Pergunta do século: quanto vai piorar antes de melhorar??
Pergunta do século: quanto vai piorar antes de melhorar??
Por Romulus & Núcleo Duro
– Precisou da ditadura para chegarmos à Constituição de 88 – a “Cidadã”… e a primeira com força normativa.
– Precisou também da Segunda Guerra Mundial pra chegarmos à Europa que respeita minorias mais que qualquer outro lugar e à ~ União ~ Europeia.
– Ou seja, precisamos do trauma para aprender.
– Mas, como vemos nos dois casos (e em outros), <<trauma social tem prazo de validade>>
– “Vai ser 10 anos?”
“Vai ser 21 anos de novo?”
“Vai precisar de 60 milhões de mortos de novo?”
– Não sei, uai…
O que sei é que hoje temos tecnologia da informação e as redes sociais e, com elas, sedimentações mais rápidas de percepções sociais e consolidação de narrativas.
– Pro bem e pro mal.
Já estamos experimentando o “pro mal”, né??
– Quem sabe o “pro bem” não reduz bastante o montante de “suor, lágrimas e sangue” e/ou o No. de vítimas de “guerra” necessários para empurrar o pêndulo da História pro outro lado?
Ciro – Chorando de rir, ou rindo de chorar… Vi isso postado na página de um coxinha…
Renato – Que espectro ideológico que nada, o que temos são patologias!
Ciro – Enquanto isso numa esquina de Copacabana
Pq alguma esperança a gente tem que ter né?
Renato – Essas coisas seguram bem a esperança. Aliás, acho que estamos num dos tais momentos de resistência. Estamos? O refluxo foi tão grande assim? Alguém tem uma dimensão “científica”, ou pelo menos com método, disso? Gostaria de refletir mais sobre o tema e sobre o que fazer em tais momentos… Uma análise realista das nossas possibilidades ajudaria. 🙂
O que seria “realista” é a primeira questão, claro. 🙂
Maria – Vc quer pouca coisa, né? rs De onde viemos? Onde estamos? Quantos somos? Pra onde vamos? E, é claro, Que fazer?? E tudo isso em bases “realistas” kkkk…
Renato – realmente, nem parece que o que quero é pouco… Mas é! Sei que parece muito, ou tudo, saber o tamanho do buraco. Mas nem precisa de ser acurada, essa medida. A resolução que procuro é baixa, do tipo “sobrou alguma coisa ou começamos do zero outra vez?”… E talvez até descobrir se vai durar mais de dez anos. Acho que vai, aliás. Brincadeiras à parte, converso todos os dias com pessoas que vão do pessismismo absoluto, do tipo “vou migrar”, até otimistas que acham possível ganharmos as eleições que virão (virão?) Com Lula, Ciro ou até Dilma.
Minha visão é mais pessimista, mas eu não sou economista ou cientista político. Ou filósofo. Pessoalmente, acho que fomos pras cucuias por uns dez anos, no mínimo, e parte da esquerda vai ser perseguida e eliminada (judicialmente) e politicamente. Se quiserem, e precisarem, cassam até o registro do PT. Por isso a minha ambiciosa pergunta inicial, que nem era tão ambiciosa assim. No fundo, só quero saber se precisamos enterrar os livros em barris (tive um parente previdente que fez isso). E se sobreviveremos ao furacão. Os jovens como o Romulus tem mais tempo (e energia) pra pensar, sobreviver e resolver. E ter ideias novas. Mas eu, com 63 anos… Minha perspectiva PRECISA ser histórica, pois individualmente não alcanço mais os tempos.
Admito que levei um pancadão, não esperava MESMO, nem nos piores pesadelos, o que aconteceu. Relendo o que escrevi, vi que pareço até mais pessimista do que realmente sou. 😀
Maria – Renato, brinquei com você, mas nem imagina o quanto me identifico com cada uma das suas palavras. Foi o terror de antever 64 tudo de novo no dia da condução coercitiva do Lula que acabou me transformando em militante de FB, que sempre abominei. Aliás, a perspectiva histórica, num artigo do Romulus sobre a Dilma, foi o que me fez descobrir o moço e verificar com espanto o quanto ele era jovem. Deve ser por isso que ele consegue reunir tanta gente mais velha por aqui. Com 10 anos mais que você, e partilhando do seu pessimismo, é o cotidiano da história desses tempos de horror golpista que me parece um pesadelo ou filme surreal de terror. Sigo o noticiário pela informação, mas já sem emoção ou qualquer esperança de previsão possível. Por isso venho tentando entender e desmontar o que me parece um perigo de longo prazo e mais difícil de enfrentar, a cultura do ódio. Ou buscar indícios de novas formas de luta, novas linguagens de comunicação, novas forças sociais que possam se opor a essa inacreditável ascensão de valores de violência do pensamento de direita, ainda que se aglutinem em torno de instituições e iniciativas quase inverossímeis, como os encontros mundiais de movimentos sociais promovidos pelo Papa (?!). Mas sei que são passos de uma história que não será mais a minha. Enquanto isso, os encontros com os amigos virtuais de uma chihuahua vermelha vão me ajudando a manter no cotidiano um mínimo de alegria e humanidade. Tamos juntos nessa, né não, companheiro?
