Série: o STF do(s) Golpe(s): Vol. 3 – a democracia “tropeçou”… em Lewandowski?

O STF do(s) Golpe(s): Vol. 3 – a democracia “tropeçou”… em Lewandowski?
Por Romulus & Arkx
– Como disse no Vol. 2 da série, houve no filme de high school o personagem do “presidente do grêmio estudantil. Aquele que, politicamente, transita e faz a ponte entre todos esses arquétipos, com a devida – e necessária! – cara de paisagem diante da infâmia, do escabroso”.
– Por óbvio, trata-se do Presidente do STF – e Presidente da Comissão do Impeachment! – Ricardo Lewandowski.
– Se, como aquele que “politicamente transita entre todos”, não desagrada ~de todo~ a nenhum dos lados, tampouco os agrada ~de todo~.
Tarefa impossível!
Acaba, portanto, apanhando de todos.
Sendo, contudo, tolerado por todos.
– Mas qual o saldo de ter alguém “correto” presidindo a infâmia?
É pior?
Ou menos ruim?
O “tropeço da democracia” foi em…
– … Lewandowski?
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Este volume da série de 3 posts sobre o STF – sem esquecer do vol. bônus sobre Gilmar Mendes – é um pouco diferente dos anteriores. E, na verdade, foi escrito bem antes. Isso porque não se trata de um artigo expositivo (de teses) e nem segue, tampouco, uma dinâmica unilateral.
Trata-se, ao contrário, de uma discussão entre mim e outro blogueiro do GGN, Arkx, na seção de comentários de um post do Nassif sobre Ricardo Lewandowski, publicado logo após o fim do processo de impeachment.
Os leitores não estranharão de todo a publicação de um debate na forma de post, porque já fiz isso algumas outras vezes aqui no blog. A mais recente, inclusive, foi em 9/10, na enorme (e maravilhosa) viagem do post:

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Como tive oportunidade, inclusive, de registrar nesse post-viagem aí de cima:
Prezo M U I T O os comentários que recebo dos leitores aqui no GGN – sem paralelos na blogosfera ou em toda a internet brasileira. Como disse recentemente ao próprio Nassif:
Esse público (…) deixa comentários no GGN ou nas redes sociais riquíssimos, que costumam originar novos posts meus – justamente a graça da web 2.0 (ou 3.0 já…).
Gente, inclusive, com posicionamento ideológico e background totalmente diferentes do meu. As visões deles costumam ser diferentes das minhas. Isso me força a retrabalhar as teses. Ou para reafirmá-las, com maior convicção, ou para refutá-las, ou para ficar no meio do caminho, numa síntese (os 3 já aconteceram!).
E eis aqui nova ocasião em que uma troca, desta vez com o Arkx, origina uma discussão numa sessão de comentários que agora transformo em post e divido com vocês.
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O post do Nassif que suscitou a discussão foi esse aqui:
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Questão prévia: importância da preservação dos direitos políticos de Dilma
Concordo com toda a avaliação do Nassif nesse post. Discordo apenas – e aí é uma discordância capital – quando ele caracteriza a preservação dos direitos políticos da Presidenta Dilma como um “mimo” – e “pequeno”.
Tratou-se de algo muito maior do que isso. Algo que contou, inclusive, com a articulação, por dias seguidos, da Senadora Kátia Abreu, do Presidente do Senado, Renan Calheiros, e de parcela significativa do PMDB no Senado. Uma verdadeira rebelião contra o governo de usurpação recém-empossado.
A indisfarçável ~ira~ demonstrada pelo PSDB durante a sessão de votação do impeachment e, na sequência, por Temer em entrevista coletiva não deixa dúvida quanto à importância, no plano político, da preservação dos direitos de Dilma. Naquela oportunidade, interpretei aqueles sinais da seguinte forma:


