EUA/ Lava-Jato: depois da carne, soja brasileira – e China – são o alvo da guerra econômica
Por Roberto Feltrin (*), para o Duplo Expresso
(& Romulus Maya, no final)
Publicado 16/nov/2018 – 21:34
Atualizado 18/nov/2018 – 15:00
– Blairo Maggi – e a sua trading verde e amarela – são os próximos na lista dos gringos.
A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode trazer consequências catastróficas ao agronegócio brasileiro. Exportando grãos diretamente para a China, sem passar pelas tradings americanas, a Amaggi – a única super trading brasileira de soja – vem inadvertidamente e indiretamente atrapalhando os movimentos estratégicos de chantagem econômica dos EUA contra os chineses. A equação para entender a situação é bem simples: Brasil e EUA são concorrentes nas exportações de produtos agropecuários para o gigante asiático, e a mera ameaça de corte do fornecimento de soja à China colocaria essa hiperpotência asiática, com o seu quase 1.4 bilhão de habitantes, de joelhos.
Isto é, caso não houvesse a alternativa de substituir as importações que antes vinham dos EUA pelas do Brasil. E é exatamente para esse fim que trabalha o Deep State americano e os seus operativos locais no Judiciário e na mídia brasileiros.
Ainda mais do que no Ocidente, a grande maioria da proteína ingerida pelos chineses vem direta ou indiretamente da soja. Se todas as empresas exportadoras de soja forem americanas, sujeitas e submissas à jurisdição de seu país, basta que seja decretada uma sanção comercial específica que não se poderá exportar mais nem um grão para a China. Essa seria uma ameaça mais temida do que a da própria bomba atômica.
De novo: 1.4 bilhão de estômagos para alimentar. Todos os dias.
A guerra de sanções já começou. Na disputa comercial/ diplomática entre Pequim e Washington, quando a Casa Branca taxa as importações da China, como represália, os chineses bloqueiam os contratos de compra de soja dos norte-americanos e dão prioridade – e pagam um ágio especial (como já está acontecendo) – aos grãos do Brasil e das exportadoras de capital efetivamente brasileiro. Nesse contexto, os preços das commodities ao mesmo tempo sobem no Brasil e caem na bolsa de Chicago. A Amaggi e os agricultores que lhe fornecem soja estão ganhando um latifúndio de dinheiro.
O alvo anterior na guerra econômica movida pelos EUA ao mesmo tempo contra a China (consumidor) e o Brasil (fornecedor) foi a carne. Os grandes fornecedores brasileiros de carne, como a JBS, estão sendo massacrados pelos operativos dos EUA no Judiciário brasileiro para que se vejam forçados a entregar suas empresas para o capital anglo-saxão, liderado pela Tyson Foods. Ou para que, no mínimo, se transmutem eles mesmos para a cidadania e sede americanas – como, aliás, já vem fazendo a própria JBS, seguindo plano traçado por Henrique Meirelles (que tem ele próprio domicílio fiscal nos EUA) quando esse era Presidente do Conselho de Administração da holding do grupo.
Como testemunhamos todos, para neutralizar o agronegócio brasileiro, ao mesmo tempo eliminando a concorrência e deixando a China em suas mãos, os EUA têm se valido dos seus tentáculos dentro do sistema judiciário-policial brasileiro. Alguém tem outra explicação para a estranhíssima Operação “Carne Fraca”, que causou bilhões de dólares de prejuízo para a pecuária brasileira por nenhuma razão – aparentemente – razoável?
Cabe lembrar que as grandes potências sempre usam seus recursos diplomáticos/ militares contra as grandes empresas privadas de países concorrentes e protegem as suas próprias empresas da espionagem estrangeira. No caso brasileiro podemos citar diversos exemplos, ao longo da História, de empresas nacionais estratégicas sabotadas por ação estrangeira direta ou indireta, como Barão de Mauá, a família Breves na área de navegação, produção e comércio de café, as Indústrias Reunidas Matarazzo, Mario Wallace Simonsen, grupo Villares, Elebra, grupo Machline, Verolme, Engesa, Avibrás e muitas outras. Mais recentemente tivemos os casos do Grupo Eike Batista, Odebrecht, Camargo Correa, Engevix, Andrade Gutierrez, Estaleiro Atlântico Sul, Ecovix Estaleiro de Rio Grande e Embraer (veja este site).
