Bola fora: Jean Wyllys ataca Jandira Feghali, por Romulus
Bola fora eleitoreira: Jean Wyllys (PSOL) ataca Jandira Feghali (PCdoB) na reta final da campanha pela prefeitura do Rio
Por Romulus
Bola fora do deputado Jean Wyllys, a quem admiro, em seu perfil no Facebook:
(…) A verdade é que a candidatura da Jandira tem como única finalidade disputar parte do eleitorado de esquerda que vota no PSOL e ajudar Pedro Paulo, candidato do PMDB, a passar para o segundo turno.
A infelicidade da declaração é enorme. E não é espontânea: responde ao crescimento da candidatura de Jandira Feghali, do PCdoB (em aliança com o PT), à prefeitura do Rio. Crescimento que conta com apoios capitais: a participação de Dilma em comício na semana passada e, nesta, de Lula.
Atualização das 21h, já com Lula em Bangu com Jandira.
Dois nomes com peso eleitoral não apenas “orgânico”, oriundo de suas biografias únicas, mas também conjuntural, decorrente da clara identificação de ambos – até na dimensão simbólica e mítica – com a resistência contra o golpe de 2016 e a escalada do arbítrio num Estado de exceção.
O movimento “Fora, Temer!” toma as ruas, não é mesmo?
Sim, e…
– Os dois presidentes são – literalmente – a encarnação da perseguição política que testemunhamos. Todos sabemos (principalmente os especialistas em marketing) como, para além do público politizado da esquerda, o brasileiro médio adora um “coitadinho”. Tem pena e quer ajudar…
Atualização 22h: Lula em comício de Jandira em Bangu, Zona Oeste do Rio. “O perseguido” e aquela que combateu por ele. Compreendem?
Entendo a frustração de Jean Wyllys e dos seus. Com a cabeça na votação obtida na eleição de 2012, achavam que já estariam no segundo turno.
Ora, erro de avaliação político-eleitoral um tanto primário. Primeiramente, a maré virou. O vento que sopra empurra para a direita desde – que ironia, PSOL! – as marchas de junho de 2013. Em segundo lugar, a eleição de 2012 para a prefeitura do Rio foi “plebiscitária”, num contexto de reeleição de um prefeito popular que gozava de ampla projeção, em virtude das Olimpíadas. Projeção até internacional!
O primeiro turno daquela eleição foi já o segundo. Disputado entre Eduardo Paes e…
– … o “não Eduardo Paes”.
Naquele caso específico, sua encarnação foi Marcelo Freixo.
Observou-se, já no primeiro turno, o voto-útil de todo o eleitorado anti-Eduardo Paes / anti-PMDB em sua candidatura. Ninguém há de supor que, em condições normais de temperatura e pressão, uma candidatura reunindo o clã Garotinho e o clã Cesar Maia – na figura de seus dois herdeiros: Rodrigo Maia, cabeça de chapa, e Clarissa Garotinho, vice! – obtivesse apenas 3% (!) dos votos na cidade em que ambos os clãs venceram eleições – para governador e prefeito – em diversas oportunidades. Inclusive em primeiro turno.
Voltando à declaração infeliz de Jean…
A “acusação” não só é indelicada no plano pessoal – com uma “amiga” e companheira de batalhas na Câmara – como também politicamente desleal, diante do acordo de “não agressão” no primeiro turno firmado – formalmente – há 3 meses entre as candidaturas de esquerda na cidade: Freixo (PSOL), Jandira (PCdoB/PT) e Molon (Rede).
A infelicidade de Jean – novamente: que admiro bastante – vai além:
– Sua acusação é falsa.
E essa falsidade é de fácil constatação: PT e PCdoB ofereceram – lá atrás… – não lançarem candidatos e apoiarem Freixo já no primeiro turno de 2012. O candidato e os seus, que se criam já no 2o turno, como mencionado acima, recusaram. “PT e PCdoB eram candidatos ‘do sistema’… um sistema político falido, corrompido… coisa e tal, tal e coisa…”.
Isso, evidentemente, discurso “para fora”.
“Para dentro”, é certo que pesou no cálculo eleitoral, neste 2016 de Lava a Jato em seu (anti?) clímax, o desgaste do PT e a rejeição à sigla no eleitorado médio. Como ambicionar vencer eleição majoritária em um “grande centro” sem a adesão do “centrão político” despolitizado e extremamente permeável à pregação política enviesada diuturna da grande mídia?
