Rio: razões para o voto nulo (2)
Por Luiz Carlos de Oliveira e Silva
- Um querido amigo, que sempre demonstrou muito medo com uma pretensa escalada do fascismo entre nós, disse aqui no Facebook que já vê indícios de que a “direita limpinha” está abandonando o barco do bolsonarismo. E se disse aliviado com isto. Comentando criticamente a sua postagem, eu escrevi o que segue…
- Eu não sentirei este alívio por considerar que Bolsonaro está sendo – e muito provavelmente continuará a ser – a versão atual do papel que no passado recente foi desempenhado por Eduardo Cunha. Depois que Cunha realizou o trabalho sujo, ele foi eliminado do sistema como o cocô é eliminado do corpo, e tudo continuou como dantes…
- Cunha está em cana e o sistema que o pôs e o depôs continua operante, firme e forte. Mutatis mudantis, eu vejo Bolsonaro como um novo Cunha.
- Inúmeras vezes, eu disse aqui que o nosso principal inimigo não é Bolsonaro e sim a agenda de desmanche do Estado e dos direitos sociais, associada com a agenda de “fechamento legal” do sistema, agenda esta que vem unificando a plutocracia desde a promulgação da Constituinte de 1988. Este é o busílis da questão, a meu ver.
- Bolsonaro é o bode na sala da vez… Ele já cumpriu o seu papel (derrotar as forças progressistas nas eleições de 2018) e agora, tal como aconteceu com Cunha, o bode está prestes a ser sacrificado no altar dos interesses da plutocracia.
- É por isto que não sentirei alívio com a saída de cena de Bolsonaro e de seus aloprados. Eles nunca distraíram a minha atenção, por isto, eles nunca me amedrontaram… Já a agenda da plutocracia, esta sim, me enche de pavor porque ela representa o maior ataque aos nossos interesses nacionais, populares e democráticos da história republicana brasileira.
- Repito: a agenda da plutocracia, esta sim, me enche de pavor. Esta agenda da plutocracia tem a lógica das mineradoras: extrair ao máximo todos os recursos, deixar no lugar uma imensa cratera e ir morar em Miami.
- Eu tenho pavor de imaginar os meus netos e o povo brasileiro das próximas gerações tendo que se virar para sobreviver no interior de uma imensa cratera. É disto que se trata, e não das alopragens diversionistas de histéricos como Damares, Crivella, Bolsonaro et caterva… Pena que muita gente do campo progressista não compartilhe do meu pavor, ocupada que está com o secundário sem cuidar do principal.
- À medida que aprofunda a implantação da sua agenda de desmanche rumo à cratera, a plutocracia nos chantageia com a continuidade do bolsonarismo. Em seguida, nos aponta a “saída”: uma grande frente contra o bolsonarismo, mantida intacta a obra do desmanche. E pensar que tem gente do nosso campo que cai nessa armadilha…
- É por isto que eu votarei nulo amanhã: Crivella é Bolsonaro, sim, mas Paes é um representante da agenda da plutocracia tal qual descrita acima. Achar que Crivella é pior do que Paes é se render à chantagem da plutocracia, e cair na armadilha…
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