Liberais, PSOL, lutas identitárias e o “autoritarismo”

Luiz Carlos de Oliveira e Silva (Professor de filosofia)

  1. Wesley Teixeira, candidato do PSOL à Câmara dos Vereadores da cidade fluminense de Duque de Caxias, recebeu apoio financeiro de Armínio Fraga para a sua campanha, fato que vem gerando forte condenação por setores do partido. Wesley é preto, e há os que veem racismo nas críticas dirigidas ao candidato.
  2. A grana da doação polêmica saiu do bolso de um dos mais eminentes próceres da ala, digamos, civilizada, do rentismo, e foi justificada assim por Pedro Abramovay, diretor da “OpenSocietyFoundations” para a América Latina, que fez a “ponte” entre o doador e o beneficiado:
  3. “Estou convencido que para derrotar o autoritarismo e construir um projeto progressista, precisamos ver negros e mulheres ocupando os espaços de poder e liderando essas mudanças. Por isso é tão necessário olhar e apoiar negros e mulheres nessas eleições. (…) Organizei (…) uma reunião online com algumas pessoas do topo da pirâmide no Brasil, que eu sei que estão preocupadas com o crescimento do autoritarismo no Brasil e também com o racismo.”
  4. Esta declaração somada ao fato de o candidato ser de um partido de esquerda fornecem um documento precioso, porque esclarecem muita coisa acerca da conjuntura atual. Podemos ver ali três esclarecimentos muito importantes:

Esclarecimento (1): A plutocracia liberal esclarecida não vê relação de necessidade entre “autoritarismo” e a atual configuração do capitalismo. Por isto, a plutocracia liberal esclarecida considera ser a inclusão social e política das mulheres e dos pretos uma contraposição efetiva ao “autoritarismo”.

Esclarecimento (2): Setores dos movimentos identitários de esquerda também não veem relação de necessidade entre “autoritarismo” e a atual configuração do capitalismo. Por isto, setores dos movimentos identitários de esquerda também consideram ser a inclusão social e política das mulheres e dos pretos uma contraposição efetiva ao “autoritarismo”.

Esclarecimento (3): A plutocracia liberal esclarecida e setores dos movimentos identitários de esquerda consideram ser possível contrapor-se ao autoritarismo sem o enfrentamento da questões econômicas de fundo. Nisto eles formam um par…

  1. O fato de Wesley apresentar a sua candidatura pelo PSOL e o fato de que as críticas que recebeu terem sido consideradas racistas dizem muito acerca (a) dos impasses que atravessam o partido, e (b) da natureza mesma das lutas identitárias.
  2. As lutas identitárias são, por definição, lutas por reconhecimento. Por isto, elas não são lutas “reformistas”, já que o acolhimento de suas reivindicações não implica mudanças na economia. As lutas identitárias são, portanto, lutas “transversais”, com potencial para se associarem às mais diversas agendas, à direita, ao centro e à esquerda.
  3. Nada há de estranho, portanto, na contribuição de um prócer da plutocracia esclarecida em favor de um candidato preto do PSOL. Armínio fica bem na fita, e Wesley mostra que o PSOL não é o bicho-papão que a extrema-direita diz que ele é. É um jogo de ganha-ganha…
  4. Nesta singela contribuição financeira temos um pequeno ensaio para a “aliança antifascista”, tão desejada por tantos, de FHC a Freixo… Sobretudo agora quando Bolsonaro descobriu o caminho-das-pedras que levou Lula ao paraíso eleitoral que experimentou.
  5. As lutas identitárias querem, em geral, reconhecimento, limitando-se a isto. Trata-se de uma agenda urgente e necessária. Mas, por ser isto – luta por reconhecimento – as lutas identitárias não confrontam as questões de fundo, sobretudo as questões de fundo da economia. São lutas liberais…
  6. Há quem, na esquerda, critique as lutas identitárias que hegemonizaram a nossa agenda… Eu não me incluo dentre esses. O problema não está nas lutas identitárias, segundo penso… O problema está, a meu ver, no fato de a esquerda ter-se, praticamente, limitado, nestas últimas décadas, às lutas identitárias e a outras políticas de “inclusão social”, renunciando, lamentavelmente, ao enfrentamento das questões de fundo, sejam as da política, sejam as da economia. E deu no que está dando…

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