saber desse assunto hoje. Ou mesmo até a segunda-feira.



Mas para aqueles que buscam análise sobre o que pode estar por vir, ou mesmo que busquem um eco do que sentem, resolvi trabalhar as ideias e os sentimentos depois daquelas 20h de sessão no Senado e escrevi o texto.



Quando esse pessoal estiver melhor, voltamos a conversar e discutir estratégias.



Um dia depois do outro.



Ate chegar mais perto de onde a gente quer ir.



Na verdade, trata-se de uma ilusão. A utopia, como o horizonte, cada vez que a gente avança um passo, avança um passo também adiante, num balé infinito.



Vamos perseguindo a utopia e no caminho fazemos uma obra coletiva indo na direção que almejamos.



Como aprendemos com os anos, o caminho não é linear. Muitas vezes ficamos parados ou andamos só de lado. Pois hoje aprendemos que nem mesmo o sentido é único: às vezes andamos para trás sim.



Paciência.



Apesar da dor do orgulho ferido, essa é uma lição de humildade.



Não podemos nunca perder de vista a dimensão histórica da luta: nós, como indivíduos, somos apenas como grãos de areia no deserto. Ao longo dos anos e décadas nós todos juntos podemos fazer as enormes dunas se moverem alguns metros. E assim sucessivamente a cada geração.



É preciso aceitar isso com humildade. E encontrar realização em ser só aquele grão de areia. Um grão sim, mas que divide o peso da duna, a luta e a sina com outros milhões de grãos de areia mais iguais do que diferentes.



Eu sei… eu também estou assim hoje:



– Quero apenas o silêncio por um tempo. E talvez ouvir o som do vento roçando as dunas na noite do deserto.



– Ouviram aí também?



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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

– Pois você não está só! Clique na imagem e chore as suas mágoas:

(http://www.romulusbr.com/2016/12/que-poa-e-essa-vol-2-metalinguagem.html)

(http://jornalggn.com.br/blog/romulus/que-p-e-essa-ora-essa-p-e-romulus-por-o-proprio)

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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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