Nazismo e desconstrução de identidade
Nazismo e desconstrução de identidade
Por Maria
Encontrei um comentário interessante numa matéria do Cafezinho sobre uma denúncia contra a deputada Jandira Feghali. São tempos estranhos, esses, em que vivemos. Um presente que evoca em nós estranhos ecos do passado.
Quem viveu 64 sabe que o que aconteceu com a população foi bem parecido com o que se descreve neste comentário. Acho que ele ajuda a entender um pouco a disseminação do medo e do ódio e, ao mesmo tempo, a sensação de paralisia em que a população hoje parece capturada. Com o agravamento da situação política atual, não é demais olhar o passado para tentar evitar um futuro que a cada dia mais parece tornar-se um déjà vu sombrio.
Emmanuel Andrade
14/02/2017 – 16:48:20
14/02/2017 – 16:48:20
Acabei de ler recentemente um livro incrível que residia na minha cabeceira há muito tempo, aguardando um momento em que eu tivesse estrutura emocional suficiente para lê-lo até o fim.
Trata-se de “O coração informado”, de Bruno Bettelheim. O livro mostra como a identidade e a integração psíquica das pessoas foram sendo destruídas nos campos de concentração e na sociedade alemã pelo trabalho diuturno da Gestapo, com a finalidade de consolidar o estado totalitário.
A primeira parte do livro trata da destruição da identidade e da integração dentro dos campos de concentração das formas mais cruéis imagináveis. Na segunda parte, ele vai examinar o fenômeno acontecendo na própria sociedade alemã. E aí, um dos instrumentos mais importantes da empreitada maligna era aumentar no indivíduo a ansiedade decorrente de não se saber de onde viria nem qual seria a acusação que pudesse levá-lo para o campo de concentração.
No início eram os líderes que eram presos mas, logo em seguida, passou-se a prender uma amostra aleatória do grupo para, no final, aprisionar grupos inteiros, como foi o caso dos ciganos.
Esse processo sai do ambiente social mais amplo para internalizar nas próprias famílias, com as delações que podiam nascer de qualquer lugar e por qualquer motivo, como por exemplo, a caça aos “resmungões”. E se entre os presos houvesse alguém que não se enquadrasse na alegada acusação, melhor ainda, aumentava mais a ansiedade entre os que ficavam de fora.
Só havia duas alternativas para minimizar o sofrimento da ruptura da personalidade: ou reagir e ir à luta, com altíssima probabilidade de ser morto, ou aderir explicitamente ao Fuhrer, com toda a parafernália de sinais exteriores, que incluía abandonar o cumprimento informal entre amigos, substituindo-o pelo Heil Hittler.
E o que isso tem a ver com a denúncia contra a Jandira? A mensagem é clara: ninguém, a não ser a Gestapo, sabe quem será o próximo e por que razão será indiciado. Portanto, fiquem quietos e apenas obedeçam! Você não sabe o que sabemos sobre você! Parece um pesadelo mas, infelizmente não é.
*
Romulus:
O final do musical “Cabaret”
E um repeteco:
Que tal usar, analogamente, a anedota do sapo que se deixa cozinhar vivo se – e somente se – a subida da temperatura – da ambiente até a de fervura – for lenta e gradual?




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