JBS – e sua parceria com a China (aqui e aqui) –, BRF, Marfrig (aqui, aqui e aqui), Minerva e o Grupo Amaggi são, claramente, os próximos alvos. Melhor que todos durmam com um olho aberto. E também os brasileiros. Afinal, um país que não tem grandes empresas nacionais não tem engenharia nem tecnologia nacional, inovação ou valor agregado e emprego de alta qualificação.
A quem interessa acabar com as grandes empresas brasileiras? Certamente não ao governo, pois a economia, o emprego e a arrecadação de impostos vão para o ralo com o fim dessas grandes empresas. O Judiciário não se importa, afinal seus salários nababescos não mudam nada se a economia afunda. Aliás, cumpre lembrar que, em plena crise econômica, os magistrados acabaram de receber mais um aumento indecente, não é mesmo?
Mídia e denúncias plantadas como arma de guerra
A melhor opção para os EUA saírem vitoriosos nesta guerra comercial com a China seria destruir os grupos Amaggi, BRF e JBS e concentrar o controle das exportações de commodities agrícolas e carnes oriundas do território brasileiro nas mãos de suas multinacionais instaladas no Brasil. Assim, terá poder de controlar preços, extrair renda, sancionar e subjugar qualquer país que seja importador de alimentos proteicos, como Irã, Rússia, Japão, árabes em geral, Índia e, principalmente, a China.
As peças do xadrez, inclusive, já estão se movimentando contra a Amaggi. Em 26 de junho de 2017, a Força Aérea Brasileira interceptou um avião com 500 kg de cocaína que teria supostamente decolado de uma fazenda de Blairo Maggi. A mídia deu ênfase a essa operação da FAB e, mesmo sendo ridículo tentar vincular Blairo ao tráfico de entorpecentes, abriu-se o cenário para todos os tipos de fake news disseminados pelo WhatsApp. Após este episódio, para muitas cabeças da massa desinformada Blairo Maggi seria um gangster do tráfico. A quem interessa esse absurdo?
Outro episódio que aparenta ser inofensivo, mas teve efeito devastador contra a imagem deste empresário, foi o discurso tosco do candidato a deputado federal Nelson Barbudo, do Mato Grosso, que classifica Blairo como o “maior comunista” do Brasil (?!). Essa “acusação” contra Blairo é ridícula, mas – acreditem – pegou! Não é à toa que ela tenha nascido de Nelson Barbudo, um neófito político que, surpreendentemente, acabou sendo o deputado federal mais votado do Mato Grosso, graças a uma sofisticada rede de disseminação – via WhatsApp e Facebook – de fake news contra as lideranças políticas e empresariais tradicionais do estado.
Quem articulou – e financiou – tal rede clandestina?
O maior foco de sua campanha foi, justamente, Maggi. Há muitos estudos que mostram como essas ferramentas midiáticas foram usadas em vários países a serviço da guerra híbrida movida pelos EUA, potência estrangeira concorrente do nosso agronegócio. Por exemplo, na chamada “Primavera Árabe” e nas “revoluções coloridas”.
O uso da Justiça Brasileira para interesses internacionais
Essas fake news e falsas acusações já são um preparativo para um golpe mortal sobre o grupo Amaggi, provavelmente através de uma nova Operação “Carne Fraca” ou algo como uma operação “soja podre”.
Atenção: há fortes indícios de que a recente operação da Polícia Federal que prendeu novamente empresários e políticos ligados ao agronegócio brasileiro tenha como objetivo torturar psicologicamente algum desses presos para que tenham álibi para destruir, definitivamente, algum dos nossos grande grupos nacionais do agronegócio, como JBS, BRF, Marfrig, Minerva ou Amaggi. Os grupos de carne já estão com a faca no pescoço e obrigados a vender seus negócios – aos gringos – desde a Operação “Carne Fraca”.
No esforço para detonar os antigos “campeões nacionais” – e, assim, entrega-los ao capital estrangeiro –, a máquina de guerra (híbrida) dos EUA e os seus operativos locais, no Judiciário brasileiro, continuam a poder contar com a ajuda também da imprensa (supostamente) “de esquerda”:
A mesma lógica explica o trabalho destruição e esquartejamento feito atualmente na BRF, tocado pelo mesmo executivo internacional que já havia esquartejado a Petrobras e destruído a competividade do nosso agronegócio colocando o preço do diesel e dos fertilizantes nitrogenados em níveis exorbitantes: Pedro Parente. É na BRF que, hoje, esse verdadeiro agente sabotador leva a cabo a sua tática de “desinvestimentos” (sic).