(…)
Temer, o PSDB, aliados – e Marina! – terão de aceitar: Dilma continuará sua trajetória rumo a construção de um mito político.
Que ironia!
Mas nada original:
Não foi o julgamento injusto e a pena de morte que tornaram Sócrates maior como figura?
Sem entrar em debate teológico / histórico: não foi o julgamento injusto e o sacrifício de Jesus de Nazaré (Deus e/ou homem) que fundou uma fé?
Pois é…
O mito do homem (e da mulher!) justo, injustiçado por poderes corrompidos ou por uma democracia já degenerada pela demagogia, cala fundo na psique humana. Existe desde que o mundo é mundo.
No golpe contra Dilma Rousseff de 2016 temos os dois: poderes corrompidos aliando-se a demagogos (i) nas corporações do Estado – STF/Justiça, PGR/Janot, PF; (ii) nos grandes grupos de imprensa familiar; e (iii) nas instituições da sociedade civil organizada – OAB, FIESP, CNA, FEBRABAN, igrejas, etc., para julgar – e condenar! – alguém unanimemente reconhecida como justa.
Dessa perspectiva, os algozes de Dilma “fizeram a sua fama”. Da mesma forma que, a seu tempo, o Sinédrio e os Romanos – secundados também por populares em frenesi, não é mesmo? – aumentaram a de Jesus de Nazaré, homem e/ou Deus. E ainda, o tribunal popular ateniense aumentou a dimensão da figura do filósofo Sócrates, ao condená-lo de forma iníqua à morte por envenenamento com cicuta.
Quantos outros exemplos não haverá desse mito?
Joana D’Arc queimada na fogueira da inquisição, Tiradentes enforcado e esquartejado como bode expiatório, Dreyfus, vítima do antissemitismo e de uma armação, o suicídio de Vargas, instado pelas mesmas forças que agora golpearam, novamente, a democracia no Brasil…
Deve-se ter cuidado ao brincar de feiticeiro. O caldeirão pode transbordar e queimar quem se supunha mais esperto do que de fato era.
(…)
*
Os lados em disputa
Se alguém tinha alguma dúvida da alta probabilidade de mitificação de Dilma Rousseff, há de ter se convencido nos meses que se seguiram. Temos, do lado do golpe, o avanço da agenda de arrocho e de retirada de direitos, tão bem sintetizada pela da PEC 241 – e seus conhecidos efeitos futuros.
O “Lado A”
Para viabilizá-la, houve, entre coisas “republicanas” e outras nem tanto assim, aumento de salário para os ~Três~ Poderes. E, aqui sim, “mimos”: jantares nababescos no Palácio do Planalto oferecidos à base parlamentar do golpe. Fartura essa fartamente (pleonasmo mais que merecido) noticiada. Inclusive pela imprensa alinhada.
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Sem esquecer do STF, tema desta série de posts, entregando o serviço contratado e ~pago~ pelo golpe:

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Caldeirão do inferno, segundo o Aroeira:
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E, mais uma vez, com tristeza constato a minha “maldição”:
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Já do “lado B” da luta temos…
Links do insuspeito Banco Mundial aqui e aqui.
Como o caixa é único – para despesas primárias… não para pagamento de juros, bem entendido! – há simetria para a educação da hecatombe que se projeta para a saúde.
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Uma mui distinta ~Coringa~
E, ainda do lado prejudicado, o dos pensionistas do regime geral do INSS, mas, ao mesmo tempo, no plano – e no imaginário! – da política, surge uma senhorinha para lá de austera:



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As reações nas redes sociais não tardaram. E bem refletem a avaliação que será feita pelo público em geral num futuro próximo, quando as agruras do golpe e do arrocho tornarem o olhar novamente generoso para com os anos Lula e Dilma:

