Marcas da violação: o dia seguinte a um estupro moral, por Tiago Nunes
Do Facebook de Tiago Nunes, como eu, brasileiro expatriado:
“Único colega brasileiro que tenho aqui no trabalho é um reacionário paulista leitor do Estadão. Veio falar comigo hoje de manhã, viu a minha cara e deu meia volta. Não nos falamos o dia inteiro. Na saída, eu o encontro no ponto de ônibus sozinho. Silêncio. Ninguém dá um pio. Como se algo terrível tivesse acontecido, como se algo de vital tivesse quebrado para sempre, sem volta. O vento frio batia na nossa cara sem trégua enquanto esperávamos o ônibus e posso dizer que havia algo de solene no ar. Parecia um enterro. E esse sentimento não partia só de mim, emanava dele também. Sabíamos que havíamos tomado um caminho sem volta, cada um de um lado diferente da estrada. O ônibus chegou e, sem falar uma palavra, sentamos em bancos diferentes. Ele saiu num ponto mais adiante, sem se despedir. Amanhã creio que voltamos a nos falar como se nada tivesse acontecido. Mas hoje não dava pra falar, para brincar, fazer piada. Hoje era o dia do enterro de uma jovem de apenas 27 aninhos. Tchau, querida democracia”.

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