BRF, JBS e Marfrig estão acuadas, vendendo seus negócios para estrangeiros. Depois da destruição da Odebrecht, a JBS foi amaldiçoada como a “grande vilã” do Brasil – e até dos pecuaristas. Mas a realidade é muito diferente: o gráfico abaixo mostra a cotação do boi gordo desde o momento em que o BNDES começou a apoiar a consolidação dos grandes frigoríficos, em 2007, até a Operação “Carne Fraca”, no início de 2017. Em todo esse período o preço do boi gordo cresceu continuamente:
Como se vê na figura, depois da “Carne Fraca” a cotação passou a cair e não subiu mais.
Ponto para os gringos!
O aumento anterior havia ocorrido porque os grandes frigoríficos conseguiram melhorar a qualidade, o marketing e as condições sanitárias e ambientais do nosso produto exportado, logrando abrir, com o apoio da diplomacia ativa dos governos do PT, dezenas de mercados que estavam antes fechados para o produto brasileiro. Isso obviamente incomodou muito os concorrentes anglo-saxões, que controlavam o mercado de carne bovina – produto de relativo alto valor por kg – há décadas.
O contra-ataque foi a “Carne Fraca”, a “nova” operação contra a JBS e a sabotagem tocada por Parente na BRF. O que mais virá (do Norte)?
Agora, com o negócio de carne sendo desmantelado, só falta colocar a faca no pescoço da nossa ponta de lança no mercado internacional de soja, a Amaggi. Acredito que um dos sócios, talvez o próprio Blairo, seja injustamente levado a se render através do mesmo processo que já extorquiu outros empresários brasileiros e submeteu-os aos interesses estratégicos e comerciais dos EUA, através de seus tentáculos no sistema judicial-midiático brasileiro.
Se no passado destruíram nossas grandes empresas de tecnologia, engenharia, navegação, logística, mineração e de comércio de café, agora pretendem tirar os brasileiros do controle dos nossos negócios de alimentos. Por mais que isso seja para submeter os chineses, esses não vão intervir abertamente a nosso favor, pois temem que seu inimigo possa agir como uma onça acuada quando se metem em seu backyard (quintal).
Os brasileiros precisam compreender melhor a geopolítica; e a se protegerem sozinhos dos efeitos colaterais da grande guerra comercial global atualmente travada entre o Ocidente anglo-sionista e as potências emergentes da Eurásia. Nesse contexto, esperemos que (i) a volta dos nossos militares à política; (ii) o fato de o presidente eleito ter contado com forte apoio do agronegócio para a sua vitória; e (iii) o futuro Ministro da Casa Civil ser Onyx Lorenzoni, um dos maiores especialistas em agronegócio na classe política, sejam positivos para a defesa do setor.
A escolha é clara: submissão aos EUA na sua guerra comercial contra a China ou defesa dos interesses do agronegócio brasileiro e da soberania nacional?
Aliás, é justamente esse contexto que ajuda a explicar os ataques especulativos, policial-midiáticos, que Lorenzoni vem sofrendo. Buscam fritá-lo e até mesmo impedir a sua posse. Explica também os ataques à imagem da futura Ministra da Agricultura, alcunhada “musa do veneno” – por ONGs estrangeiras, é claro. Em ambos os casos, mais uma vez vemos que a imprensa (supostamente) “de esquerda” serve de linha auxiliar dos interesses dos EUA, ao dar todo destaque a tais ataques:
– Aqui, em parceria com o Intercept, aquele veículo “ongueiro” bancado por bilionário franco-americano “filantropo” (sic) que sabidamente trabalha com a CIA:
O objetivo dos mesmos é, claramente, enfraquecer – ou mesmo impedir – a representação do agronegócio no futuro governo, deixando o caminho livre para que os entreguistas, advogados da submissão completa aos interesses geopolíticos dos EUA em detrimentos dos do Brasil, vençam na arbitragem interna de conflitos a ser feita na presidência Bolsonaro/ Mourão.