Renato – o Romulus é quem organizou isso. Também fiquei impressionado quando descobri quão jovem era… É o articulista principal, o organizador… Nosso general, enfim. Acho que ele tem energia para transformar este pequeno grupo numa força tarefa eficiente. E tamos juntos nessa, companheira! 🙂
Tá vendo o tamanho do problema, Romulus E Maya Vermelha? Você agora é o capitão Kirk na nossa pequena Enterprise… 😀
Maria – Então, boralá, tripulação, boralá capitão general! rsrs
Romulus – Capitão? General?
Da “Enterprise” – que vê tudo sem poder intervir no que observa?
Ou do “Titanic” – que afunda junto com o barco??
Aimeudeus!!
Tava ainda ontem falando sobre isso…
A diferença de idade não diminuiu o tamanho da porrada não, gente…
Pra mim – e minha geração – o(s) golpe(s) foi perder todas as bases. Nossas certezas foram pro buraco!
Justamente pq, pelos nossos “poucos” anos, só termos conhecido progresso. No pior dos casos, estagnação.
Para mim era certo que daí não passava.
Não por outra razão apostei no “Brasil maduro” na minha tese de doutorado e me f*di.
Primeiro tava achando que a coisa ia seguir desse jeito por década também…
Mas o arranjo do golpe feito por cima não está se segurando. Aí você vê até um Caiado defendendo, ao menos publicamente, “Diretas”…
Do jeito que tá eles não seguram.
O problema maior, como aponta a ML, é a sedimentação da cultura do ódio em boa parte da sociedade. Não adianta muito devolver a palavra à soberania popular se ela está doente.
Isso no ~ conteúdo ~ (direitoso)…
Na ~ forma ~ acho que dá pra melhorar. Ou seria “piorar menos”?
Porque hoje estamos num arranjo de direita ~ disfuncional ~, com a fragmentação do poder e inviabilização da ação política central em virtude do “Procuradorismo”.
O resgate via eleições talvez dê os meios para botar cabresto nos “meninos”. Pro bem e pro mal.
Mas, pra voltar a era do progresso, para além da “contenção de danos” atual, a gente ainda vai ter que viver o mal (oxalá não os mesmos 21 anos…), para gerar o trauma social que empurrará o pêndulo para o outro lado, gerando, como em 85-88, uma posição majoritária progressista – “artificial” (pois que oriunda do trauma) – numa sociedade eminentemente conservadora.
Ou seja: classe média terá que sofrer de novo (como sofreu com os filhos desaparecidos…) e povão terá que sofrer mais do que já sofre normalmente.
Classe média até dar o braço a torcer de que fez merda (como em 64 com as “marchas da família”?) e povão até (re)criar consciência da luta de classes.
Isso em CNTP, para criar o caldo de cultura de solidariedade humanista que superará o individualismo meritocrático / ódio atuais.
IMPONDERÁVEL
De repente, pode o “milagre” ou o imponderável fazer vir as tais “Diretas” e fazer com que, como em 2014, as ganhemos apertado ~ na majoritária ~. Isso pode brecar o regresso, mas não resolve o problema de fundo.
PEDAGOGIA DO TRAUMA
Precisou da ditadura para chegarmos à CF de 88 – a “cidadã”… e a primeira com força normativa.
Precisou também da II GM pra chegarmos à Europa que respeita minorias mais que em qualquer outro lugar e à ~ união ~ europeia.
Ou seja, precisamos do trauma para aprender.
Mas, como vemos nos dois casos (e em outros), trauma social tem prazo de validade.
Lógico: vêm as novas gerações não traumatizadas e que terão de aprender com os próprios erros (não é a mesma coisa apenas ler sobre num livrinho…).
Então vemos a UE (merecidamente) em xeque e o surto fascistóide e xenofóbico na Europa.
Da mesma forma, vemos a volta do lacerdismo na classe média que desembocou em 64 – e até a volta de um anacrônico anti-comunismo – como vemos até na foto ridícula que deu origem a esta discussão!
Ou seja: como ~ parte interessada ~ rezo pelo imponderável para dar uma rasteira nas CNTP e na marcha inercial da História para reduzir os danos do período (pendular) de regresso.
Mas, tentando encarnar o observador desinteressado, acredito que, repetindo a História, só “suor, lágrimas e sangue” resolverão (mais uma vez com prazo de validade?) o problema de fundo. Mesmo porque a dinâmica, como vemos, é global.
Não foi assim com a ascensão dos fascismos? Dos comunismos vs. anti-comunismos? Dos neoliberalismos? E agora das “democracias” liberais em xeque?
Para terminar o comentário em uma nota positiva (?) e voltando à pergunta do Aroeira:
“Vai ser 10 anos?”
“Vai ser 21 anos de novo?”
“Vai precisar de 60 milhões de mortos de novo?”
Não sei, uai…
O que sei é que hoje temos as redes sociais e, com elas, sedimentações mais rápidas de percepções sociais e consolidação de narrativas.
Pro bem e pro mal.
Já estamos experimentando o “pro mal”, né??
Quem sabe o “pro bem” não reduz bastante o montante de “suor, lágrimas e sangue” e/ou o No. de vítimas de “guerra” necessários para empurrar o pêndulo da História pro outro lado?
Oxalá!
Ciro – Eu e você (eu um pouquinho mais velho q vc) somos da geração do “fim da história” do Fukuyama. Engano provisório, a história não acabou, ela só deu uma pausada enquanto um sistema de PAX MERCADUS represava as contradições internas. Explodiu e a história retomou o seu curso.
*
Atualização – algumas reações:
No twitter:
Facebook Comments