Reproduzido de inúmeros compartilhamentos no Facebook.
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Pois bem.
Resolvida a questão preliminar – a relevância da preservação dos direitos políticos de Dilma e a mitificação em curso – passemos, finalmente, ao tema deste post:
– O saldo de ter Ricardo Lewandowski, uma pessoa correta, na hora e no lugar (mais) errados (possível!).
Que lugar?
– O Parlamento brasileiro.
Em que momento?
– Em pleno golpe de Estado, quando se deu um tiro frontal na Constituição de 1988.
O primeiro, aliás, dos vários tiros na Constituição que se seguiram – tiros já então engatilhados, como se viu depois. Com gatilhos premidos seja novamente pelas mãos do Parlamento – além do impeachment sem crime, a PEC 241 – seja pelas mãos do seu suposto guardião, o STF – Oh, data maxima venia!
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Passemos, portanto, à tal troca com meu amigo Arkx sobre o saldo de Lewandowski no golpe:
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E o pior é ainda apanhar dos “Fora, Temer” e ser taxado de “golpista!” por:
– Ter presidido as sessões no Senado;
– Por ser cordial com os dois lados ali; e
– Por não suspender a sessão por falta de quórum quando nenhum Senador golpista se fazia presente durante a defesa de Dilma.
Ora, Lewandowski apenas presidia um colegiado.
Qualquer decisão sua poderia ser derrubada com recurso ao pleno – os 81 senadores.
61 golpistas, todos sabemos.
Muito mais fácil para ele seria cantar:
– Pai, afasta de mim esse cálice!
Podia ter pedido sua aposentadoria, ter ido para casa e deixado Carmen Lúcia conduzir o “julgamento das bruxas de Salem”, bem ao gosto da grande imprensa.
Se a narrativa “foi golpe sim” hoje está mais que consolidada, isso se deve em boa medida a Lewandowski:
– Foi sob sua presidência sóbria e ponderada que se deu o espaço e o ambiente para Dilma Rousseff ~tratorar~ os Senadores golpistas naquela histórica sessão de 14h, quando os confrontou face a face.
– Foi sob sua iniciativa – e sob sua ameaça expressa de suspender a sessão e “mandar tudo pro STF” – que foi possível fatiar o julgamento, resultando de maneira “esdrúxula” nas duas votações contraditórias. Esse resultado, materialmente bizarro, consolidou de vez a narrativa de golpe no plano jurídico-político.
Por quê?
Lógica elementar na seguinte subsunção:
– Se há crime deve haver punição.
– Se não houve punição…
– É porque tampouco houve crime, ora!
Basta ver o ódio de Temer e do PSDB com o resultado contraditório para compreender a importância desse “detalhe”.
Realmente admirável.
Se Lewandowski não foi melhor no processo foi porque o Brasil, como ele é e não como gostaríamos que fosse, não o permitiu.
Esticasse mais a corda, ela romperia.
Compare-se a postura dele com a do novo “rei das ruas”, o meu ex-professor Barroso. Aquele que agora brada que antes do fim da 3a instância o Brasil era o país da impunidade:
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Barroso… não outro que o próprio garoto-propaganda do pai de todos os golpes:
– O golpe do semi-presidencialismo (argh!!)

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Pensando bem… melhor que não comparemos um ao outro não…
Nem Lewandowski – nem Barroso – merecem essa comparação.
*
algumas perguntas a um “homem justo”
Justo, mas para que?
Sim, não és venal, mas o ralo que sobre a casa sai também não é venal.
Nunca renegas o que disseste. Mas, o que disseste?
És de boa fé, dás a tua opinião.
Que opinião?
Toma coragem contra quem?
És cheio de sabedoria para quem?
Não olhas aos teus interesses. Aos de quem olhas?
És um bom amigo. Mas do bom povo?
Escuta pois: nós sabemos que és nosso inimigo.
Por isso vamos levar-te a um julgamento.
Mas em consideração dos teus méritos e das tuas justas qualidades escolheremos um justo juiz e justos jurados, que decidirão por uma justa sentença e vais cumprir uma justa pena numa cela justa por muitos e muitos justos anos.
*
Por ROMULUS
Carissimo,
Nesse caso especifico vou fazer como o meu ex-Professor de Direito Constitucional, o Min. Barroso, costuma fazer:
– Para ~aparentar~ erudição, inicie e termine sempre a sua intervenção em colóquios “bacanas”, com gente “bacana”, sacando uma da meia dúzia de citações que terá decorado especificamente – e tão somente ao que parece… – para tais situações.
Neste caso especifico, vou até sacar uma que pertence, justamente, à meia dúzia de citações cativas desse ex-Professor:
“Entre o já ser e o querer ser vai a distância entre o sublime e o ridículo”.
Ortega y Gasset
Veja o meu comentário acima…
– Era melhor Lewandowski não “ter compactuado” com golpistas e assim ter permitido aos mesmos uma vitória completa? Barba, cabelo e bigode nas mãos de Carmen Lucia?
Lewandowski não pode ser julgado sem levar em conta os “atenuantes”.
E que atenuantes!
O maior deles?
O Brasil como ele é. E não como sonhamos.
Esse Brasil em que nós – e Lewandowski! – vivemos. Para o bem e, neste caso, para o mal.
Na minha balança particular o saldo para Lewandowski é bastante positivo.
Já para um certo ex-Professor de Constitucional meu…
*
Aliás, mostrando que aprendi a lição dele para colóquios “bacanas”, ofereço eu aqui a minha“citação de bolso de colete”.
Com uma advertência, contudo:
– Essa “citação de bolso de colete”, a minha, é justamente a citação que é, em verdade, ‘a’ ~anti~ citação de bolso de colete.