Uma aliança do agronegócio com os militares pode nos ajudar a sair desta grande crise, evitando a destruição das grandes empresas exportadoras. Os militares entendem de geopolítica e são treinados para defender o interesse nacional. Sabem que os BRICS, e seus aliados, Mercosul, América Latina e África compram 60% das exportações brasileiras. Sabem que, depois que o país se desindustrializou, toda economia nacional ficou dependente da qualidade das exportações do agronegócio para manter a estabilidade e o crescimento. Sabem que essa qualidade só pode ser conseguida pelas grandes empresas nacionais do setor que abrem mercados, investem em tecnologia, agregação de valor, constroem a logística e fazem na prática nossa diplomacia dos alimentos. Eles sabem que nossas grandes empresas precisam sobreviver íntegras e não chantageadas, para que possam voltar a competir lá fora com destemor em relação aos concorrentes e crescer, puxando o resto da cadeia agropecuária e a economia brasileira em geral.
Por tudo isso, concluímos retomando o alerta do título:
– EUA/ Lava Jato: depois da carne, soja brasileira – e China – são o alvo da guerra econômica.
– Blairo Maggi – e a sua trading verde e amarela – são os próximos na lista dos gringos.
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(*) Roberto Feltrin é analista político na ponte aérea Cuiabá-MT/ Brasília.
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Notas do editor (Romulus Maya):
(1) Esperamos que esta seja a primeira de muitas contribuições de Roberto Feltrin para o debate aqui no Duplo Expresso!
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(2) Dica para os militares, caso queiram – de fato – cumprir sua missão constitucional e defender a soberania nacional:
O uso da manipulação do mercado internacional de alimentos como arma geopolítica pelos EUA está muito bem explicado no artigo “Geopolítica da greve dos caminhoneiros e dos alimentos” (4/jun/2018), do competente e inovador economista Gustavo Galvão.
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(3) Blairo Maggi – e, mais importante, a sua trading verde amarela – já estão no radar dos EUA há bastante tempo. Trata-se do único grupo nacional que, através da verticalização, constituiu uma trading que disputa a venda da soja brasileira – e não só aquela plantada pelo próprio Blairo Maggi – nos mercados globais com o cartel que controla o setor no mundo, formado por 4 gigantes estrangeiras: (1) ADM – americana; (2) Bunge – ex-argentina, ex-brasileira e hoje também americana; (3) Cargill – americana; e (4) Louis Dreyfus Company (LDC) – francesa.
Aliás, anos atrás Blairo Maggi associou-se justamente ao grupo francês LDC, no seu esforço rumo à internacionalização. Sem grande surpresa, essa parceria entre ambos – que rivaliza, portanto, com 3 grupos americanos (ADM, Bunge, Cargill) – tornou-se alvo do EUA.
Eis, abaixo, matéria da Radio França Internacional de um ano atrás que reflete exatamente isso. Explico na sequência.
TV francesa dá detalhes sobre envolvimento de Blairo Maggi no Paradise Papers
Por Silvano Mendes
Publicado em 07-11-2017
Modificado em 08-11-2017 em 09:53A televisão francesa deu amplo destaque na noite desta terça-feira (7) para o escândalo Paradise Papers. Um programa de jornalismo investigativo explicou a presença do nome do ministro brasileiro da Agricultura nas listas das personalidades envolvidas no caso. Apresentado como “o rei da soja no Brasil”, Blairo Maggi é acusado de envolvimento no esquema dos paraísos fiscais revelado esta semana.
O programa Cash Investigation, do canal público France 2, conhecido por revelar escândalos em vários setores, faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) que divulgou os Paradise Papers. O grupo analisou mais de 13 milhões de documentos, entre eles 100 mil planilhas, com informações sobre extratos bancários, contratos, e nomes de clientes da Appleby, entidade baseada nas Bermudas e apresentada como “um dos principais escritórios de direito do mundo offshore”.
Esses documentos revelaram detalhes sobre um gigantesco esquema de evasão fiscal em vários setores, envolvendo empresários, personalidades, políticos e celebridades do mundo todo, entre eles o atual ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi. Os jornalistas de Cash Investigation explicam em detalhes como o francês Louis Dreyfus, “um empresário de reputação duvidosa”, se uniu ao brasileiro para investir no setor da soja, além de ajudar a financiar uma das campanhas eleitorais do ministro.
“O Grupo Dreyfus se associou ao rei da soja no Brasil”, comenta o programa ao se referir a Maggi. O ministro, aliás, é apresentado como um “político bilionário, com uma reputação controversa”. Os jornalistas ressaltam que o brasileiro “é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção”.