[A respeito do “centrão político” da sociedade, ver Nota 1 no final]
Todo esse cálculo político-eleitoral é válido! É legítimo! Não o condeno… isso é fazer…
– … política. A “maldita e suja” política.
Mas a necessária hipocrisia e cinismo desse ofício têm limites. Ao menos ao se dirigir a um público com maior discernimento, que constata facilmente fragilidades políticas – e até de ordem lógica – na argumentação que se faz.
Ouso – Oh, orgulho, pior dos pecados! – incluir a mim e aos leitores do blog nesse grupo. Assim…
– … como pretender dizer – agora, caro Jean Wyllys! – que a candidatura de aliados esnobados por si e pelos seus lá atrás é mero instrumento eleitoral do PMDB carioca?
A maior seção do PMDB nacional, diga-se. Seção inclusive que, traindo o PT e Dilma neste ano, contribuiu de forma decisiva para o golpe. Virando definitivamente a balança dentro do PMDB nacional para o lado de Temer/Cunha, traíram Paes, Cabral, Picciani e todos os seus…
Isto é: fora – é digno de nota – o “leal até o fim” Pezão, já sem “caneta” e lutando por sua vida contra um câncer.
Novamente: admiro Jean Wyllys e o seu trabalho. Admiração que já registrei, inclusive, em mais de um artigo aqui no GGN.
[Ver Nota2 ao final sobre a atuação do deputado]
Mas essa declaração no mínimo infeliz foi bola “foríssima” do deputado.
Desconto para a exacerbação de emoções em reta final de campanha? E pela disputa se dar no próprio terreiro do deputado – o Rio?
Espero que Jandira possa encontrar em si dar esses descontos…
Acredito que encontrará sim. Afinal, ela é da (“maldita”?) política.
[Ver Nota3 ao final sobre “o que é a política”]
E, também importante, sequer busca como estratégia político-eleitoral demonizá-la e ir, de maneira difusa, contra “isso tudo que está aí”…
* * *
Mais informações sobre o episódio em artigo no Blog do Cafezinho:
* * *
Nota 1 – o “centrão da sociedade”
Trecho do post “Velha questão Vol. 3: a complicada relação PT x PSOL”
(…)
(iii) “Centristas”
Escrevo a palavra “centristas” entre aspas de caso (bem) pensado. Isso porque, em geral, seus membros tendem a pertencer à parcela
despolitizada
da população. Parcela essa
a priori
aberta à sedução – seguindo considerações pragmáticas. É, portanto, objeto de disputa e conquista pelos dois polos antagônicos da política. De novo e de novo. A cada rodada eleitoral.
É o fiel da balança, que pende ora para um lado, ora para outro. E o faz muito mais pela conjuntura – aquilo que indicam “os ventos” e as “nuvens no céu” – do que propriamente por convicções político-ideológicas “centristas” (em sentido estrito). Ou seja, não têm nada a ver, por exemplo, com o ideário sintético de uma democracia cristã europeia.
A seu respeito, faço uma provocação:
–
Como disse, trata-se de uma “parcela despolitizada, pragmática, aberta à disputa e conquista pelos dois polos antagônicos a cada rodada eleitoral. Fiel da balança, decide-se muito mais pela conjuntura – “ventos e nuvens” – do que propriamente por convicções políticas”.
Soa familiar?
Lógico que sim!
–
São os “PMDBistas” da sociedade!
[hehehe]
(…)
Alerta de quem entende (muito) do riscado
[Comentário de expert ao post]
Quando você fala em “centrismo” e descreve quem dele faz parte – apolíticos, pendem para um lado ou outro segundo as circunstâncias, mas são o fiel da balança – você vai certeiramente pro PMDB. E tem razão, porque está falando de perfis partidários. Mas o problema é que a sua descrição, não em termos de partido, mas do eleitorado que vota nele, é exatamente aquela do grosso da população que, manipulada pela mídia, sequer percebe o que está acontecendo hoje com o golpe em curso. Por isso não sai à rua pra apoiar o “nosso lado” nas manifestações, mas são os que, embalados pelo moralismo anti-corrupção e a aura mediática da Lava-Jato, correm em defesa da destituição da Dilma e da extinção do PT. No limite, são os que pedem intervenção “constitucional” das FFAA ou são eleitores certos de Bolsonaro ou qualquer outro salvador da pátria estilo Berlusconi que se apresente como candidato.