*
não é o Baile da Ilha Fiscal. não é também a Queda da Bastilha. é o tropicalismo surrealista do Brasil em transe.
panis et circenses na posse de Cármen Lúcia como presidente do STF: ao som do Hino Nacional com Caetano Veloso no violão, e com a presença de Temer, Renan, Rodrigo Maia, Sarney, PGR e, por fim mas nunca por último, Luís Inácio Lula da Silva – acompanhado pelo mais tucano dos petistas (ou seria o mais petista dos tucanos), o atual governador de Minas Gerais.
mesmo sem estar fisicamente presente, a voz de Cunha ecoava: “Que Deus tenha misericórdia desta nação”.
Getúlio disparou contra o próprio peito, arrastou o povo sem medo às ruas e barrou o golpe. Dilma entrou na toca dos ratos, os enfrentou e os nocauteou um por um. os dois fizeram História.
o que o presidente do STF fez, como guardião mor da Constituição Federal? preferiu o conveniente lugar nenhum entre o já ser e o querer ser, sem nunca percorrer corajosamente a distância entre o ridículo e o sublime.
o Brasil que sonhamos é este Brasil que já é, com este povo sem medo agora inundando as ruas. jamais o Brasil que sonhamos será urdido através dos pactos palacianos e dos acordos de gabinete.
a distância entre o pesadelo do ridículo país de uma plutocracia colonial e escravocrata, tão bem representada pelo STF, e a sublime Nação de nossos sonhos só pode ser superada pelos milhares de pés anônimos marchando pelas ruas.
e nenhum dos presentes nesta cerimônia de posse está nesta estrada das ruas junto com o povo sem medo. continuam na rota que nos trouxe a este impasse. e seguindo no mesmo rumo, ainda vão nos enfiar muito abaixo pelo abismo nos qual nos afundaram.
não é mesmo muita burrice? para eles, talvez não. mas por que nós deveríamos insistir em sermos tão burros?
*
Por EDUARDO OUTRO
Prezado Romulus,
Não tenho cacife nem neurônio suficientes para me meter nessa belíssima catilinária entre você e o Arkx. E creia, não há um vencedor, ambos o são. E quem ganha não é nenhum dos dois, nós que acompanhamos somos os ganhadores. Mas tenho educação para não ir entrando sem pedir licença e, à guisa de complemento não de correção, dar um pitaquinho numa frase sua, que me permito transcrever da maneira que considero mais completa: “Basta ver o ódio de Temer, do PSDB e de Marina com o resultado para compreender a importância desse ‘detalhe’”. Abraço, que daqui mesmo mando também lá pro Arkx.
*
Muito bem vinda a sua correção/complementação, meu caro Eduardo.
Eu mesmo, quando escrevi artigo especificamente sobre esse tema, fiz questão de registrar a presença dessa cruza de Curupira com Mula sem Cabeça entre os mui contrariados com o resultado e com o “detalhe” da vitória de Dilma na 2a votação.
Fiz questão, inclusive, de registrar a visão de quem a conhece bem:
*
Caso não tenha visto o artigo – não saiu no GGN – segue abaixo (foque na 2a parte):
*
atenção, Nobre
isto não é uma polêmica, apenas um outro ponto de vista.
abraços
Canção do Remendo e do Casaco
[B. Brecht]
Sempre que o nosso casaco se rasga
vocês vêm correndo dizer: assim não pode ser;
isso vai acabar, custe o que custar!
Cheios de fé vão aos senhores
enquanto nós, cheios de frio, aguardamos.
E ao voltar, sempre triunfantes,
nos mostram o que por nós conquistam:
Um pequeno remendo.
Ótimo, eis o remendo.
Mas onde está
o nosso casaco?
Sempre que nós gritamos de fome
vocês vêm correndo dizer: Isso não vai continuar,
é preciso ajudá-los, custe o que custar!
E cheios de ardor vão aos senhores
enquanto nós, com ardor no estômago, esperamos.
E ao voltar, sempre triunfantes,
exibem a grande conquista:
um pedacinho de pão.
Que bom, este é o pedaço de pão,
mas onde está
o pão?
Não precisamos só do remendo,
precisamos o casaco inteiro.
Não precisamos de pedaços de pão,
precisamos de pão verdadeiro.
Não precisamos só do emprego,
toda a fábrica precisamos.
E mais o carvão.
E mais as minas.
O povo no poder.
É disso que precisamos.
Que tem vocês
a nos dar?
*
Maravilha.
Eu, você e o Brecht queremos o casaco e o pão inteiros. Não farelos. Nem remendos.