Mesmo assim, continua o programa francês com ironia, “o currículo de Blairo Maggi não impediu o grupo Dreyfus de se associar ao brasileiro”, com uma parceria na qual cada signatário ganha 50%, detalha. A reportagem faz alusão direta à sociedade criada entre o grupo familiar AMAGGI, do qual o ministro é acionista, e Louis Dreyfus Commodities, registrada nas Ilhas Cayman para operar no mercado de grãos. O paraíso fiscal, lembram os jornalistas, oferece uma taxa de impostos de 0%, enquanto na Europa as empresas teriam que desembolsar 23% de seu faturamento em encargos.
“Não tenho conta bancária fora do Brasil”, diz Maggi
A equipe de reportagem do canal francês vai até Campinas, durante um congresso internacional dos industriais do trigo, para encontrar o ministro brasileiro. Os jornalistas questionam Maggi sobre a joint venture da AMAGGI com a Dreyfus. Mas o ministro desconversa, dizendo que “não é minha área responder esse tipo de questões. Mas a empresa da qual eu faço parte faz negócios com a Dreyfus Brasil”, confirmou. “Eu sou apenas um acionista dessa empresa. Não sou o gestor”, disse.
Os repórteres também interrogaram Maggi sobre a contribuição financeira que Dreyfus teria feito para uma de suas campanhas eleitorais. O ministro explica que buscar apoio financeiro é algo habitual na política e que sua relação com o francês “é muito antiga. Somos parceiros há mais de 30 anos. Não há nada ilegal nessa história”, retruca o brasileiro. “Não tenho conta bancária fora do Brasil”, se defende.
Desde que o escândalo foi revelado, Maggi nega qualquer tipo de envolvimento no esquema do Paradise Papers. Indagado pela imprensa, a AMAGGI informou que “desde que ingressou na vida pública, o sr. Blairo Maggi não possui qualquer função na administração da AMAGGI (bem como de quaisquer outras empresas do grupo), seja na gestão executiva ou no conselho de administração”.
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O “Paradise Papers” foi um vazamento-sequência àquele do “Panama Papers”. Feito pela mesma “fonte” e entregue ao mesmo consórcio internacional de jornalistas – dentre os quais está a TV pública francesa. Mais especificamente, os jornalistas do muito assistido programa “Cash Investigation” e a sua âncora-vedete, a veterana jornalista Élise Lucet.
Como visto na matéria da RFI, acima, nos Paradise Papers aparecem offshores supostamente constituídas pela parceria Maggi-Dreyfus como parte de uma estrutura de planejamento tributário. Ou, como se diz em francês, “otimização fiscal”. Traduzindo em bom português, para pagar menos imposto. Mesmo que se considere imoral, por certo não se trata – por default – de algo ilegal. É, aliás, a regra no mundo do comércio internacional, da qual não fogem as suas concorrentes: as gigantes multinacionais sediadas nos EUA.
De se estranhar, portanto, é o fato de terem aparecido nos tais “Paradise Papers” apenas Maggi e Dreyfus – e não as suas 3 concorrentes americanas: ADM, Bunge e Cargill.
Corrijo-me: não há nada que se estranhar nessa “ausência”. Os “Paradise Papers”, assim como antes os “Panama Papers”, foram “vazados” (entre aspas mesmo) por agentes do Estado americano – e a serviço desse. Daí as aspas em “vazamento” (sic). Tais agentes, antes de “vazarem” (sic) os respectivos documentos, retiraram TODAS as referências a empresas e empresários americanos! No seu lugar deixaram, “apenas”, brasileiros, russos, indianos, chineses – opa! BRICs! –, iranianos, venezuelanos, etc. Ou seja, os alvos geopolíticos da máquina de guerra estadunidense.
E não se trata de nenhuma “teoria da conspiração”: trata-se a própria conspiração. E em franca operação!