*
Nota 2 – A distinção da atuação política de Jean Wyllys
Trecho do post “Velha questão Vol. 3: a complicada relação PT x PSOL”
Diferença entre exceções
e
avessos (do avesso): Jean Wyllys, Paulo Pimenta, Tarso & Luciana Genro
Assim como o PT não é monolítico, também não o são as demais forças de esquerda.
Nem mesmo o PSOL!
E isso já sem contar a primeira dissidência: Heloisa Helena.
Não há como comparar, por exemplo, a atuação e a postura de um Jean Wyllys – bendito Big Brother Brasil? Bendita Rede Blogo?! – com as de uma Luciana Genro.
E isso vindo lá de trás… desde as marchas de junho de 2013, passando pela exploração político-eleitoral da Lavajato, pelo posicionamento no segundo turno de 2014 e chegando, finalmente, à tramitação: (i) do impeachment, patrocinado por Eduardo Cunha; e (ii) da cassação da chapa Dilma/Temer no TSE, patrocinada – em estratégico “banho-maria” – por Gilmar Mendes.
E olha que Luciana cresceu na política. Testemunhou – na própria casa! – a frustração com os limites impostos pela – “maldita” mas inexorável – realidade político-administrativo-eleitoral.
E – coisa rara – tem um pai que conseguiu passar razoavelmente bem pela (“maldita”) realidade das urnas e da Administraçao Pública, mantendo-se como uma referência de coerência política, responsabilidade, equilíbrio e integridade.
É, né, Luciana…
Como ensina o Evangelho, “ninguém é profeta na sua própria terra”.
Se nem o messias o foi, não haveria de sê-lo o Tarso Genro, não é mesmo?
Atualização 16h:
Se a atuação de Jean já está bem distante da de Luciana Genro, nada tem a ver com este PSOL (?!) aí:
*
Nota 3 – “o que é política”
Trecho do post “Parábola multi-sincrética de duas tribos em guerra”:
O cacique compreendeu, mas disse que seria difícil explicar isso aos seus na tribo. O filósofo ofereceu então uma tradução metafórica para aquela tal de política: “é a arte de intuir – olhando tudo em volta – quando se está cacifado para meter o dedo no olho do adversário e ganhar terreno e quando se está cacifado apenas para levar dedada no próprio olho e recolher-se ao seu canto. E em silêncio. Inclusive momentos há em que não se furam os olhos de ninguém, porque ambos concordam em amarrar as próprias mãos e a ficar parados no mesmo lugar.
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Atualização 17:30:
Alô, políticos de esquerda: “eles [da direita] querem acabar com a gente”
Cynara Menezes: “eles [da direita] querem acabar com a gente”
(dica de um seguidor do twitter)
A Socialista Morena comenta a “difícil vida do eleitor de esquerda”, que tem de escolher entre: Freixo x Jandira; Haddad x Erundina; Raul Pont x Luciana Genro…
Como ela nota, políticos de esquerda, divididos, parecem não notar que “eles [da direita] querem acabar com a gente!”
Alô, pessoal! Se liguem!
– É guerra! E de extermínio!
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Atualização 21h:
Lula em Bangu com Jandira:
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Leia mais sobre o assunto em:
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Do Facebook do dep. Jean Wyllys:
Por que Freixo e não Jandira?
[Romulus: foto descontextualizada escolhida para ilustrar o post do deputado. Numa aliança costurada com a participação de Lula, de Brasília, após retratação pública e até em carta manuscrita de Eduardo Paes dirigida à Primeira-Dama, Dona Marisa, por sua atuação virulenta na Câmara durante “Mensalão”, atacando até mesmo seus filhos, acerta-se o apoio da terceira colocada no primeiro turno, Jandira Feghali, a Eduardo Paes no segundo turno das eleições municipais de 2008, na duríssima disputa contra Fernando Gabeira, do PV, apoiado pela direita em bloco: PSDB, DEM e PPS. Na sequência, Jandira torna-se Secretária de Cultura do Rio, num governo de ampla coalizão. Essa é o contexto da foto, deputado Jean Wyllys…]
Nas últimas semanas, muita gente do Rio tem me perguntado, tanto pessoalmente quanto aqui, nas redes, por que Freixo e Jandira não estão juntos nessa eleição – e por que as pessoas de esquerda deveriam votar nele e não nela. Eu sei que muitas pessoas de esquerda, que foram contra o golpe e defendem a democracia e os direitos humanos, acham que o campo progressista deveria ter uma única candidatura, para derrotar os golpistas. Até agora, eu adiei a minha resposta, por considerar que a conjuntura nacional de resistência ao governo ilegítimo de Temer nos exigia evitar ataques entre nós; mas, faltando uma semana para as eleições, as perguntas de muitos cidadãos e cidadãs sobre esse ponto se intensificaram, e eu tenho uma responsabilidade com vocês.