O nosso objetivo é o mesmo: o cume da montanha.
Os caminhos que vemos para subir adiante é que são diferentes. Afinal, a montanha tem várias faces. Umas mais curtas, porém mais íngremes. Outras mais planas e menos acidentadas, porém bem mais longas.
Não sabemos bem qual seria a melhor subida.
Na mais íngreme precisaríamos certamente de mais músculo. Preparo físico e apetrecho de alpinistas. Se não for assim, perigamos cair de determinado ponto e nos esborracharmos no chão. Perda total.
No caminho mais longo e plano perigamos nos perder em círculos: é tudo tão parecido. A paisagem muda tão devagar. Andando mais na ~horizontal~, em sendas sinuosas, de um lado para outro, acabamos não subindo muito a cada ciclo de caminhada. O deslocamento ~vertical~ pode ser quase nulo. Perigamos envelhecer andando e, tomados pelo cansaço, deitarmos ali na beira da estrada. Para não mais levantar.
Muitos antes de nós já miraram o mesmo cume e acabaram descansando no caminho. Ou esborrachados após um passo em falso na escalada vertical, ou de velhos e cansados que ao fim e ao cabo continuaram praticamente na mesma altura de seus pais e avós – isso quando não surgiu um vale no meio da senda que os fez estar momentaneamente até mesmo ~abaixo~ do nível dos velhos. Ou pior: quando não veio uma tempestade – coisa sinistra! – que os ~golpeou~, obrigando-os a voltar. Ou mesmo, de tão forte o ~golpe~, fê-los rolar estrada abaixo.
De novo:
O nosso objetivo é o mesmo: o cume da montanha. Mas não sabemos bem qual seria a melhor subida. Não sabemos nem aonde os caminhos que favorecemos nos levarão ao cabo.
E não é tudo: diferimos não apenas quanto ao caminho adiante…
– Diferimos também – bem, às vezes sim às vezes não… – na leitura do caminho que já fizemos juntos até aqui. E quanto ao saldo dos líderes que nos guiaram a cada etapa da caminhada.
*
Da metáfora para a vida:
Da sua perspectiva – tão valida (ou não) quanto minha em princípio – a performance de Lewandowski em nada nos impediu de, ao final, cair. Ou até mesmo contribuiu para “suavizar” a queda, gerando menor trauma e, portanto, menor aprendizado para o futuro.
Na minha perspectiva, diante de uma forte tormenta, ele firmou o pé para impedir que descêssemos mais baixo ainda. Seu pé firme e mão estendida impediu até mesmo que uma de nós – alguém bastante “especial”… uma líder – caísse para as laterais da trilha, em queda fatal, desfalcando ainda mais a fileira dos que restavam para continuar a luta para subir.
*
E termino citando você:
“atenção, Nobreisto não é uma polêmica, apenas um outro ponto de vista”.
*
De qualquer forma, polêmica ou não (por que não?), é sempre um prazer te ler e ver esse “outro ponto de vista”.
Vou consolidar esse nosso papo aqui num post, ok?
[Nota: e finalmente, hoje, chegamos ao tal do post consolidado e dividido entre mim e o Arkx!
Nesta conclusão da série sobre o STF…]
*
tamo junto, Mano
faça bom de nossa troca de comentários, como melhor for de sua avaliação
nada tenho contra polêmicas, apenas quis deixar claro não ser o momento de polêmicas improdutivas.
saiba que compreendo perfeitamente seu ponto de vista sobre o Lewandowski. e não é nem que eu não concorde, ao menos em boa parte. minha questão é outra. vou tentar resumir:
estamos no mais grave e intenso momento da História deste país, no meio de um enorme colapso – não apenas político e institucionais mas, eminentemente, existencial!
não é só na macropolítica e na superestrutura que tudo desmoronou. acompanho, com muito pesar, como no cotidiano, na micropolítica e nos projetos de vida ainda é pior. tudo se desmancha no ar, porque os antigos modelos, paradigmas, estratégias e objetivos já não são mais válidos. expiraram a data de validade. faliram.
é um assunto para muita conversa.
grande abraço
[Nota: na sequência, o Arkx faz referência a um livro que descobrimos, casualmente, que fora importante para os dois, em outro bate-bola nosso, em outra seção de comentários:


