Reflexão sobre a coletiva de Dilma: o “Novo” enterrará o “Velho”?
– qual o seu sentido histórico?
– qual pode ser o legado do segundo sacrifício em sua vida para o processo civilizatório do Brasil?
– de que pode nos valer a inegável dignidade de Dilma?
É difícil em momentos de crise, mas temos que pensar no longo prazo.
Na luta civilizatória por um Estado:
(1) cada vez mais Democrático; e
(2) de Direito, com império da Lei e não do poder de fato – político ou econômico.
Dilma – com toda a sua inegável dignidade – ir mais uma vez em sua vida para o sacrifício, agora em sua maturidade, tem que ser pensado não para este ano, este mandato ou esta geração política – quase perdida neste processo infame.
Tem que ser pensado agora – se o pior vier a se concretizar – na luta inter-geracional pelo processo civilizatório nesse grande Brasil.
Tem que ser pensado como bloco de construção em nosso projeto de país.
Será (mais uma vez: espero que não!) um outro auto-sacrifício individual pelo todo da nacionalidade, como a seu tempo o fizeram Vargas e Jango.
Hoje lhes somos gratos. Filhos e netos o serão a Dilma.
Fácil seria pedir o chapéu, deixar as hienas se refestelarem na carcaça ainda fresca e ir para o clima ameno de Porto Alegre curtir, merecidamente, o descanso de uma vida intensa, vendo de perto seus netos crescerem.
Mas não… isso não é Dilma Vana Rousseff. Ela se negou uma adolescência normal, indo aos bailinhos, dando risadas com as amigas falando de meninos e outras futilidades. Deu sua juventude em holocausto no altar de suas crenças.
Essa estirpe de homem e mulher é diferente do homem/mulher médio. Seu cálculo não é aquele do Homus economicus, que visa a, usando a razão, maximizar o seu ganho individual.
Seu horizonte é, na verdade, o bem-estar do todo da sociedade no longo prazo. Por esse bem-estar está dispost@ a dar a vida. Como vemos aqui, duas vezes!
Mas se é para haver esse nobilíssimo sacrifício, que não seja em vão.
Como fazer com que de fato seu crepúsculo traga para mais perto a aurora de uma nação?
Pensando institucionalmente eu digo:
– Dilma tem de ir até o fim nessa perspectiva. Tem que deixar o rei nu.
– Tem que trazer a PGR e o STF – Instituições de 88 que só assistem de camarote a degradação total da política- para o ringue.
– Se é para rasgar o Sistema de 1988, que se mostre pelo menos que TODO o sistema está podre.
– E, logo, que precisamos de algo NOVO, ou um grande remendo que reestabeleça o equilíbrio que existia quando a Constituição foi concebida.
– O PIOR DESDOBRAMENTO que pode ocorrer é preservar a FALSA APARÊNCIA DE LEGALIDADE.
– Veja-se o mal que o formalismo e as falsas aparências nos legaram.
Especificamente neste episódio:
– Servem de biombo para as maiores infâmias da Nova República:
(1) Cunha presidente da Câmara;
(2) um PGR brincando de feiticeiro e de arquiteto – desastrado – da política nacional;
(3) um STF que de Supremo só guarda o nome;
(4) um vice-Presidente desleal que HÁ UM ANO, agora se sabe, conspira contra e sabota as ações da titular; e
(5) o ápice da degradação: a entrega em votação na “Casa do Povo” do orçamento do Estado a uma unanimemente reconhecida CLEPTOCRACIA.
– Pois ESSA “legalidade”, ESSE “comedimento das instituições” negando respostas contundentes, queremos fora do cenário ao pensar o futuro.
– O sacrifício eventual de Dilma só terá valido a pena se ele fizer todos que chegam agora à idade de entrar na arena política, todos do “Novo” que se contrapõem a esse “Velho” carcomido, gritarem em jogral:
– O REI ESTÁ NU!
E depois:
– CORTEM-LHE A CABECA!
E finalmente:
– QUE VENHA A REPÚBLICA!
Eu confio no “Novo”. Creio que Dilma também, senão não teria ido para o sacrifício de novo. Que seu entorno não a convença a ir pelo caminho fácil.
E é isso mesmo: por “entorno” refiro-me a figuras como José Eduardo Cardozo e Aloízio Mercadante, entre outros. Cardozo, que durante toda a entrevista coletiva de domingo se esforçou para repetir várias e várias “QUANDO entrarmos no STF”, já NOS MINUTOS FINAIS deixa escapar – para choque dos meus ouvido mui atentos – um “SE entrarmos no STF”!
Que o mal que esses “assessores” fizeram a ela e ao país tenha fim finalmente. Que não lhes seja dado – almas menores – anular a missão de uma grande mulher no ponto mais alto (e mais baixo) de sua biografia.

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