– 1/abr/2022 
A Saúde na Luta: Rio de Janeiro
Por um médico, na linha de frente nos hospitais na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
>>> os casos estão aumentando na periferia e no SUS, além do número de profissionais infectados. Experiência própria, ontem dei plantão na emergência de COVID do Fundão. Já tinham 9 pacientes em ventilação mecânica (semana passada eram 4), os 18 leitos da emergência estavam ocupados e passamos o plantão para a noite tb sem vagas mais na infectologia (10 pacientes). Hoje iam abrir novo CTI com mais 6 leitos para COVID. Há 2 semanas atrás o movimento era mínimo de COVID. Em relação a profissionais, só do meu instituto temos 4 dos 6 residentes infectados, 3 staffs e 2 técnicos (ficaram internados, um deles no CTI).
>>> os hospitais (principalmente particulares) estão com o movimento geral (e talvez número de internações totais) menor do que o habitual, porque todos os procedimentos eletivos estão parados. Não tem cirurgia, não tem internação eletiva para investigação. Os leitos estão em boa parte ocupados por pacientes com COVID. Mas o número total de pacientes internados com suspeita ou DX (diagnóstico por imagem) de COVID é impressionante. São José, Copa D’Or, Copa Star, Américas, etc… todos esses hospitais tem unidades intensivas cheias de pacientes com COVID. Isso nunca aconteceu com nenhuma infecção viral prévia.
>>> não tem tratamento mágico até agora. Doentes evoluem com gravidade a despeito do início da cloroquina com azitromicina (acompanhei de perto meu sogro e minha sogra que fizeram a medicação). Mesmo assim o esquema está sendo usado na maioria dos serviços privados no início da internação . Existem outros tratamentos sendo usados (anticoagulação , tocilizumabe, corticoterapia) de maneira individualizada de acordo com a evolução clínica e resposta inflamatória e características de cada paciente.
>>> existe um padrão característico (mas não totalmente específico) na tomografia de tórax mesmo, ainda não é possível fazer uma relação sobre alterações na tomografia e evolução clínica . A tendência é internar pacientes com comprometimento do parênquima pulmonar mais difuso. De qualquer jeito não serve como teste diagnóstico para a grande maioria dos casos (ajuda nos casos mais graves)
>>> os leitos de CTI dos hospitais públicos estão ficando cheios. Com o aumento do número de casos relacionado ao relaxamento da quarentena e a chegada do vírus nas áreas pobres e periféricas acho que teremos um cenário esquisito em 2 semanas
>>> tem muitos pacientes jovens com quadro muito grave, chama a atenção que boa parte é obeso. Esses jovens estão conseguindo sobreviver apesar da gravidade porque o atendimento tem sido muito bom nos pacientes. Me preocupa quando chegar em unidades de saúde com capacidade de pessoal e de equipamentos muito inferior . Acho que morrerão muitos jovens tb.
>>> as decisões de hoje só levarão à consequências em cerca de 15 dias. Relaxar o isolamento com aumento do número de casos parece maluquice.
>>> muito cedo pra saber se será possível ter reincidência. Quem se infectou tem anticorpos recentes. Não dá pra saber ainda se serão duradouros e se o vírus pode sofrer mutações , fazendo com que o sistema imune de pacientes já infectados deixe de reconhecê-lo.
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ver também:
Diários da Pandemia: na linha de frente (2)
Diários da Pandemia: na linha de frente
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