Fim de nota]
Will perguntou:
– Pratica-se muito o alpinismo nestas montanhas?
– O alpinismo é parte integral do currículo escolar.
– Uma provação que marca o fim da infância e o ingresso na adolescência — explicou o dr. Robert. –  – Uma provação que os ajudará a compreender o mundo onde têm de viver e que os fará sentir a onipresença da morte e a precariedade fundamental de toda a existência.
– Convém que o velho e querido problema do poder não seja esquecido — disse Vijaya. — O alpinismo é um preventivo à tirania.
“A Ilha”, Aldous Huxley
*
Como já te disse em outra conversa por aqui, as páginas finais desse livro, “A Ilha”, me permiti não ler.
No final a dura realidade, grande e avassaladora, se impunha sobre um belo sonho. Pequeno, do tamanho de uma…
– … “ilha”.
Poupei-me do sofrimento e fechei aquele livro.
Para o bem e para o mal, na atual imposição do que de pior existe na realidade sobre todos os sonhos, não me é dado fechar o “livro”.
Huxley ao menos tinha o LSD. Para mim neste ano não sobrou nem a yoga – também tão praticada, em ~todas~ (rs) as suas modalidades, lá em “A Ilha”. Dureza.
*
curioso. acabei de pensar algo um tanto surpreendente. qdo li “A Ilha”, eu era um adolescente. claro que se passaram muitos e muitos anos. e tb o final do livro não foi para mim uma leitura fácil. angustia, entristece. e nos dá a terrível dimensão de como é difícil “mudar o mundo”. entretanto, as últimas frases me chamaram muito a atenção. aliás, como não poderia ser! Karuna. muito embora percebesse nitidamente que tinham um sentido muito forte, creio que na época não consegui traduzir intelectualmente tudo aquilo que a emoção me trazia. agora sim! posso dizer que depois de todo este tempo consegui finalmente fechar o livro.
*
Por ROMULUS
Mutatis mutandis
>> “Os sapos, os insetos incessantes e os mainás estavam de volta.
– Karuna! Karuna!
E num semitom abaixo:
– Atenção!”
Interessante como os livros mudam com os anos. Bem, não eles. Quem muda somos nós. Você, hoje, finalmente “fechou” o livro. Talvez a última coisa que te faltava fosse testemunhar, você mesmo, a queda d’“A Ilha”. Mas a Ilha…
– … de Vera Cruz?
Minha leitura do livro hoje certamente também seria diferente.
Leria, desta vez, o final?
Creio que não. Se não pude com o vigor da adolescência, não vai ser com as frustrações da maturidade que vou conseguir.
Imagine você: não estava então chumbado nem por esta gastrite que o golpe me deu!
*
-> Talvez a última coisa que te faltava fosse testemunhar, você mesmo, a queda da Ilha…  … de Vera Cruz.
não. minha plena compreensão intelectual das últimas frases do livro, sob a emoção que sentira quando as li pela primeira vez, não tem a ver com o golpe atual no Brasil.
o que acontece agora no país era uma queda desde muito anunciada, do meu ponto de vista.
“são os sapos, os insetos incessantes e os mainás…
-> as páginas finais desse livro, “A Ilha”, me permiti não ler.
se vc leu as outras mensagens que trocamos sobre “A Ilha”, então vc leu o final do livro! o que tb quer dizer que o final não é tão ruim assim. ou ao menos, as últimas linhas não o são.
p.s.: LSD é o que deram para o Brasil, tá mais em transe do que qualquer delírio cinematográfico de Glauber Rocha.
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(longo suspiro)
Depois dessa troca, volto eu, Romulus, pra fechar a série de posts sobre o STF assentindo com a cabeça:
É, Arkx…
LSD sim…
E, pior:
– Estragado!
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Veem como às vezes Arkx e eu concordamos em alguma coisa??
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Leia mais desta série de posts sobre o STF:
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*   *   *
Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?
– Pois você não está só! Clique na imagem e chore suas mágoas:
*
(i) Acompanhe-me no Facebook:
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(ii) No Twitter:
*
(iii) E, claro, no meu blog aqui no GGN:
*
Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

*   *   *
Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

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(iii) E, claro, aqui. E também no GGN, onde os posts são republicados:
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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