Mídia e Justiça – O Gozo dos Fascistas
Por Maria Eduarda Freire, para o Duplo Expresso
O promotor de Justiça, André Guilherme de Freitas, na manhã de terça feira (24) realizou uma inspeção no presidio Bangu 8, indo direito para a cela do ex-governador Sérgio Cabral. Ao ingressar na ala, determinou: “Detentos, todos de cabeça baixa e de frente para a parede”, Sérgio Cabral argumentou que a atitude do promotor era desproporcional, e esse promotor, ao ser contestado, mandou que o enviassem para uma solitária, em um exemplo claro de ilegalidade e abuso de autoridade.
Para ilustrar mais um exemplo do arbítrio midiático-judicial, o ex-senador Luiz Estevão, também foi colocado em uma solitária por dez dias no presídio da Papuda no Distrito Federal, em janeiro do ano passado, após a polícia civil encontrar uma cafeteira e chocolate na cela em que estava.
Luiz Estevão foi punido por ter feito mínimas modificações higiênicas e sanitárias na ala em que se encontrava na Papuda, a instalação de um sanitário, mini pia e um chuveiro com uma cortina de plástico. A manchete da Globo estampava: “nas celas há itens considerados um verdadeiro luxo dentro das cadeias, tais como sanitário, e pia de louça, chuveiro e cerâmica no chão” em conluio com o Ministério Público do Distrito Federal que se pronunciou criticando os reparos, dizendo que esse local “era uma verdadeira ilha no complexo prisional, com ambientes SALUBRES”, ou seja, de acordo com o Ministério Público, Luiz Estevão e as demais pessoas presas deveriam permanecer em ambientes INSALUBRES. Quem deveria ter sido punido é o Ministério Público por prevaricar na sua função constitucional ao não exigir do Estado a promoção e o cumprimento de condições dignas para acomodar os presos, ilegalmente submetidos a condições sub-humanas.
O ministério público mancomunado com o púlpito midiático, em um gozo sádico clamam por mais “choro e ranger de dentes”, pregando por manter os presos em suplício, mantê-los em cativeiro como “bicho” para a degradação absoluta, onde colocam como “mordomia”, “regalia” e “privilégio” a existência de um MÍNIMO de dignidade, um sanitário, uma pia, um chuveiro, um chão para pisar e a MERDA DE UM CHOCOLATE! As inspeções judiciais humilhantes como perfilar pessoas de cabeça baixa e de frente para uma parede como se fossem animais em triagem e sem nome, com a negação de um MÍNIMO de respeito e igualdade à pessoa humana privada da sua liberdade, cuja privação dessa liberdade, já é por si só, uma imposição de sofrimento inenarrável.
Direitos constitucionais para pessoas presas é considerado “luxo”. Em um país onde a Constituição não é respeitada, TUDO É PERMITIDO. Assistimos passivamente, um juiz de primeira instância impedir a polícia federal de cumprir alvará de soltura por ordem de desembargador federal; assistimos passivamente, portanto, um ex-presidente da República ficar sequestrado durante horas impedido de ter o seu alvará de soltura cumprido. Lembrando que se um ex-presidente com tamanha visibilidade nacional e internacional tem os seus direitos fundamentais violados, o que acontece com os anônimos diante de uma persecução penal?
A mídia fascista dita a pauta do Sistema de Justiça através de apelos moralistas para produzir indiferença moral na sociedade ao sofrimento alheio, normalizando a barbárie e arregimentando pelo ódio um exército de “cidadãos de bem” pervertidos, cujo equilíbrio da economia psíquica necessita de bodes expiatórios midiáticos para a projeção do mal e da culpa. Esse ciclo vicioso se alimenta da calamidade prisional, de pessoas tornadas pastos sexuais numa cela superlotada infestada por ratos e baratas, fazendo suas necessidades fisiológicas em um buraco, e contaminadas por doenças como tuberculose, hanseníase, sífilis e HIV.
Sérgio Cabral, Luiz Estevão, e os presos da Lava Jato são a ponta de um Iceberg que visibilizou o arbítrio e as ilegalidades cometidas sobre toda a população carcerária do país, o massacre silencioso dos anônimos jovens pobres negros aprisionados nos calabouços inaudíveis do nosso país, submetidos a uma política estatal de extermínio. A mídia deveria ser o mega-fone dessas pessoas que não tem voz, mas cumpre o papel oposto de cúmplice da barbárie institucionalizada, do abuso de autoridade e tratamento desumano dispensado a esses seres humanos, e para isso deturpam a realidade, desinformando, e adestrando o seu público para a violência, porque lucra em vender a desgraça humana como espetáculo.
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