Negação do Mundo

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“NEGAÇÃO DO MUNDO”
Por Luiz Carlos de Oliveira e Silva

1. Tanto os próceres das igrejas neopentecostais quanto os do bolsonarismo cuidam sistematicamente, como condição de suas próprias existências, para a manutenção da coesão dos seus “rebanhos”.

2. Não é por outra razão que Bolsonaro e o Bispo Macedo, coerentemente, vieram a público pôr em dúvida a gravidade dos efeitos nocivos do novo coronavírus.

3. Digo “coerentemente” porque a atitude dos dois – e de seus sequazes – frente à pandemia decorre de algo que está no centro seja do ideário evangélico, seja do ideário do bolsonarismo, a saber: a “negação do mundo”.

4. Eles vivem desta negação, ainda que, não raro, de modo oportunista e cínico…

5. A “negação do mundo” por parte dos evangélicos toma a forma da condenação dos valores e das práticas da “vida mundana”, considerados como pecaminosos.

6. Por parte dos bolsonaristas, a “negação do mundo” toma uma dupla forma, uma de caráter ideológico e outra de caráter político.

7. A “negação do mundo” na vertente ideológica implica o repúdio ou o menosprezo às conquistas de Civilização em suas manifestações na cultura, na arte, na ciência, nos “direitos humanos”, nos modernos modos de vida etc.

8. A “negação do mundo” na vertente política implica o repúdio à parte da grande mídia, à “corrupção”, a instituições como o Congresso e o STF etc.

9. Este sentimento de aversão ao “mundo” – tão vivamente cultivado pelos próceres das igrejas neopentecostais e do bolsonarismo – é fundamental para conferir um sentimento de identidade, de pertinência e de coesão a um contingente expressivo de pessoas que, sem ele, se sentiriam – devido à “crise de representação” e à “crise ideológica” – isoladas e desorientadas.

10. Bolsonaro e os pastores neopentecostais vivem do apoio que recebem de seus “rebanhos”. Por isto, eles se empenham tanto para manter acesa a chama da “negação do mundo”…