Tratei (Romulus Maya) disso em detalhes quando do “vazamento” (sic) original, dos “Panama Papers”, em artigo de minha autoria publicado no Blog de Luis Nassif em 2016: “Atenção! Cautela com os Panama Papers, Imprensa (Brasileira)” (12/abr/2016). Dele, destaco o seguinte trecho:
(…)
Como escrevi nesta semana em comentário ao artigo de Pepe Escobar sobre os Panama Papers no GGN (ah, tinha que ser o rei da conspiração mesmo!), a tese de que antes de chegar ao Consórcio tais documentos passaram pelas mãos de autoridades americanas não se restringe mais aos círculos “teoria da conspiração” da internet. Isso porque a respeitada e seríssima jornalista Élise Lucet, âncora do programa francês a que me refiro (“Cash Investigation”), afirmou isso com todas as letras diante do Ministro de Estado das Finanças da França e de representante da OCDE. Os dois estavam ao vivo no estúdio, dado o peso do programa e a repercussão esperada. Foram para debater a longa matéria que acabara de ir ao ar.Acostumada a confrontar cara a cara Presidentes, Primeiros-Ministros e Comissários Europeus, a experiente jornalista não se intimidou diante do tema sensível da origem americana dos documentos. Na verdade foi além: disse que os EUA pagaram pelos mesmos (yes, baby! Good old US dollars!) e confrontou o Ministro à sua frente a esse respeito. Não temos como daí provar que a versão que chegou ao Consórcio de jornalistas foi necessariamente “editada”. Mas, dada a revelação, é forçoso reconhecer, pelo menos dali em diante, que os documentos antes passaram, sim, por mãos americanas.
(…)
*
Portanto, vemos que Blairo Maggi – entrevistado pelos franceses, no Brasil, para o tal “Cash Investigation” mais tarde, à época dos “Paradise Papers” – e a sua trading verde e amarela estão no radar dos americanos há anos! E parece que agora, por meio dos seus operativos locais no Judiciário, os gringos preparam-se para, finalmente, dar o bote.
Como explicado no artigo de Roberto Feltrin, miram não apenas o Brasil mas também a China: gol duplo!
De se notar, por fim, que ingenuidade geopolítica não é exclusividade da imprensa brasileira. Afinal, na longa reportagem sobre a associação Maggi-Dreyfus de 2017 – de meia hora num programa de 2h, ou seja ¼ do total! – na esteira dos “Paradise Papers” não ocorreu nem mesmo à experiente Élise Lucet lembrar do que ela mesma debatera com o Ministro de Estado das Finanças da França e um representante da OCDE, ao vivo, no ano anterior (2016), por ocasião do primeiro “vazamento” (sic), o dos “Panama Papers”:
– Os documentos vieram da – e foram editados pela – inteligência americana!
Se tivesse feito uma pesquisa razoável, a equipe do “Cash Investigation” saberia que a francesa Dreyfus – e a brasileira Maggi – são justamente o último obstáculo ao controle TOTAL do mercado de commodities agrícolas pelos EUA. Novamente: do cartel composto pelas 4 grandes, 3 já são sediadas nos EUA (ADM, Bunge e Cargill). E, portanto, encontram-se até mesmo legalmente submetidas aos interesses geopolíticos dos EUA – e às suas sanções econômicas.
Jogo pesado!
*
Para quem compreende francês, a matéria de novembro 2017 do “Cash Investigation”, da TV Pública Francesa, denunciando seus conterrâneos da Dreyfus juntamente com Blairo Maggi – para júbilo dos EUA – vai do minuto 37:00 ao minuto 1:06:55 no vídeo abaixo. Com direito ao roteiro europeu “civilizatório” de sempre: “o latifundiário do terceiro mundo desonesto com conexões políticas”, ataque de ONG ambientalista estrangeira ao “desmatador” Blairo, índio fazendo pajelança contra “latifundiário assassino”, etc.:
- “Paradise Papers: no centro de um escândalo mundial” – TV Pública francesa (7/nov/2017)
- A TV francesa bloqueou o vídeo do Canal do Duplo Expresso no YouTube para os países francófonos, por direitos autorais. Para quem lê deles, eis ele de novo no VK, a rede social russa que o Putin garante (rs):
O General Charles de Gaulle, certamente, revirou-se no túmulo durante a exibição desse bloco, não é mesmo?
A TV – Pública – francesa, candidamente, fazendo o jogo geopolítico do rei-dólar!
*
Fechamos renovando o alerta:
– EUA/ Lava Jato: depois da carne, soja brasileira – e China – são o alvo da guerra econômica.
– Blairo Maggi – e a sua trading verde e amarela – são os próximos na lista dos gringos.
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P.S.:
Que achado, @Helenmelo87!
Vou colocar no artigo. https://t.co/BYGlasCxJY— Romulus Maya (@romulusmaya) November 19, 2018
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