Linha de Frente: O Medo (em dose dupla) se Espalha Entre os Profissionais de Saúde do Rio de Janeiro

Em mais um relato forte, a série Linha de Frente traz um depoimento que revela tanto o poder devastador da Covid19 quanto o medo – da doença e de retaliações – que afeta os profissionais de saúde Brasil afora.

“Primeiramente, gostaria de informar que prefiro manter minha identidade em sigilo, pois sou um trabalhador ‘TERCEIRIZADO’ da Saúde Pública, e gostaria de relatar alguns fatos que andam acontecendo e que não estão sendo noticiados, nem a na GLOBO, como muitos gostam de dizer que a mesma é uma ‘matadora compulsiva’:

A doença existe, SIM, e ela mata. E mata muito mais do que as emissoras de rádio e TV estão anunciando. E não conseguimos ter um número concreto, pois NÃO existem testes suficientes para sabermos se é óbito por COVID-19 ou por alguma doença similar (como gripe, pneumonia, bronquite, etc…). Mas a experiência de médicos, enfermeiros e até nós, trabalhadores do Sistema Único de Saúde, já diagnosticamos sem pestanejar e, no caso do Rio de Janeiro, já existem alguns medos, principalmente o da falta de respiradores mecânicos que, graças ao nosso novo ministro Nelson ‘3º Reich’, não há necessidade de compra, pois depois eles virarão LIXO, então que o POVO vire LIXO, ADUBO, ou só estatística.

Como trabalho em hospitais, acabo conhecendo pessoas de outras unidades públicas de saúde (tanto municipais, estaduais ou federais) e posso garantir que esta doença ainda deixa muitos preocupados, pois ela já começa com uma leve, mas letal, ‘broncopneumonia’, e um dos primeiros sintomas é a febre e tosse seca. Quem estiver sentindo isso, por favor, encaminhe-se à UPA mais próxima de sua casa. Mas às vezes isso não adianta, pois o certo já seria, ao menos, motivo para uma internação sumária, até para ter-se a certeza de que a pessoa está infectada com o COVID-19 ou se é apenas uma gripe e/ou outro problema respiratório (estamos no outono, a estação dos mesmos).

Infelizmente, só na semana passada, perdi 4 colegas de trabalho (diretos e indiretos), com quem tínhamos contatos diários, nos divertíamos (mesmo no trabalho). E com isso, na semana passada, entrei em paranóia. Entrei num estado de desespero tamanho que não saí de casa para NADA. Afora que comecei a sentir como se estivesse com febre. E começou a passar um ‘filme’ de minha vida. Chorei copiosamente, com minha cabeça pensando MILHÕES de coisas. Afinal, TODOS meus conhecidos que morreram também trabalham em alguma instituição de saúde, alguns atletas, outros novos, e muito mais.

Minha esposa também trabalha em outra unidade pública. E na semana passada ela foi cortar caminho pelo subsolo para ir a determinado setor, mas a bloquearam, pois o necrotério estava cheio, todos falecidos pela COVID-19. Afora outras unidades que alugaram CONTAINER para depósito de ‘pessoas em óbito’ (não gosto de falar CORPOS, acho isso um desrespeito a pessoa que faleceu).

A doença tem cura? Sim! Existem pessoas que sentiram pouco? Sim! Existem pessoas que nem sentiram a doença. os chamados ‘assintomáticos’ ? Sim. Mas mesmo assim, PREVINAM-SE! Pois todo cuidado é pouco! Usem máscaras, se possível as conhecidas, como  a ‘N95’. Se não der, a máscara conhecida como ‘cirúrgica de 3 camadas’ também serve. Mas ela tem um período curto de uso e NÃO podem ser lavadas. Jogando-as fora, coloque dentro de um saquinho, amarre-o e jogue em latas de lixo (nunca no chão, como já vi várias pelos arredores).

O mundo precisava deste ‘downgrade’ para podermos desfrutar de coisas boas após. Mas, por enquanto, FIQUE EM CASA! Conselho de alguém que trabalha na saúde e que já perdeu amigos para esta doença!”

 

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Redação D.E.

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