Por isso, quero esclarecer por que não foi possível essa unidade que muitos pediam e por que eu acredito que votar no Freixo não é a mesma coisa que votar na a Jandira, mas é bem diferente. Quero falar pra vocês com absoluta sinceridade, como eu sempre faço.
Nas últimas décadas (sim, décadas), inclusive desde muito antes de ser deputado, Marcelo Freixo esteve firme na oposição aos governos da direita no Rio de Janeiro, tanto no estado quanto na cidade, enquanto Jandira era aliada deles. Não se trata apenas de uma escolha pessoal: Jandira e o PCdoB seguiram a lógica política de conciliação de classes e negociação com os partidos da ordem que Lula impôs ao PT à base governista. No Rio, o partido de Jandira foi aliado de Garotinho, de Cabral, de Pezão e de Paes, e fez campanha ao lado de Crivella, de Cunha, de Pedro Paulo, de Índio da Costa, de Osório, de todos eles. Ela foi, inclusive, secretária do governo Paes. No debate da RedeTV, Jandira disse que apoiar os governos estadual e municipal do PMDB foi o “pedágio” que tiveram que pagar para garantir a governabilidade do Lula e da Dilma, mas esse pedágio custou muito caro à população do Rio de Janeiro.
Durante todos esses anos, Freixo estava na oposição, denunciando as milícias, as remoções, a repressão contra os professores com gás lacrimogêneo, a desaparição de Amarildo, as chacinas nas favelas, o aumento da passagem de ônibus, o caos no transporte, as obras superfaturadas, os negócios com as empreiteiras, as alianças com o fundamentalismo religioso, a privatização da saúde, o abandono da educação, etc. Freixo enfrentou os governos do PMDB enquanto Jandira fazia campanha por eles.
Se o PMDB do Rio não tivesse apoiado o impeachment, Jandira não seria candidata e estaria hoje na campanha de Pedro Paulo, como sempre. E isso significa, também, que essa candidatura não representa um projeto diferente para a cidade, mas apenas uma necessidade eleitoral de última hora. Diferentemente, Freixo (que também foi contra o golpe) está se preparando há muitos anos para ser prefeito e construiu um programa de governo para 2016 com a participação de mais de 5 mil pessoas de todos os bairros, categorias e movimentos sociais da cidade.
Eu tenho uma ótima relação com Jandira Feghali e defendemos juntos muitas pautas na Câmara dos Deputados. Não tenho nada pessoal contra ela, que é uma aliada na luta contra o golpe no Congresso, mas também não posso mentir a vocês sobre a situação do Rio, que é muito grave.
A verdade é que a candidatura da Jandira tem como única finalidade disputar parte do eleitorado de esquerda que vota no PSOL e ajudar Pedro Paulo, candidato do PMDB, a passar para o segundo turno. Para fazer isso, inclusive, eles recorreram à difamação contra o PSOL, usando a bandeira do feminismo radical para atacar o Freixo, cuja vice é uma ativista feminista e cujo programa defende todos os direitos das mulheres. Dessa forma, tentando dividir o voto de esquerda, eles continuam ajudando o PMDB de Temer e Cunha!
Por enquanto, felizmente, não deu certo: Freixo continua em segundo lugar em todas as pesquisas, como esteve em segundo lugar em 2012, com 28% dos votos, quando Jandira, Crivella e Paes eram aliados; mas não podemos arriscar. Se a esquerda votar dividida, a direita vai vencer. A unidade da esquerda, então, é votar em Marcelo Freixo (50).
Você já imaginou um segundo turno entre dois golpistas? Você já imaginou ter de escolher entre o candidato de Eduardo Cunha e o candidato da Igreja Universal? Tem uma única forma de impedir isso: é o Freixo!!
E ele vai ser um excelente prefeito!! Confiem em mim!!
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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